A Foragida escrita por Andressa Rosa


Capítulo 2
Meu Passado


Notas iniciais do capítulo

A historia da Bella. Vamos lá!



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Isso é real

Essa sou eu

(This Is Me - Demi Lovato)

* - *

POV/ BELLA

Eu poderia te cumprimentar, poderia sorrir-te, mas se você tivesse um quinto da porcaria de vida que eu tenho, entenderia o motivo por eu ser rude. Não confio em você e talvez eu nunca vá confiar, mas essa é a minha história e ela tem de ser contada, mesmo que seja para um estranho. Antes de você seguir, eu tenho um aviso: minha historia não chega nem perto de um conto de fada e um final feliz nunca foi uma opção. Contudo, caso ainda continue ai, lá vai ela:


Meu nome é Isabella Marie Swan, mas todos me conhecem – poucos – por Bella e desde 1994 sou uma foragida do governo dos EUA. Até hoje eles me perseguem, graças aos meus poderes consegui fugir todos esses anos, entretanto, sinto que eles estão cada vez mais próximos de finalmente me capturar, e esse confronto não vai ser nada bom.


Não sou uma humana comum, aliás, nunca fui uma humana comum. Modificaram-me em um laboratório pelos melhores cientistas do mundo, transformando a pequena e linda criança nessa aberração. Fui criada para ser um soldado perfeito, o melhor que possa existir, feita para aguentar vários dias de batalhas sem descanso, água ou comida; para ser uma espiã perfeita; para eliminar qualquer criatura “perigosa”, e o melhor: ser totalmente controlável por eles para fazer qualquer coisa pelo país.


Bem, essa última parte não saiu de acordo com o esperado.


As modificações resultaram em: super velocidade, projeção e leitura de pensamentos, escudo mental e físico, super inteligência, controle dos 4 elementos – água, fogo, ar e terra –.


Nada pode me atingir, a menos que eu deixe, é claro. Consigo sentir quando estão usando poderes, principalmente os de criaturas místicas. Posso passar dias e noite em uma batalha ou fazendo qualquer atividade física, e para machucados eventuais, auto-regeneração.


Também sou uma bruxa, nas minhas veias correm o sangue do melhor bruxo que um dia existiu. Isso resultou em dois maravilhosos anos da minha vida morando em Hogwarts, a famosa escola bruxa, entretanto, fui expulsa depois de quase matar Draco Malfoy queimado, ele bem que mereceu!


Quando quiser me atingir, faça algo comigo, mas não com os meus amigos. Esse foi o seu maior erro, cara de fuinha! – Foram essas palavras que ele escutou antes de cair no chão possuído por chamas incontroláveis. Se eu me arrependo? Nem um pouquinho, aliás, se eu pudesse, faria de novo, somente para vê-lo chamando aos berros a sua mãe. Foi hilário!


Mesmo sendo expulsa de lá, e tento a minha varinha quebrada, eu ainda faço magia. Se você não entendeu, ai vai à explicação: por causa do meu escudo, o rastreador que todo o menor de idade tem não funciona em mim e, além do mais, nunca precisei de uma varinha para fazer qualquer coisa, eu tinha uma somente para não chamar a atenção, e quando ela foi destruída, não fez a menor diferença.


Fiz muitos amigos em Hogwarts, dentre eles estão: Harry, Hermione e Rony. Porém, os que eu mais gostava eram os irmãos gêmeos Weasley: Fred e Jorge. No colégio éramos o trio ternurinha. Até hoje eu sinto pena do Filch, ninguém nos merecia mais o Pirraça em um único lugar. Ainda somos, orgulhosamente, uma lenda.


Depois de sair – leia-se: ser expulsa – de Hogwarts e destruir uma base inteira do governo, matando todos no local, eu fui explorar a imensa Terra. Passei por vários mundos sobrenaturais, mas foi somente no reino de um grande elfo que conheci o meu eterno melhor amigo: Eric.


Eric é extremamente mortal em uma batalha ao mesmo tempo em que é incrivelmente carinhoso para comigo. Como eu, ele também é especial, muito especial. Grande e veloz como nada, inteligente e perspicaz como nenhum ser. Para um dragão, é claro. Isso mesmo, Eric é um dragão, um poderoso, incrível e único dragão. Seu imenso corpo é coberto por um quebra-cabeça de escamas prateadas, aterrorizantes aos olhos de inimigos e incrivelmente belas aos olhos de aliados.


Como tradição e homenagem a Eric por me escolher entre muitos outros, forjei uma espada feita do mais poderoso material élfico que um dia existiu, como Eric, é de uma coloração prateada luminosa. Seu nome é Garjazla, que na língua antiga significa luz. Ela esta sempre comigo, não importa onde eu esteja.


Continuei a minha expedição, agora com a companhia de Eric, passando por muitos outros reinos. Fiz muitos amigos e aliados, ao mesmo tempo em que fiz alguns inimigos. Um desses grandes amigos foi Thor, Filho de Taihr, o Grande Rei das Minas do Oeste, ele era um anão muito gentil, o quanto a sua rabugenta espécie podia ser, mas tinha muitos problemas de traição em seu próprio reino. Como forma de retribuir a hospitalidade e bondade dele comigo, comecei a investigar o caso.


Com a decisiva sabedoria de Eric, no final de um mês – Ei, é difícil ler mentes de anões, são muito enigmáticas! – o grande criminoso surgiu: seu irmão mais novo, Roth, que possuído pelo ciúme de não ter ficado com a coroa, começou a se aliar ao grande inimigo daquele povo, para que no final pudesse, finalmente, se apossar daquele reino como um rei. Um plano extremamente tolo em minha opinião.


Roth foi julgado e condenado a morte por traição e conspiração, contudo, Thor ainda via-o como o seu irmãozinho mais novo, e pediu-me, suplicante, para que eu arranjasse uma alternativa que salvasse-o ao mesmo tempo em que o punia. Esse pedido tirou todo o meu sono por várias noites e apenas um dia antes da execução do príncipe, foi que uma luz iluminou a minha cabeça.


Apaguei totalmente a memória de Roth e o mandei para outro mundo, um em que vários tipos de espécies conviviam em harmonia, sem ciúmes ou avareza. O povo daquele reino não soube de nada, e até hoje pensam que o seu príncipe fora morto por causa de seus erros. Thor ficou incrivelmente grato e me presenteou com um troféu de uma das suas guerras. Era um arco e um cesto de carregar flechas, mas não um arco ou um cesto comuns, era um cesto e um arco mágicos, onde depois que uma flecha é colocada no cesto, infinitas outras também surgem, e o principal: nunca erravam seu alvo. Apenas um par daqueles foram criados, e era uma honra possuir um.


Aceitei o presente de bom grado, pois todos esses anos no mundo místico me fez descobrir que nunca se deve negar um presente de um anão, pois são incrivelmente orgulhosos e uma guerra pode começar dali. Quanto exagero, não?


