Do Próprio Inferno escrita por erikacriss


Capítulo 6
6. Lar doce... Inferno




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Todos os dias na ilha, na calada da noite, eu fugia dos braços de Denys e ia enlaçar-me nos de Thiago. Sempre saia mais cedo que Denys para tomar café da manhã e ia ‘passear’ enquanto ele tomava banho. E céus! Como ele demorava embaixo do chuveiro! Fico pensado aqui comigo, o que ele fazia lá de tão demorado? ― Um garoto cheio de hormônios que era rejeitado pela esposa toda noite. ― Bem, esquece, melhor nem pensar!

Algo intrigante, fora desse triângulo amoroso, era que toda vez a mesma recepcionista nos recebia com seu olhar fulminante, de dar medo, depois dos passeios. Ela sempre estava lá, com os olhos negros comendo-nos. ― Isso, é claro, quando não estavam escondidos atrás dos óculos de sol da época. Aliás, não eram óculos muito bonitos, mas pelo menos escondiam seus tenebrosos orbes negros. Eu devia saber que havia algo sóbrio nela. Tão bonita, tão branca e tão assustadora!

Mas esse fato sempre me fugia quando eu tinha que voltar a atuar para Denys ou quando Thiago me distraia com... Qualquer coisa que fizesse! Afinal, era Thiago! Meu Thiago!

― Ficas tão linda quando irritada. ― comentou Thiago, certa vez em que ele roubou meu chapéu de passeio, apenas para me irritar, como uma criança em corpo de homem.

― Devolves, ou terei que deturpar essa imagem de linda para perigosa. ― Fitei séria. Mas não me consegui aguentar com tal humor por muito tempo, pois ele deu-me um enorme e glorioso sorriso me fazendo derreter instantaneamente.

E assim foram se passando os dias, até que a lua de açúcar terminou.

Foi de cortar o coração quando Thiago permaneceu na ilha, dizendo que iria depois para não levantar suspeitas. Denys nunca soube que seu irmão esteve por lá e com certeza desconfiaria se soubesse.

Então eu e Denys voltamos para a Inglaterra de balão.

Já estávamos instalados na nova casa. Denys estava animado com a proposta de seu pai de trabalhar na empresa com ele. Eu, obviamente, ficaria em casa, cuidado dos meus afazeres domésticos que eu tanto odiava. Por sorte, Denys solicitou que seu pai nos cedesse uma de suas empregadas, para que me ajudasse.

Nunca me esqueci da chegada da empregada, ironicamente foi numa sexta-feira 13. Mas já era de se esperar que, com a minha sorte, a criada fosse ninguém mais ninguém menos que Berta, meu carma.

Chegou carregando uma mala em cada mão e com um sínico sorriso no rosto.

― Berta se ofereceu para o cargo. ― explicou Denys um dia antes ― Sorte a nossa, ela é a mais qualificada. Como recompensa, aumentamos o salário dela em cinco por cento.

― Ela se ofereceu? ― cuspi as palavras. ― Maldita! Quer fazer de minha vida um inferno. ― irritei-me na mesma hora.

“Não vou matar a criada, não vou matar a criada!” ― comecei o mantra que pensei jamais ter de recitar novamente.

― Vamos lá, meu bem. Berta não é má pessoa. Esqueça o passado. ― tentou meu marido.

― Mas foi por causa dela que tivemos de nos casar! ― E por causa dela eu não pude ter tempo de notar que o meu príncipe estava na outra ponta da árvore genealógica.

― Esqueça! Pense que pelo menos foi comigo, e não com nenhum conde velho e mal amado! ― estressou-se Denys ― Por que sempre faz isso?

― Faço o que?

― Diz o quanto não queria se casar! ― ele começou a andar de um lado para o outro da sala, imaginei que fosse fazer um buraco no chão ― Olha, eu sei que não era isso que tinha planejado pra sua vida, mas será que pode esforçar-se um pouco? Por mim?

