Os Gêmeos Bouvier - A Resistência escrita por That Crazy Lady


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

O prólogo é aquele capítulo em que você solta um monte de palavras e expressões desconhecidas pelo leitor para só explicar no próximo capítulo.



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Entrei correndo no prédio, atropelando todos e cotovelando o máximo que conseguia.

10, 20, 30, aproximadamente 45 pessoas presentes. Quantas até o elevador? 28. Cerca de 20 passos largos. Sem espaço para passos largos. 40 passos curtos. Média de 10 segundos até o destino. Portas abertas. Vão fechar-se em 13 segundos se todas as pessoas entrando mantiverem o ritmo. Altura média dos perseguidores: 1,80m. Tempo aproximado que gastariam para chegar ao elevador: 13 segundos. Maior proximidade. Menor cansaço. Alta chance de ser encurralada no elevador.

Quantas pessoas até as escadas? 25. Cerca de 24 passos largos. Sem espaço para passos largos. 31 passos médios. As portas são de empurrar, economia de 2 segundos. Vantagem sobre os perseguidores. Maior cansaço. Mais barulho com a respiração. Chance de despistar dependendo do formato da escadaria.

Caminho mais vantajoso: Escadas.

Recomecei a correr, sendo a porta com um pequeno desenho de escadarias o meu destino. Conseguia ouvir resmungos irritados à minha frente, na medida em que ia cotovelando quem estivesse em meu caminho, e atrás de mim, revelando que não estava sozinha correndo pelo saguão. Tentei não me desesperar. Se tudo estivesse certo, então tudo daria certo.

Abaixei a trava que dava acesso ao corredor e empurrei a porta com força. Era ligeiramente pesada, mas já fiz coisa pior. De dois em dois, subi correndo pelos degraus, diminuindo a velocidade apenas nas curvas.

- Mirella, essa é sua última chance! – uma voz masculina gritou para mim, pouco atrás. Estava ofegante da corrida, assim como eu. – Pare agora e não a machucaremos!

Ri mentalmente. Claaro que não. E eu sou a Madonna, né?

Em uma curva, arrisquei um olhar para meus perseguidores. O mais rápido estava perigosamente próximo. Pernas mais longas. Em que andar estamos? 8º. Merda, quantos andares tem esse prédio? Coron havia jurado que eram só 6! Por isso não gastei tempo contando!

Nota pessoal: Jamais confiar na matemática do meu irmão.

Subi mais uns quatro lances de escada com aquele maldito quase agarrando os meus pés. Ah, cara, eu vou bater TANTO no Coron. Vou acertá-lo naquele lugar e fazê-lo cantar em soprano por uma semana. Vou fazer ele nunca mais conseguir segurar uma espada!

...Não, eu preciso do braço da espada dele. Só cantar em soprano mesmo.

Então, finalmente, milagrosamente, chegamos ao terraço do prédio. A porta era leve e de empurrar. Coron havia prometido que ela estaria destrancada, mas já não tinha tanta certeza assim...

Destrancada.

Sim!

Saí para o exterior, ganhando velocidade em terreno plano – minha especialidade. Parei somente depois de subir na mureta, ofegante, com minhas pulseiras tilintando quando virei-me para os perseguidores.

- Não tem que ser assim, Mirella – o da frente disse rapidamente. Sabia que ele estava medindo a altura em que estávamos, e o fato de eu estar perto de uma queda livre. – Venha conosco. Será melhor para todos.

Eu ri alto.

- Ah, qual é. Vocês não olharam a minha ficha? Não sabem nem um pouquinho sobre mim? – Arqueei as sobrancelhas. Um leve movimento para trás, só para assustar, e ele ficou mais sério. Ficou claro tentava manter a calma e o controle da situação.

Pobrezinho.

- É claro que sabemos. Superdotada, não é? Uma facilidade enorme para mexer com números. – Aproximou-se um passo. – Pouco compreendida. Em seu mundo, habilidades mentais não são muito valorizadas... – Outro passo. – Escondida pela sombra do gêmeo, resignada a mexer com cartas...

Ele não era dos melhores. Geralmente, os que vêm sabem que joguinhos mentais não funcionam comigo. Mesmo quando envolviam verdades tipo essas.

