Capítulo 3

Quinn se sentia encurralada com os três pares de olhos voltados para si. Sim, três pares: Santana Lopez, Brittany S. Pierce e Lady Tubbington, filha direta de Lord Tubbington, onde surpreendentemente descobriu-se ser uma fêmea.

- Vamos ver se eu entendi. Você dormiu com a Berry? – perguntou Santana, com cara de sono.

Quinn acenou com a cabeça.

- E saiu do apartamento sem falar com ela? – voltou a perguntar recebendo mais uma afirmativa.

- Por que? – foi a vez de Brittany perguntar.

A ex-capitã bufou não sabendo o que responder. Estava na sala do apartamento de Brittany e Santana. Quinn estava encolhida na poltrona de frente para o sofá que as anfitriãs ocupavam. A latina estava sentada com as pernas cruzadas sobre o móvel enquanto Brittany estava deitada com a cabeça apoiada na coxa da namorada. Ambas estavam de pijamas por serem acordadas, segundo Santana, de “madrugada” em um sábado.

Tinham o privilégio de não trabalharem aos finais de semana. Santana se formou em Columbia no mesmo ano que Quinn, só que em Direito. Sua incrível habilidade de descobrir segredos e traições estava tornando-a uma ótima advogada especializada em Direito Familiar. Em breve, quando conseguisse uma boa clientela, pretendia se tornar sócia do escritório que trabalhava. Já Brittany, após a graduação, trabalhou em várias Companhias de dança até abrir seu pequeno estúdio voltado para o público infantil. A escolha não foi uma surpresa devido a ótima interação e metodologia que Britt aplicava a seus alunos.

Olhando para as amigas, Quinn percebeu o quanto ambas mudaram no decorrer dos anos. Santana estava com um corte de cabelo mais curto, um pouco abaixo da linha dos ombros, o que a deixava com um aspecto mais adulto, lhe dava mais credibilidade. Mentalmente também havia mudado, estava mais calma com relação a sua tendência a sabotar os outros. Toda a energia negativa foi canalizada para o trabalho, onde sentia um prazer tremendo ao descobrir uma mentira. Sua namorada, porém, não sofreu muitas mudanças físicas. Brittany continuava com a mesma aparência do colegial. Sua habilidade de criar modelos diferentes de vestimenta, já fizeram com que aparecesse em várias capas de revistas adolescentes. Já mentalmente a dançarina evoluiu bastante. Aparentemente a curva de amadurecimento de Britt aconteceu um pouco depois que a maioria das pessoas.

Quinn suspirou mais uma vez. Todos pareciam ter evoluído muito e ela permanecia com essa mania de fugir dos problemas. Claro que se arrependeu. Rachel não merecia essa insensibilidade, principalmente depois do que aconteceu na noite anterior, mas estava com vergonha de voltar. Além disso, o que diria a ela?

Perdida em pensamentos, não reparou que Santana a observava. A latina estava impaciente com o desenrolar da história. Via em Quinn  a mesma insegurança que sentiu com Brittany e isso a irritava. Por mais que as circunstâncias sejam diferentes, as ações eram as mesmas. Em pensar que perdeu tanto tempo fugindo de um sentimento maravilhoso a fez querer compensar o tempo perdido. Olhou para a namorada que a encarava ainda sonolenta. Acariciou seus longos cabelos recebendo um suspiro satisfeito em troca. Sorriu com o fato e voltou seu olhar para a ex-capitã.

- O que pretende fazer agora? – perguntou quebrando o silencio e tomando todas as atenções para si.

- Não há muito que fazer. – disse Quinn pensativa. – Até porque foi algo que simplesmente aconteceu.

Percebeu o ar de desconfiança de Santana e buscou esclarecer seu ponto de vista:

- Não é como se eu tivesse a agarrado do nada. – tentava se explicar. – Além disso, Rachel esta na Broadway agora. Ter me encontrado não vai mudar nada em sua vida, acredito que nem tenha se importado com meu “sumiço”.

Viu até Lady Tubbington a olhar com descrença e isso a irritou.

- Vocês não estão me ajudando sabia? – disse aborrecida.

- Mas você não nos disse o que pretende fazer, Q. – foi a vez de Brittany se manifestar, confusa com a atitude da outra.

Lady Tubbingtond desceu do braço do sofá como se tivesse perdido a paciência com a conversa e foi deitar-se no seu cantinho ignorando tudo ao seu redor. Aquele foi o fim para Quinn que levantou em um rompante.

- Não há o que fazer. – voltou a reafirmar irritada.

- Então como espera que possamos ajudá-la? – perguntou Santana se divertindo com toda a cena.

Ignorando as provocações da latina, Quinn pegou seus pertences e se dirigiu a porta.

- Me desculpem por incomodá-las tão cedo. Até mais. – disse antes de sair porta a fora.