Visitamos muitos outros reinos e povos, aprendemos várias línguas, costumes e percebemos que, depois de completar dezessete anos, eu não mudei, nem um pouquinho, o fato estava na cara: eu era imortal – acho que o certo seria dizer que eu tinha a juventude eterna, pois eu não estava isenta da morte – Eu até tentava assimilar esse fato, mas descobrir que a eternidade foi dada a você, não era fácil.


Ainda naqueles mundos, um pouco antes de completar 22 anos, nós conhecemos outro cavaleiro de dragão, seu nome era Eragon e tinha como parceira um enorme dragão fêmea azul de nome Saphira. A amizade e sincronia deles eram de dar inveja.


Quando Eric soube que havia outros dragões além dele, ficou muito entusiasmado e queria explorar outras partes do mundo para descobrir se tinham ainda mais. Eu sabia que aquela viagem era perigosa e que eu não tinha espaço nela, aquele era o destino de Eric e não o meu.


Foi assim que começou a minha serie de abandonos no mundo.


Eragon desaprovou nossa decisão, para ele, dragão e cavaleiro eram um só e separados não sobreviveriam. Entretanto, depois de um tempo, acho que com a ajuda de Saphira, chegou a mesma conclusão que eu: Eric precisava daquilo, e não iria descansar enquanto não conseguisse. Sua vida só teria sentido depois daquela busca. E eu respeitava, mesmo que isso me fizesse se separar do meu melhor amigo. Ninguém disse que a vida é fácil, não é mesmo?


Aprendi muitas coisas sobre cavaleiros com Eragon, ao mesmo tempo em que Eric aprendia novas táticas de voou e luta com Saphira, mesmo que isso ferisse um pouco o seu ego. As lutas que os dois passaram juntos eram impressionantes, suas historias me encantavam e me faziam ver o quanto eu era pequena nesse vasto universo.


Uma coisa nas historias daqueles dois nunca passavam despercebida por mim, para dizer a verdade, um nome: Arya. Quando ela era pronunciada um vasto tom de carinho e amor não correspondido preenchiam o ar.


Amor


O que leva uma pessoa a isso? A ser totalmente dependente de outra? De até mudar o seu jeito de ser e arriscar a sua própria vida? Eu não sabia, e nem precisava, o amor é um sentimento que não foi criado para mim. Amargurada? Não. Apenas realista.


Então o grande dia da separação chegou e cada um foi para o seu lado. Eric foi para as montanhas do Sul, pois recebeu uma dica de sua amiga dragão de que lá era o melhor lugar para começar uma busca daquela.


Eragon e Saphira foram para o leste retornando para o seu exercito, os Vardens. Eu havia explorado vários mundos, mas um ainda era um mistério para mim: o dos humanos. Eu nasci humana, fui modificada por humanos, maltratada por humanos, mas sabia quase nada sobre eles. Acho que foi o meu medo que me impediu todo esse tempo de atravessar a barreira que separava esse mundo dos outros. Mas já era hora de superá-lo.


Eu ainda fico em dúvida se me arrependo ou me glorifico por essa decisão.


Calça jeans, uma blusa preta com o nome de uma banda humana, tênis all star e uma mochila encantada carregando o meu ouro adquirido nesses anos todos, meu arco e minha espada: foi assim que eu cheguei ao mundo humano. Qualquer um que passasse por mim não acharia nada de estranho, eu era apenas uma típica adolescente. Se eles soubessem...


Passei por várias cidades, porém, em todas os humanos tinham as mesmas características: sempre buscavam algo mais, mesmo que tivessem muito, sempre queriam mais. Isso os fez evoluírem, ao mesmo tempo em os fez regredirem. Em um lugar onde se via riqueza, também era notável a pobreza, por mais que tentassem esconder, as marcas ainda ficavam bem visíveis. Eu, verdadeiramente, sentia pena dessa espécie.


O que eu achei estranho era que, mesmo em um mundo assim, havia pessoas verdadeiramente boas, pessoas que não mereciam estarem ali, pessoas que às vezes me faziam pensar se não eram anjos disfarçados. Um exemplo era a senhora Mary. Acho que nunca vou conhecer alguém tão gentil como ela.



Flashback:

Eu, com toda a certeza, estava perdida.


Era o dia do meu aniversario, ou pelo menos era o dia em que Lucy, a única pessoa que realmente se importou comigo naquela base, afirmava que eu nasci. Mas qual a importância tem o aniversário quando se é imortal? Era apenas mais um ano, só isso. Eu havia acabado de chegar nessa cidade, acho que o nome era Phoenix, muitas pessoas passavam por mim, algumas falando em celulares, outros pensando em quão atrasados estavam. Era infernal o barulho de todo o tipo de veículos que passavam, também apressados, pelas as imensas ruas.

Ninguém parava para ver a beleza do céu, ou para a pequena flor plantada em um minúsculo jardim de um prédio, todos sempre estavam com pressa, percebi com amargura.

Andei em rumo daqueles vários metros de cimento, tijolos e avareza empilhados, parei na sua frente e suspirei quando vi a beleza daquela flor, eu sabia que estava atrapalhando os humanos que passavam ficando ali parada, mas depois de olhar a grandiosidade daquele prédio entrando em confronto com aquele pequeno ser, me fez pensar que aquele mundo ainda poderia tomar um jeito, seria sim muito difícil, mas não impossível.

Um barulho de algo caindo me fez olhar para o outro lado, uma velha senhora havia acabado de derrubar vários produtos no chão após uma das suas sacolas rasgar. Ninguém parou para ajudá-la, alguns na pressa até chutavam os mantimentos mandando-os para ainda mais longe, mas diferente do que pensava, ela simplesmente se abaixou e começou, calmamente, a juntar todas as coisas caídas, como se aquilo fosse algo normal, rotineiro.

Rapidamente fui de encontro a ela e comecei, sem falar nada, a ajudá-la a juntar tudo o que havia caído. Algum Deus ou Deusa sabe o quanto eu me segurei para não soltar algumas pragas ou mandar todos aqueles humanos para os ares. O esquisito era que toda a vez que eu olhava para aquela senhora eu via o quão infantil eu estava sendo, sua mente não registrava nada de ruim, a coisa mais maléfica era um pequeno ressentimento por suas costas estarem doendo.

Depois de mais alguns segundos juntando todas aquelas coisas que eu nem sabia o nome direito e de sair correndo atrás de uma laranja quase a rua inteira, nós finalmente terminamos. Somente após a pobre senhora se levantar e forçar um pouco as costas para amenizar a dor, foi que ela realmente me notou, então disse numa voz incrivelmente calma e gentil:

Muito obrigada, criança. Não se fazem mais sacolas como as de antigamente! – Balançou a cabeça reprovando o mundo.

Não foi nada. A senhora quer ajuda para carregar? – Tentei me controlar para não soltar um careta por ela ter me chamado de criança, mas percebi que, após uma sacola ter rasgado, ela teve que colocar todos os seus mantimentos em apenas uma.

