A Foragida escrita por Andressa Rosa


Capítulo 7
Eu Não Estou Maluca


Notas iniciais do capítulo

Loucura, loucura... eu recebi a minha primeira recomendação! Gente, obrigada por tudo. Estou tão feliz^^ Vamos lá!



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Só se deve desistir e lamentar-se após de morto. Antes disso, é perda de tempo.

(Andressa – A Foragida)

* -*



POV/ BELLA


Finalmente chegamos.


Um silêncio tenso e constrangedor se infiltrou para dentro do carro no exato momento em que o motor se desligou. Devo agradecer? Devo dar um beijo de boa-noite? Devo apenas descer do carro? Inferno! Edward tirava o seu cinto de segurança, ele também parecia perdido. Distraidamente, eu lancei um olhar para o céu. Pelo os meus cálculos, agora seriam 5 horas da manhã; ou seja, o dia esta nascendo.


– Bem... – O lancei um rápido olhar – Muito obrigada pela a carona – Peguei a minha mochila e abri a porta do carro.

– Não por isso – Vi, pelo o canto de olho, ele apertar as mãos tanto que as juntas ficaram ainda mais brancas do que eram.

– Tchau – Fechei a minha porta no mesmo instante que Edward abria a do lado dele.

– Eu te acompanho até lá – Mandei um ligeiro olhar para a minha casa a alguns metros de nós e voltei a encará-lo.

– Não precisa, obrigada – Tentei ser gentil.

– Eu insisto – Rapidamente ele estava do meu lado.

– Tudo...bem – Franzi as sobrancelhas. Que porra de conversa é essa?! Está até parecendo diálogo de Filme B!


Foram 20 passos dados em um silêncio absoluto.


– Obrigado... de novo – Procurei as chaves da minha casa.

– Agora você está entregue. – Ergui a cabeça levando um susto. Ele ainda está aqui?!

– É – Enfiei a minha chave dentro da sua fechadura. E ia colocar na onde? No pote de mel do Pooh? – Fui sarcástica comigo mesma. Sim, eu tenho algumas atitudes de louca.

– Eu desisto! – Edward jogou os braços para cima. Tive que equilibrar a minha mochila, pois, com o novo susto, eu quase a joguei longe.

– Desiste do que? – Me senti uma psicóloga. Uma vontade enorme de espiar a mente dele me abateu, com um incrível esforço, eu a deixei de lado.

– O que você vai fazer em relação ao professor? – Seus olhos tinham um alivio naquele momento que eu nem estranharia se ele começasse a dançar. Não, eu estranharia sim.

– Eu darei um jeito, não se preocupe, ele é problema meu – Tentei passar toda a segurança que eu tinha ao falar aquelas palavras.

– Eu te ajudarei – Edward cruzou os braços como se me desafiasse contradizê-lo. Esse vampiro está começando a me irritar.

– Ele é problema meu, você tem nada a ver com isso – Dei um passo na sua direção e o olhei no fundo daqueles olhos dourados.

– Eu posso ajudar – Considerei as palavras dele. Um vampiro pode ajudar a ajeitar o caos que é a minha vida? Muito provavelmente não. Mas antes de abrir a minha boca, eu o avaliei. Edward não era um cara-vampiro fácil, ele não desistiria com apenas os meus protestos.


Eu não precisarei da ajuda dele, mas esse vampiro não precisa saber disso.


– Tudo bem, se eu precisar de algo eu lhe peço – Em muitos momentos da vida, nos temos que entrar no jogo de outro para podermos vencer o nosso.

– É... – Edward franziu as sobrancelhas, confuso, ele não estava esperando eu desistir tão facilmente. Aproveitei aquele momento.

– Até mais tarde – Sem entender direito o que eu estava fazendo, e não tendo tempo para pensar, eu beijei a sua bochecha fria e entrei na minha casa, retirando a minha chave e fechando a minha porta sem olhar para trás.


Larguei a minha mochila no corredor do hall e me dirigi à cozinha. Eu precisava de um copo d’água. Ascendi à luz e alonguei os meus braços acima da minha cabeça. Peguei um copo, o enchi de água e me apoiei no grande balcão da minha cozinha.


Foi ai que eu a vi.


Meu copo caía no chão se dividindo em milhares de pedaços, mas os meus olhos não saiam do pequeno pedaço de madeira na minha frente. Agarrei a minha varinha enquanto o meu cérebro trabalhava furiosamente. Eu a tinha levado junto comigo, eu tenho certeza! Com um estremecimento, eu me dei conta que eu poderia ter um visitante na minha casa nesse momento.


Entrei no modo ataque.


– Homenum revelio! – Exclamei apontando para as escadas. Nada aconteceu, e eu nem esperava que acontecesse. James, se esse for mesmo o nome dele, é forte demais para ser pego por um truque mágico.


Andei com passos rígidos e medidos até a minha mochila largada perto da porta. Meus pés faziam um caminho diferente dos meus olhos, qualquer ruído, o menor que fosse, eu escutaria naquele momento. Me abaixei e tateei até achar o zíper. O puxei com os olhos atentos para o topo da escada, com um pouco de alivio, eu tirei a minha espada de lá.


Coloquei a minha varinha no meu bolso de trás e fiquei em posição de ataque segurando a minha espada à minha frente. Alguma coisa me dizia que ele não estava aqui em baixo, então, dando um passo de cada vez e avaliando tudo o que acontecia a minha volta, eu subi as escadas. Meu coração batia forte, mas não sabia se era de medo ou excitação. Eu esperava que fosse de excitação.


Cheguei ao topo da escada, lancei uma nervosa olhada para o corredor e, depois de convencer a minha cabeça que ali não tinha nada, eu entrei na primeira das três portas. Sim, eu tinha três quartos na minha casa, não me pergunte o porquê, mas eu acho que o meu lado humano torcia para que alguém viesse dormir aqui. Lembrando um pouco dos treinamentos que eu tive na Secrets, eu chutei e adentrei no lugar sem hesitar; surpreender o inimigo é meia parte da guerra ganha.


Girei e, rápida como o vento, eu fui para a segunda porta e entrei. Nada ali também. Com passos mais temerosos, eu me dirigi para o meu quarto. Alguma coisa no fundo de mim me dizia que ele não estaria em qualquer outro local ao não ser no perímetro onde eu abaixava ao máximo a minha guarda. Ele estaria no lugar onde eu dormia.


Dei um pontapé na minha porta esperando ela se arrancar das dobraduras do batente e cair com um baque no chão. Ela não fez isso. Fazendo um barulho arrepiante, ela bateu na parede, mostrando que estava aberta. Os meus olhos já estavam adaptados para a escuridão, mas resolvi ascender à luz. Quando a luminosidade tomou conta do lugar, eu concluir o que eu já esperava: havia ninguém ali.


Meus olhos estudaram o local, e, mais tarde do que seria apropriado, eu vi que a minha grande janela estava aberta. Uma leve brisa entrava por ela. Estreitei os olhos. Me agachei e passei os dedos no assoalho, nem um grão de poeira. Levantei e avaliei novamente o meu quarto; nada, nenhuma folha ou algum sinal da natureza que rodeava a minha casa. Senti um arrepio.


