Manchas escrita por Juliiet


Capítulo 30
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas, tudo bem?
Bom, desculpem-me por ter passado todo esse tempo sem atualizar, mas é que a faculdade acabou comigo e eu só fiquei de férias na segunda passada. Aí sexta feira eu viajei pra ir visitar meus pais e estou aqui, curtindo minhas férias atrasadas. Mas eu usei essa minha primeira semana de folga pra atualizar minhas histórias :3
Capítulo dedicado à Laura e a Srta HeLL, pelas recomendações. Obrigada, meninas *.*
Não tá lá essas coisas D: mas espero que vocês gostem :3



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   A madre superiora queria saber como eu estava, é claro. Insistiu em ligar para o meu pai e contar sobre o incidente, mas eu a convenci a fazer isso só quando eu já estivesse longe dali – não queria ser obrigada a falar com ele nem por telefone. Ela sugeriu – maneira suave de dizer que ordenou – que eu voltasse ao meu dormitório e ficasse lá até amanhã, quando ela iria me buscar pessoalmente para tomarmos “providências” quanto ao que havia acontecido.

   Eu não sabia quais seriam essas “providências” e, honestamente, não me importava. Eu só queria ir para o meu quarto, mesmo que isso significasse precisar olhar para a cara da garota com cabelo de chiclete.

   Paulo ficou encarregado de me “escoltar” até o dormitório e também voltaria para falar com a diretora amanhã. Algo me dizia que ele voltaria a ser monitor muito em breve...

   A chuva não havia diminuído. Pelo contrário, ela parecia ainda mais violenta, fustigando as paredes de pedra da escola como se quisesse derrubá-las. O céu estava escuro como se fosse início de noite. A madre havia nos emprestado duas capas de chuva e um guarda chuva, embaixo do qual Paulo e eu nos espremíamos enquanto fazíamos vagarosamente o caminho até os dormitórios. Não era ruim ter o braço do garoto em volta do meu corpo, apertando-me contra o lado do corpo dele. Não era ruim ficar perto do Chermont e pronto. Exceto quando ele estava sendo um idiota, aí não era muito agradável.

   E mesmo assim eu estava começando a suspeitar que preferia ficar perto dele quando ele agia como um babaca do que não ficar perto dele de modo algum.

   Eu esperava ser capaz de não demonstrar o quanto era uma otária por aquele garoto, já que não era capaz de me impedir de ser assim.

   Estávamos passando pela frente do dormitório masculino, quando o braço que estava ao redor do meu corpo segurou meu braço e me puxou para a entrada.

   – Ei, o que você tá fazendo? – tive que gritar para ser ouvida sobre a chuva.

   – Te levando pro meu quarto – eu quase não consegui escutar a resposta, já que o Chermont não gritara como eu.

   Deixei-o me levar até o hall – que estava vazio – porque não queria começar um argumento no meio da chuva. Aparentemente, todos os alunos tinham sido confinados em seus quartos, o que me surpreendia um pouco. Desde quando um bando furioso de adolescentes obedecia a ordens fácil assim? Mas talvez fosse só eu que tivesse um pequeno problema com autoridade.

   Pequeno.

   – Sério, Chermont, o que você pensa que está fazendo? – tornei a perguntar, com minha voz normal agora que a chuva era apenas um ruído lá fora. – A madre superiora disse para me levar ao meu quarto. Duvido que ela concorde com isso. E, para completar, você nem me perguntou se eu queria vir para cá.

   Ele tirou o capuz da capa de chuva e balançou o cabelo molhado, fazendo algumas gotas de água gelada pingarem em mim. Fiz uma careta para ele, que retribuiu com um sorriso de desculpas que não parecia pedir desculpas por nada.

   – Você realmente quer ir para o seu dormitório? – perguntou, sem parar de sorrir. – Aguentar todas as garotas implicando com você?

   Rolei os olhos, mas ele tinha razão. Eu realmente não queria brigar com ninguém no momento. Só queria ficar seca e quente, me enroscar em um cobertor e comer alguma coisa.

   – Além disso, eu não quero ficar longe de você – ele continuou, ficando mais sério de repente. – Quando acordei e você não estava lá...eu não gosto quando você está longe dos meus olhos.

