Depois de longos e silenciosos -exceto pelo choro baixinho  de Bella- minutos que se passaram, Edward continuava parado. Uma das mãos no
topo da cabeça da moça, outra em suas costas.

Edward não queria romper aquele ar de  “silêncio-inquebrável”, porém, durante aqueles minutos que o torpor de sua mente  se dissolveu, ideias mirabolantemente macabras, tentando fundar o choro de  Bella, surgiram como pontinhos coloridos de neon em sua mente.

A mais idiota delas, era que o novo namorado de Bella, a  havia magoado. E a pior de todas aquela que ele estava querendo manter bem
longe de sua mente, era a que alguma coisa de muito ruim havia acontecido a Anthony. Ou, ao filho que nem havia nascido.

Edward sentiu a garganta fechar. Engoliu várias vezes antes de recuperar a voz, e com a voz embargada, perguntou baixinho.

- Bella, aconteceu algo às crianças?

Ela apenas fungou e negou com a cabeça. Levando as mãos anormalmente finas e pálidas ao rosto, enxugou as lágrimas que estavam paradas nas pestanas e as que escorriam pelo nariz pequeno e rosado pelo choro.

- Quer me contar o que houve? – perguntou Edward – ou está
com raiva de mim? – soltou ele.

Ela então notou o quão próxima estava dele. Suas mãos tocando a pele nua do peito forte, as pernas encolhidas entre as dele.
Automaticamente, sentiu a ponta dos dedos ficarem muitos quentes, e corando, se afastou o mais rápido que a barriga e o peso permitiram, envergonhada.

Sentou-se na ponta da cama, de costas para ele.

Na verdade, decidira sair de casa e vir. Porém, depois de ter atravessado a porta do quarto, lembrou-se que não tinha nenhum plano elaborado. E, depois de ter se emocionado por vê-lo anormalmente branco, cheio de olheiras, e parecendo muitíssimo cansado, parecia que a mente ficara totalmente inebriada.

Engraçado quando tudo fica vermelho depois de termos perdido o controle.

Bella parecendo muito mais envergonhada do que ficara quando tinha 12 anos e um menino roubara-lhe um beijo, afundou as mãos entre as coxas. Buscando o ar pela boca entreaberta, fazendo ora barulhinhos engraçados com a garganta, ora soluçando abafado, balançou a cabeça devagarzinho e quase imperceptivelmente.

Não. Dissera ela. Não estava com raiva dele.

Edward entendera.

Ficara em silencio o tempo todo, confuso, preocupado... Um pouco emocionado. Aproveitou que Bella estava de costas, e com vergonha, enxugou os olhos no lençol branco e amassado.

O silencio estava matando-o.

- Bella – disse ele – por favor... - implorou, buscando informações.

A morena abriu a boca, mas tornou a fechá-la. Abrindo-a pela segunda vez, murmurou.

- Lamento.

Lamento. Lamento. Lamento.

Em que essa palavra explicava o porquê daquilo?

Nervosamente, Edward passou a mão pelos cabelos.

- Lamenta...? – perguntou ele, dando reticências audíveis e fazendo uma careta labial.

- Lamento – repetiu ela – estou sendo muito, muito idiota com você. E... Você não merece nada disso, Edward. Você é uma pessoa boa, um homem bom.

Aquilo fora inesperado, altruísta e causou uma onda pouco agradável de remorso em Edward.

- Não entendo – disse ele, rouco – do que esta falando, exatamente?

- Digo que lamento por ter sido idiota – disse ela, mais alto – porque não tenho direito nenhum de agir assim sobre você, ou sobre qualquer pessoa. E você é muito bom, não merece isso.

Edward ergueu uma sobrancelha. Olhou as próprias mãos, mordendo o lábio.

- Bella, me desculpe, mas continuo sem entender. Não quero que me peça desculpas, não quero que diga essas coisas – falou ele, magoado – não sou tão bom assim e você mais que ninguém, sabe disso.

