Erik Night - Marcada escrita por jbrizola


Capítulo 3
Capítulo 3




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3

Ainda estava tonto quando saí da sala da Professora Nolan então resolvi me sentar em um dos bancos do pátio da Morada da Noite para me acalmar e repassar o que tinha acabado de acontecer. Eu tinha me declarado para uma novata que eu mal conhecia. Na verdade, não a conhecia em nada, só de vista. Tá certo que a declaração foi parte do monólogo, talvez ela nem tivesse percebido, mas eu olhei bem nos olhos dela quando falei sobre o amor. Eu disse aquelas palavras para ela, e mais ninguém. Gostaria muito que ela tivesse percebido isso, mas não ia me iludir.

“Mas ela pareceu corar quando eu terminei o monólogo para ela e estava me olhando quando me virei para olhá-la antes de sair da sala.”

Por mais que não quisesse me iludir, a sementinha da esperança estava criando raízes profundas em meu coração e isso era muito perigoso. Nunca entreguei meu coração para ninguém. E essa estranha já estava com ele totalmente, sem que eu ao menos tivesse permitido. Pela primeira vez eu estava com medo. Medo de ser rejeitado. Mas agora era tarde de mais. Essa novata já me tinha em suas mãos.

– Agora não me restam alternativas. Vou ter que tentar a sorte. O que eu vou fazer? Como vou chegar até ela? – O incidente no corredor ainda me assombrava. Ela poderia ter corado somente por ter me reconhecido naquela cena deplorável.

Mas eu não podia ter certeza, e caso ela me rejeitasse, fazer o quê? Eu teria que conviver com isso, mas eu ia tentar, eu tinha que tentar. Não sabia ainda o que fazer, mas não ia desistir, nem me esconder, como da última vez.

Não estava com cabeça para pensar nisso agora então suspirei e segui para minha próxima aula.

Assisti as minhas próximas duas aulas mais aéreo ainda do que estava nas duas primeiras. Zoey não saía de minha cabeça. Eu não via a hora de chegar a hora do almoço para encontra-la no Salão de Jantar – ou refeitório, como eu prefiro chamar. Queria me perder naqueles olhos novamente.

Ao sair ao pátio em direção ao refeitório, Aphrodite me encontrou e me lembrou de algo que eu não deveria ter me esquecido.

– Você não está indo para o lado errado? – Não entendi a pergunta que ela me fez e ela percebeu minha cara de interrogação. – Hello! O ritual das Filhas das Trevas? Temos que arrumar a sala de jogos para o ritual, como fazemos sempre! – Ela me olhou com uma cara de “em que mundo você está?”.

– Ah! Claro, eu estava indo para lá. – Respondi. Ainda tonto por ter me esquecido disso! “O que está acontecendo comigo?”

– Hum, bem, não parecia que você estava indo para lá. Mas, se você diz que estava. – Ela deixou a frase sem terminar, deixando bem a entender que ela não acreditava em mim. – Podemos ir juntos. Eu também estou indo para lá, é claro. – Ela me fez o convite. Eu realmente não queria ser visto com Aphrodite agora, mas a maioria dos alunos já estava na sala de jantar, então não vi problemas.

– Sim, claro. Vamos. – Tentei dizer isso com a maior naturalidade possível. Ela se pendurou em meu braço e seguimos para a sala de jogos.

Ao chegarmos lá já tinha bastante gente trabalhando nos preparativos para o ritual das Filhas das Trevas. Todas as mesas de jogos já estavam encostadas nas paredes e os meninos as estavam cobrindo com o veludo preto para escondê-las. A maioria das velas também já estava em seus lugares. Portanto, não havia muito mais coisa para se fazer.

Eu fui ajudar os meninos, enquanto Aphrodite se encontrava com suas amigas – ou, como todos os outros alunos as conhecem, “bruxas do inferno”. Elas eram Deino, Enyo e Pemphredo e não eram nada amigáveis.