Ele tinha acabado de sair dali.


Seguindo os meus instintos, eu pulei a minha janela e pousei com um leve farfalhar no terreno abaixo, dei um giro em volta de mim mesma e, sentindo um oscilante alívio, eu abaixei a minha espada. Ele já tinha ido embora. De alguma forma eu sabia disso. Olhei para a casa dos Cullen e, só depois de ‘ver’ movimentação, eu me dirigi para a minha porta. O dia estava nascendo. Na minha lista do que fazer hoje tem: tomar um banho, ir para o colégio...


Ah, eu também tenho que matar uma pessoa.


Mas especificamente um professor de biologia que tinha passado dos limites. Entrei no meu banheiro e deixei no chão, só por precaução, a minha espada. Enquanto a água caía pelo o meu corpo, eu me apoiei na parede. No que eu me meti? Por que logo eu? Eu já não sofri demais? Ou isso é ainda uma forma de eu pagar os meus antigos pecados?


Suspirei e desliguei o chuveiro. Eu não teria as respostas tão cedo assim. Me enrolei na minha toalha, a prendi, formando uma espécie de vestido tomara-que-caia felpudo, peguei a minha espada e sai do banheiro. Deixei a minha arma feita de metal élfico no chão a alguns centímetros de mim, abri o meu guarda-roupa com poucas peças e tentei achar algo que me ajuda-se caso eu tivesse que lutar hoje.


Eu estava levando a minha mão até uma calça jeans, quando escutei um barulho atrás de mim.


Novamente tomada pelos os meus instintos, eu tirei, da lateral de madeira do meu guarda-roupa, uma adaga e, tomada apenas pelos os meus instintos, eu girei jogando-a, antes mesmo de poder visualizar algo. Me joguei no chão e peguei a minha espada, dando um salto, eu já estava de pé, pronta para decapitar alguém.


Com raiva, eu percebi que tinha acabado de destruir o meu pequeno despertador.


Larguei novamente a minha poderosa arma e coloquei as minhas mãos no meu cabelo. Eu precisava me acalmar, isso se eu quisesse voltar para a minha casa hoje. Isso se eu quisesse continuar viva. Sem enrolar mais, eu peguei o jeans que tinha visto antes e uma blusa azul-marinho de mangas curtas, sequei o meu cabelo e fiz um alto rabo-de-cavalo, calcei o meu fiel amigo all star e parei na frente do espelho.


A garotinha tinha crescido, agora era, para todo o sempre, quase uma mulher, mas ainda tinha, por mais que eu odiasse isso, os mesmos pesadelos. Balancei a minha cabeça, não era hora de lamentações. Peguei a minha espada e fui até o pedaço onde o meu assoalho saía, tirei de lá o meu arco e o meu cesto. Antes de tampar o “buraco”, me levantei e peguei um papel em forma de rolo que estava em cima do meu criado mudo e o pus ali. Finalmente fechei-o. Desci as escadas e os coloquei as minhas armas dentro da minha mochila que ainda estava jogada perto da porta. Vesti o meu casaco e peguei as minhas chaves.


Hora da escola.


Minha moto era guiada pelas ruas numa velocidade mais baixa que o normal. Afinal, eu tinha traçar um plano. Eu o pegaria quando, na saída? Ou na entrada? Ou seria melhor no recreio? Não, testemunhas demais. Eu faria uma surpresa o esperando em sua casa.


Acelerei.


Estacionei na minha vaga de sempre, tirei o meu capacete, ajeitei o meu cabelo e arrumei a minha mochila nas costas. Você deve estar querendo saber o porquê de eu estar vindo para escola e não o estar esperando direto em sua casa, bem, eu tinha que, primeiro, o fazer pensar que não desconfiava dele. Assim, a surpresa seria um pouco maior.


Caminhei com passos firmes até a entrada, como sempre, Ângela, já estava me esperando. Tentei destravar os ombros e dar um sorriso. Mas tentar é uma coisa, e conseguir, bem, essa já é bem diferente.


– Oi, Bella – Ela tinha, de uma forma que havia se tornando natural para mim, um largo sorriso

– E ai – Começamos a caminhar.

– Você fez a tarefa do Banner? – Tarefa? Um cara tentou me matar!

– Não sei, Ang – Eu estava tensa de mais para pensar em algo tão banal como aquilo.


Um abençoado sino soou.


– Vamos para a sala? – Perguntei antes de ela soltar outra pergunta.


As aulas passaram em um borrão, nem as minhas tradicionais brincadeiras com o Banner eu tive animação de fazer. Ele com certeza estranhou, pois a todo instante lançava um olhar de canto de olho para mim, só para confirmar que eu realmente não estava fazendo nada. Ang ficou com a testa franzida todo o tempo, mas não comentou, ela sabia que não conseguiria nada de mim.


Finalmente, chegou o recreio.


Andei com Jacob até a mesa de sempre e sentei. Ele, como eu, também não estava para muitas palavras. O que foi algo que eu gostei. Comecei a estralar os dedos compulsivamente, eu não conseguia conter a minha ansiedade. Daqui poucos minutos eu encararia o cara que eu teria de matar. Um pensamento me fez ficar imóvel por um momento.


Céus, Edward também estaria lá.


Como eu pude me esquecer disso?! Não, ele não poderia entregar o meu projeto de disfarce. Olhei por cima do ombro, procurando ele e a sua família. Lá estavam eles, sentados conversando e esmigalhando comida humana como se estivessem sozinhos. Como se nada nesse colégio importasse para eles. Bem, eu acho que realmente nada daqui importava.


Edward se virou, nossos olhos se encontraram. Um sorriso começou a se formar no meu rosto, mas a sua carranca me fez desistir de qualquer tentativa de comprimento. Ele balançou a cabeça e voltou a conversar com a sua família. Pisquei os meus olhos, surpresa.


Ele tinha agido como se nunca tivesse falado mais do que duas palavras comigo.


– Bella? – Algo tocou o meu ombro, quase cai da cadeira devido ao pulo que eu dei.

– Está tudo bem? – Jacob me perguntou. Todos na mesa olhavam para mim.

– Sim, eu só estou um pouco distraída – Dei um sorriso falso – Jéssica, que colar bonito, comprou na onde? – Pensei rápido. Como o esperado, todos se viraram e começaram a acompanhar a empolgada Jéssica declamar como conseguiu aquela fútil peça.


Bem, nem todos. Ang olhava preocupada para mim. Dei outro sorriso, agora de cansaço. Ela balançou a cabeça e puxou um canto da boca, fazendo um claro sinal de desaprovação. Encolhi os meus ombros e, discretamente, me levantei.


– Conversamos depois – Mexi apenas os meus lábios. Minha melhor amiga deu outro aceno de cabeça, acompanhado de um olhar que dizia: Você vai me contar tudinho! Suspirei e comecei o caminho para a minha próxima aula. Parei no batente da porta da sala. Um arrepio passou pelo o meu corpo ao mesmo tempo em que as pontas dos meus dedos amorteceram.