O que levaria a duas opções: a) Ela não aguentaria o peso. b) A sacola iria rasgar na próxima esquina.

E, bom, eu realmente não tinha nada para fazer.

Oh, não me chame de senhora, eu me sinto ainda mais velha! Meu nome é Mary, e sim, eu realmente agradeceria a sua ajuda. – Mostrou um grande sorriso.

Foi impossível não sorrir de volta.

Peguei a sacola de papel do chão e disse num murmúrio quase inaudível um feitiço que reforçasse a sacola. Eu é que não iria sair atrás de laranja de novo!

Como é o seu nome, querida? – Ela me pegou de surpresa. Tirei os meus olhos da sacola que eu ajeitava em meu colo e a olhei. Digo, eu realmente a olhei. Mary tinha enrolados e ralos cabelos brancos, seus olhos eram de um incrível azul, sua pele era tão branca que chegava a ser translúcida e mal batia no meu ombro, mas por algum motivo, sua pessoa se fazia presente, era quase impossível não notá-la.

Balancei a minha cabeça e me concentrei na sua pergunta.

Isabella, mas eu prefiro Bella – Me vi sendo encarada pelos seus belos olhos azuis, olhos que agora me analisavam, mas não o meu corpo, era como se analisassem a minha alma. Aquilo me pegou desprevenida e me deixou um pouco desconfortável.

– Belo nome! Eu espero que não se importe de carregar até a minha casa. – Me surpreendi ao ver confiança, e não temor por eu ser uma estranha, nos seus olhos.

Limitei-me a balançar os ombros, então a segui. Ela conversou o caminho inteiro comigo, como se fossemos grandes amigas que acabam de se reencontrar, o que me fez perder totalmente qualquer ressentimento. Ali começava uma sincera amizade.

Fim Flashback




Naquele dia, Mary me fez comer um pedaço de bolo com ela – o que foi uma enorme ironia, pois de acordo com as tradições humanas, o bolo é comido para comemorar mais um ano de vida – e a contar o porquê de eu estar ali, naquela cidade, sozinha. Eu, estranhamente, contei tudo. Tirando a parte das criaturas místicas, dos outros mundos e de eu ser uma foragida do governo. Resumindo, a minha historia foi que os meus pais tinham morrido, e que eu estava a vagar pelo mundo por não ter mais nenhum parente ou lugar para morar. O que não era totalmente uma mentira, vamos dizer que foi apenas uma versão humana dos fatos.


Eu, depois de muita insistência, fui morar com Mary. Ela tinha uma filha que fora recentemente morta, o que a faz se sentir muito sozinha e eu, por algum motivo, lembrava a garota. Eu sabia o que era se sentir sozinha e não queria que àquela humana, a qual fora tão gentil comigo, passasse pelo mesmo. Eu até mesmo brinquei com ela falando que eu poderia ser um ladrão, contudo a senhora, com a sua calma de sempre, apenas me respondeu que não, depois de me ver um pouco atordoada pela tamanha convicção na sua voz, completou dizendo que eu tinha um bom coração. Aquilo me tocou profundamente.


Troquei uma parte do meu ouro por dinheiro humano, comecei a dormir no antigo quarto da filha da Mary, a ajudar nos serviços da casa, a aprender, discretamente, sobre como era a vida dos humanos, a fazer compras e com tudo isso, deixar a vida de Mary um pouco mais feliz. Porém, a minha vida não podia ser chamada de monótona, ou algo assim.


Depois de um tempo eu realmente vi que esse mundo não era diferente dos outros, aqui também tinha maldade, muita maldade. E esses humanos precisavam de alguém, alguém para protegê-los, de si mesmo e de criaturas mágicas, que diferente do que eu imaginava, também viviam aqui. Eu sentia que poderia ser útil, útil para pessoas como a Mary, pessoas que não mereciam ver ou viver nenhum tipo de mal.


Então foi assim que a minha vida morando com a Mary ficou: De dia uma humana quase normal, que se recusava a ir a algum tipo de escola e que me sustentava como meu dinheiro para não ter de trabalhar, não era preguiça, nem um pouco, era apenas precaução. E que a noite saia atrás de todo o tipo de coisa ruim, seja rendendo assaltantes para que a polícia local pudesse aplicar a sua justiça ou a eliminar criaturas sobrenaturais ruins.


Eu sentia que Mary sabia o que eu fazia, pois toda a vez que lia um jornal ou via um noticiário mostrando as baixas nas taxas de criminalidade, ela sorria, simplesmente me olhava e sorria, como se estivesse me agradecendo. Querendo não acreditar, apenas desviava os olhos e me concentrava em outra coisa. Eu sabia que não podia continuar, porque já estava chamando muita a atenção, mas o que fazer? Era uma das únicas vezes em que eu não me condenava por ter sido criada, e eu queria manter aquele sentimento, mesmo sabendo que era perigoso.


Como alguns humanos dizem: nem tudo são flores, e, bom, a minha vida é que não seria. Mary, de uma hora para outra, começou a se sentir mal, muito mal. Ela, depois de muita insistência minha, foi para um hospital. O que descobrimos lá me deixou sem chão. Mary carregava em si um câncer em já avançado estado, eu sabia que ela era humana e para os humanos a morte é certa, mas viver isso era algo inimaginável. E eu vi, dia após dia, o seu estado piorando, mas eu não poderia deixar aquilo seguir em frente, não mesmo. Então em um ultimo ato de desespero, eu revelei que possuía poderes e disse que poderia salva-la.


Ela, como sempre, me surpreendeu.



Flashback:


Estávamos no hospital, eu me movia de um lado para o outro na frente da cama onde Mary estava. Eu precisava salva-la... eu iria.

– Vai se cansar, criança – Ouvi uma fraca voz dizer isso.

– Mary! Pensei que você estivesse dormindo – Corri em sua direção, depois de chegar até a sua cama, me ajoelhei e peguei a sua pequena mão que estava mais pálida que o normal. Senti uma forte pontada no coração. Eu podia, sim, fazer algo.

– Mary, como você está se sentindo? Precisa de algo? Quer que eu ajeite o travesseiro? – Tagarelei desesperadamente.

– Shii, se acalme querida. Está tudo bem na medida do possível – Me interrompeu. Suguei uma grande lufada de ar, aquele era o momento.

– Mary, você pode me achar louca, pode até querer chamar um psiquiatra depois, mas me escute, por favor. É estranho falar isso, mas eu sou diferente dos outros, eu... eu não sou normal... – Respirei fundo novamente e soltei tudo de uma vez – tenho poderes que nenhum outro ser tem... eu posso fazer muitas coisas... como te curar. – Sussurrei e gaguejei um pouco. Fechei bem os olhos.

