Do Próprio Inferno escrita por erikacriss


Capítulo 7
7. Se abrir a boca, perde a língua


Notas iniciais do capítulo

Um obrigada especial para minha primeira leitora: karenkerdley
=*



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Nada mais alegre que um jantar em família, não? Ainda mais quando é para oficializar a união de um belo casal.

― Não formam um casal adorável? ― comentava Gregório Wilson, pai dos irmãos que dividiam meu coração.

― Realmente. ― concordava meu pai.

O adorável casal era minha querida, mas recentemente odiada por mim, irmã Anne com meu amante e cunhado Thiago. Estavam sentados lado a lado na mesa, seus acentos ficavam de frente para o meu e de Denys. Thiago ficou na minha exclusiva linha de visão.

― Não há como negar, foram feitos um para o outro. ― concordei cínica, meus olhos jamais deixando os de Thiago.

Ele, porém, não conseguia me fitar por muito tempo, logo desviava seus olhos para o prato, que servia uma deliciosa lagosta, ou para Anne, que lhe sorria apaixonada, ou para o nada acima de meu ombro.

― Está se sentindo bem, meu amor? ― perguntou Denys, notando meu olhar fixo.

Desviei dos olhos de Thiago e olhei os de Denys, que eram incrivelmente iguais.

― Estou bem, meu anjo. ― o tranqüilizei, pegando sua mão por de baixo da mesa. Ele me sorriu e voltamos a comer.

Por vezes eu voltava a encarar Thiago, e por vezes fuzilava Anne sem que ela visse.

“Não vou matar minha irmã, não vou matar minha irmã!” ― meu mantra modificou por aquela noite, enquanto eu segurava a taça de vinho com mais força que o normal, mas cuidando para que não quebrasse.

― Tem certeza de que está bem? Parece tensa. ― comentou Denys, enquanto observava que os nós de meus dedos estavam brancos na mão em que eu segurava a faca.

― Tenho sim. ― lhe sorri. Tentando aliviar a força que segurava os objetos.

Depois da janta, todos se reuniram na enorme sala da mansão Wilson. Eu já não agüentava mais ficar ali.

― Vou tomar um ar. ― falei ao Denys.

― Quer que eu vá junto?

― Não, tudo bem. Serei rápida. ― lhe sorri e apertei de leve sua mão, confortando-o.

― Como quiser. ― ele retribuiu o sorriso.

Saí da mansão até o jardim. Fui ao mesmo lugar que Denys se revelou o “meu Denys”. E fiquei a observar a fonte com o anjo.

Eu já sabia que isso iria acontecer. Era só uma questão de tempo para Thiago e Anne assumirem um compromisso. Eu nem deveria estar surpresa, mas era como se uma parte de mim estivesse se despedindo.

― Nada vai mudar. ― ouvi a voz de Thiago ao meu lado. Nem havia percebido que ele tinha sentado ali. Thiago era realmente um fantasma quando o negócio era chegar de fininho. ― Eu casando ou não com Anne, ainda te amo e sempre vou te amar e nada nesse mundo vai mudar isso.

― E se você realmente se apaixonar por ela? ― perguntei tentando segurar minhas lágrimas.

― Impossível, por que meu coração é só seu. ― ele disse convicto.

Não era tão impossível assim. Afinal, eu me apaixonara por Denys também, mesmo amando Thiago.

Ele olhou para trás, por onde tínhamos vindo da mansão, e, certificando que ninguém nos observava, ele me deu um de seus beijos de tirar o fôlego.

― Espere um tempo antes de entrar também. ― ele falou se levantando rápido.

Afinal, ele era o foco da festa; Ele e Anne; não demorariam a notar sua ausência.

Apenas assenti e vi “meu Thiago” entrar novamente na mansão para se transformar o “Thiago da Anne”. Dei um longo suspiro e esperei um tempo antes de seguir seus passos e tornar a ser a “cunhada de Thiago” ao invés da “Renata de Thiago”.