Algo de muito errado estava prestes a acontecer.


Respirei com dificuldade e fui para a minha carteira habitual. Ainda tinha ninguém na sala. Sentei tensa na cadeira e não desgrudei os meus olhos da porta. Alguns alunos foram chegando, mas eu não consegui desviar, nem por um instante, o meu olhar.


Porquê era por ali que o homem que teria de matar passaria.


Edward foi um dos últimos a entrarem na sala, ele parou alguns centímetros da porta e procurou algo pela a sala, seus olhos passaram por mim como se eu fosse apenas outra parte da decoração, ou uma carteira. Ele franziu as suas testa de mármore e olhou na minha direção. Sim, na minha direção, mas não para mim. O vamp olhava para a carteira ao meu lado. Seu franzir tinha se transformado em careta, então, como se o mundo fosse apenas outro ponto qualquer, ele veio e se sentou do meu lado.


Não consegui parar de o olhar, chocada.


O que...? – Eu tentei pensar, entretanto, o sino soou e me confundiu ainda mais. Depois dele, para deixar a minha cabeça ainda mais perdida, um senhor gordo, como uma calça marrom que pedia socorro e uma espécie de aeroporto de mosquito na cabeça, entrou com uma pasta debaixo do braço.


– Olá, classe. Abram na pagina 214 – Ele deixou a maleta de nerds e/ou adultos em cima da mesa. Novamente os meus dedos adormeceram. Eu respirei com dificuldade.

– O... onde – Pigarreei – Onde está o professor James? – Eu sentia o olhar da sala toda em cima de mim, mas eu não me importei.

– A senhorita deve estar perguntando sobre o professor Molina, certo? Eu já disse, desde o primeiro dia, que não sei dizer... – Sua voz era gentil, ao mesmo tempo que era cansada. A qual eu não dei importância alguma, ele poderia até ter gritado.

– Não, eu estou falando do professor Chamfort. Foi ele que nos deu aula há alguns dias – Eu o interrompi sem me preocupar em também ser gentil. Eu escutei risos na sala e, logo após disso, cochichos.

– Sou eu quem assumiu todas as aulas. Não houve nenhum outro professor. – Deu um pequeno sorriso confuso e então se virou para o quadro. – Eu espero que todos já tenham aberto os seus livros – Ele disse ainda de costas.


Me encostei na minha cadeira, atordoada.


– Você está bem? – Me surpreendi ao escutar a voz de Edward.

– Estou sim. – Acenei com a cabeça, então virei para encará-lo – Edward, você se lembra do James, não lembra? – Ele tinha que lembrar, tinha.

– Desculpe, mas não – Ele balançou a cabeça e voltou a sua atenção ao professor. Eu o encarei se entender. Até que algo pior se abateu dentro de mim: Medo.

– Mas... mas você se lembra da noite de ontem, não é? – Eu apertava a minha caneta, ansiosa, enquanto me inclinava para o lado dele.

– Eu não sei do que você está falando – Seu rosto demonstrou confusão. Ele não lembrava. Ele não lembrava.


Me assustei ao escutar o som da minha caneta se quebrando.


A olhei como se fosse um bicho que eu tivesse acabado de encontrar parado ali na minha mão. Me levantei de uma vez, a minha cadeira fez um som estridente no chão. Algo ali dentro me sufocava. Eu precisava sair dali, e rápido.


– Tudo bem? – Perguntou o meu novo professor. Virei o meu rosto para ele, só ai eu percebi que ofegava.


Correndo, fui até a porta, a abri e disparei pelos os corredores.


– Eu preciso falar com Ângela Weber – Eu disse para a cacatua após ela abrir a porta que eu insistentemente batia.

– Você não devia estar na sala de aula? – Sua irritante voz me fez querer tampar os ouvidos. Os alunos, que antes provavelmente estariam lutando contra o sono, esticavam os pescoços para ver o que estava acontecendo.

– É um assunto da diretoria. Eu preciso falar com a aluna Ângela Weber – Eu a olhei no fundo dos olhos. É, eu sei que era trapaça mexer com a cabeça dela, mas eu estava com pressa. A cacatua assentiu com os olhos turvos e se virou para a sala.

– Senhorita Weber, por favor. – Ang caminhou cautelosamente até a porta e quando atravessou-a, a mesma fechou atrás de si. Estávamos sozinhas.

– Bella, o q... – Ela foi outra que entrou na minha lista de pessoas que me olharam confusas hoje.

– Você lembra do professor James, não lembra? Jessica ficou um recreio inteiro falando sobre ele. Era um homem alto, meio forte, como os cabelos compridos e presos em um rabo-de... – Comecei a falar compulsivamente. Eu precisava de alguém que se lembrasse.

– Desculpa, Bella, mas eu não sei de quem você está falando – Agora ela estava preocupada.

– Mas... mas foi ele quem estava substituindo o professor Molina – Eu parecia uma criança

– Não, Bella, nós estamos tendo aula com o senhor Simon. Por quê? – Mas eu estava novamente correndo.


Parei, derrapando, na coordenação.


– Isabella?! – A secretária se assustou, e, sem achar que eu tinha visto, abaixou a sua revista de fofoca barata. Em outras condições eu teria ficado entediada. Não agora.

– Há algum professor James Chamfort no colégio? – Perguntei sentindo a minha voz mais aguda que o normal.

– Não. – Ela ainda estava assustada. Minha respiração estava presa.


Não, não pode ser. – Eu pensei enquanto corria para a minha moto. Sim, eu tive que voltar até o meu armário para pegar o meu capacete. Mas isso não importa mais. James Chamfort existia e tinha uma casa. E eu estava indo para lá.


Não interessa se algo de muito ruim aconteceu a mim na última vez que eu fui até ela. Eu precisava provar para todos que James era real. Que eu não estava louca. Eu voei pela a rodovia, procurando a trilha onde eu tinha pressentido de verdade um pouco do seu perigo. Mas aquele momento parecia ter ocorrido há anos atrás.


Meus pneus fizeram um som agudo no asfalto enquanto eu freava de uma vez. Mas ninguém escutou, claro, pois, como sempre, nenhuma alma-viva passava por ali. Isso não está acontecendo – Eu pensei enquanto descia da minha moto e tirava o meu capacete. O arrepio na espinha, os dedos dormentes e a sensação de estar dentro de um minúsculo cubo tinham voltado.


Ali não havia trilha alguma.


Mas eu desistiria tão fácil. Não enquanto o meu sobrenome for Swan. Abandonei todas aquelas sensações de inicio de pânico e botei a minha mente de uma agente treinada pela instituição mais secreta e foda do mundo para funcionar. Ergui a barra da minha calça jeans e tirei a minha varinha de dentro da minha meia. Mentalizei a minha casa. Eu, minha moto, meu capacete e minha mochila, num piscar de olhos, estávamos parados na frente da minha garagem.