– Por favor, acredite em mim – Eu sabia que aquela seria a hora em que ela chamaria o médico e pediria para me internarem numa clinica psiquiátrica.

– Eu acredito – Escutei a sua voz num tom calmo dizer isso. Abri bem os olhos, tudo bem, essa não era a reação que eu estava esperando.

– Eu sei que você tem poderes, eu sabia que você era especial desse o dia em que eu te vi. E pequena criança, não se desespere, eu sabia que esse dia iria chegar, é certo. Então não os desperdice comigo, use-os com alguém que realmente precise. – Ela passou a sua pequena mão nos meus cabelos, visivelmente tentando me acalmar.

– Como você sabia Mary? – Fiquei confusa. Sim, eu suspeitava, mas ouvi-la confirmar, era diferente.

– Eu não sei. O meu instinto apenas me fez rasgar aquela sacola e confiar no destino. – Mergulhei naquele mar azul que era os seus olhos.

Permaneci algum tempo sem palavras. Então foi tudo planejado? Aqueles sorrisos eram realmente de orgulho? A sua ignorância quanto as minhas saídas a noite? Seu pouco caso com algumas roupas minhas rasgadas e com cicatrizes que de tão recentes não sumiam por completo? Eu senti o meu estômago embrulhar, e o meu respeito, já grande por aquela mulher, aumentar um pouco mais.

– Eu vou senti a sua falta, muita mesmo – A abracei delicadamente.

– Eu também vou senti falta de você criança, mas pode ter certeza que eu vou estar te olhando lá do céu, não importa onde você esteja – Aquelas palavras me emocionaram, apertei um pouco mais o meu abraço antes de soltá-la.

– Tem certeza que você não é um anjo? – Soltei um sorriso

– Oh, só você para me fazer rir em um momento desses – Ela deu um risinho. Eu desconfiava que aquilo causava dor a ela, foi ai que eu decidi que se eu não poderia curá-la, poderia apenas deixá-la mais confortável nesses últimos dias.

Fiquei de pé e respirei fundo. Fechei os olhos, virei as palmas das minhas mãos para cima e chamei aquele poder que me tanto orgulhava.

– Espírito, venha até a mim. – Instantaneamente, eu senti algo dentro de mim pular como se dissesse um oi.

– Espírito, eu preciso de um favor seu: como a bondosa Mary não quer ser curada, tire, ao menos, qualquer vestígio de dor que a sua doença a provoca. – Senti parte daquele poder se deslizar de mim.

Foi impossível não conter um sorriso quando escutei um gritinho assustado vindo de Mary e em seguida em suspiro reconfortante.

– Obrigado Espírito. – Abri os olhos. – Com se sente Mary? – Me ajoelhei novamente ao lado de sua cama.

– Muito bem, obrigada querida. – Ela sorriu.

– É o mínimo que eu podia fazer – Abaixei a cabeça.– Mary, você não quer nada? Quer dizer, você não tem um parente ou algo assim? – Soltei de repente.

– Para dizer a verdade, eu não sei. Eu meio que me tornei uma ovelha negra da família depois que me casei com o John – Ela sorriu nostálgica.

– Se você quiser, eu posso tentar achar alguém – Comecei a me levantar, pronta para ir atrás.

– Oh, não. Só você aqui já basta – Passou novamente a mão no meu rosto, me fazendo se ajoelhar novamente.

– Já que é assim, eu não vou me desgrudar dessa cama enquanto....enquanto você estiver aqui. – Tentei controlar a minha tristeza por confirmar a mim mesma que ela iria partir.

– Obrigada, pequena. Eu só queria lhe pedir uma última coisa enquanto eu ainda tenho tempo. – Ela soou ainda mais fraca.

– É só falar – As palavras saíram rápidas e fortes.

– Apenas não continue se rejeitando pelo o que você é, aceite os fatos e tire proveito deles. Olhe quantas vidas você já salvou, se você tivesse chegado um pouco antes, Susan ainda poderia estar aqui. Não se engane, eu lhe peço para continuar salvando vidas, mas não viva somente para isso. Arrume alguém, se divirta um pouco mais, por mais que você ache que não, você ainda é humana, há um coração dentro de ti, e ele bate, pois se não batesse, você não teria me ajudado naquele dia ou salvado tantas vidas. Como eu disse uma vez, você tem um bom coração, continue assim, criança. – Mary falou fazendo um visível esforço.

– Eu vou – Senti os meus olhos se encherem de lágrimas, as quais eu rapidamente sequei. Eu não iria chorar, Isabella Swan não chora.

– Se cuide – Olhou dentro dos meus olhos para que então suas pálpebras se fechassem.

Elas nunca mais se abriram.


Fim flashback



Mary faleceu no dia 21 de Fevereiro de 2003. Eu simplesmente entrei em um estado de tupor nos dias seguintes, eu estava, novamente, perdida. Não deixei nenhuma lágrima sequer descer dos meus olhos, lágrimas eram para os fracos e eu tinha que ser forte naquele momento.


Após recuperar-me totalmente, arrumei a minha nova mochila com o meu arco, a minha espada, bastante dinheiro humano, o restante do meu ouro, algumas roupas e muito alimento. Eu não sabia quando eu me estalaria em um lugar novamente, então era melhor me prevenir.


Se forem vidas que Mary queria que eu salva-se, então salvar vidas era o que eu iria fazer. Eu até mesmo podia a imaginar falando que era essa Bella que ela queria.


Antes de sair de casa, sentei no sofá e pensei: qual era o melhor meio de salvar vidas em diversos estados e cidades e, mesmo assim, ficar no anonimato? Então uma luz dessas de desenhos animados acendeu na minha cabeça: Um demônio?, isso, um demônio, ele disse algo que parecido com: – Eu vou voltar e matarei todos os Caçadores que existirem, começando por você – Então o desgraçado virou uma fumaça e escapuliu do corpo daquele senhor. No dia eu não dei muita bola, eu ainda estava com raiva de mim por ele ter conseguido escapar.


Mas e agora? O que são Caçadores? Pense Bella! – Minha mente me ordenou.


Então a voz de trovão do meu antigo professor na Secrets me golpeou:


– Haverá também humanos que sabem da existência de criaturas sobrenaturais. Eles se autodenominam Caçadores, são apenas um bando de pessoas pensando que podem mudar o mundo. Se em algum dia você cruzar com eles numa missão, os matem, eles estão sendo um problema para nós. Mas o principal é: não os deixe saber quem você é, ou o que você faz. Você tem de ser invisível. – Sua voz era alta e o seu desprezo era evidente.

– Mas eles não são apenas pessoas? – Perguntei depois de juntar um pouco de coragem. Eu tinha apenas 10 anos e aquele homem rude de quase dois metros de altura, de cabelos loiros quase raspados e com uma enorme cicatriz que marcava o seu rosto ponta a ponta, me dava medo, muito medo.

