Sympathy for the Devil escrita por Lolis


Capítulo 3
1987, baby.


Notas iniciais do capítulo

Estou muito happy com os comentários. Valeu garotas, por me darem incentivo para continuar!
Agora, aqui vai mais um capitulo... Bem - vinda aos anos 80 Draffy...



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Os gritos excitados me acordaram aos poucos. A principio, eu pensei que fossem os gritos dos meus familiares, e que a luz brilhante fosse aquilo que vemos antes de morrer, ou simplesmente o brilho de alguma ambulância próxima.

Eu me sentia terrivelmente cansada, como se tivesse corrido uma maratona de horas. Meus músculos doíam e eu sentia dor de cabeça.

‘Estou morta’ pensei.

Eu estaria no céu, no inferno ou em algum tipo de julgamento? E era impressão minha ou ‘Paradise City’ tocava ao fundo, como se estive distante?

Decidi finalmente abrir meus olhos, e para minha total surpresa, eu não estava no céu. Nem no inferno.

Eu estava deitada no chão de terra batida, no meio de pessoas que acompanhavam desafinadas Axl Rose cantar.

E já estava sol alto, o que explica a luz misteriosa. Deus, eu bebi tanto que tudo que ouve fora um sonho? Pus a mão na minha testa e me levantei debilmente tentando me situar geograficamente. Los Angeles. Mais precisamente na área rural.

Cara, aonde eu vim parar... Eu deveria maneirar nas bebidas.

Olhei a meu redor tentando achar meu meio de transporte: O Slash. Quero dizer, não era possível eu ter vindo a pé. Minha casa fica a léguas daqui.

Eu parecia uma idiota drogada procurando minha moto no meio daqueles fãs hiperativos. Sendo quase pisoteada, fui abrindo espaço entre as pessoas.

- Hey!

- Ai!

- Cuidado, imbecil!

As pessoas diziam gentilmente para mim.

Não consegui ver Slash em lugar nenhum. Ótimo. Roubaram minha moto.

Eu estava pronta para sentar e chorar, quando vi uma cabeça conhecida no meio da bagunça. Mas, não... não podia ser.

- Jeffrey?! – gritei – Jeffrey? É você mesmo?

O que diabos meu mordomo fazia ali? E segurando uma enorme faixa ‘I Luv Axl’?

- Jeffrey? – novamente eu me apertava contra a multidão selvagem. Jeffrey cantava emocionado o refrão da musica:

“Take me down to the paradise city
Where the grass is green and the girls are pretty
Take me home Oh, won't you please take me home...”

- Jeffrey! – puxei ele pela gola da camiseta. Ele se virou irritado para mim, me medindo dos pés a cabeça.

- Quer o quê, gata?

Gata?

- Você é o Jeffrey, certo? – perguntei receosa.

- Não, sou Martin Luther King... – ele riu – De onde eu conheço você?

- Como assim?

- É lindinha. Você sabe meu nome. Eu já dormi com você?

- Não!

- Então como você sabe quem eu sou? – ele tornou a perguntar.

- Você é meu mordomo! Se lembra?

Ele me encarou confuso por alguns segundos, para depois desatar a rir.

- Que tipo de droga você usa, gostosa? Que eu também quero experimentar... Doidona...

- Eu não uso drogas! Você é quem deve ter usado! Não se lembra? Jeffrey, sou eu, a Dafne!

Segurei o rosto dele, o obrigando a olhar diretamente para mim. Eu riu novamente.

- Pirada você hein? Eu não sou mordomo nem te conheço. Mas... acho que devíamos nos conhecer, não acha?

Suspirei.

- Tudo bem Jeffrey, você está...

- Hey, hey... Não me chama de Jeffrey não, sua linda... Para você, sou só o Jeff...

Eu quase dei um murro nele ali mesmo.

- Certo Jeff, me escuta agora. Preciso que você responda algo.

Ele maneou de leve a cabeça.

- O que você quiser...

Dei um tapa na testa.

- Jeff... Você acaso viu o Slash?

Ele pareceu considerar minha pergunta.

- Claro que vi.

Viva! Ele não estava tão chapado assim!

- Sério? – sorri animada.

- Claro! Vem comigo. – e saiu me puxando entre as pessoas.

Ele me carregou até perto do palco, onde havia uma espécie de portinhola cercada de seguranças.

- Ele esta ali – apontou para a porta. A musica havia cessado por um tempo. Provavelmente era intervalo.

- Valeu Jeffrey. Digo, Jeff.