Rápida como o vento trazendo noticias ruins, eu tirei as minhas armas da mochila e, em outro piscar, eu tinha voltado para a rodovia, em frente do lugar onde deveria haver uma trilha. Dei outra conferida em volta, contudo, não avistei ninguém... como sempre. Guardei a minha varinha no meu bolso traseiro, ajeitei o meu arco dentro do meu cesto com flechas e os arrumei nas minhas costas, em uma posição onde eu pudesse os pegar rapidamente.  Girei Garjazla, testando os meus reflexos, então segui para aquele matagal.


Caminhei, caminhei e caminhei. Mas, para o meu desespero, ali não havia mais nada ao não ser mato. Fechei os meus olhos e mandei para a minha mente a imagem exata de onde estaria a casa, desde a clareira às janelas de metal. Me guiei como se aquela imagem fosse um mapa. Então eu cheguei, mas no lugar da modesta casa, ali tinha somente mais vegetação. Minha visão ficou turva graças às lágrimas de fúria que chegaram aos meus olhos, não as permiti que descessem pelo o meu rosto. Soltei um grito de ódio que eu não pude conter. Pássaros de todos os lugares saíram voando aterrorizados.


– SEU DESGRAÇADO! – Eu urrei para o céu – Você pode ter enganado a todos, menos a mim – Abaixei a minha cabeça e falei com os dentes trincados.


Eu precisava pensar, precisava passar para uma nova estratégia. Eu tinha feito um plano de ataque surpresa, mas acabou sendo eu a surpreendida. Para momentos como esse, eu tinha um lugar mais do que especial e privativo, era uma clareira, uma que eu sabia que estaria lá, eu há descobri uns meses depois de ter chegado e ela meio que se tornou um refúgio.


Aparatei no meu espaço ultra-privado e caminhei até a minha árvore favorita, ela não era a mais velha dali, mas também não era tão jovem, eu gostava dela pelas as suas vastas galhas e folhas, pois, como Forks é o ponto de encontro das chuvas, com essa árvore, a vegetação ao seu redor é sempre mais seco do que eu qualquer outro lugar.


Tirei as minhas armas de lutas e sentei no chão me recontando em seu tronco, o solo estava um pouco úmido, mas era nada ao se comparar aos caos que a minha cabeça tinha se tornado. E olha que ainda era de manhã.


Como se eu tivesse resolvendo um problema de física ou matemática, ou tirei os fatos que o enigma trazia.


a)      Todos tinham, aparentemente, esquecido de tudo o que aconteceu nesses três dias que eu estive fora.

b)      James existia somente para mim.

c)      Eu não tinha prova alguma para comprovar que ele não era algo da minha cabeça.

d)     Tem uma goteira na minha árvore e ela cai bem no topo da minha cabeça.


Mas eu estava fora por três dias, fiquei horas junto de Edward, como James pôde dissimular isso? Me arrastei um pouco para o lado e encostei a minha cabeça no grosso tronco. Eu devia ter percebido antes. Havia sinais por todos os lugares e eu não consegui vê-los.


Começando por Ângela, ela tinha agido como se eu estivesse junto dela no dia anterior. Depois Edward, por mais que ele seja um vampiro e que eles não sejam confiáveis, o vamp não iria olhar para mim daquele jeito, ao menos um sinal de reconhecimento deveria haver no seu olhar. James estava conseguido. Céus, no que eu me meti?


De repente, a pior coisa que se pode acontecer para um ser, estava acontecendo em mim: eu estava duvidando de mim mesma. Eu realmente estive no Alaska? Eu me encontrei com Edward? Será que não foi tudo um sonho? Um truque da minha mente me preparando para algo que supostamente poderia acontecer? Não! Eu o vi, eu olhei dentro dos olhos dele. Ele é real. Ele tem que ser!


Mas as questões já estavam instaladas.


– O que você está fazendo aqui? – Ergui a minha cabeça em um átimo, minha mão voou para onde a minha espada estava, mas ela, como o resto do meu corpo, travaram.

– Ed... Edward? – Eu não estava crente. – O que você está fazendo aqui? – Fiquei de pé, numa tentativa de desviar a sua atenção para mim antes de ele ver as minhas armas ali do lado. Bendita goteira que me fez afastar delas.

– Eu perguntei primeiro – Cruzou os braços e me olhou de um jeito que dizia: você é que é a intrusa.

– Eu sempre venho aqui. E você? – Desviei rapidamente os meus olhos para o céu. Já estava na hora do crepúsculo. Franzi a testa. Eu fiquei todo esse tempo aqui? É quase impossível.

– Eu também sempre venho para cá – Voltei o meu olhar para o vamp. Agora foi a vez das minhas sobrancelhas se erguerem.

– Desde quando? Nem faz uma semana que você esta aqui. – Responde essa, cara que não tem um pente. Edward abriu a boca para falar, mas logo a fechou.


Então eu percebi o quão infantil eu estava sendo.


– Olha, se você quer ficar aqui pode ficar, eu estou indo para casa – Eu soei cansada. Com tantos problemas na minha vida, eu não tinha espaço para mais um.

– Tudo bem, nós podemos dividir. – O vampiro realmente estava tentando ser legal? Seu tom de voz foi o mesmo que ele usara para me convencer a jantar na noite anterior.

Na noite anterior...

Ela tinha que ter acontecido. Por que eu nunca conseguiria imaginar Edward daquela maneira.


– Você não se lembra de nada, não é? – Perguntei em um tom conformado. Eu já sabia a resposta.

– Nessas duas vezes que você fizeste esta pergunta, algo colidiu na minha cabeça e voltou. Mas quanto mais eu forço, menos eu entendo a sua indagação. Lembrar de quê, ao final de contas? – Até que entendi a sua confusão mental. Acho que também ficaria assim se a situação fosse o contrário.

– De eu literalmente trombar em você no Alaska, de você me oferecendo carona, de nós dois prendendo aquele crimi... – Me interrompi no meio da frase.

– ...la? – Edward estava falando algo, mas eu acho que os meus olhos cheios de alegria não o deixaram se importar por eu não estar escutando.

– Onde está o seu carro? – O segurei pelos os ombros, mal contendo o meu sorriso. – Onde ele está? – Repeti, ansiosa.

– Na estrada ali na frente, por quê? – Ele me olhava como se eu fosse uma maluca.


Mas eu estava nem ai.


– Temos que chegar nele o quanto antes – Eu assenti para mim mesma. Larguei os ombros dele e fui pegar as minhas armas.

– Espera, isso é uma espada?! – Ele apontou para o metal pontiagudo feito de material élfico na minha mão.

– É – Eu fui monossilábica. Céus, que mancada.

– Porque você anda com uma espada? – Estava confuso

– É para eu me defender – Desviei os olhos. Qual é, eu falei a verdade.

– Se defender do que? De um urso?! – Levantou as sobrancelhas

 – Eu nunca machucaria um animal! – O olhei ofendida. Quem ele acha que eu sou? Só falta ele dizer que eu derrubo árvores. – Quer saber? Vamos primeiro até o carro, é um assunto mais importante. – Dei um sorriso sem graça.