Elas conversavam em voz baixa, mas percebi que estavam aprontando alguma coisa. De repente escutei o nome de Zoey no meio da conversa e tentei escutar mais atentamente, mas alguém da cozinha chamou Aphrodite para dizer que os nossos lanches estavam prontos, e elas mudaram de assunto.

– Pessoal, vamos comer. – Aphrodite chamou a todos.

Tinha que saber o que ela e suas seguidoras estavam aprontando, mas como? Não era nada fácil tirar alguma coisa de Aphrodite. Mas eu ia tentar. Aproximei-me dela para comermos juntos, e ela abriu um sorriso malandro par mim. Sorri de volta e me sentei ao seu lado num degrau da sala de jogos.

– Lanches gostosos. O pessoal daqui sempre cozinha muito bem. O que você pediu que eles fizessem hoje para o jantar depois do ritual das Filas das Trevas? –Ela me olhou desconfiada.

– Adoro comida mexicana, e fazia tempo que não comia. Então teremos comida mexicana hoje. Bem apimentada.

– Eu também gosto de comida mexicana.

– É, eu sei.

– E terá alguma coisa especial hoje? – Tentei ver se ela soltava alguma coisa que pudesse encaixar Zoey na conversa.

– Erik, você não me engana. Eu sei o que você quer saber. Todos querem saber a mesma coisa e ficam enrolando. Por que não perguntam de uma vez? Sim. A Zoey vai participar hoje do nosso ritual.

– Bem, eu realmente queria saber sobre isso, mas só porque achei estranho você convidar uma novata a participar do ritual das Filhas das Trevas. – Tentei escapar. Ela não podia saber de meu interesse por Zoey.

– Pois é! Não pude fazer nada quanto a isso. Neferet é sua mentora e me pediu para convidá-la a participar de nosso seleto grupo, apesar de eu achar que ela não merece. Mesmo com aquela marca completa bizarra em sua testa. Mas, como Neferet também é a minha mentora, não há o que eu possa fazer, tenho que obedecer. Portanto, aquela sem graça esquisita da Zoey vai participar de nosso ritual das Filhas das Trevas. – Ela me respondeu com ódio nos olhos. Ela não estava gostando nada dessa história. E nem eu. Mexer com Aphrodite não era brincadeira. Eu teria que dar um jeito de proteger Zoey dela.

– Só não sei por quanto tempo ela vai participar de nosso ritual. Não sei se depois de hoje ela vai continuar querendo fazer parte de nosso grupo. – Ela disse isso com um sorriso sarcástico no rosto.

Eu tinha razão. Elas estavam aprontando alguma coisa. Com certeza eu deveria ficar de olho em Zoey. Como se eu conseguisse tirar meus olhos dela!

Voltei para assistir as minhas duas últimas aulas. Agora eu estava preocupado. “O que será que Aphrodite está aprontando?”

As aulas passaram num piscar de olhos. E, após o seu término, fui para o dormitório para trocar de roupa para os rituais da noite. Sempre usávamos roupas pretas nos rituais das Filhas e Filhos das trevas, e sempre estávamos muito bem arrumados.

Depois de trocar de roupa e me arrumar fui para o ritual da Lua Cheia no templo de Nyx.

O templo de Nyx estava decorado lindamente, como sempre. Nunca ia me cansar dos rituais de Lua Cheia. Era sempre uma experiência diferente e única. Assim que entrei no templo procurei por Zoey, mas ela ainda não tinha chegado. “Será que ela não vinha? Tinha se esquecido? Será que estava acontecendo alguma coisa com ela?” – Meus pensamentos já estavam ficando loucos quando eu percebi que sua colega de quarto, Stevie Rae também não estava lá. “Será que ela está passando mal? Acalme-se Erik. Não deve ser nada, ela só está atrasada.” – Respirei fundo e me acalmei um pouco. Com certeza ela só estava atrasada. Era o primeiro dia dela, ela devia estar um pouco perdida com os horários.