Mas o que me consolava era Denys ao meu lado. Sem ele seria difícil não pular no pescoço de minha irmã.

No dia seguinte Thiago deu um jeitinho de Berta sair e me presenteou com um colar de prata. Tinha um coração como pingente, esse se abria para revelar as iniciais T e R. Era tão lindo! Guardei-o, para que Denys não visse.

― Renata, eu te amo tanto. ― disse meu Thiago. Ele era tão doce!

― Eu também te amo muito. ― lhe sorri em meio a um beijo repentino.

Amamo-nos outra vez. Sempre de um jeito especial. Thiago me deixava à beira da loucura e depois me salvava. Nem sei quantas vezes delirei em seus braços aquele dia.

― Berta está chegando. ― ele anunciou colocando suas roupas rapidamente; eu pulei da cama e fiz o mesmo.

Ele se enrolou um pouco com sua calça, fazendo-o demorar mais que o normal. Quando Berta abriu a porta ele havia acabado de desaparecer da janela.

Como de costume, Berta ia direto até a bendita janela, mas se fizesse isso, dessa vez veria mais que um belo jardim.

― Hm... Berta! ― tentei lhe chamar a atenção, mas foi inútil, ela continuou seguindo até lá, eu estava do outro lado do quarto, não podendo impedi-la fisicamente.

― Diga, senhora. ― disse, enquanto chegava até a janela. ― Eu... Mas o que...? ― ela abriu a boca em um redondo “O” que eu já havia visto antes. Ainda acho engraçado, mas na hora não tinha muita graça. ― O que o senhor Thiago faz descendo a trepadeira?! ― espantou-se.

“Céus! Céus! Céus!” ― eu me desesperava. Se fosse hoje em dia seria mais como: “Droga! Droga! Droga!” ― ou até mais sujo que isso.

― Você! ― a criada apontou o dedo para mim ― Eu soube desde o início que não era boa pessoa. ― acusou ― Está traindo o senhor Denys com o próprio irmão dele! E traído sua irmã, ainda por cima! ― ela dizia.

Eu estava em choque, paralisada no mesmo lugar. Não sabia o que eu iria fazer. Tudo o que me vinha à cabeça era o desapontamento de Denys, o afastamento de Thiago, a acusação da sociedade. Eu acabaria ficando sem nenhum dos meus dois amores e ainda seria linchada pelo povo! E tudo por culpa da maldita criada que prometi a Denys não fazer mal!

― Ele sempre foi tão bom para você! Mas eu sabia que deveria te vigiar! Sabia que havia algo de maligno em você! Espere só até o senhor Denys ficar sabendo! Coitado!

A menção de contar para meu marido foi a gota d’água.

Saí do choque e olhei a minha volta rapidamente, e, como num reflexo, apanhei um globo de neve que enfeitava a cômoda e ataquei em Berta com toda a força que reuni. O objeto foi bater direto em sua cabeça, atingindo sua têmpora e a fazendo cair no chão com um baque estrondoso.

Aproximei-me e vi que já havia algum sangue em volta dela e se expandia lentamente. Desesperei-me, percebi o que tinha feito. Mas então me acalmei, fora melhor assim. Porém agora eu tinha que esconder o corpo, eu precisava de ajuda para carregá-lo.

Malditos tempos em que não existiam celulares! Tive que correr atrás de Thiago. Tranquei Berta dentro do quarto antes, caso alguém entrasse na casa.

Por sorte ele ainda estava entrando tranquilamente no carro, que estava estacionado em um local estratégico que era em uma estrada deserta no meio da floresta, que era logo atrás da casa.

― Thiago! ― o chamei.

Ele me olhou na hora e franziu o cenho.

― Renata? O que faz aqui? E Berta? ― perguntou voltando a sair do carro.

― Exatamente. Eu a matei. ― confessei.

Thiago arregalou os olhos por um momento e depois sorriu.

― Claro que matou. ― riu como se eu tivesse acabado de fazer uma piada.