Ele simplesmente ergueu uma sobrancelha, visivelmente irritado com a minha audácia e, num incrível tom de repulsa, disse:

– Não questione, apenas memorize o que eu disse. – Começou a se virar para sair pela a porta. A aula tinha acabado: hora de ir embora. Mas é claro que eu tinha que escutar a idiota da minha mente.

– Eles são humanos! Eu não vou fazer isso! – Fiquei de pé, automaticamente me arrependo, pois ele veio na minha direção com os seus passos rápidos e rígidos e, se inclinando de uma maneira que eu julgava impossível, ficou com rosto a centímetros do meu.

– Então se lamente por eles enquanto fica uma semana sem refeição. E preste atenção: se você me responder novamente nesse tom, pode ter certeza que o que eu for fazer vai ser muito pior. Agora saia, a aula terminou. – Sua voz era fria e calma, o que me deixou com mais medo do que qualquer gritaria.

Quase correndo, sai da sala, mas o prazer de finalmente o ter enfrentado me preencheu, o que me fez esquecer qualquer punição.


Balancei a cabeça tentando dissipar a imagem daquele homem da minha mente, se havia alguém dentro daquela base que não faria falta, era esse cara. Pode até ser errado ficar alegre com a morte de alguém, mas aquele sujeito merecia, não apenas por mim, mas por todos os outros que vieram antes.


Pensei mais um pouco nas consequências que me trariam ao me tornar uma Caçadora. Havia mais probabilidades boas do que ruins:


a) Eu conheceria novas espécies e, dependendo do que fazerem, eu as destruiria.

b) Eu ficaria longe da civilização, o que me deixaria mais longe do alcance do governo.

c) ...


Porque mesmo eu estou pensando em probabilidades? O simples motivo que eu poderia salvar novas vidas com isso já bastaria. – Me revoltei comigo mesma


Olhei mais uma vez para aquela casa, eu tive bons momentos ali. A tranquei totalmente e joguei alguns feitiços em volta. Eu é que não deixaria alguém entrar na noss... minha casa sem permissão, eu até mesmo poderia voltar a morar aqui um dia. Quem sabe?


Comecei a minha nova vida indo comprar um carro, assim eu seria capaz de me locomover mais rápido pelas cidades onde havia suspeitas de criaturas e, cara, eu sempre sonhei em ter um carro. Na Secrets eu aprendi a pilotar qualquer tipo de máquina, mas foram os carros e as motos que me conquistaram, até tinha documentos de habilitação falsificados, junto com a minha identidade e outros.


Aquele era o meu primeiro carro e não poderia ser um carro comum, tinha de ser O carro. Fui a algumas lojas e concessionárias, mas no momento em que eu coloquei os olhos em um incrível carro preto, o qual eu não sabia o nome, eu soube: ele foi feito para mim.


Quando eu entrei naquela loja ultrachique, todos os olhares voltaram para mim, muitos pensamentos eram de incompreensão e até desprezo. Eu estava com a mesmo roupa de quando eu havia chegado nessa cidade: calça jeans, blusa preta de uma banda que até hoje eu nunca escutei uma musica, um tênis all star vermelho, a única diferença era a mochila, que agora era preta e não azul. Bom, quem olhasse para mim, ou melhor, para as minhas roupas, pensaria que eu estava somente olhando os carros, pois nunca iria conseguir comprar um.


Fui de encontro ao carro que havia visto na vitrine e esperei que alguém viesse me atender. O que ninguém fez. Chamei um funcionário, mas apenas depois de levar uns olhares de: O que você pensa que é? E de: O que esta esperando para sair daqui? Foi que um jovem de uns vinte anos, com visível má vontade, veio me atender.



Flashback:


Aquele carro era lindo, muito mesmo.

Fiquei o admirando por mais um tempo esperando alguém vir me atender. Esperei, esperei e esperei mais um pouco. Muitos funcionários estavam apenas conversando uns com os outros, alguns até olhavam para mim e faziam piadinhas com os colegas. Tranquei o meu maxilar tentando manter o controle. Respirei fundo e com a voz um pouco irritada, perguntei:

– Será que algum de vocês poderia me ajudar? – Olhei aquele grupinho de jovens.

Se olhar matasse, eu já estaria morta. Com toda a certeza.

Tudo pelo carro, tudo pelo carro... – Repetia constantemente em minha mente, eu sabia que seria difícil achar outro carro como aquele, mas já estava cogitando as possibilidades.

– Pois não? – Falou um jovem de uns 20 anos, visivelmente irritado comigo por ter atrapalhado a sua conversa. Isso aqui não era lugar de trabalho, não?!

– Que carro é esse? – O quê? Era o trabalho dele.

– É serio? – Me olhou como se eu fosse uma alienígena.

– Eu tenho cara de quem esta brincando? – O cara estava pedindo para voar pelos ares.

– Um Camaro – Mandou mísseis pelo olhar.

– Eu vou levar – Disse como se fosse a coisa mais normal do mundo. Coisa que não era.

– Moça, você sabe quanto esse carro custa? – Deu uma olhada nas minhas roupas. Que coisa mais gay!

– Eu perguntei o preço? Não. Eu apenas falei que eu vou levá-lo. E já que você quer conversar, podemos conversar, mas na frente do gerente. – Sim, eu estava parecendo uma vadia, mas ninguém o mandou começar. Aqui, meu bem, nem o Hitler.

– Tudo bem – Ele ergueu o seu queixo tentando recuperar a dignidade. Então, virou-me as costas e foi até uma pequena sala.

– Eu só queria comprar o carro – Murmurei para mim mesma

– Qual é o problema? – Me despertei quando um senhor de uns 40 anos, barrigudo e um pouco careca parou na minha frente. Foi ai que eu me estressei.

– Eu realmente queria saber! Estou aqui um tempão esperando algum incompetente que você chama de funcionário me atender, e quando eu finalmente chamo um, ele vem, de má vontade, e ainda por cima me humilha! Que raio de loja é essa? Eu posso agora mesmo chamar a policia e processar tudo isso aqui. E você me pergunta qual é o problema?! Eu não sei, mais creio que o senhor seja um pouco mais competente e possa me dizer. – Agora sim eu estava parecendo à rainha das vadias, mas alguém tinha ensinar uma lição para esses caras.

– Desculpe senhorita, eu mesmo vou lhe atender. Depois eu vou tomar uma providencia com os funcionários. – Lançou um olhar irritado para os trabalhadores que nos observavam ao invés de trabalhar. Eles arranjaram, incrivelmente rápido, algo para fazer.

– E então, o que você deseja? – Mudou o tom de voz

– Eu vou levar esse – Apontei para o Camaro.

– Tudo bem, vamos até o escritório para você assinar os papeis – Então completou mentalmente: Eu vou esganar cada um desses moleques! Meu Deus, o que será que a Rachel vai fazer em relação ao Finn1? Eu não fui promovido à gerente para aturar isso! Não mesmo.

– Então vamos – abafei uma risada.