– E isso são um arco e flechas? – Agora ele estava exasperado. – Garota, de que mundo você é? Não poderia ter apenas um spray de pimenta como todo mundo?

– Olha, eu bem que poderia, mas eu me sinto mais segura assim. Então, se as dúvidas acabaram, nós podemos ir? – Eu apontei para uma direção qualquer.


Edward pegou delicadamente o meu pulso com o meu dedo apontando e o girou até que estivesse indicando o norte. Percebi que tínhamos esse hábito. Bizarro.


– Vamos, antes que eu mude de idéia – Começou a andar comigo ao seu encalço. Vou te contar, se eu tivesse previsto o futuro, aquela sensação de deja vu não seria tão grande.


Mas, enfim, eu estava tão feliz que simplesmente não andava, e sim saltitava pela floresta úmida.


– Você está parecendo a minha irmã Alice – Edward comentou enquanto se abaixava para se desviar de um enorme galho. – Ela sempre parece ligada na tomada – Seus pensamentos pareciam estar em outro lugar com aquelas palavras.

– Ah, eu geralmente ando me arrastando, mas agora eu estou feliz demais para manter os meus hábitos. – Bati no mesmo galho que o Edward tinha passado, e em troca recebi uma mini chuva da água acumulada nas folhas.


Eu gargalhei feliz. O vamp no meu lado também riu me olhando como se eu fosse uma criança bobinha.


– Você sabe mesmo usar essa espada? – Apontou para a minha cintura, pois lá eu tinha feito uma espécie de bainha com o meu cinto. Meu jeans estava no jogo cai-não-cai, mas eu tinha as mãos livres.

– Eu pratico desde bem cedo – E provavelmente sou o melhor espadachim do mundo. Ah, eu também já cortei mais cabeças do que pude contar. – E você, sabe manusear? –

– Eu já pratiquei, mas isso faz muito tempo – Muito quanto? Eu pensei enquanto dava-o uma rápida avaliada. De que século será que ele é?


Chegamos à estrada e, para renovar o meu sorriso, ao carro.


– Abra o porta-malas, por favor – Comecei a estralar as juntas dos meus dedos. O vamp me olhou interrogativamente. – Só abra, por favor – Tentei imitar o gato-de-botas do Shrek, mas acho que o máximo que consegui foi ficar vesga.


Edward deu de ombros e se encaminhou para o fundo do carro. Eu prendi a minha respiração. Chegou o momento. A minha vida vai se complicar, isso é um fato tão certo quanto que há mais estrelas no céu do que grãos de areia na Terra, mas, dependendo do que acharmos ali dentro, ela terá duas alternativas. Uma ruim e a outra pior. A chave girou, eu praticamente voei para trás de Edward, meu coração batia tão forte que eu aposto que os ouvidos sensíveis do vamp podiam ouvir.


A porta se abriu.



POV/ EDWARD


– Ali, ali! – A garota começou a exclamar apontando o dedo para o meu porta-malas – Eu não estou maluca! – Ela se virou e apontou para o céu. Levantei as sobrancelhas.


Que raios...?


– O que está acontecendo? O que tem no meu carro? E, pelo amor de algo, pare de gritar! – A segurei pelos os ombros e a virei para mim. A humana piscou os olhos repetidas vezes, como se percebesse somente agora que eu estava ao seu lado.

– Olhe aqui – Deu um passo para trás, se afastando de mim, e apontou para um canto escuro do meu porta-malas. Lancei os meus olhos super-desenvolvidos para lá. Minha testa se franziu.


O que uma mancha de sangue estava fazendo ali?


– De onde vem esse sangue? E como você sabia que ele estava ali? – Estreite os olhos para ela. Mas a jovem, em vez de me responder, arregalou os olhos. E eu senti um mal estar que eu pensei ter perdido quando me transformei nesse monstro: os meus instintos estavam entrando em alerta total.


A humana se jogou na minha frente e tirou a tão enigmática espada.


– Coragem admirável, criatura do inferno – A voz dela se tornou algo que eu nunca conseguiria imaginar em uma humana de 1.70m: ela se tornou ameaçadora.

– Você é realmente rápida – Uma voz masculina, com um claro tom de deboche, surgiu junto de um jovem humano de 1.80m, com cabelos escuros e parte do rosto escondido pela parte escura de uma grande árvore que a quase extinta luz do sol não conseguia pegar. – Mas, sabe, eu esperava alguém um pouco mais intimidador e não uma humana magricela, entende? – A garota não se abalou e continuou do jeito que estava.


E eu não poderia estar mais perdido. Onde eu fui me meter? Maldita hora em que quis ficar um pouco sozinho e resolvi ir para o lugar que décadas atrás era somente meu.


– A falta de informação é porque todos os que estiveram cara a cara comigo não puderam voltar e me descrever, se você me entende. – A humana deu um passo a frente e girou a sua espada de uma maneira que eu pensei que a sua pequena mão não conseguiria segurar.

– Antes de fazer algo, eu acho melhor você escutar o que eu venho dizer – Ele riu e se recostou na mesma árvore que antes encobria, com a sua sobra, apenas uma parte do seu rosto.

– Não sei quais são as historias que vocês contam sobre mim, mas é bom que saiba que eu não tenho muita paciência, e ela já está quase acabando – Eu queria falar algo, ou melhor, exigir algo, mas o ar estava tão tenso que, admito, não tive coragem de abrir a boca.

– O meu chefe quer falar com você – Sua voz agora estava séria, o humano deixou a sua postura reta e cruzou os braços.

– Que pena, pois eu não – O sarcasmo da jovem, se eu ainda fosse humano, teria me dado arrepios.

– Ele me disse que a sua resposta seria parecida com essa, então me mandou recitar a seguinte frase: “Cada pessoa, uma por uma, bairro por bairro, cidade por cidade, assim por diante, será aniquilado. Começando por Nova York. Você tem até o nascer do sol” – Ao ouvi-lo falar aquilo, como se as vidas humanas, ou tudo que existisse, simplesmente não importasse, me fez lembrar de nós vampiros. E esse pensamente me deu ânsia.

– Hum, cara, sendo sincera, eu já ouvi ameaças muito piores. Foi clichê demais. Alguém tinha que dar uns toques para ele. – A humana parecia realmente não se importar. Mas o que um humano como ele ou ela poderiam fazer com a tão grande Nova York? Havia algo de muito errado naquela conversa.

– Eu também achei, mas eu só sigo ordens. – Ele deu de ombros, casualmente – Entretanto, acho que você deveria levar a serio, pois com o exército que ele reuniu, essa pode ser cumprida facilmente. – Exército? Eles estavam planejando uma rebelião? E se for assim, por que falar tudo isso logo para ela? – E então, o que faço? – Novamente o sarcasmo havia voltado. A humana na minha frente estava quieta demais.

– Fale para o seu chefe que eu estou indo de encontro a ele – Então abaixou a espada. Uma ação que me fez enrugar a minha testa.