- Estou oferecendo uma oportunidade para poucos, Mirella – continuou. – Você é mais valiosa do que os outros. Melhor do que eles. Não precisa ser assim.

A qualquer segundo, agora...

- Jamais abandonaria meu irmão – disse com a voz leve.

- Ele pode vir – disse rapidamente. – Claro que não ficaria com um posto tão alto como o seu, mas certamente podemos encontrar um lugar para ele. Entenda, a magnitude dessa oportunidade...

De repente, o pequeno aparelho em meu ouvido transmitiu: Mensagem de Coron. Seguido da voz dele: Desce.

-... Nada como isso. Está conosco?

Mantive o rosto inexpressivo, e observei o fundo de seus olhos como se estivesse pensativa. Discretamente, com a mão esquerda escondida atrás das costas, materializei uma carta.

- Ahm. Sabe, poderia ser uma ótima proposta. Só tem um furo. – Ergui o braço direito, mostrando um C marcado a fogo na pele, um palmo abaixo do pulso. Então me joguei do prédio.

Não me ache louca. Quer dizer, eu sou um pouquinho louca, mas suicida ainda não. É por isso que, enquanto caía, puxei a carta escondida e a soltei no ar sobre mim, bem em tempo de ouvir alguns disparos de cima do prédio. Um dos cretinos conseguiu acertar minha perna antes que o ar começasse a vibrar e se esfumaçar, e eu sentisse a formicação agradável que me transformaria em um amontoado de fumaça azulada até chegar com segurança ao chão.

O problema é que guiar essa magia foi bem mais complicado com minha perna baleada, motivo pelo qual eu me materializei um pouco depois do que devia e acabei tropeçando ao chegar ao chão.

- Ell! – ouvi a voz do meu irmão gritar em algum lugar à minha direita, na rua. Levantei e corri o mais rápido que podia, causando alguns gritinhos dos poucos pedestres por causa da poça de sangue que se formava aos meus pés. Abri a porta do passageiro de um sedã preto
e me joguei lá dentro com um gemido de dor, logo transformando os bancos de bege para vermelho. Apertei a perna com força, mordendo o lábio inferior, e exclamei rapidamente:

- Eu estou bem. Vai, vai, vai!

Albus pisou no acelerador e avançou pela rua que tinha sido esvaziada mais cedo por outros agentes de campo da resistência. Ganhamos velocidade rapidamente, e, mais cedo do que eu poderia dizer, havíamos deixado todos aqueles guardas para trás.

- Como você foi baleada? Eu pensei que o poder de Comensal da Morte funcionasse sempre! – Coron exclamou, pulando para o meu lado no banco e puxando o kit de primeiros socorros de baixo do banco. Me entregou uma folhinha fina, que anestesiou minha língua assim que a coloquei na boca.

- Não é poder de Comensal da Morte – resmunguei com a respiração entrecortada. A dor começava a melhorar. – E funcionou. Mas não cedo o suficiente. – Tirei algumas mechas castanho escuras da frente do rosto. Estavam sujas de sangue, também. Eu devia ter rasgado o lábio, de novo.

- Seu timing está bom, hein? – ele repreendeu, amarrando um pedaço de gaze limpa na minha perna para estancar o sangue.

- Não foi culpa minha. Acho que o cara que atirou era mítico. Eu senti um cheiro diferente, mas achei que fosse em mim. – Dei uma espiada ligeira para Albus, mas logo voltei a atenção para minha perna ferida. – E você disse que o prédio tinha seis andares, e não tinha! Tinha tipo uns dez! Eu quase morri lá dentro, seu irresponsável!

Coron sacudiu a cabeça.

- Eu disse que achava que eram seis. Não tinha nada confirmado.

- Ah, certo. E eu totalmente adivinhei que você achava que eram seis – retruquei irritada. – Da próxima vez, deixa claro que não tem certeza!

Coron não respondeu, mas ele tinha aquele olhar vago de quando não está prestando atenção no que eu falo. Eu devia parar de dar sermões, honestamente.

Virei o rosto e tentei ignorar minha perna latejando enquanto observava a paisagem. Sabia que Coron era bom com primeiros socorros, mas se tínhamos o luxo de poder ir a um hospital para tirar a bala da minha perna, era o melhor a fazer.

Odeio hospitais.


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