Estava olhando para a porta de entrada quando ela chegou, estava com uma expressão assustada e curiosa, olhando para todos os lados, tentando absorver tudo o que estava acontecendo. Eu ainda me lembrava de meu primeiro ritual, de todas as sensações boas que senti, de como foi especial para mim. Para ela com certeza não seria diferente. Ela ficaria encantada, como todos nós ficamos da primeira vez.

De repente percebi que ela estava com a mesma roupa da aula de teatro, com certeza Aphrodite não disse nada para ela que nos rituais das Filhas das Trevas todos nós usamos preto e eu não tinha intimidade para chegar para ela dizendo que ela tinha que trocar de roupa, ela acharia que eu a estava chamando de mal arrumada. Mas para mim ela estava linda de qualquer jeito.

Quando ela viu o templo de Nyx, com toda a sua bela decoração, seus olhos se arregalaram de surpresa. Ela estava reparando em tudo com uma expressão de perplexidade no rosto. “Como ela é linda.” Eu não cansava de olhar para ela.

Zoey fixou seu olhar nas chamas que vinham de uma fogueira no chão, realmente o fogo era lindo, e muito alto. Parecia que estava hipnotizada pelo fogo até que Stevie Rae chamou sua atenção. Ela enfim pareceu perceber o círculo de pessoas que aguardava o início do ritual e se posicionou onde seus amigos a esperavam, bem de frente a mim. Ela não olhou na direção em que eu estava no círculo formado por alunos e professores, assim eu pude ficar olhando para ela sem medo de que ela me flagrasse ou que alguém percebesse que eu a estava olhando, para quem me olhasse, eu estaria apenas olhando para frente.

As professoras que representavam os elementos entraram então no círculo. O ritual de Lua Cheia estava começando. O Professor Loren Blake recitava a poesia de entrada para Neferet, que entrou no círculo com maestria, dançando graciosamente. Percebi que Zoey ficou bem impressionada com o professor Loren Blake. Todas as garotas da Morada da Noite o achavam lindo. É claro que ele era bonito, eu não podia negar isso, mas – para a minha sorte – ele era professor, e professores não podem se relacionar com novatos. Então, eu não o considerava como concorrência, pois ele não podia tocar nas alunas, mas que ele me irritava, irritava. Ele com certeza tirava boa parte da atenção que deveria ser minha. Mas não ia me focar nisso agora. Neferet tinha entrado no círculo e ela era deslumbrante. Tirei meus olhos de Zoey, com relutância, e comecei a prestar atenção no Ritual de Lua Cheia.

Neferet invocou os cinco elementos com sua elegância e autoridade de sempre, fez seu discurso magnífico e fechou o círculo nos deixando com aquela sensação de paz que só tínhamos após um Ritual de Lua Cheia.

Tive que sair rápido e ir correndo para a sala de jogos, era eu quem fazia a recepção dos Filhos e Filhas das Trevas ao salão, e precisava me preparar e chegar lá antes que qualquer outro.

Entrei para pegar o pote com óleo e encontrei com Aphrodite, ela estava terminando de preparar as velas e estava conversando com Elliot, pelo jeito, a geladeira da noite.

– Posso falar com você. – Chamei Aphrodite. Ela veio em minha direção e esperou que eu falasse.

– Você não contou a Zoey que ela tinha que trocar de roupas para vir ao Ritual das Filas das Trevas, não é?

– Não tive tempo. Mas não se preocupe, eu trouxe uma roupa para ela. Esse Ritual é meu, e eu não gosto de ninguém mal vestida.

– E você vai contar a ela sobre o sangue no vinho, certo?

– Claro. Vou contar quando ela estiver se trocando, não se preocupe.

– Ok, então. – Peguei o pote com óleo e fui esperar por Zoey, nervoso.

Muita gente já tinha chegado, mas ela novamente demorou a chegar. “Será que ela não vem? Eu devia tê-la acompanhado até aqui, mas o que eu ia dizer? Quer acompanhar um desconhecido tarado e sem vergonha para o ritual aonde a chefe das malditas do inferno vai lhe fazer uma surpresa desagradável?” Não. Com certeza não ia me ajudar em nada tentar acompanha-la até aqui. Mas onde ela estava? Já estava ficando angustiado de novo quando olhei pela janela e a vi chegando.