– Vai ser assim tão fácil? Não sei o porquê que os outros me alertaram tanto – O outro humano arqueou uma sobrancelha, debochando.

– Você deveria escutá-los. Sabe os seus amiguinhos cães do inferno? Bom, eu sou como eles, eu te marquei e quando você menos esperar, já estará nos portões da casa do seu pai – Eu não pude ver, mas senti que ela estava sorrindo e, pela primeira vez naquela noite, o humano perdeu a sua postura de “tô nem ai”.


Então, me fazendo dar um passo assustado para trás, ele sumiu em pleno ar.


– Merda! – Ela chutou o ar.

– O quê... Foi isso? – Eu murmurei, ainda um pouco chocado.


Antes mesmo de eu terminar de piscar, a humana tinha novamente sacado a sua espada e apontado para a minha garganta.


– Oh – Os seus olhos pareciam assustados, ela guardou a sua arma. – Eu tinha me esquecido que você estava ai – A jovem agarrou os seus fios de cabelos.

– Que raios esta acontecendo aqui?! – Eu me surpreendi com a altura da minha voz, mas, qual é, o cara sumiu no ar! – Eu só queria ficar um pouco sozinho na MINHA clareira, mas a garota humana doida já estava lá. Depois disso você me arrastou até o meu carro, então me mostrou uma mancha de sangue que eu nem sabia que existia, uma mancha de sangue no meu carro, NO MEU CARRO, e, para acabar com tudo, um cara aparece do nada, vocês conversam como se você fosse a mulher maravilha e ele um integrante da liga do mal, trazendo um recado do Coringa e, depois de falarem coisa com coisa, ele some no ar, NO AR. – Ela me olhava atônica, mas eu não me importei, caminhei até estar a centímetros dela – Eu exijo uma explicação, e agora – Depois de virar um vampiro, eu não precisei mais de ar, no entanto, eu ofegava.

– Tudo bem, eu acho que você realmente merece – A garota ergueu as mãos, num sinal de rendimento.

– Pode começar – Eu estreitei os meus olhos. Nós não sairíamos dali até eu estar satisfeito.

– Isso vai doer um pouco, mas é o método mais rápido – Ela levantou a mão direita hesitantemente, até se encostar-se no meu cabelo.


A última coisa que eu lembro é de cair joelhos no chão, gritando de dor.



POV/ BELLA


Ajudei Edward a ficar de pé. Ele ainda estava tonto. Eu menti, aquilo não doeria só um pouquinho, aquilo doeria muito. Eu havia destruído as barreiras de James e as minhas que estavam em volta das suas memórias, agora ele se lembrava de tudo. E eu realmente não conseguia definir esse fato como algo bom ou ruim.


Cara, que bagunça está a minha vida! Será que o mundo não poderia dividir essa minha tremenda má sorte com alguns bilionários? Eu acho que eles não se importariam muito. Suspirei mentalmente. Primeiro algum filho de uma anta aparece e me ataca, como se um inimigo não fosse o bastante, outro aparece trazendo uma baita ameaça que deixava na cara que era uma armadilha e, para fechar com uma belíssima chave de ouro, Edward agora me olhava como se eu fosse a 8º maravilha do mundo ou a maior aberração de todos os tempos.


Desviei os meus olhos e peguei o meu pequeno rastreador de dentro do cabo da minha espada, no meio da conversa, quando eu abaixei a minha arma, eu aproveitei e tirei o meu minúsculo transmissor e, deixando o demônio idiota cantando vantagem, eu pedi silenciosamente para o ar que o levasse até ele. Um pontinho vermelho agora piscava desesperadamente na miúda tela. Brooklin.


Agora eu só precisava ir de encontro a eles. Agora eu só precisava ir de encontro à armadilha. Bufei.


– O que vai fazer agora, Bella? – Edward perguntou ainda com uma mão na cabeça e encostado no carro.

– Vou ter de ir até lá – Puxei o canto da boca – E então, está se sentindo melhor? – Eu me senti mal por ele.

– Já está passando. – Se sentou no capô do seu carro – Mas você ainda me deve uma explicação.


Suspirei. Ele já sabia que eu não era somente uma humana, uma parte disso porque eu tinha reposto a memória de quando nós tínhamos capturado aquele bandido, mas contar tudo? Eu o conhecia há quanto tempo? Uma semana, nem isso. E ainda sim eu já o tinha metido na confusão que tudo o que está relacionado a mim envolve. O vamp bateu no espaço metálico do seu lado, me chamando.


Edward corria perigo. E eu devia isso a ele.


Tirei a minha espada e o meu cesto, e me encaminhei até o vamp. Subi no carro e repreendi o impulso de balançar as minhas pernas. Segurei firmemente as minhas mãos uma na outra e as apoiei no meu colo. Olhei para as estrelas. Por onde eu começo? Quanto eu posso contar?


– Como você já sabia o que eu sou? – Parecendo que estava lendo os meus pensamentos, Edward perguntou.

– Desde quando eu era muito pequena, me ensinaram sobre todas as criaturas “sobrenaturais” desse mundo – Fiz as aspas em sobrenaturais.

– Por quê? – O sentia olhando para mim, mas as estrelas tinham me hipnotizado.

– Você já ouviu falar de caçadores? – Toda criatura não humana já deveria ter escutado, no entanto, eu não queria arriscar.

– Sim. Você quer dizer que é uma? Mas ainda é uma criança! – Senti ele se movimentar, mas continuei do jeito que estava.

– Eu sou mais velha do que aparento. – Foi um pouco seca – Eu era uma. Mas isso não vem ao caso. Eu os citei como exemplo. Minha vida e educação foram feitas com o mesmo propósito que os caçadores existem: para destruir tudo o que não é humano.

– Como que os seus pais puderam fazer isso como você? – Ele estava ultrajado.

– Meus pais foram mortos antes de eu conseguir formular uma frase completa – Tirei um pedacinho de capim que estava no meu jeans.

– Então como você entrou nesse mundo? – Fiquei agradecida por ele não ter entrado naquele papo de “eu sinto muito”.

– No governo dos EUA existe uma base secreta onde menos de 200 pessoas no mundo a conhecem, tudo isso contando que uns 175 trabalham lá. – Muitos presidentes nem ouviram falar dela – Ela foi criada apenas como uma forma paralela de “segurança nacional”, muito mais avançada que as outras e com os melhores cientistas do mundo trabalhando lá. – Fiz uma pequena pausa para colocar os pensamentos em ordem.

– Depois que descobriram que não tinha apenas humanos andando nesse mundo, eles resolveram criar uma nova arma. Um humano super-desenvolvido. Primeiro foi feito testes com soldados, no entanto, foi descoberto que apenas aqueles que tinham alguma anomalia genética foram os que aguentaram mais. Então passaram para civis. – Fechei os olhos por alguns instantes, céus, quantos não foram mortos?