   Eu não podia responder a isso, então não o fiz. Estávamos separados por uma boa distância, embora, se quisesse, Paulo poderia esticar a mão e me tocar. Ele não me tocou. Esperou eu responder, esperou eu dizer que sim.

   Porque ele sabia que eu diria sim.

   Eu assenti e só então ele tomou minha mão entre a dele, grande e úmida, gelada.

   – Você sabe que esse não é o comportamento esperado de um monitor, não é? – sussurrei para provocá-lo enquanto subíamos as escadas o mais silenciosamente possível. Tínhamos deixado as capas e o guarda chuva no armário do hall.

   – Eu não sou mais monitor, sou? – retorquiu com mais um dos seus sorrisos, um bem malicioso dessa vez.

   É, talvez Vicentini estivesse certo e eu realmente estivesse levando Paulo Chermont para o mau caminho.

   Entramos no quarto e a porta mal tinha se fechado atrás de nós quando eu fui empurrada contra uma parede e os lábios de Paulo vieram parar nos meus num beijo que quase me machucou. Rodeei meus braços em seu pescoço e devolvi o beijo, passando minha língua por seus lábios e dando algumas mordidinhas. Senti as mãos dele apertando minha cintura sobre a roupa e enrosquei meus dedos em seus cabelos macios e molhados, puxando os fios com um pouco de força, até fazê-lo gemer e me beijar com mais ímpeto.

   O celular dele vibrou e eu estava tão colada no corpo dele que pude sentir. Pulei e me afastei dele como se tivesse levado um choque. Trocamos um olhar quente e insatisfeito por um segundo, um olhar que me fez curvar os dedos dos pés dentro dos sapatos, que fez algo se contrair dentro do meu corpo. Virei o rosto para longe e ouvi quando ele atendeu a chamada. Era sua mãe e ela parecia preocupada por ele ter saído de casa tão de repente.

   Sem olhar para ele de novo, abri seu armário e – dessa vez, tentando não fazer bagunça – escolhi uma camisa de mangas compridas grande e meio puída. Era de algum time de alguma coisa, provavelmente, mas eu não reconheci o símbolo. Entrei no banheiro e tirei toda a minha roupa molhada, que parecia ter grudado em mim como uma segunda pele. Eu estava gelada e, ao ver meu reflexo no espelho, percebi que estava tão pálida que dava para ver algumas veias nas minhas pálpebras e bochechas, e meus lábios estavam azuis por baixo do vermelho do beijo.

   Tomei um banho rápido, desembaraçando o cabelo com os dedos e usei a única toalha que tinha ali para me secar. A camisa do monitor alcançava meus joelhos, o que era bom, já que eu não vestia nada por baixo. Eu sempre podia pedir outra cueca emprestada.

   Quando saí do banheiro, encontrei o dono do quarto sentado na única cadeira que havia ali. ele havia tirado a camisa e seu peito era pele suave cobrindo músculos duros. Desviei o olhar para seu rosto e sorri. Ele não estava mais ao telefone com a mãe.

   – Eu já me fiz confortável – falei.

   – Estou vendo, você é muito abusada – respondeu, mas seu sorriso mostrava que não estava nem um pouco incomodado.

   Ele se levantou e se aproximou de mim. Cobriu o lado do meu pescoço com sua mão e se inclinou para me dar um beijo. Foi apenas um toque rápido de lábios, mas para mim foi como mais madeira numa fogueira que já pegava fogo. Ele me soltou e entrou no banheiro antes que eu tivesse qualquer reação. Mas a pele onde ele havia me tocado ainda ardia, como se seus dedos ainda estivessem lá.

   Fui deitar em sua cama, enrolando-me em seu cobertor como um gatinho, aspirando seu cheiro e molhando seu travesseiro com meu cabelo encharcado. Eu parecia encaixar ali, sentia-me satisfeita, quase feliz. Minha cabeça estava vazia, coberta com aquela névoa que sempre parecia preenchê-la quando Paulo estava por perto, embotando qualquer pensamento racional.

   Paulo saiu do banheiro alguns minutos depois, já vestido apenas com uma calça de moletom. Eu já sabia que era assim que ele dormia sempre, ou pelo menos em todas as vezes em que eu o vira ir para a cama. Seus olhos nunca desgrudaram dos meus enquanto ele se aproximava. Mais castanhos que verdes, quentes, líquidos, cheios de um sentimento que quase chegava a me assustar. Mas mais do que isso, me fazia querer responder. Me fazia acordada e alerta, pronta.