Fim Flashback

Foi até fácil comprar o carro depois daquilo tudo. Assinei toda a papelada e paguei a vista, o cara arregalou os olhos e cogitou até mesmo ligar para a policia, mas passei uma historia de que estava ajuntando o dinheiro há anos. Claro que ele não acreditou, nem um pouquinho. Então mexi um pouco em sua mente o forçando a acreditar na minha história, aquilo era errado, eu sabia, mas que alternativa haveria? Quando ele finalmente virou as costas, eu roubei todos os documentos que havia assinado para destruí-los depois. Eu não deixaria o meu nome entrar no sistema, não mesmo. Depois disso o subornei para que os documentos do carro saíssem mais rápidos, deixei tudo nas mãos dele e sai para comprar uma ou duas coisas que eu ainda precisava e para pesquisar o lugar para onde eu iria.


Comprei dois jornais, um notebook e um moldem, e me encaminhei para uma lanchonete com o intuito de pesquisar. No final daquela tarde eu já sabia o local para onde eu iria: Las Vegas, um cassino de lá estava tendo um crescimento inacreditável de ganhadores, poderia ser nada, mas algo dentro de mim dizia que não, tinha algo errado lá.


Voltei para a loja e o gerente já me esperava, até cafezinho me ofereceu.“O que o dinheiro não faz nesse mundo?” – Pensei com amargura. Ele deu-me todos os documentos do carro e disse, discretamente, que também subornou mais algumas outras pessoas para conseguir o emplacamento e alguns registros, até gasolina o carro já tinha. – É só pegar a chave e usá-lo – Foram às palavras dele. O agradeci, peguei o meu carro e comecei a minha nova jornada.


No começo de 2005 eu tinha até me esquecido do governo que estava atrás de mim. Em Março daquele ano eu encontrei mais dois caçadores. Foi um desastre desde o começo. Eu estava tentando resolver um novo caso, mas não esperava ter companhia, não mesmo.



Flashback:


Eu estava a caminho de Medfor, Wisconsin.

Havia acabado de resolver um caso e já estava indo de encontro a outro, eu simplesmente fui pesquisar e logo de cara encontrei esse: Assassinato onde sobravam apenas pedacinhos dos pais, as crianças eram os únicos sobreviventes, as quais falavam que havia sido um palhaço. Poderia ser apenas um maluco assassino fantasiado, mas meu instinto de novo me dizia que não, era outra coisa, algo sobrenatural. Pesquisei mais um pouco e vi um caso semelhante à cinquenta anos atrás, pai e mãe mortos, criança viva e culpa do palhaço.

Depois daquilo, eu tinha certeza de algumas coisas:

a) Fosse o que fosse, ele era carnívoro e seu prato predileto era carne humana.

b) Precisava entrar nas casas com a ajuda de alguém, então se vestia de palhaço para conquistar as crianças, porém, não as matava. Eu acho que é por causa da falta de carne.

c) O seu sistema digestivo era bem lento. Ele precisava de no mínimo 50 anos, pelo menos era esse o tempo entre os dois casos.

d) Algo o transportava e eu precisava saber o que era.

A cidade era bem pequena pelos padrões norte-americanos, só que muito aconchegante, era quase um insulto falar que ali teve um assassinato tão cruel. A primeira coisa que eu fiz ao chegar foi ir ao circo, tirando o óbvio, as famílias também tinham ido ao dia anterior, então se tinha algo errado, era melhor começar por ali. Pensei em minhas opções: eu poderia ir ao circo como uma pessoa normal, contudo, eu precisava encontrar algo que transportasse aquele ser. Um objeto? O próprio Circo? Não faço idéia. Eu necessitava de passe livre, tinha que entrar e sair dele sem que ninguém achasse estranho ou viesse me interrogar. O problema era como.

Dei umas voltas ao redor do circo e contatei que ele era simples, tinha o básico que todos têm. Era de manhã e ainda não estava aberto, mas tinha pessoas limpando e fazendo os últimos ajustes em todo o lugar. Em todo o lugar... Era isso! Eu precisava trabalhar ali. Nossa, às vezes a minha lerdeza me assusta.

Estacionei o meu carro o mais longe o possível e mudei de roupa para uma mais simples. O que? Eu tinha que parecer necessitada, sei que as minhas roupas não são de grifes, mas com certeza eram caras de mais para quem estava à procura de um emprego. E claro, peguei a minha eterna companheira mochila e fui colocando o meu pequeno e poderoso arsenal: três adagas que eu havia conseguido por ai, o meu arco, um cesto de carregar flechas com uma flecha de cada tipo, algumas de ferro, prata e assim vai, e sim, a minha maravilhosa espada também estava lá.

Andei até a entrada do circo e no caminho eu encontrei todo o tipo de pessoas, umas altas, outras baixas, até uma mulher com uma barba enorme passou por mim, uns me olhavam com curiosidades, outros na correria de arrumar os últimos retoques antes do show, nem me notavam.

Prendi a minha respiração quando dois jovens numa faixa etária de idade entre 20 e 30 anos, (N/A: Eu não faço a idéia de quantos anos eles têm.) passaram por mim, mas o que dois caras como eles fazem aqui? Meus instintos entraram em alarme, havia algo de especial com eles, eu só não sabia se era bom ou ruim. Será que também trabalharam aqui ou estão só de... Meus pensamentos foram interrompidos quando o mais velho dos dois se dirigiu para mim:

– Ó lá em casa! – Isso era uma cantada? Que sem noção!

– Cara, você pode ate ser bonito, mas de boca fechada. – Me dirigi indignada para aquele humano – Que cantada mais cafona! – Terminei para mim mesma enquanto continuava o meu caminho.

Escutei algumas risadas do cara maior e aparentemente mais novo e após isso um som que parecia um soco. Quanta infantilidade! – Pensei enquanto rolava os olhos. Esquece isso Bella, concentra-se no teu trabalho – Minha mente pé-no-saco me ordenou. Tudo bem, depois de todos esses anos os meus instintos poderiam errar, não? Nem a mente deles eu pude olhar para saber o que faziam aqui, pois já estava na frente de uma grande tenda, o barulho de algo fincado na madeira era nítido, o que garantia que tinha alguém ali. Resolvi parar e pedir informações.

Com licença – Puxei o pano para o lado e adentrei naquele pequeno local. Um senhor, de estatura média e cabelos já brancos, atirava facas em um alvo de madeira pendurado na parede.

Olá, eu queria falar com o dono – Tentei ser simpática.

Então vá procurá-lo! – Falou ríspido e sem, ao menos, se virar. Ouch, aquilo doeu.

O senhor, então, poderia me dizer onde ele está? – Continuei calma, eu é que não iria perder a paciência com um velho rabugento.

A minha cara de mapa esta dizendo não – Solta o cavalinho!

Por favor, onde foi o ultimo lugar que o senhor o viu. Isso já me ajudaria – Aquele homem não esta ajudando.