- Por nada, gatinha. Boa sorte.

- Por quê boa sorte?

Mas ele já havia virado as costas e andava em direção ao um grupo de meninas com uns cortes de cabelo horrendos.

Passei pela faixa que separava a multidão do palco e fui andando seguradamente até a portinha.

- Parada ai mesmo! – um guarda berrou. Paralisei no lugar enquanto levava minhas mãos lentamente ao alto.

- O que?

- Você pensa que é o que, hein? – ele chegou perto me mirando com os óculos escuros – Não pode ficar entrando no camarim dos outros não...

- Camarim? Mas senhor eu só queria pegar...

- Um autógrafo, eu sei... – abri minha boca para protestar mas ele me cortou em seguida – Qual o seu nome?

- Dafne. Dafne Hunter.

Ele pareceu perturbado ao ouvir meu nome.

- Hunter?

- É... Hunter.

Ele pegou seu walk talk e falou quase que num sussurro.

- O filho do chefe chegou.

Depois me encarou confuso.

- Seu nome é Hunter, mesmo?

- Sim, foi o que eu disse.

Ele coçou o cavanhaque em duvida.

- Eu espera algo mais masculino...

- Masculino?

- É... eu havia entendido o chefe falar exatamente filho, mas pelo visto me enganei. – deu os ombros – Entre senhorita... – e abriu a portinha, por onde eu passei.

Logo em seguida a porta foi fechada e eu me encontrava numa espécie de sala, com uns sofás e guitarras.

- Onde está minha moto... – murmurei para mim mesma.

Comecei a andar pela sala a procura da minha Davidson. Deveria estar em outra sala... Talvez o Jeff tenha se enganado afinal...

- Já esta tudo nos conformes... Garanto que vai ser espetacular!... Hum-Hum... Certo então... Me ligue mais tarde, Rutheford.

Uma versão mais jovem do meu avô vinha falando numa espécie de celular da idade das cavernas. Assim que ele desligou, abriu os braços e falou:

- Filho...

Me virei assustando ele.

- Espere, você não é meu filho! Quem te deixou entrar aqui garota?

- Vovô?

- Vovô? Oh deus, mais uma maluca... Anjo, eu não sou seu avô. Meu filho ainda está no colegial!

- Filho?

- É, eu esperava ele hoje. Mas você apareceu. Fora!

- Mas... eu tenho que achar minha Davidson! Me disseram que ela estava aqui... Por favor...

Ele revirou os olhos.

- Porque sua motocicleta estaria aqui... qual se nome mesmo?

- Dafne Hunter.

- Você é parente minha ou só uma golpista?

- Como é que é?

- Eu sou Gary Hunter. E meu filho é Darren Hunter.

Meu pai.

- Meu pai?

- Drogada! Eu deveria suspeitar. Vamos! De o fora daqui!

- Mas... minha moto!

- Sua moto não esta aqui!

- Está! Me disseram que ela estaria!

- Vamos menina, você esta confusa... Ouça, vou pedir que te acompanhem até a saída, ok?

- Eu não preciso de ajuda! – reclamei – Só minha moto de volta!

- Saia!

- Sem minha moto? Não!

- Não me obrigue a chamar a segurança!

Fuzilei ele com meu olhar e trinquei os dentes.

- Me de a moto... e eu saio.

- Que barulho é esse? – outra voz apareceu.

E das sombras saíram, para minha surpresa: Axl Rose, Steven Adler, Izzy Stradlin, Slash e Dizzy Reed. Todos pareciam surpresos com a atitude do meu avô.

- Ah meninos! – me avô saudou sorrindo de repente – Descansaram?

- Hum – Hum... – Slash murmurou. Axl levantava uma sobrancelha.

- Quem é a garota?

- Ah, a garota? – meu avô torcia as mãos discretamente – Ela não é ninguém, eu já ia me livrar dela mesmo e...

- Sou Dafne Hunter. Mas podem me chamar de Draffy... – comecei sendo em seguida puxada para trás pelo meu avô. O rosto dele se coloria num vermelho de irritação.

- Ignorem ela, louca... – e girou o indicador ao lado da cabeça.

- Eu não sou louca! – exclamei.

- Ah é... Desculpe garotos, ela não vai mais incomodar... Vamos!

- Sem essa, vovô, me dá a moto antes!

- Sua moto não esta aqui...

Me livrei das mãos dele e olhei para Axl.

- Viu minha moto?

- Moto?