   Eu continuei deitada de costas, com o cobertor me cobrindo quase que totalmente. Apenas meu rosto e uma perna estavam descobertos. Chermont parou ao lado da cama e eu pude ver pequenas gotas de água escorrendo do cabelo dele e fazendo caminho sobre sua pele, do pescoço ao peito, desaparecendo no início de suas calças. Só então seu olhar se desviou do meu, indo até minha perna, depois voltando ao meu rosto. Ele não havia me tocado, mas eu sentia como se sua mão tivesse deslizado por minha pele, me aquecido.

   Ele apoiou um joelho na cama e logo depois estava deitado ao meu lado, em cima do cobertor. Eu me virei de lado para olhá-lo e ficamos nos encarando por um bom tempo. A tensão era algo quase visível. Meus dedos doíam com a necessidade de tocá-lo, meus lábios ardiam ao querer os dele e meu coração batia tão forte que era como se ecoasse por todo o quarto. E mesmo assim, só nos olhamos.

   – Nós vamos conversar? – ele perguntou, e mesmo sua voz não soava normal. Era mais pesada, mais densa de algum modo.

   – Sobre o quê? – consegui dizer, num tom mais alto do que o normal.

   Ele suspirou, mas não desviou o olhar do meu.

   – Sobre você querer ficar perto da pessoa que eu mais quero ver longe. De você e de mim.

   Eu fechei os olhos por um momento, tentando me concentrar, mas era difícil.

   – Você tem certeza de que quer falar sobre isso agora? – perguntei.

   – Não.

   Dessa vez eu não pude dizer mais nada. E nem pensar em mais nada. Paulo se aproximou mais, passou seu braço sobre meu corpo até que eu estivesse tão colada com o dele que podia senti-lo com cada centímetro de pele. Ele me beijou com força, seus lábios trancados nos meus como se ele quisesse sugar minha vida para fora de mim. Suas mãos percorreram meu corpo, ávidas. Braços, coxas, barriga. Apertando, marcando, quase machucando. Eu enterrei minhas unhas na pele dele e o deixei fazer o que quisesse. Queria aplacar suas inseguranças, queria provar que era dele, que eu sentia o que nunca diria em palavras.

   – Jura – ele disse enquanto beijava a linha da minha mandíbula até minha orelha. – Jura que ele nunca a abraçou assim. Que ele nunca a beijou assim.

   Eu gemi, sem conseguir dizer nada, apenas assentir com a cabeça.

   – Jura!

   – Eu juro – disse num só fôlego, beijando o seu pescoço. – Eu juro.

   Ele me fez repetir isso muitas vezes entre seus beijos. Eu jurei até ficar rouca, até ficar louca com seus toques, suas mãos, seus lábios, língua e dentes. Até virar uma massa sem qualquer pensamento, além do de tê-lo para mim, de estar em seus braços.

   Fomos interrompidos por um barulho no corredor, mas era só um aluno que havia tropeçado a caminho do banheiro – ou pelo menos foi o que Paulo me disse depois que foi olhar. Mas isso bastou para fazer meu belo monitor recobrar a consciência.

   Não sabia se me sentia aliviada ou desapontada por isso.

   Ele saiu e conseguiu dois hambúrgueres com fritas para nós. Não perguntei como. O garoto tinha seus meios.

   Comemos e conversamos. Não era como era com Gabe. Não era como era com ninguém. Era como se eu estivesse em uma realidade paralela, como se aquela garota que ria e corava e roubava selinhos do garoto sentado ao seu lado na cama fosse outra. Alguém que eu sequer conhecia, que eu não sabia que existia em mim.

   Talvez por isso eu tivesse me apaixonado por aquele garoto. Ele fazia com que eu descobrisse a mim mesma. E eu gostava da garota que eu era ao lado dele.

   Paulo me deu uma escova de dentes nova e escovamos os dentes um ao lado do outro, rindo e brincando, e sujando um ao outro de pasta. Depois nos deitamos na cama, ainda que fosse cedo. Eu, pelo menos, estava esgotada. Não iria dormir até de manhã, mas uma ou duas horas de sono só podiam me fazer bem.