Ela balançou a cabeça.

- Ta errado. Eu... Sei que não estou facilitando para você, e estou começando a me... Odiar sinceramente por isso. Edward, você é o pai do meu filho. Dos meus filhos. E... Mesmo que nós estejamos separados, nós vamos estar juntos de certo modo, para sempre.

Edward se arrastou até ela, sentando-se ao lado dela.

- Bella... – sussurrou ele – eu não mereço nada disso. Mas não quero brigar mais. Está fazendo mal ao Anthony, ao bebê – e falando isso, automaticamente colocou a mão na barriga dela, sem perceber.

Pela primeira vez tocava a barriga redonda, de quase 5 meses. Estava lisa, coberta pela blusa fina de renda branca, e ele retirou a mão rápida, repentinamente, com medo. Ele não sabia de quê, mas sentia medo de tocá-la.

Bella fingiu não perceber as bochechas vermelhas de Edward, e o toque em sua barriga.

- Então vamos parar de brigar, não é? – perguntou ela, tentando disfarçar o constrangimento de ambos – quer dizer, eu estou brigando mais, só que não sei por quê. Ando irritada ultimamente, por quase qualquer coisa. Perdoe-me.

Ele balançou a cabeça e olhou pela janela. Já estava escuro.

- Onde está Anthony? – perguntou ele, instintivamente olhando para a porta, colo se esperasse que ele entrasse correndo a qualquer momento.

- Com Emmett. Ficou brincando lá com os primos. E, a propósito, preciso ir. Perdi muito tempo... Ahn... – corou.

Edward pigarreou.

- Não quer jantar antes de ir? – perguntou ele.

- Não, realmente preciso ir. Mas você vai jantar um ensopado delicioso que Victoria fez. Parece um pecado dentro de uma panela – ela disse, e sorriu de canto – por favor, Edward, coma. Me contaram que você não anda comendo... Nem trabalhando... Pode ficar doente assim.

Edward olhou-a com um quê submisso de adoração. Assentiu de leve.

- Agora, eu já vou – falou ela e foi até a porta.

Edward fez menção de levantar, mas ela murmurou um “não precisa”.

Estava no patamar do portal aberto, quando se virou e um sorriso enorme passeou em seu rosto.

- Esteja pronto na sexta à tarde – disse e acenou, saindo.

~°~

Edward estava demasiado nervoso. As mãos suadas, olhando a sala azul-anil e branca, terrivelmente silenciosa, com cheiro floral de aromatizante de ar, ar-condicionado ligado.

Bella riu.  Ele a olhou.

- Que é? – perguntou os olhos saltando ligeiramente das órbitas.

Bella riu mais, acariciando a barriga, balançando a cabeça e pegando a bolsa, a procura de água.

- Onde esta a água? – murmurou ela, ainda rindo.

- Quer que eu compre? – perguntou ele.

- Não, já encontrei – ela puxou a garrafa da bolsa, e abriu, ainda rindo.

- Do que você está rindo?! – perguntou ele, irritado.

Ela quase gargalhou e algumas pessoas olharam para os dois. Uma mulher morena chegou a comentar que quando estava grávida também ria como se estivesse bêbada.

Edward estava com a boca anormalmente seca e olhou a garrafa nas mãos de bela, resistindo ao impulso de pega-la sem permissão.

- Quer? – perguntou ela, passando a garrafa para ele que bebeu tudo de um gole.

Ela riu ainda mais.

- Edward, estamos num consultório médico, não indo para a forca, ta?

Ele assentiu e olhou pela janela, respirando fundo... Estava tentando se acalmar...

- Sra. Cullen? – perguntou uma moça de cabelos até a
cintura, muito pretos e lisos.

Bella ainda não estava separada oficialmente, então, ainda era a “senhora Cullen”.

- Sim? – disse Bella, sorrindo e erguendo a cabeça.

