2 Mãe
   Desde o momento em que ganhei conhecimento da existência de minha mãe, não achei que pudesse me sentir mais feliz, ou satisfeita. Eu tinha alguém, alguém aquém eu pertencia e mesmo não sabendo ainda de minha existência, estava zelando por mim.
   Em pouquíssimo tempo estávamos totalmente conectadas. Eu pude sentir sua fraqueza, fome e enjoos, nos primeiros momentos de meu crescimento. Aquilo me incomodou profundamente, não estava gostando nada dela estar mal, eu também me sentia mal. Ao longo daquelas horas estávamos mal, mas a principio era só fraqueza e os enjoos, até que, eu não sei por que veio a preocupação e a ansiedade. Ela se movia depressa me deixando tonta. Na tentativa de para-la me movimentei bruscamente, isso pareceu funcionar, ela parou. Como ela continuou nervosa tive de cutuca-la uma segunda vez, mas estranhamente isso não parecia incomoda-la. Depois ela sentiu ainda mais ansiedade e então veio... Algo que eu não esperava, mas foi ainda melhor do que descobrir sua existência... Foi o amor, novamente ele, mas dessa vez não era meu por ela, era dela por mim! 
   Eu não podia definir o que senti. Sentir amor por uma pessoa ou algo é sem dúvida maravilhoso, mas se sentir amada por alguém, por alguém que você ama mais que tudo, não há palavras... E eu podia sentir nitidamente seu amor, pois eu sentia o que ela sentia, era tão bom... Aquela foi minha segunda experiência de pura felicidade, e fora em tão pouco tempo, que eu imaginei que se continuasse nesse ritmo eu não daria conta.
   Seu amor me banhava de forma sublime, me fazendo relaxar. Eu podia sentir sua percepção de mim ela não apenas me amava tão profundamente como me sentia também. Estava tudo tão bom, estávamos tendo um momento nosso, ela me acariciava através da bola e tinha reação estranha ela parecia “emocionada”, estava tão feliz por tomar conhecimento da minha existência, quanto eu quando tive da dela. Estava tudo tão bom até que ela ficou preocupada novamente, na verdade estava muito assustada, e mais uma vez ela se sentiu mal. A cutuquei novamente, estava preocupada.
   “Está tudo bem. Nós estamos bem.”
   Ela me disse em seus pensamentos, não sei como aquilo aconteceu, mas inaugurou meu terceiro momento. Eu ainda não fora capaz de ouvir sua voz, quer dizer, eu sabia que havia algo fora da bola, mas não podia ver ou escutar o que havia lá, então ouvir sua voz foi pra mim um momento glorioso. Era a primeira voz que eu ouvia, e era linda, tão suave e doce, cheia de amor e carinho. Senti-me segura quando ela disse isso.
    Porém minha segurança não durou muito, não sabia o que havia acontecido lá fora, mas de repente, minha mãe estava com...  medo, não ela estava em pânico, mas não por ela, o que me surpreendeu, ela era a coisa mais importante que havia, pelo menos para mim. Ela estava preocupada comigo, mas eu não fazia ideia do porque, afinal eu estava muito bem, eu tinha minha bola, eu a tinha, não precisava de mais nada. 
    Todavia ela estava com medo, e se ela estava eu também estava.