   Deitei de costas para ele, que encaixou seu corpo no meu como se fosse um hábito, como se fizéssemos aquilo todas as noites. Eu fechei os olhos e lutei contra o sono, porque não queria deixar de senti-lo, não queria perder aquelas horas preciosas ao seu lado.

   – Eu estarei aqui quando você acordar – ele me prometeu, beijando meu pescoço.

   Eu fechei os olhos e acreditei nele.

...

   – Seu pai me disse que vai chegar amanhã – a madre superiora anunciou assim que sentei na cadeira em frente à sua mesa. – Como você é menor de idade, precisa da presença do seu responsável para que a polícia possa falar com você.

   Ótimo. Simplesmente perfeito. Primeiro a notícia de que meu pai estava vindo à escola e, ainda por cima, a polícia queria falar comigo.

   A vida não era maravilhosa?

   – Mas o que a polícia pode querer comigo, madre? – perguntei depois de soltar um suspiro de derrota.

   Ele pareceu meio desconfortável com a pergunta, e fez um movimento que, se fosse outra pessoa, eu diria que era um dar de ombros.

   – Provavelmente querem saber se você sabe quem a atacou, Julieta – respondeu, a voz neutra, desviando o olhar rapidamente para o curativo na minha testa, que Paulo havia refeito naquela manhã. – O que aconteceu ontem foi muito grave e creio que você não esteja levando o assunto tão seriamente como devia.

   Eu que dei de ombros então, até porque não sabia o que responder. O que dizer quando alguém joga uma pedra em você e você não se importa muito com isso?

   Maluca.

   Era isso que a diretora deveria estar pensando que eu era.

   Depois de mais algumas recomendações e avisos – as provas haviam sido adiadas para a semana seguinte, por exemplo – eu fui liberada.

   Saí da sala e comecei a andar pelos corredores da escola em direção à saída. Eu estava à procura do meu...namorado? A palavra era essa, mas eu não havia me acostumado com ela ainda, me deixava muito desconfortável. Eu havia passado a noite no quarto dele e, bem cedo de manhã, antes de todos acordarem, ele me levou até o meu dormitório. Só tive tempo de trocar de roupa antes que a madre superiora aparecesse lá para me buscar, enquanto minha colega de quarto ainda dormia. Afinal, era domingo.

   E essa era a coisa mais estranha de todas.

   Eu não havia notado com todo o agito do dia anterior, mas quando Paulo me deixou em meu quarto e eu comecei a vestir meu uniforme, olhei para Luma, que dormia silenciosamente, e percebi que era domingo.

   E que a escola estava cheia como eu nunca vira em todos os finais de semana que havia passado aqui.

   A maior parte dos alunos sempre voltava para suas casas nos finais de semana, mas no dia anterior, sábado, eu vi quase todos os rostos conhecidos de sempre no refeitório. Não apenas do meu ano, mas do primeiro e do terceiro também.

   Eu nem sabia dizer o porquê, mas perceber aquilo me deu arrepios. Era idiota, mas eu não pude evitar. Havia algo de muito estranho acontecendo naquela escola...

   Quando saí da escola para os jardins da frente, o sol era fraco e frio, mas o tempo estava seco. A chuva havia finalmente parado, mas o chão estava uma bagunça de lama e água. Ainda era bem cedo e não havia ninguém por ali. Ou melhor, quase ninguém. Uma figura pálida e esguia, vestida em jeans folgados e camisa preta de mangas tão compridas que cobriam as mãos estava encostada em um dos bancos de pedra.

   Gabe não sorriu ao me ver.

   Ótimo, porque eu também não estava no humor para sorrisos.

   Aproximei-me dele, percebendo que nossas roupas eram bem parecidas. Quando notei que ainda era final de semana, troquei o uniforme pelos meus jeans mais velhos e por uma blusa preta de mangas compridas. A única diferença era que minha blusa tinha a frase “Yeah I’m a bitch, just not yours” estampada em branco. Eu pretendia chocar a madre superiora pelo simples prazer de ser irritante, mas ou ela não notou ou simplesmente não se importou.

   Eu nunca disse que meu senso de humor era normal.

   – É verdade? – ele me perguntou antes que eu pudesse dizer bom dia.

   Franzi o cenho em confusão.