Ela estava com Stevie Rae. Elas conversaram um pouco e Stevie Rae se afastou, com uma expressão muito triste, como se ela tivesse perdendo uma amiga. Talvez Stevie Rae estivesse imaginando que Zoey se tornaria uma das malditas do inferno. Eu esperava que não, não consegui ver Zoey agindo como Aphrodite.

Abri a porta para ela entrar suspirando de alívio por ela ter vindo.

– Merry Meet Zoey. – Eu a cumprimentei. Ela olhou pra mim com olhos assustados, mas não me respondeu. Esperei alguns segundos e percebi que essa era a única reação que eu teria dela.

De repente parecia que eu estava em uma montanha russa. Meu estômago não parava de dar voltas. Ela não queria nem falar comigo! Eu devia mesmo tê-la assustado. Com certeza ela não queria nada comigo. Estava entrando em desespero, não podia ser rejeitado, não por essa garota que já tinha meu coração em suas mãos. Essa menina por quem me apaixonei tão repentinamente. Tinha que fazer alguma coisa antes que ela percebesse como eu estava desesperado. Eu já estava começando a tremer.

Então, molhei meu dedo no óleo e desenhei o pentagrama em sua testa delicadamente, sentindo um calafrio passar por minha coluna. Era a primeira vez que eu a tocava. Meu dedo formigava com a sensação de sua pele de seda. Sua marca era mais incrível ainda de perto e brilhava com o óleo que escorria nela. Não, eu não podia desistir. Iria dar um jeito de ela saber como eu era de verdade. Juntei todas as minhas forças para que minha voz saísse composta. 

– Abençoada seja. – Eu disse.

– Abençoado seja. – Ela respondeu. Sua voz era suave, baixa, e fez meu estômago dar voltas novamente. Era a primeira vez que eu ouvia sua voz também. Eu sei que seria deselegante se ela não me respondesse dessa vez, mas ela estava falando comigo, e isso me fez muito feliz. As lembranças de sua pele e sua voz ficariam gravadas em minha memória para sempre.

Esperei que ela entrasse na sala de jogos, mas ela não entrou, continuou parada em minha frente, me encarando. Não sabia o que ela estava fazendo. Bem, esse era seu primeiro dia na Morada da Noite, ela devia estar um pouco perdida, é muita coisa para se absorver em um dia só.

– Pode entrar. – Eu a instrui.

– Ah, ahn, obrigada. – Foi o que ela conseguiu responder. Com certeza ela estava perdida.

Zoey entrou, mas parou assim que viu a sala de jogos. Pelo que percebi no Ritual da Lua Cheia, ela deveria estar absorvendo tudo o que podia da decoração.

De repente escutei a voz de Aphrodite atrás de mim.

– Aí está você Zoey!

Mas já! Aphrodite não ia dar nenhuma folga para Zoey, isso era certeza. Eu esperava ter tempo para acompanha-la dentro da sala de jogos, mas ainda tinham alguns Filhos das Trevas para chegar, e eu tinha que recepciona-los. Que droga! O que eu podia fazer? Eu me virei para encarar Aphrodite, eu precisava defender Zoey dela. Comecei a dizer a Zoey que mostraria tudo a ela, mas Aphrodite foi mais rápida.

– Erik, obrigada por fazer Zoey se sentir tão bem-vinda. Eu assumo daqui! – Ela pousou a ponta de seus dedos possessivamente em meu braço, me lançando um olhar de “não se meta”. Retirei meu braço de seu toque, e mal olhei para ela. Virei-me para Zoey, sorri novamente e fui ficar mais próximo à porta de entrada. Fiquei muito nervoso em deixar Zoey sozinha com Aphrodite, mas no momento, não tinha o que eu pudesse fazer.