― Thiago, é sério. ― olhei firme para ele ― A matei. Ela viu-te descendo pela trepadeira e deu como certa suas suspeitas. Começou a gritar comigo, dizendo que ia contar para o Denys, e eu me desesperei! Atirei um globo de neve nela e ela caiu mortinha. ― falei rápido. ― agora eu preciso da sua ajuda para escondê-la! Não quero ser presa, meu amor, não quero. ― eu o abracei.

Só então ele viu que eu não fiz piada alguma. Rapidamente voltamos até a casa e eu destranquei o quarto. Lá dentro... Não vimos ninguém, apenas uma poça de sangue e uma trilha do mesmo indo até a janela. Corri até ali e vi que Berta descia as trepadeiras, desajeitada e tonta.

― Essa não, essa não. Ela está fugindo! ― anunciei.

Thiago olhou pela janela e viu o mesmo que eu.

― Minha nossa! O que você fez? ― ele apenas se espantou.

― Não há tempo para isso! Ela está fugindo! Vai contar para Denys sobre nós e depois vai me acusar de agressão! Irei presa e desquitada! ― Eu disse já correndo para fora. Thiago me seguiu.

― É nisso que pensas? ― surpreendeu-se ― É da vida de uma pessoa que estamos falando!

― Pouco me importa a vida dela. ― bufei, enquanto saia pela porta da frente.

Thiago agarrou meu braço e me impediu de continuar.

― Renata...

― É a minha vida ou a de Berta. Escolha! ― anunciei ― Se ela viver, eu mesma irei me matar.

― Não faça isso... ― tentou pedir.

― Então me ajude! Por favor. ― pedi.

Thiago largou meu braço e me seguiu enquanto eu ia atrás de Berta. Por sorte, a janela dava para a floresta e nenhum dos visinhos a enxergava. Encontramos Berta caída a alguns metros da casa. Perdera muito sangue.

Quando chegamos lá Thiago virou-a para fitar seus olhos.

― Berta... ― franziu o cenho ao ver a mulher que trabalhou em sua casa, desde quando menino, naquele estado.

― Thiago, cuidado com ela... ― ela sussurrou ― É uma víbora...

― Não... Está enganada. Renata não é assim. ― ele disse a ela ― Me desculpe por isso.

Berta iria falar alguma coisa a mais, mas eu não iria deixar que ela deturpasse ainda mais minha imagem para o meu amante. ― Não que o que eu fiz a seguir não tenha deturpado, claro.

― Não olhe. ― pedi a ele enquanto pegava uma pedra relativamente grande. Senti a textura áspera e virei a pedra onde havia uma saliência e então dei mais duas pancadas fortes na cabeça de Berta, que soltou um gemido, filetes de sangue jorraram em meu rosto e em nossas roupas, e finalmente a criada estava morta.

“Eu avisei que a mataria.” ― pensei, vendo o estado atônito de Thiago ― “Não tenho culpa se ele não acreditou.”

― Vamos, me ajude a carregá-la. ― eu pedi enquanto pegava os pés dela.

Ele apenas me olhou com seus orbes cheios de lágrimas.

― Você não sente por isso, não é? ― perguntou com remorso. Olhei bem fundo em seus olhos e me aproximei dele.

― Claro que sinto. ― menti. ― Sinto muito pelo que fiz. Mas eu estava em pânico! Fiquei com medo de te perder. ― falei e isso era meia verdade, pois também tive medo de perder Denys. ― Eu te amo tanto! Agora eu só te peço que me ajude. Por mim. ― meus olhos se encheram de lágrimas, as quais vieram forçadas.

Thiago deu um longo suspiro e concordou.

― Tudo bem. Por você. ― ele pegou o tronco de Berta e eu peguei os pés dela, a carregamos até o carro e a colocamos deitada no banco de trás. Só tínhamos que encontrar um lugar para jogá-la e depois voltar e esconder as evidências.


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Notas finais do capítulo

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