Dei um longo suspiro e concordei. A concordância tinha mais significados que eu imaginava na época. Com isso eu consenti que Berta não só entrasse na minha casa, mas também na minha vida e, consequentemente, na minha relação com Thiago, pois com ela lá seria mais difícil vê-lo. Engraçado como um assentimento de cabeça pode fazer de sua vida um inferno particular.

― Vou matá-la! ― informei Thiago na primeira vez que nos vimos depois de eu me mudar para a nova casa. Tinha se passado duas semanas e nessas duas semanas eu não pude vê-lo por culpa exclusiva de Berta, que sempre que podia arranjava um jeito de ficar me olhando e me monitorando.

Ainda bem que Thiago era esperto. Roubou alguns condimentos da cozinha sorrateiramente, obrigando que Berta saísse às pressas para comprar mais na feira, que por um acaso era do outro lado da cidade.

― Eu ajudo. ― riu Thiago divertido. Acho que ele pensava que eu estava brincando. Bom, que seja.

Fazia certo tempo que Thiago estava lá. Já estávamos despidos embaixo das cobertas e já havíamos matado a saudade um do outro. Mas eu ainda tinha sede de explorar cada parte de seu corpo, cada célula, arrepiando cada poro do meu ser. Porém Berta não demoraria a chegar.

― Não se preocupe. Da próxima vez arranjarei um jeito de fazê-la ficar fora por mais tempo. ― prometeu enquanto se levantava e voltava a vestir suas roupas.

Continuei na cama por um tempo, admirando Thiago como um todo. Céus! Que homem!

Thiago, infelizmente ainda estava com Anne. Ele dizia que era necessário, para manter as aparências. Disse também que nada sério aconteceu entre eles, mas mesmo assim eu me corroia com o ciúme. Anne estava em segundo lugar na minha lista de morte. Mas, claro, nunca seria capaz de matá-la de verdade, até por que ela não tinha culpa. Porém não custa sonhar, certo?

― É sério, Thiago, irei matá-la. ― voltei a falar.

― Não exagere. Seria assim com qualquer outra criada. ― disse.

― Não, não seria. ― bufei ― Com outra criada certamente não seria tão vigiada e certamente eu poderia pensar em dar passeios fora de casa sem que ela me fizesse ficar por qualquer motivo tolo.

Thiago abotoava suas mangas enquanto ouvia meu chilique. Será que só eu pensava dessa forma? Será que eu estava paranóica e Berta não fizesse por mal?

Essas dúvidas desapareceram na mesma fração de segundos que apareceram, pois, como o diabo que anuncia sua chegada, Berta abriu a porta do quarto. Arregalei meus olhos e olhei para Thiago. Mas... Onde estava Thiago? Notei que a fração de segundos havia sido um pouco maior que eu imaginava, tempo suficiente para Thiago, que era muito mais atencioso que eu, notar que tinha alguém na casa e se esconder embaixo da cama. Só me restava a tarefa de explicar porque eu estava nua em baixo das cobertas.

Uma luz me surgiu na cabeça quando notei que não havia partes nuas aparecendo para fora da coberta, pensei rápido e me encolhi ainda mais embaixo das grossas mantas.

― Ah! Berta, ainda bem que chegou. ― falei cínica ― Não estou me sentindo muito bem, será que pode me trazer um chá?

Ela estranhou o fato de eu estar toda coberta, mas nada falou, apenas assentiu, dizendo que demoraria apenas alguns minutos.

Assim que ela saiu, fechando a porta atrás de si, eu pulei da cama e apanhei minhas roupas que Thiago havia, sabiamente, puxado para de baixo da cama, junto consigo.

― Essa foi por muito pouco. ― disse Thiago sussurrando, enquanto saia de baixo da cama e ia até a janela.

― O que? Não me diga que irá sair por aí. Estamos no segundo andar, Thiago! És louco? ― desesperei-me.

― Não temos tempo para isso, meu amor. ― informou Thiago ― Ela já está vindo e não posso ficar me escondendo aqui pelo resto de minha vida. ― Disse.