Após me garantir que todos já estavam na sala de jogos, entrei. O pessoal já estava posicionado em um círculo em volta da mesa de oferenda à Nyx. Tomei o meu lugar e comecei a procura-la. Ela ainda não estava no círculo, isso não era bom sinal. Quando estava me preparando para ir procurar por ela, ela entrou ladeada por Enyo e Deino, saindo do banheiro feminino. Parei onde estava de boca aberta. Ela estava deslumbrante em um vestido preto colado de mangas longas, decote redondo onde a maior parte de seus ombros estava à mostra. O vestido ia até seus joelhos e contornava seu corpo com perfeição. Havia contas vermelhas, que me lembravam de gotas de sangue, em volta do decote, na barra do vestido e no final das mangas. Eu já tinha visto esse vestido em Aphrodite e, por mais que ela fosse muito gostosa, não tinha a magnitude de Zoey. Não consegui tirar meus olhos dela e, realmente, eu não queria tirar meus olhos dela.

Zoey parecia extremamente desconfortável e olhava para todo lado reconhecendo o terreno. Pemphredo começou a acender os incensos e ela farejou o ar tentando decifrar o que estava queimando. Eu sabia o que tinha no incenso. Maconha. Mas tanto vamps como novatos não eram afetados mais por essa erva, assim como o álcool também não nos afetava. Não éramos mais capazes de ficar doidão com maconha ou bebidas alcoólicas. Porém, devia ser estranho para ela, ela ainda não sabia dessas coisas, era seu primeiro dia, não tinha tido tempo de aprender muita coisa.

Quando Zoey percebeu o que tinha no incenso seus olhos se arregalaram. Ela olhou ao redor do círculo com uma expressão assustada, como se alguém fosse nos pegar queimando maconha. Segurei uma risada – ninguém ia entender por que eu estava rindo – por sua reação percebi que ela era uma garota diferente, uma garota correta. Essa garota me impressionava cada vez mais, pelo jeito, ela nunca tinha provado maconha antes e me pareceu que ela estava respirando mais superficialmente, como se não quisesse inalar a maconha. Será que ela não sabia que você tem que fumar a maconha para ficar doidão? Que só respirar a fumaça não dava barato? Dessa vez uma risadinha abafada saiu por meus lábios. Não consegui evitar. Ela realmente era uma figura. Eu precisava conhecê-la melhor.

Zoey tentou conversar com Enyo e Deino, para ser educada, imagino, mas por suas expressões faciais percebi que a conversa não estava sendo muito agradável. Após alguns segundos a música de entrada de Aphrodite começou a tocar e ela se virou com alívio para vê-la adentrar ao círculo.

Aphrodite estava linda, como sempre, mas sua dança nem se comparava com a de Neferet. Eu sabia que ela estava tentando imitar sua desenvoltura, mas ela não conseguia. Pela careta que Zoey fez, ela também devia ter percebido a tentativa frustrada de Aphrodite. Segurei mais uma vez para não rir.

Todos olhavam Aphrodite, menos eu, eu estava de olho em Zoey. Ela também olhava Aphrodite no início, mas de repente ela olhou em volta do círculo, e nossos olhos se encontraram. Não tive tempo de desviar os olhos e, para falar a verdade, eu queria que ela soubesse que eu a estava olhando e não para Aphrodite. Queria que ela percebesse que Aphrodite não me interessava mais, que era ela quem eu queria. Ela pareceu confusa por eu estar olhando para ela e não para Aphrodite, mas seu olhar estava caloroso, quente, ela quase sorriu pra mim, mas a música parou e ela se voltou para ver Aphrodite.