   – É verdade o quê?

   – Que você está namorando o Chermont. E já faz um tempo.

   Droga.

   Eu havia imaginado – pelo jeito como Paulo havia me tratado na frente de toda a escola no dia anterior – que as pessoas começassem a desconfiar que houvesse algo entre nós. Mas gabe havia falado com uma certeza que não podia ter brotado de especulações. E ele disse “e já faz um tempo”. Não era verdade, mas ele falara como se realmente acreditasse naquilo...

   Maya. A garota bonitinha que parecia sempre parecia estar quicando no chão com uma alegria que era totalmente fora de contexto.

   E que havia ouvido minha conversa com Paulo na sexta feira. Só podia ter sido a vagabunda.

   Droga de novo. Droga mil vezes.

   – Não – resolvi dizer a verdade, olhando fixamente naqueles olhos escuros. – Isso não é verdade.

   Ele soltou uma risadinha irônica e balançou o rosto antes de voltar a me encarar com toda a força do seu olhar.

   – Vai mentir para mim agora? Eu sei que vocês estão juntos. A escola inteira sabe.

   – Eu não disse que não estávamos juntos, Gabe. Mas não faz tempo. Para falar a verdade, estamos juntos apenas desde ontem. E a escola inteira pode se jogar de um penhasco.

   Ele pareceu um pouco surpreso por eu não ter negado, mas logo se recuperou.

   – Eu não pensei que você fosse esconder algo assim de mim, Julieta – falou, amargamente. – Pensei que fôssemos amigos.

   Eu não sabia o que responder a essa afirmação. Claro que éramos amigos. Era a única amizade que eu tinha, a única que eu queria, que prezava e tentava proteger a todo custo. Gabe era meu, era parte de mim, era alguém que não me fazia sentir tão diferente do resto do mundo, me deixava confortável na minha própria pele. Eu nem sabia como começar a explicar o que eu sentia por ele e o fato de ser acusada de algo que, em parte era verdade, fazia tudo pior. Se eu realmente tivesse sido honesta com ele o tempo todo, eu poderia falar e convencê-lo da verdade. Mas eu realmente havia escondido muitas coisas dele. E isso me deixava puta. Não com ele, comigo. Mas era ele quem pagaria por isso, de qualquer jeito, porque ser uma vadia intragável era meu maior talento e meu mecanismo de defesa.

   – Ah, e você nunca mentiu para mim, não é? – perguntei com minha voz mais nojenta, a que nunca havia usado para falar com ele. – E o que foi aquilo ontem? Você sabe muito bem que não tinha como ter se molhado no caminho entre o refeitório e a enfermaria. Onde você estava de verdade, Kimak?

   O fato de eu o ter chamado pelo sobrenome doeu. Tanto em mim quanto nele. Eu pude perceber a surpresa e a dor nos seus olhos. Eu me sentia como se tivesse acabado de chutar um gatinho e me arrependi de ter dito aquelas palavras no momento em que eles saíram da minha boca.

   Ao contrário de mim, Gabe não se importou em esconder o que estava sentindo. Eu o havia ferido e nós dóis sabíamos disso. Não havia máscaras nem falsidade nele. E isso só me fez sentir pior.

   – Desculpe – ele começou, sem nunca desviar o olhar. – Eu havia ido até o seu chalé no bosque, por isso estava molhado. Eu não falei nada porque estávamos na frente do Chermont e eu ainda não sabia que você estava se esfregando com ele.

    Depois de cuspir essas palavras na minha cara, Gabe girou nos calcanhares e foi para longe de mim, deixando-me sozinha, me sentindo a pior pessoa do mundo.

   Eu realmente precisava destruir tudo o que era precioso para mim?


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Notas finais do capítulo

Se tiver algum erro, me desculpem. Eu escrevi a segunda parte do capítulo no netbook da minha mãe e eu ODEIO ESSAS COISAS. O teclado é mínimo, a tela é do tamanho da minha mão e essa bosta ainda é lenta DDDD:
Bom, desculpem por não ter respondido aos reviews do cap passado, eu vou tentar resolver isso nessas férias ehuasheuahse MAS MANDEM! Sério, o número de leitores aumenta e o de reviews só diminui, nunca entendo isso :((
Beijos e até o próximo, que eu espero, não vai demorar muito :*