Eu terminei de me vestir e me enfiei novamente em baixo das cobertas e Thiago rapidamente pulou a janela e desceu pela trepadeira que ironicamente eu havia odiado na casa, mas que agora eu amava.

― Aqui está. ― entrou Berta, com uma xícara de chá. Eu olhava para fora da janela e os olhos astutos de Berta seguiram os meus e ela franziu o cenho. Rapidamente desviei o olhar da saída de escape de Thiago e a agradeci.

Sentei-me na cama e comecei a bebericar meu chá. Discretamente Berta foi até a janela para fechá-la, mas no intuito de olhar o que havia lá fora. Eu não fiquei nervosa com isso, pois sabia que Thiago já tinha sumido dali a muito tempo. Era um homem muito esperto.

― O que tanto olhas aí? ― perguntei quando Berta demorou com sua observação.

― Nada, minha senhora. ― respondeu dando-me um sorriso ― Apenas observando o belíssimo trabalho que Donner fez com o jardim. Ficou realmente esplêndido. Não acha? ― comentou antes de sair do quarto.

Cínica!

― É, ficou magnífico. ― concordei, desconfiada.

E a partir daquele dia Berta passava a olhar pela janela sempre que entrava no quarto. E quando eu lhe perguntava o que diabos ela olhava tanto ― em palavras mais cordiais, é claro ― ela apenas dizia:

― Nunca me canso de olhar esse jardim. Realmente esplendido.

Há essa hora eu já havia estendido o meu mantra muitas vezes.

“Eu não vou matar a criada, não vou matar a criada, não vou matar a criada, não vou matar a criada, não vou matar a criada, não vou matar a criada, não vou matar a criada, não vou matar a criada, não vou matar a criada” ― Era o que constantemente se repetia em minha mente.

― Só vou fechar a janela. ― dizia. ― Está um dia realmente frio hoje. ― e novamente ficava a observar o jardim.

Mesmo que não fosse possível, o jardim passou a ser o segundo na minha lista de morte, empurrando Anne para o terceiro lugar. E falando em empurrar, bem que não seria uma má ideia jogar Berta pela janela. Como: “Ei, que tal ver o jardim mais de perto, hem?”

O caso é que eu estava necessitada de carinho. Passei a corresponder as carícias de Denys, pois não poderia evitá-lo para o resto da vida.

Dormir com Denys era diferente de com Thiago. Mas não de uma maneira ruim, aliás. Denys era carinhoso e atencioso. Era bom de um jeito romântico. Com Thiago era mais selvagem, mas não deixando de ser atencioso. Comecei a encontrar prazer com os dois e acho que foi aí que passei a me apaixonar por Denys também.

Sim, eu passei a amar os dois. Será que era possível? Já não conseguia ficar seu um nem outro. Não poderia escolher. Era um amor diferente e especial para cada um dos irmãos.

Denys tinha um sorriso e um jeito de me animar que me encantava. E Thiago tinha olhos sedutores e um senso de humor inabalável que me deixava igualmente encantada.

― Eu te amo. ― atrevi dizer certa noite a Denys.

Nunca vi homem mais feliz, me encheu de beijos e me amou de um novo jeito, que me fez amá-lo mais. A cada dia eu descobria um novo amor para cada um deles.

Só o que empatava minha vida era Berta, que continuava interrompendo meus encontros com Thiago. Eu já estava cansada de repetir o mesmo mantra, várias e várias vezes. Eu queria matá-la e pronto!

Comentei sobre o comportamento estranho de Berta para Denys, não dizendo, é claro, que suas suspeitas tinham fundamento. Denys apenas disse:

― Está sendo paranóica, Renata meu amor. Não há nada de errado com Berta. ― tentou me tranqüilizar ― Vem, vamos dormir.

Nem Thiago e nem Denys levavam minhas ameaças contra a criada a sério.

“Depois não digam que eu não avisei!”


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Notas finais do capítulo

Pensando em desistir. Desmotivada... vagando pelo Nyah sem rumo, pensando em quando - QUANDO? - Vou receber um misero review. - Dramática? Nem um pouco.



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