O Ritual das Filas e Filhos das Trevas estava começando e tive que me virar para o leste, perdendo Zoey de vista. Aphrodite invocou os elementos para seu círculo. Depois começou a passar a taça de vinho “batizado” com sangue, como era de costume. A primeira pessoa a quem ela ofereceu a taça foi Zoey. “Droga! Tenho certeza de que ela não avisou Zoey sobre o sangue”. – Pensei. A primeira vez que provei sangue misturado ao vinho tive que sair da sala correndo para vomitar. Depois fui me acostumando. Só os vamps adultos gostavam de sangue misturado ao vinho. Os novatos ainda não apreciavam esse costume. Porém, Aphrodite dizia que esse era nosso futuro, e que deveríamos começar a nos acostumar desde já. Então ela arrumava as “geladeiras”, que eram novatos que se dispunham a doar sangue para o Ritual das Filhas das Trevas. Esse apelido com certeza era degradante. E Aphrodite dava a entender ao novato que ele estava sendo convidado para o Ritual, quando na verdade, ele estava sendo convidado a ser seu doador. Aphrodite era bem malvada. E eu tinha certeza de que era isso que ela tinha preparado para Zoey. Zoey provaria do vinho batizado, se sentiria enjoada e teria que sair correndo para vomitar. Ela se sentiria humilhada e não gostaria mais de participar das Filhas das Trevas.

Zoey pareceu hesitar em aceitar a taça e eu imaginei que ela soubesse que poderia se recusar a beber da taça, ou que Aphrodite tivesse contato a ela sobre o sangue. Mas depois de analisar direito sua expressão, ela pareceu estar triste, carente, como se tivesse sido abandonada. Ela deliberou por um tempo e pareceu ter tomado uma decisão, pegou a taça das mãos de Aphrodite e deu um grande gole.

Aphrodite deu um largo sorriso de satisfação, ao que parecia, eu tinha me enganado, ela não tinha contado a Zoey sobre o sangue. Fiquei esperando Zoey sair correndo do círculo, eu a acompanharia e daria apoio, mas ela não saiu. Ela colocou os dedos na boca, como se estivesse limpando algum resto do vinho que teria caído neles. Parecia que ela tinha gostado.

Aphrodite apareceu na minha frente com a taça bem na hora que eu estava tentando entender a expressão de Zoey e eu dei um pequeno gole. Ela me lançou um sorriso amargo, mas que, para quem estivesse vendo, parecia que era terno. Continuei avaliando Zoey, pronto para acudi-la, se necessário. Mas ela não se moveu. Parecia preocupada com alguma coisa, mas não estava com cara de enjoada.

Aphrodite fechou o círculo e se despediu de todos.

– Merry meet, Merry part e Merry meet outra vez.

As luzes foram acesas e Zoey começou a olhar ao redor da sala, procurando por alguém ou alguma coisa. Eu tive esperanças que ela estivesse procurando por mim, mas não ia esperar, estava indo em direção a ela quando ela fitou alguma coisa. Era Elliot, a “geladeira” da vez, ele tinha acordado e estava se levantando. Ele era um garoto gordinho e bem desagradável. Zoey arregalou os olhos e ficou parada por um tempo, pensando. Quando ele levantou a mão e a atadura em seu pulso apareceu Zoey fechou a cara e foi em direção de Enyo, Deino e Pemphredo, que conversavam perto dela. Cheguei mais perto para ouvir a conversa.

– O que aquele garoto está fazendo aqui? – Zoey perguntou indicando Elliot que estava com uma cara horrível.

– Ele não é nada. Só uma geladeira que usamos esta noite – Enyo respondeu, revirando os olhos enquanto olhava para Elliot.

– Que infeliz! – Deino disse com desprezo.

– Ele é praticamente humano. Não é à toa que ele só serve para lanche. – Pemphredo disse, com nojo.

– Espere aí, não estou entendendo. – Zoey disse, agora com cara de enjoada. – Geladeira? Lanche?

– É assim que chamamos os humanos: geladeiras e lanches. – Deino respondeu olhando para Zoey com arrogância. – Sabe, café-da-manhã, almoço e jantar.

– Ou qualquer refeição entre elas. – Enyo disse alegremente.

– Eu ainda não... – Zoey começou a falar quando Deino a interrompeu.

– Ah, dá um tempo! Não vá fingir que não sabia o que tinha no vinho e que não amou o gosto.