Isso é uma brincadeira?! – Exclamou ofendido, então virou-se e retirou os seus óculos pretos, mostrando suas opacas órbitas.

Desculpe, eu não queria... – Tentei me explicar. A culpa é dele também! Quem mandou não se virar?! Mas, ei! Como ele acertava o alvo se ele é... Meus pensamentos foram novamente interrompidos. Será que ninguém pode mais pensar em paz?!

Algum problema aqui? – Um cara de uns 45 anos entrou na pequena tenda. Porque em todo lugar que eu vou, tem de ter um cara de uns 40 anos perguntando qual era o problema? Era perseguição?! Acalma-se Bella, eles são só humanos. – Me ordenei. Consegui me acalmar pensando em como era bonitinho Eric quando era ainda um filhotinho. Respirei fundo.

Eu realmente não sabia que ele era cego, eu só perguntei na onde estava o dono daqui – Bela entrada Bella! Me desculpe, eu realmente não sabia! – Falei alguns segundos depois e, extremamente embaraçada, àquele senhor.

Estranhamente, os meus instintos começaram a apitar, como quando eu passei por aqueles jovens, mas que mal um senhor daquele, ainda por cima cego, poderia fazer? Algo de errado estava acontecendo comigo. Concentrasse no agora! – Minha mente berrou. E no segundo seguinte o senhor quarentão disse:

– Bom, você queria falar com o dono e aqui estou eu. Venha, vamos deixá-lo com o seu ensaio – Então me guiou para fora.

Fizemos o caminho inteiro em silêncio, claro, o que eu poderia dizer depois de um vexame daquele? Finalmente chegamos ao maior trailer dali, ele empurrou a porta e me abriu caminho, bom, pelo menos era cavalheiro. Olhei em volta, o lugar não era o antro da limpeza, mas também não se via baratas dançando My Humps, enfim, era exatamente o que eu esperava de uma casa que nunca para.

– Sente-se – Me indicou duas cadeiras em frente a sua mesa. Franzi o cenho quando vi que uma delas era toda colorida e tinha uma enorme cabeça de palhaço como apoio para a cabeça. Rapidamente sentei na cadeira ao lado, a qual era preta e simples.

– Agora que estamos aqui, o que a senhorita deseja? – Se sentou de frente para mim.

– Eu, bem, eu preciso de um emprego – Tentei ser acanhada e comovente. O que surtiu nenhum efeito.

– Desculpe, mas não tenho mais vagas – Repousou as costas na cadeira. – “Será que hoje é o dia do arrume um emprego no circo?” – Pensou, o que me deixou um pouco confusa. Quem também havia vindo pedir um emprego logo hoje e aqui?

– Por favor, eu preciso de dinheiro para comprar uma passagem para o Arizona, eu fui assaltada, o meu cartão de credito foi a única coisa que sobrou e ainda por cima foi cancelado, minha mãe e meu pai estão de ferias e eu não consigo entrar em contato com eles, eu estou desesperada, senhor – Eu parecia uma verdadeira atriz. Ás vezes é bom sem criativa.

– Desculpe, mas eu realmente não tenho mais vagas – Disse após ponderar um pouco. – “Porque ela não foi a policia?” – Droga, que furo! Tomara que ele não pergunte. Merda, eu tinha que conseguir entrar ali, mas da forma convencional, eu não poderia mexer na sua mente, pois fosse o que fosse que estava cometendo aqueles assassinatos iria perceber, então, fudeu tudo.

– Tudo bem, eu... eu vou tentar em outro lugar e depois irei arranjar um lugar para eu passar essa noite – Forcei uma voz embargada e abaixei a cabeça. Respirei fundo com se o meu nariz estivesse entupido e passei a mão no rosto como se secasse lágrimas que desciam por ali. Sim, eu poderia ganhar um Oscar. Levantei sem olhar para aquele senhor e, ainda de cabeça baixa, comecei a fazer o caminho até a porta.

– Obrigado por ter me escutado – Fiz a minha voz ficar ainda mais embargada.

No momento em que eu estava com a mão na maçaneta, sua voz ressoou naquele aposento:

– Eu acho que posso abrir uma vaga para a limpeza durante os shows, não é muito o salário, mas eu acho que para a sua situação, já é um começo. – Ele tinha se levantado e contornado a mesa, sua expressão era pura pena.

Eu só não fiz à ridícula dancinha da vitória, porque eu ainda estava empenhada no meu papel de atriz.

– Verdade?! – Perguntei numa voz supostamente duvidosa.

– Sim, e ande logo, pois o parque já ira abrir – Sua voz era mais carinhosa.

– O Meu Deus! Obrigada! Obrigada! Obrigada! – Me lancei dando-lhe um abraço.

– Sim, sim – O homem se libertou do meu abraço com um sorriso – E esse aqui – Se virou e pegou um uniforme vermelho de um cabide pendurado logo atrás de sua cadeira – É o seu uniforme, vista e ao trabalho. – Abriu a porta e me indicou o lado de fora. Pelo o visto, o cara não se dava bem com agradecimentos.

– Obrigado novamente! – Apertei o uniforme contra o meu peito. Sim, aquela cena deve ter sido patética.

Então eu comecei a descer os pequenos degraus. Porém, sem deixar de notar um retrato pendurado na “parede” lateral, lá tinha uma foto preta e branca, pelo o aspecto dela deveria ter uns 50 anos e o principal: estava retratando um senhor igual ao que eu estava conversando.

Pulei o ultimo degrau sentindo um frio na espinha, eu tinha conversado com o assassino? Aquela dúvida e incerteza me atormentaram por todo o caminho até o banheiro, claro que eu não precisei pedir na onde era. O cheiro dava para ser sentido de longe.

Não tive coragem e muito menos estômago para trocar de roupa naquele lugar imundo, pois se o cheiro do banheiro era ruim, a visão era pior. Aquilo estava mais horripilante que festa de criança humana, chegou a dar arrepios. Mudei o meu caminho e entrei em um trailer que estava com a porta aberta, conferindo antes, é claro, se havia alguém dentro.

Ali dentro era muito simples, tinha alguns espelhos fixados nas paredes, pequenos balcões embaixo dos espelhos tendo em cima diversos tipos de maquiagens, e estavam espalhadas por todo o canto várias araras de as mais diversas fantasias. Fui atrás de uma e numa velocidade exclusiva minha, mudei de roupa. Peguei as que eu estava vestindo antes e coloquei-as dentro da minha mochila.

Dei uma olhada em mim mesma num daqueles espelhos e percebi uma coisa: que uniforme feio! Pareço um pimentão de pernas! Aos poucos deixei as minhas criticas sobre a roupa de lado e com um salto desci do trailer, ignorando os degraus. E adivinha com quem eu esbarro? Com o um dos garotos que eu havia passado na entrada.

– Está tudo bem? – Me ajudou a ficar de pé. Ele deveria ser o mais novo e, ao contrario do seu irmão, pareceu um humano legal.