- Sim, uma Harley Davidson 883 vermelha... uma beleza. Meu mordomo me disse que estaria aqui, mas ao visto ele me enganou... E agora esta criatura – apontei o meu avô – Não quer aceitar o fato que eu sou a neta dele.

- É sua neta, Gary? – Slash perguntou – Olha, eu não sabia que você tinha netos já... e que gostosa...

- Ela não é minha neta! É só uma drogada que enganou o segurança e... Não fale assim com ela!

- Se eu estivesse drogada eu não conseguiria enganar os segurança... – retruquei.

Adler e Izzy riram da cara frustrada do meu avô.

- De onde você veio, Draffy? – Axl perguntou.

- Sou daqui mesmo, moro num condomínio fechado... O Rosacruz...

- Mas não é o mesmo que você mora, Hunter? – Izzy debochou – Acho que você tem mesmo uma neta...

- Coincidência! – Gary berrou.

- ... Casa nº 26, com um jardim enorme...

Meu avô pos a mão no coração.

- Mas... é onde eu moro... – ele sussurrou.

Sorri triunfante.

- Como você sabe disso? – ele me olhou horrorizado.

- Eu já disse, sou sua neta. Filha de Darren Hunter e Christine Zelda – Hunter.

Ele se sentou no sofá vermelho ainda em choque.

- Mas é impossível... O Darry e a Christie ainda nem se casaram e...

- Como assim não casaram, vovô? É claro que casaram! Em 1991... e dois anos depois, eu nasci... lembra-se?

- Dafne? – ele perguntou ansioso – Em que anos estamos?

- Estamos em 2011, obviamente.

- Não, querida. Nós estamos em 1987.

  Eu não acredito na minha própria burrice às vezes. Como eu não notei? Eu deveria ter ao menos desconfiado. Eu tinha tantas pistas... Os próprios Guns n´Roses eram uma ótima pista. Se eu estivesse mesmo em 2011, eles seriam bem mais velhos... Agora, eles estavam... novos.

Haviam me sentado a força no sofá, onde, com as mãos na cabeça eu tentava processar tudo aquilo. Não, não era possível.

- Não pode ser 1987... Não pode... – eu murmurava repetidamente.

- Mas é. – Axl confirmou.

- Como você parar aqui? – Slash perguntou.

Arregalei meus olhos. O colar.

Tateei no meu pescoço a procura dele mas não encontrei. Ele deveria estar com minha avó ainda.

- Eu... eu não sei direito, ainda... – menti – Só me lembro de cair com minha o Slash da ponte Vicent Thomas e...

- Comigo?

Percebi meu erro.

- Minha moto. Ela se chama Slash.

- Você deu o nome dele para sua Harley? – Izzy perguntou abafando um riso.

- Dei. Foi meu tio quem sugeriu, sabe? Eu achei criativo, afinal Slash é o melhor guitarrista do universo inteiro... Segundo a revista Rolling Stones.

- Sério mesmo? – Slash se empolgou – Legal...

- As pessoas ainda ouvem nossa banda no futuro, Draffy? – Axl franziu a testa visivelmente preocupado.

- Claro! Vocês são mega famosos de onde eu venho. – respondi sorrindo de leve. Mas logo emburrei novamente – Minha moto ainda esta na água... Droga.

- Como é o futuro? – Adler perguntou.

- Não tem carros voadores ou alienígenas. É normal... Nós só temos mais tecnologia.

- Que tipo?

- Maquinas mais evoluídas. – dei os ombros – Não é nada interessante na realidade.

- Dafne... – meu avô chamou – Não faz idéia de como voltar, certo?

- Nenhuma.

Ele suspirou.

- Vou lhe dar um pouco de dinheiro... Para você arrumar um lugar para ficar.

- Porque não posso ficar com o senhor?

Ele desviou o olhar.

- Não pode... Augusta, ela... não iria gostar da idéia de uma mulher mais jovem em casa.

Arqueei minha sobrancelha.

- Tudo bem... - peguei o dinheiro, desconfiada.

Slash me olhou por alguns segundos e se virou para Axl, surrurando-lhe alguma coisa.

- Se ela aceitar... – Axl falou displicente – Draffy?

- Hum?

- Quer ficar no nosso apartamento até achar um lugar?

Minha boca se abriu num ‘O’.

- Ficar com vocês?

- Se você não se incomodar com barulho, fumantes, bêbados e drogados, pode se considerar aceita. – Slash completou rindo.

- Acho que posso me acostumar com isso... Gostam de vodka?


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Notas finais do capítulo

So?