– É, admita, Zoey. Estava na cara. Você queria virar a taça inteira; você queria ainda mais do que nós mesmas. Nós vimos você lambendo os dedos. – Enyo disse indo pra cima de Zoey e encarando sua marca. – Isso a torna algum tipo de aberração, não é? Por alguma razão, você é novata e vamp ao mesmo tempo e queria mais que apenas uma prova do sangue daquele garoto.

Fui interrompido por Aphrodite.

– E então? O que você achou do Ritual de hoje? – Ela perguntou e foi me puxando para o outro lado da sala.

Não queria fazer uma cena, então a segui até a janela próxima a mesa de oferenda à Nyx. Ela pegou a taça e a encheu de vinho.

– Foi bom. – Porque Zoey estava aqui, mas não precisava contar para ela essa parte. – O que você quer agora Aphrodite. – Disse para ela com a maior paciência que consegui. Mesmo assim, minha voz saiu rude.

– Não pense que não reparei em como você ficou olhando para aquela aberração da Zoey durante todo o ritual. – Ela olhou para onde Zoey estava e viu que ela estava nos olhando. Então, fez um pequeno movimento com a taça que estava segurando, como se estivesse fazendo um brinde e tomou um gole da taça. De repente, a conversa que havia acabado de escutar fez todo o sentido.

– Você contou a Zoey que havia sangue no vinho, não contou? – Eu perguntei já sabendo da resposta.

Ela se virou pra mim rindo. – Acho que me esqueci dessa parte. Mas ela não pareceu se incomodar, quase tive que arrancar a taça da mão dela para que sobrasse alguma coisa. – Ela deu mais uma risada sarcástica. – Não vá dizer que você não reparou? Ela até lambeu as gotas que caíram em seus dedos. Se me lembro bem, você saiu correndo no meio do ritual para vomitar depois que provou sangue misturado ao vinho. É o que se espera de qualquer novato normal. Todos nos sentimos mal ao provarmos sangue pela primeira vez. Fico me perguntando que tipo de aberração é essa Zoey? Com essa Marca completa e gostando de sangue quando ainda é uma novata.

– Você é inacreditável Aphrodite.  – Eu disse com raiva, e fui me afastando dela.

– Eu sei. Eu sou demais. – Ela disse rindo.

– Tchau Aphrodite. – Ela continuou parada onde estava, bebendo o vinho.

Tentei esquecer Aphrodite por enquanto e procurei por Zoey, ela devia estar precisando conversar com alguém. Passei meus olhos pela sala de jogos para ver se a encontrava. Mas ela não estava em lugar nenhum que eu olhasse.

Esperei alguns minutos para ver se ela saia do banheiro, caso estivesse lá. Mas ela não apareceu. Estava tão preocupado que nem percebi Aphrodite se aproximando.

– Parece que ela não quis ficar para jantar. – Aphrodite disse rindo.

– Você não presta Aphrodite! Com licença. – Eu disse pra ela indo em direção à porta de saída.

– Vá! Vá atrás dela. Vai ser uma cena muito romântica vê-la vomitando as tripas. Mas fique sabendo que depois que você passar por aquela porta nós dois não teremos mais volta.

– Ótimo. Até que enfim você me entendeu. – Ela ficou me olhando com os olhos apertados de raiva enquanto eu saia da sala de jogos.

Lá fora percebi que não fazia ideia de onde Zoey poderia ter ido. Pensei em ir até o dormitório buscar a amiga dela, Stevie Era, pelo menos ela parecia ser amiga dela, mas não sabia se Zoey iria querer contar o que tinha acontecido hoje. Concentrei-me e fiz uma pequena prece à nossa Deusa.

– Nyx, Zoey parece ser uma boa pessoa e precisa de ajuda no momento. Gostaria de ajuda-la. Poderia me dar um sinal, por favor, de para que lado ela foi.

Uma rajada de vento me atingiu, vindo da direção de onde o grande carvalho estava plantado, próximo ao muro da escola e as nuvens que estavam no céu se afastaram.

– Obrigado Nyx. – Agradeci e segui em direção ao grande carvalho, de onde o vento veio me encontrar.

...Continua


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