- A Senhora já pode entrar.

Bella sorriu e se levantou. Foi andando até que percebeu que Edward não a acompanhava. Voltou, e sorriu, estendendo a mão.

- Que foi? Amarelou, é?

- Ahn?

- Edward, é a minha vez, se você ainda não percebeu.

- Ah... – disse ele, mas não se mexeu.

- Não quer mais entrar comigo?

- Ahn?

A mulher, de longos cabelos pretos, segurou o riso.

- Senhor Cullen, acompanhe sua esposa.

-Ah, tá... – ele se levantou, e Bella andou um passo a sua frente. Entraram numa salinha á parte, enorme e com janelas arejadas.

Uma senhora loira de cabelos curtos e dentes brilhantes sorriu.

- Bella! – ela falou, se levantando – como estamos?

Tocou a barriga de Bella.

- Bem, Angel, obrigada. E a Srta.?

- Bem, também. Olhe, trouxe seu... Ahn... – a medica corou – o pai do seu filho.

Bella prendeu uma risadinha e assentiu.

- Sim, não tem problema, não é?

- Não, claro que não – a loira apresentou duas cadeiras brancas e aconchegantes – sentem-se.

Edward precisou que Bella agarrasse seu antebraço e o sentasse numa das cadeiras, até que minutos depois entendeu que devia ter se sentado.

Bella murmurou algo sobre “ele nunca fez isso antes...” e “ele só está nervoso...”. Depois entraram numa conversa com algumas risadinhas sobre o bebê e como Bella estava reagindo à gravidez, se estava tudo bem, se ela estava enjoando frequentemente, se já havia mexido.

Edward não ouvia nada disso. Os lábios se mexiam, mas ele só enxergava uma luz vinda de um abajur no fim da sala.

- Podemos ir agora ver o bebezinho? – perguntou à loira.

Bella sorriu levantando-se e puxando Edward pela blusa, para que seguissem a médica.

Bella trocou de roupa e entraram numa sala menor, onde a moça apontou a cama reclinável para Bella. Bella se sentou, recostando-se e esperando, a barriga redonda, reluzente e nua.

Angel se sentou ao lado e Edward se encostou o máximo que pôde na parede. Observou atentamente a mulher escorregar o liquido transparente, em forma de gel. Depois a mulher escorregou um aparelho pela barriga lisa e Edward olhou atentamente para as formas que estava numa tela pequena próximo a medica.

Sorridente a mulher falou.

- Esta vendo, Bella? Mãozinhas, pezinhos...

Bella sorriu, animadamente, assentindo.

Edward franziu o cenho e olhou a tela. Mãozinhas? Pezinhos? Sentiu a mão de Bella segurar a sua.

Ele a olhou.

- Olhe Edward... – disse ela e estendeu o dedo indicador para a tela – os pezinhos... As mãozinhas... A cabecinha... – ela sorriu e Edward também, feliz por finalmente ter visto.

- Hum... Acho que o papai ainda não ouviu o coraçãozinho... No dia, Bella veio sozinha... – ela mexeu em algo e um som de “tum-tum-tum-tum-tum”muito rápido e forte, retumbou pela sala.

Edward sorriu para o som, mesmo que não o visse.  De repente, o som lhe parecera lindo.

- E agora, vou ver se dá para saber se é uma menininha mesmo, Bella... Mas parece que todo mundo tem certeza absoluta... – a loira riu e procurou algo com a testa franzida. Até que deu um enorme sorriso – parece que todo mundo é bom de chute na sua casa. Parece que realmente é Zoey.

Bella riu, e olhou a tela, suspirando.

Edward apertou a mão dela, o coração batendo contra a caixa torácica. Bella o olhou, e sorriu. Um sorriso que ambos compartilharam.

~°~

Edward e Bella estava sentados no shopping, tomando um sorvete de chocolate na casca.