– Você é um desses soldados. – Ele afirmou – Mas como foi que te acharam? –

– Foi de uma forma não convencional, por assim dizer. Tudo começou com a minha mãe. Renée era um gênio, com um QI quase inumano. Em 1963, quando ela tinha 17 anos, o governo anunciou uma nova proposta para assegurar a segurança do país, algo simplesmente perfeito. Mas a minha mãe achou uma falha, uma falha extremamente pequena e perigosa, e mandou uma carta para o Washington, D. C., Casa Branca. Foi uma tremenda jogada de sorte ela ter se perdido e um policial a ter achado. Aquelas poucas palavras em uma folha foi passada de mão em mão, tudo como motivo de piada, até alguém levá-la ao próprio homem que fez o projeto. Então foi visto a quão perigosa aquelas linhas eram. – Eu sei, foi um pouco dramático demais, mas, fala sério, era a historia da minha família.

– Eles a encontraram, perguntas e mais perguntas foram feitas até verem o prodígio que tinham nas mãos. Uma órfã com super-inteligência. A Secrets, a base que eu falei anteriormente, não tinha muito tempo que havia sido criada, dava para contar nas mãos quantas pessoas sabiam da sua existência, nem um lugar oficial ainda possuia. Um soldado, inteligente demais para trabalhar em simples guerras, foi o mentor da minha mãe. Ele possuía uns 24 anos e, revoltado de como as coisas andavam, ajudou a criar essa base que viria a se tornar a mais poderosa do mundo. – Citar esse soldado fez o meu estômago revirar. Quando eu tinha 12 anos Jully finalmente me contara que aquela horrenda cicatriz no rosto daquele homem fora obra de meu pai. Eu nunca tive tanto orgulho do meu pai até aquele momento.

– As duas cresceram juntas, logo a Secrets já tinha um lugar fixo e a minha mãe se tornava uma das pessoas mais importantes de lá. Então eles começaram a trabalhar em um projeto novo, ninguém sabia o que estava acontecendo, nem a minha mãe. Todos trabalhavam, dia e noite, noite e dia. Até que a base ultra-secreta foi invadida. Um homem, Charlie Swan, um dos maiores bruxos daquela época, descobriu sobre o projeto que tão poucas pessoas sabiam, ele descobriu que estavam fazendo experiências em humanos. Charlie simplesmente pirou e começou a destruir tudo, até se deparar com a minha mãe, uma mulher de 1.70m, com longos cabelos ruivos e uma arma apontada para ele. – Tentei imaginar aquela cena. Um sorriso veio ao meu rosto. Digamos que os meus pais não tiveram um amor à primeira vista.

– O bruxo descontou toda a sua fúria em palavras para a minha mãe. Pelas as historias que eu ouvi, Renée nunca gostou de alguém saber mais que ela. Assim, depois que Charlie foi capturado, minha mãe foi tirar a história a limpo. Ela também pirou quando viu que era tudo verdade, então, quando todos foram dormir, Renée destruiu todas as suas pesquisas e avanços e, sem que ninguém desconfiasse de nada, soltou o prisioneiro e fugiu junto com ele. Vou te contar, foi um tremendo golpe para a Secrets. Eles se transformaram nas pessoas mais procuradas do país, tudo por que sabiam demais, então tiveram que entrar na vida de constantes fugas, sem nunca parar em um único lugar – Ser um foragida era um legado da minha família.

– Então eles se apaixonaram, se casaram e continuaram fugindo. Renée engravidou. Nos primeiros meses não houve problemas com as constantes trocas de casas, mas, quanto mais a gestação avançava, mais perigosas essas viagens ficavam. Eles tiveram que parar e se estabelecer em um único lugar, já fazia 3 anos que tinham se encontrado naquela base, assim, não era de se estranhar que eles pensassem que tudo já tinha sido esquecido e que novos “criminosos” estivessem sendo caçados. Foi o erro deles. – Fiquei quieta por alguns instantes. Será que eu também estou cometendo o mesmo erro agora, parando em um só lugar? Mas faz 16 anos! É quase impossível.

– Eu tinha dois anos, lembro até hoje que era natal. Acho que o trauma de ver todas aquelas pessoas entrando na minha casa por todos os lugares possíveis se tornou uma mancha nos meus pensamentos, mesmo eu sendo só uma criança. – Fechei os olhos. Então uma sala com bonitas e simples cortinas azuis veio a minha mente, uma árvore de natal imensa, uma lareira que eu não podia chegar perto e mamãe e papai me escondendo atrás deles – Houve uma boa e histórica luta, contudo, os dois foram mortos, mas os agentes não tinham instruções nenhuma para fazer com uma criança. Lembra daquele soldado inteligente demais para lutar em guerras? O sujeito, não satisfeito em tirar a vida dos meus pais, resolveu me levar até a Secrets. Mesmo morta, ele queria que a minha mãe continuasse a sofresse. E foi como tudo começou – Conclui. Lancei um olhar a Edward, ele não tinha proferido um barulho sequer durante a minha história. O vamp era um bom ouvinte.

– Mas você disse que só pessoas com alguma anomalia conseguiam sobreviver. Qual é a sua? – Edward era um bom ouvinte, só que estava longe de ser delicado.

– Você nunca se perguntou como consegue ler mentes e a sua irmã prever o futuro? – O olhei com curiosidade.

– Como você sabe que eu leio mentes? – Seu rosto estava uma mescla de susto e desconfiança.

– Faz parte das coisas que eu simplesmente sei. Por exemplo, eu sei que os elefantes são os únicos mamíferos que não podem pular, mas não faço idéia de onde essa informação veio – Tive que pensar rápido. Eu tinha restaurado a memória do dia anterior, mas não a do meu primeiro encontro com ele e sua família. Era constrangedor demais.

– Tudo bem. Então, qual é a explicação para eu ler mentes e minha irmã prever o futuro enquanto os outros não podem? – Eu sabia que o vampiro ainda estava desconfiado, mas era curioso demais para se deixar levar.

– Nós somos ligados a tudo ao nosso redor. Literalmente. A Secrets, por meio da minha mãe, conseguiu comprovar que os seres humanos primitivos estavam todos ligados, a consciência de um era de todos, sem contar que eles também conseguiam controlar a água, terra, ar, tudo o que era orgânico e sem inteligência, do mesmo jeito que conseguiam erguer o braço. Mas não eram inteligentes o suficiente para usar como algo ao seu favor. Então fomos evoluindo, e nos distanciando dessa capacidade. Essa ligação foi cortada e agora mora no subconsciente. – Minha mãe havia descoberto uma nova teoria sobre a evolução do mundo. Ela era incrível! E o meu pai foi o primeiro a invadir a Secrets, o primeiro e único. Corrigindo, eles eram incríveis.

– Em algumas pessoas, como eu, você, a sua irmã e outros, essa ligação não foi totalmente cortada. Há um pequeno fragmento na nossa consciência e de lá escapa um pouco dessa coisa que os nossos primitivos conseguiam fazer. – Ajeitei a minha blusa. Era essa hora em que ele diria que eu era maluca. Vamos lá: 5, 4, 3, 2, 1...

