"TODOS OS ALUNOS RETORNEM IMEDIATAMENTE AOS SEUS SALÕES COMUNAIS! REPITO, TODOS OS ALUNOS RETORNEM IMEDIATAMENTE AOS SEUS SALÕES COMUNAIS!"

Todos começaram a correr, assustados, não só pela mensagem, mas também pelo tom desesperado na voz da professora McGonagall. Eu segui o tumulto, correndo para as masmorras, até que três garotos passaram correndo, um de cada vez, na direção contrária. Por impulso, corri na direção deles. Os Marotos corriam para o outro lado, as varinhas em punho, ignorando completamente o aviso. Mas quem eles pensavam que eram? Se a professora McGonagall dissera pra entrarmos, era porque era algo realmente sério! E eles eram apenas alunos do primeiro ano!

Os segui silenciosamente, demorando um pouco pra notar a ausência de um deles, talvez porque eu estivesse por demais absorta em como Sirius estava lindo com aquele porte de herói. Eu parecia simplesmente ser puxada para ele, de modo que eu não olhava o caminho. Perguntei-me onde estaria Peter Pettigrew, provavelmente no Salão Comum da Grifinória, pois, eu já notara, ele era com certeza o mais covarde dos Marotos.

Os três garotos pararam de solavanco quando um grito agudo e estridente preencheu os corredores. Soluços profundos partiam da garganta de alguém, claramente uma jovem garota. E então o som foi substituído por uma risada maligna e estridente. Muito mais do que simplesmente medo, aquela risada me preencheu de pavor. Era como se aquele som fosse estranhamente familiar, a risada cortante rasgando a minha alma. Como se eu conhecesse aquele som. Como se fosse especialmente para mim. O pavor corria, fluído, pelas minhas veias. Eu congelei onde estava, os olhos arregalados enquanto uma voz fria substituía a risada.

"Alunos e professores, tenho comigo uma aluna do primeiro ano." A voz era calma, não demonstrava nenhuma emoção, mais cortante e fria do que se gritasse. O fluxo de pavor que corria por minhas veias congelava o sangue. "Quero os alunos imediatamente no Salão Principal. E, é claro, os professores. Não queremos os alunos desprotegidos." Esta última parte foi dita com uma zombaria evidente. O dono daquela voz claramente não se importava com a segurança de ninguém. "Estejam aqui imediatamente. A não ser, é claro, que vocês queiram ver esta aluna morta." O modo como ele falou a palavra morta me arrepiou, mais uma onda de pavor jorrando pelas minhas veias, enrijecendo meus membros. Era como se a morte de quem quer que fosse que estivesse lá não importasse nem um pouco. Como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Os garotos, obviamente, correram diretamente para o Salão Principal, eu ainda os acompanhando sem ser notada, ignorando os avisos de McGonagall, que diziam que mais vidas seriam perdidas caso eles fossem para o Salão Principal, que os alunos permanecessem em seus Salões Comunais, que os professores cuidariam disso. Porém, ao chegar ao Salão Principal, eu notei, enquanto avançava para a fileira da frente junto com os três garotos, que havia uns 50 alunos de todos os anos, encarando horrorizados a cena diante deles. Os professores formavam a linha de frente, e os Marotos logo se juntaram a eles ignorando os protestos. Eu fiquei um passo atrás, até notar a cena diante de mim.

Uma garota de cabelos cor de sangue estava flutuando no ar, soluços escapando de sua garganta, a pele muito mais pálida do que o normal, talvez pelas prováveis diversas sessões de tortura. O rosto familiar de minha melhor amiga transparecia pura dor. Uma lágrima escapou do rosto lívido de Monique até atingir o chão. Ela fechou os olhos lentamente e não se mexeu mais.

Um grito furioso escapou de minha garganta, quebrando o silêncio mortal que pairava sobre o Salão. Avancei até estar a cinco passos da linha de frente, meus olhos preenchidos de agonia e fúria enquanto eu encarava o rosto inexpressivo da minha melhor amiga. Daquela que foi a minha melhor amiga. A risada cruel do rapaz que segurava a varinha que apontava para Monique soava ao fundo de minha mente. Eu simplesmente encarava o cadáver de cabelos vermelhos que eu amava incondicionalmente, apesar de nunca ter tido plena consciência disso. Apenas quando o corpo da minha melhor amiga, a única que realmente me apoiou, caiu no chão, flácido, foi que eu desviei os olhos para o rapaz a alguns passos de distância, sorrindo debochado para mim. Meu rosto, eu tinha plena consciência, era uma máscara de puro ódio e agonia. Eu encarei aqueles olhos negros e profundos como um túmulo. Meus olhos. A semelhança me enojava. Eu imediatamente liguei os pontos. Aquele monstro na minha frente era ninguém mais, ninguém menos que Tom Riddle. Eu encarava com fúria o temido Lord Voldemort.

- A menina raivosa quer brincar! - Ele zombou. - Ah, eu matei a sua amiga? - Ele perguntou retoricamente, com um falso tom tristonho, e esboçou novamente o sorriso debochado. - E agora você vai tentar lutar contra mim? - Ele riu.

Quando seu olhar se voltou para mim novamente, eu apenas neguei minimamente, meu rosto transparecendo toda a angústia que eu sentia. Peguei minha varinha no bolso da capa e joguei-a no chão, não aos seus pés, mas em direção à formação atrás de mim. Um murmúrio chocado partiu da boca dos alunos. O que mais eu poderia fazer? A minha mãe me odiava, meu garoto não me notava e minha única verdadeira amiga estava morta. Só vi o rapaz de aparência jovial erguer a varinha e fechei os olhos, esperando pela morte, esperando parar de sentir aquela dor que apertava meu peito e rasgava a minha alma. Mas este momento não chegou. Ao invés disso, eu ouvi a voz mais familiar da minha vida, aquela que eu cresci ouvindo, ecoar pelo salão.

- A nossa filha não, Riddle.