- Bom, agora que tenho certeza, vou começar a comprar o enxoval. E procurar uma casinha maior... – disse Bella.

- Eu posso te dar uma.

Bella riu.

- Edward, casas não são baratinhas, ok?

- Mas eu tenho...

-Sei que tem – Bella colocou uma colher de sorvete na boca.

- Posso pelo menos te ajudar com as coisas da Zoey? – perguntou ele.

- Com isso, pode.

Edward sorriu satisfeito.

- A gente pode começar agora! – disse ele, animado.

- Agora? – Bella ergueu a sobrancelha.

- É! – ele sorriu e se levantou, puxando-a pela mão.

Bella riu.

- Edward, mas eu não...

- Não tem problema!

Bella riu, jogando a casquinha vazia no lixo e se deixando puxar por Edward.

Acabou que ela escolheu tudo, menos um berço, que Edward praticamente a obrigou a aceitar, uma cestinha acolchoada branca e lilás, e o carrinho, cor-de-rosa.

Saíram carregados de sacolas (Bella levando apenas duas, já que Edward insistira que ela não carregasse), conversando. O berço e o carrinho seriam entregues no finalzinho da tarde na casa de Bella.

- E então, como está a empresa, e os negócios?

- Estão indo bem. Ando fechado uns acordos, e negócios... Você sabe que aquilo também é seu e...

- Eu não quero nada da empresa – disse ela – não faço questão dela.

Mexeu nos cabelos, tentando esconder o rancor que sentia aquela empresa enquanto saia do elevador para a garagem.

Edward silenciou, colocando as compras no bando de trás e abrindo a porta para Bella.

Edward já estava entrando no carro quando uma loira deu-lhe um tapinha no ombro.

- Edward Cullen!

Edward se virou e sorriu.

- Erin! Como vai? – ele apertou a mão da loira.

- Bem, sabe. E você?

- Também. Fazendo compras?

- Sim, e você?

- Sim. Vim fazer compras para minha filha – ele se encheu de orgulho, dizendo “minha filha”.

- Filha? Mas é tão novo!

Edward riu e corou.

- Bom, em todo caso, preciso ir. Até logo, Erin.

- Até!

Edward entrou no carro e deu a partida.

Bella cruzou os braços e a pernas. Era a mesma mulher da outra noite.

- Hum... Quem era, Edward?

- Erin. Andei fechando uns negócios com ela faz poucos dias – disse ele – vamos passar na Alice
para pegar o Anthony?

- Sim. Mas e aí, correu bem seus negócios?

- Sim.

- Por que está me respondendo só com palavras monossílabas? Esta ocultando algo?

Edward franziu o cenho e aproveitou o sinal vermelho para
olhá-la.

- Não tem muito do que falar. Foi um jantar chato no shopping. Só.

- Só? Aham...

- Que foi? – ele riu – ciúmes, eh?

Ela corou.

-Não, você está tirando coisas de onde não existe. Só preciso saber?

- Precisa é? – disse ele rodando o carro, e rindo.

- Ah, calado!

Edward riu ainda mais e Bella ligou o rádio. Eles passaram para buscar Anthony e depois Edward os deixou em casa e a ajudou a subir as compras.

- Quer beber algo? – perguntou ela.

- Não, obrigada.

- Fica mais, pai!

- Ah... Não, eu realmente tenho que ir, Thony. Mas logo, logo a gente se vê.

Ele fez uma cara de desapontamento, mas assentiu, beijando o
pai na bochecha e depois correndo para o banheiro.

- Me espere! – mandou Bella – já vai mesmo?

- Já.  Até logo.

- Tchau – ela ficou na ponta dos pés para dar um beijo na bochecha dele e ele depositou outro na bochecha corada, saindo e fechando a porta.

“O único lado bom da queda livre é dar, a quem nos ama, a chance de nos pegar no colo.” 
  (Grey’s Anatomy)