Chegou em seu apartamento no começo da tarde. Não havia comido nada desde que acordara essa manhã. Se lamentou pelos bacons não comidos enquanto olhava a  geladeira. A preguiça apareceu quando não encontrou nada pronto na geladeira. Abriu a gaveta com os inúmeros folhetos de delivery, outro ponto forte de Nova Iorque. Em Lima, eram poucas as opções para entrega a domicilio. Enquanto morava por lá, enjoou da comida do Breadstix. Optou pelo folheto com o endereço mais distante, assim daria tempo de tomar banho antes de almoçar.

Ligou para o restaurante escolhido e se dirigiu ao banheiro. Enquanto de despia, olhou para a própria face no espelho. Aparentemente era a única que não sofreu mudanças drásticas na aparência. Até mesmo Britt havia ganhado feições mais maduras. Preservara o cabelo curto desde que o cortará no Campeonato Nacional na cidade a nove anos atrás. Indiscutivelmente mantê-los desse comprimento facilitava nas atividades, além disso, combinou mais com sua face possibilitando uma variedade de penteados. Resolveu se apressar antes que a comida chegasse. Entrou no banho feliz da vida, ansiosa pela deliciosa Lasanha que comeria.

~//~

Rachel estava sentada no sofá bebericando seu suco enquanto observava uma Jeny nervosa andar de um lado para o outro.

- Vamos ver se eu entendi. Quinn estudou na mesma escola que você e foi capitã das lideres de torcida. – Rachel confirma com a cabeça. – Costumava jogar slushies no rosto de quem achava ser um perdedor e você era seu alvo favorito. – outro movimento de concordância por parte da morena.

A ruiva parou no meio da sala a encarando em descrença.

- Se vocês nunca foram amigas, porque você a trouxe para cá? – perguntou ela com sua típica pose intimidadora, que Rachel achou engraçada.

- Eu entendo porque me tratava daquela maneira. – disse a morena olhando para amiga não muito convencida. – Além disso, todos nós crescemos um dia. Quinn mudou bastante. Conseguimos ter uma conversa civilizada sem xingamentos ou acusações.

Jeny conhecia Rachel mais do que a si mesmo. A capacidade de não guardar rancor era invejável. Se tivesse acontecido contigo, provavelmente nunca mais falaria com Quinn na sua vida.

- Só porque ela mudou você achou um pretexto para agarrá-la? – alfinetou a ruiva já se contentando com a atitude da amiga.

A morena corou desviando o olhar da amiga a sua frente.  Jeny estava preocupada. Conhecia aquele tipo de olhar e com certeza não era bom de acordo com as circunstâncias.

- Você não é do tipo de pessoa que se apaixona depois de uma transa. – disse Jeny a analisando atentamente enquanto sentava ao seu lado no sofá.

Rachel torceu o nariz diante do palavreado utilizado pela ruiva. Sua educação e bom senso ainda não permitiam que se acostumasse a escutá-las, muito menos usá-las.

- Não sou tola a imaginar que meu envolvimento com Quinn na noite passada tenha me feito apaixonar tão de repente. – disse a morena desviando o olhar.

Jeny ergueu a sobrancelha em desconfiança.

- Não é como se eu tivesse esperando que ela me ligasse no dia seguinte. – continuou a diva.

- Se a conheço, você seria a primeira a ligar na manhã seguinte se tivesse o telefone da garota. – disse a ruiva rindo da expressão da amiga.

- Não vejo nada demais em demonstrar um pouco de educação e mostrar o quanto aquele momento foi importante mesmo que não vá levar a outros encontros. – disse Rachel cruzando os braços.

- E se te conheço mais ainda, esta chateada por Quinn não tê-la deixado dizer o “quanto o momento foi importante”. – zombou a ruiva.

A morena voltou a olhar para a janela ainda emburrada. Por mais que tenha aprendido a lidar com suas crises egocêntricas, ainda sentia uma pequena necessidade de atenção, de se sentir importante.

- O que pretende fazer agora? – perguntou mais uma vez a ruiva, e vendo a confusão no olhar da outra, continuou: - Com relação a sua Quinn.

- Ela não é minha.

- Você entendeu. Qual o próximo passo? – perguntou observando a diva a seu lado.

- De minha parte não há muito que fazer. Ela saiu sem deixar contato. – disse Rachel suspirando enquanto deslizava até deitar no sofá colocando os pés no colo da ruiva que começou a massageá-los. Posição comum entre as duas desde a época de Julliard.

- Mas você quer vê-la de novo. – afirmou a ruiva.

- Não é como se eu esperasse um relacionamento, afinal, ela é Quinn Fabray. Por mais que tenhamos conversado civilizadamente e até nos envolvido, não acredito que ela queira um relacionamento, principalmente comigo.

- Já começou. – sussurrou a ruiva.

- Não estou fazendo drama. – protestou Rachel. – Gosto dele, mas não nessa situação. Ela é a pessoa mais bonita que eu conheço e também a que mais me desprezou.  Quando ela quiser conversar comigo, ela sabe onde me procurar.

Dito isso, Rachel suspirou e fechou os olhos se acomodando melhor ao sofá.  Jeny entendeu o recado, o assunto estava encerrado.  Continuou a fazer a massagem falando sobre o vídeo que assistiu na casa de Mark.