- Do que você está falando ?

- Não se faça de bobo . Onde já se viu ... Romeu da sexta série D. Estava com leucemia ? Os cabelos e o rosto ficou irreconhecivel ... Como é que você conseguiu mentir tanto daquele jeito, hein ?

- Mas no começo bem que eu bem que te elogiei, não foi ?

- Como ? Dizendo que  sou uma versão abatida da princesa Ming ?- disse, soltando um longo suspiro . - Olha aqui Woonnie , não tem nenhuma importancia você ficar falando coisas sobre mim , mas é que no mundo existem pessoas que realmente estão doentes e sofrendo. Mesmo que seja apenas uma brincadeira , não gosto que se aproveitem da situação dessas pessoas para dispertar compaixão alheia.

Fiquei incomodado com o seu tom de sermão. Porém , mais que isso , ela tinha razão de estrar zangada comigo. E senti algo mais : tive a impressão de que uma brisa soprava dentro do meu peito . Era como se a brisa surgisse porque , pela primeira vez , eu via Jung como a garota que ela realmente era. E por uma satisfação íntima de ter começado a gostar de verdade .. dela.

Na setíma serie caímos em classes diferentes , mas , como ambos continuamos a ser os representantes da sala , pelo menos uma vez por se aman tinhamos a oportunidade de nos encontrar nas reuniões após as aulas. No final do primeiro semestre , Jung passou a estudar com frequencia na biblioteca , e eu ficava escondido , a olhando.

Já nas férias de verão , suas visitas se tornaram praticamente diarias. Eu , por minha vez , passei a trabalhar mais na biblioteca para juntar algum dinheiro , aproveitando que não tinha mais alas de kendo após o campeonato municipal. E , como tambem precisava me preparar para o exame de admissão do ensino médio, no periodo da manhã ficava estudando na sala de leitura , mas dava uma pausa pr compor algumas músicas tolas.

Com isso , as oportunidades de nos encontrarmos era maior e, quando isso acontecia, estudavamos juntos e, nos intervalos , conversavamos e riamos , tomando sorvete .

- Quer saber Jung ? Não me sinto nem um pouco motivado- falei.- E não tenho nenhum ânimo para estudar durante as férias.

- No fundo , você já sabe que vai conseguir. Por isso não sente necessidade de se empenhar tanto. E tambem , eu acredito em você ! Vai conseguir - ela terminou.

- Obrigada. Mas não é nada disso, é que eu vi em uma reportagem que lá pelo ano 2000 um asteriode  vai se chocar com a terra , destruindo todo o ecossistema.

- Ah , é ? - respondeu Jung , lambendo o sorvete sem dar importancia ao fato.

- Como assim , 'AH,É? – perguntei com uma cara séria – A cada ano que passa a camada de ozônio vem sendo destruída e as florestas tropicais estão diminuindo. Isso seguinifica que, se continuar assim , quando estivermos velhos , a terra se tornará inabitável , sabia dona Hirose ?

- Nossa! Terrível,hein ? – ela riu.

- Você diz isso , mas pelo visto não está nem aí , não é mesmo ?

- Me desculpe Woonnie! – disse ela – É que eu não consigo ter esse tipo de preocupação . Você consegue realmente se preocupar com isso ?

- Colocando assim , desse jeito ...

- Não consegue! Não é mesmo ?

- Mas , mesmo que eu não consiga , esse dia certamente vai chegar.

-Se for assim , que assim seja.

Quando ela me disse isso , achei que tinha razão.

- Não adianta ficar remoendo algo que só vai acontecer no futuro, você não acha?

- Só que esse ‘futuro’ é daqui dez anos ...

- Então estaremos com vinte e cinco anos – Seu olhar era meio distante.- Mas , até lá , ninguém sabe o que vai acontecer com você ou comigo..

Nisso , me lembrei das hortênsias da pequena lojinha do shopping.Depois que estivermos lá , elas já deviam ter florecido duas vezes que ainda não tínhamos ido vê-lás . Eram tantas coisas que aconteciam no dia a dia que tinha me esquecido completamente delas. Creio que o mesmo podia se dizer Jung . E independentemente do impacto do asteróide ou da destruição da camada de ozônio , no ínicio do ano 2000 as hortênsias do shopping certamente estariam floridas. Por isso , achei que não precisava ter pressa para ir vê-lás , afinal podíamos ir lá sempre que tivéssemos vontade.

E assim transcorreram as férias de verão . Eu, como sempre , continuei preocupado com as questões ambientais e o futuro, enquanto aprendia sobre as invasões bárbaras , Cromwell e a guerra inglesa e solucionava equações e raízes quadradas. Fui pescar algumas vezes com o meu pai.Comprei CD’S novos . E sempre conversava com Jung , tomando sorvete.

- Sonseuko! – Quando ela me chamou assim pela primeira vez , foi tão inesperado que acabei engolindo um pedaço de sorvete que derretia boca.

- Como é que é ?

- Sua omma não te chama sempre assim ? – disse Jung sorrindo.

- Desde quando você é a minha omma ?

- Não importa. Eu decidi que a partir de hoje vou te chamar de Sonseuko.

- Quer fazer o favor de não decidir as coisas sem me consultar?

- Pois já esta decidido.

E por essas e outras Jung sempre acabava decidindo tudo a ponto de eu mesmo não saber quem eu era.

Assim que começou o segundo semestre , num intervalo do almoço ela apareceu na minha frente trazendo um caderno.

- Toma! – disse ela , colocando o caderno sobre a mesa.

- O que é isso ?

- É um diário compartilhado.

- Como ?

- Você nunca ouviu falar disso , não é mesmo ?

Dei uma olhada ao redor e disse :

- Não vamos falar disso enquanto estivermos na escola , ok ?