– E então? – Me virei para ele. Edward tinha os olhos arregalados de curiosidade.

– Eu esperava uma reação completamente diferente... Enfim, de uma maneira que eu ainda não sei, eles deixavam esse fragmento ainda maior, deixando mais parte dessa ligação escapar. Quanto maior, mais forte você ficava – De qual tamanho será que é o meu?

– Mas porque só você, e não todos os outros com essa anomalia? – Reformulando o que ele falou: Por que só você conseguiu viver e os outros não, depois de passar por essa atrocidade?

– A minha anomalia foi o que me salvou. Eu tenho uma espécie de escudo em volta da minha cabeça mais os meus poderes de bruxo vindos do meu pai, me deram um tipo de auto-regeneração da mente. Entende? Tipo: fica quebrado, mas não sangra. – Ou, pelo menos, era isso que Jully sempre me falava.

– E onde está essa instituição que você tanto fala, a Secrets? – O que o vamp queria com essa pergunta?

– Não sei. Hoje ela pode ser um prédio de advocacia ou uma fabrica de sorvetes – Estando longe de mim...

– Se esse lugar é tão poderoso assim, como você conseguiu sair de lá e estar aqui? – Ele franziu a testa – Espera... você está, sei lá, em uma missão? – Seus olhos estavam tinham um brilho de excitação. Quem ele acha que eu sou? A Bella Bond¹?

 – Não. – O olhei com cara de desgosto – Eu fugi – Relaxei a minha expressão e dei de ombros. Como se alguém tivesse perguntado se iria chover e eu dissesse: Acho que sim.

– Fugiu? Então... então você é uma foragida como o seus pais? – Edward levantou as sobrancelhas, surpreso.

– Pode-se dizer que sim. Mas, sinceramente, acho que até me esqueceram. – Me ajeitei, sentando um pouco mais para trás – Já faz uns 16 anos.

– Mas você está com 17! É... impossível. – Ele sussurrou a última palavra. O cara pensava rápido, vou admitir.

– Digamos que eu já estou na meia idade – Ri com o meu raciocínio – E você, quão velho é? - Tentei esconder o meu sorriso ao ver o seu rosto incrédulo.

– Não lembro com certeza, mas é mais ou menos 1 século. – O vamp respondeu de uma forma distraída. Nossa... 1 século.

– Se você já estiver satisfeito, eu vou para a minha casa arrumar algumas coisas antes de ir – Desci do capô.

– Espere – Me virei para ele – Você disse que o seu pai era um bruxo. Como assim? – O olhei incrédula. Será que ele acreditava que só existiam vampiros e lobisomens nesse mundo? Que... ingênuo.

– Edward, preste atenção, todas as histórias, mesmas as de terror ou simplesmente lendas, têm um fundo de verdade. Os bruxos são uns dos tipos mais comuns. Para você ter uma idéia, existe várias escolas de magia pelo o mundo – Me achei uma professora.

– Todas as histórias? – Edward tinha as sobrancelhas arqueadas, quase sumindo em seus cabelos despenteados, e piscava os olhos, surpreso – E... escolas? – Eu me senti como uma mãe falando para o filho que o bicho-papão existia de verdade.


Limitei-me a assentir com a cabeça. 


– Desculpa, mas agora eu tenho mesmo que ir – Puxei o canto da boca.

– Mas, e esse cara que apareceu. Que conversa foi aquela? – Ele também ficou de pé – Eu prometo que é a minha última pergunta – Me olhou suplicante

– Um demônio... ele era um demônio. Você deve ter escutado a “ameaça”, então agora eu vou ir até lá resolver essa questão antes que seja segunda-feira. Sabe, é que vai haver prova de espanhol. – Ajuntei o meu cesto e a minha espada.

– Você está maluca? Eu não posso conhecer um demônio, mas não acho que sejam algo como insetos simples de esmagar. E, caia na real, está na cara que é uma armadilha – Ele estava exasperado. Qual é, eu sei me cuidar! E, além do mais, aquela não era a última pergunta?!

– Eu sei, mas não posso ficar aqui de braços cruzados esperando ver o que ele vai fazer – Falei como se estivesse dizendo: “Claro que 2 + 2 é igual a 4, burro!”

– Eu vou junto então – Foi a minha vez de erguer as sobrancelhas.

– Quem aqui te elegeu a Sancho Pança²? – Me revoltei. – Será apenas eu e o meu Rocinante² – Apontei para a minha espada. Acho que eu deveria apontar para a minha moto, mas como ela não está aqui, vai a espada mesmo.

– Eu posso ajudar – Agora eram dois revoltados.

– Como? Deixando o seu traseiro em perigo para eu salvar? – Céus, quando que a maior revelação que eu fiz sobre a minha vida se tornou uma discussão?

– Eu sou rápido, forte, e quatro olhos vêem melhor que dois. Ou você esqueceu que eles pretendem te atacar pelas costas? – Pisquei os olhos, surpresa.


Caramba, ele estava certo.


– Ainda sim você só seria um peso morto – Mas nem fudendo eu admitiria isso.

– Você sabe que eu serei de grande ajuda. E não se preocupe que eu sei como tirar o meu “traseiro” do perigo. – Foi impressão minha, ou ele foi sarcástico?

– Mas... – Eu tentei achar outra desculpa.

– Viu? Vamos lá, eu poderei ajudar! – Cara, ele era bem persuasivo.


Bufei.


– Você sabe manusear um arco? – Perguntei, por fim.


Céus, eu não acredito que estou fazendo isso!



POV/ NARRADOR


Ele assistia a cena que se desenvolvia abaixo de si com uma careta no rosto. Saltou como um gato e pousou em outro galho da grande árvore que estava pendurado. O vampiro estava de novo na jogada. Novamente ele a havia subestimado, ela tinha sido mais esperta do o homem esperava. Mas ainda sim ingênua, o filho da noite seria apenas um peso morto, entretanto, a Arma X – 4.863, agora estava revelando o seu grande segredo.


As árvores em volta começaram a se balançar de um lado para o outro. Era a raiva do homem afetando o equilíbrio natural de tudo. Como ela poderia confiar nele? Confiar em algo que os dois foram criados para destruir? E aquele demônio. Quem ele acha que é para atrapalhar os seus planos?


O homem respirou fundo. Já estava chamando atenção demais.


Voltou o seu foco para a cena abaixo. Escutou com atenção o que a foragida falava. Um sorriso esguio se formou em seu rosto. Um novo plano acabara de ser formado. E ele seria posto em ação depois que ela voltasse. O homem ficou de pé, claro que não precisou se agarrar em nada, o seu equilíbrio era perfeito, e começou a tatear o ar. Achou o lugar certo, e, como se o ar de repente se tornasse solido, ele o abriu e, diante de si, uma nova fenda foi aberta.


Hora de escrever um novo relatório.



Notas:


1: “Meu nome é Bond, James Bond.” – O famoso 007

²: Sancho Pança, o fiel escudeiro de Dom Quixote

³: Rocinante era o cavalo do herói citado acima.


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