– Sim, obrigada. Desculpe pelo encontrão – Dei um pequeno sorriso. Afinal, o que custa sem um pouco simpática? Eu levarei somente hoje para resolver o caso e, sendo assim, nunca mais o veria.

– Deixa para lá! – Percebeu a relação das nossas roupas – Você também vai trabalhar aqui? – Soltou num tom risonho.

– É né, fazer o que? – Encolhi os ombros. Pelo menos não era só eu que estava parecendo um pau-brasil gigante.

– Me desculpe ser intrometido, mas eu queria lhe agradecer pelo o fora que você deu no Dean. Ele bem que estava merecendo! – Soltou uma pequena risada no final. Ah, então o nome do outro garoto era Dean. Mas o que importa o nome dele? – Pensei. Volte para a sua missão!

– Sim, ele estava merecendo – Concordei com ele – Me desculpe, mas eu tenho que ir. Prazer, o meu nome é Bella – Estendi a minha mão.

– Sam, e o prazer é todo meu – Retribuiu o aperto. Eu não sei, mas há algo de especial nesse garoto, ele não é um humano comum. Estranho.

– Tchau, Sam – Soltei as nossas mãos.

– Tchau, Bella – Ele as colocou no bolso, sem jeito.

Então, sem olhar para trás, segui em frente, contornando um ou dois trailers e me desviando de algumas pessoas que tinham chegado.

– “Encontrou algo Sammy? Eu estava olhando no diário do papai e descobri que podemos matá-lo com latão. Agora só precisamos descobrir na onde o desgraçado tá.” – Ouvi a voz metalizada, provavelmente vinda de um celular, do garoto mais velho, Dean. Instantaneamente virei para trás, os meus instintos estavam dando voltas, mas Sam já tinha se misturado com a multidão.

Não, não pode ser, deve ser apenas coincidência, Bella – Minha consciência tentava me acalmar – Eles são muito novos, tire esses pensamentos dai! Volte ao trabalho – Minha mente era como deveria ser as mães: não param de mandar ordens e quase sempre estão certas, por mais que isso irrite.

– Já está descansando?! – Perguntou uma voz irritada

– Oi? – Me virei assustada. Como é que eu não o vi chegar?

– Ah, deixe de ser idiota por um momento e volte ao trabalho – Continuou com o seu tom irritante; adivinha que é? Se você disse o velho cego irritante, acertou. E então, sem mais nenhuma palavra, quase socou em mim um saco preto e um metal com uma ponta mais fina, a qual eu acho que deveria servir para pegar os lixos.

– Ei, como você me achou? – Perguntei depois de pegar os objetos que foram impostos a mim. Sério, se o velhote era cego, como é que ele me encontrou?

– Eu tenho mais o que fazer do que dar explicações para crianças burras – Daí ele virou-me as costas e saiu tateando o chão com o seu guia, simples assim. Simples nada, se ele me der um fora desses de novo, eu tenho até medo do que eu vou fazer para ele.

Tirei aqueles pensamentos da cabeça e comecei a rastrear o dono daquele circo que era, até o momento, o meu suspeito número um. Peguei um saco de pipocas vazio e coloquei no saco preto, no momento seguinte eu o avistei, andando em direção da grande tenda, onde iria acontecer o show.

Disfarçadamente, mudei o meu caminho e comecei a segui-lo.

Franzi o cenho ao ver o jeito que ele andava, duas vezes tropeçou e quase derrubou uma criança que passou correndo na frente dele. Será que o grande assassino sobrenatural se disfarçava de humano desastroso? Se fosse, ele era bem esperto, pois eu nunca diria que aquele desastre ambulante era um assassino. Nunca.

Cheguei mais perto do homem, um sinal, o menor que fosse, que ele faria algo perigoso, eu o tiraria dali e o mataria. Seria rápido e fácil. No entanto, algo deu errado, e se não fosse pela a minha super audição, eu não teria percebido. Como eu pude errar daquele jeito?

Larguei o saco e o pega-lixo no chão e corri, mas corri como um humano ou qualquer outra coisa nunca poderia correr. Sim, eu estava rodeada de gente, mas depois de ter cometido um erro daqueles, a minha raiva estava grande demais para me preocupar com aquilo. Entrei correndo em um brinquedo que tinha como entrada uma enorme cara de palhaço. Soltei um pequeno bufo.

Aquele lugar deveria ser algo relacionado ao terror, sem trocadilhos. Tudo era simplesmente um labirinto com vários potes com falsificações de órgãos humanos, monstros mecânicos e vários, vários espelhos, mas não tive muito tempo para reparar aquilo, eu tinha algo mais importante para fazer.

Esquerda, direita, um grito vindo do outro lado. Eu estava perto, muito perto. Dei a volta e me deparei com os dois garotos da entrada virados para o meu suposto inimigo. Então eles eram o que eu temia: Caçadores, mas agora não é hora de pensar e sim agir. Sem nenhuma palavra, joguei a minha mochila no chão e tirei de lá o meu arco e o meu cesto de flechas, aquilo deveria ser o suficiente.

Em milésimos de segundos, eu já estava do lado de Sam, ele estava com algum metal na mão e encarava algo invisível e armado. Lancei uma rápida olhada para o lado e vi o cara que se chamava Dean preso na parede por várias adagas. Que amador!

– Precisa de ajuda? – Perguntei também encarando o invisível e dando um passo para o lado.

No momento seguinte, Sam virou o seu projeto de arma em direção a mim, em reflexo, mas encontrou somente o ar. Eu estava um passo distante dele. E então os seus olhos me registraram, ele os arregalou tanto que eu pensei que sairiam andando.

– Sai daqui, você vai se machucar! – Intercalou olhares para mim e para a criatura invisível.

– Não se preocupe – Peguei uma flecha de alumínio e, em segundos, armei o arco e soltei. A mira foi certeira, a flecha se chocou com uma adaga, mando-a para o outro lado, desviando-a do seu caminho, que era a testa do outro carinha mais velho, o Dean.

– Como...? – Tentou perguntar Sam, mas sem nenhuma razão aparente, impeli o meu ombro contra o dele, jogando-o um pouco para o lado, no segundo seguinte, uma adaga passou voando entre os vãos dos nossos pescoços. Pronto, localizei de onde as adagas estavam vindo. Aquilo rapidamente teria fim.

Peguei outra flecha, agora de prata, e armei-a. Ergui o arco na altura do ombro e soltei, era impossível errar, mesmo que ele se movesse, pois com aquela arma, depois que um alvo é traçado, ele é acertado. Entretanto, algo de errado aconteceu: a flecha chegou ao seu alvo, bateu e caiu. Rapidamente peguei outra e soltei. Nada novamente.

– Não adianta – Sam tinha uma cara mais seria. A vá que não esta adiantando?! Eu percebi isso no instante em que a minha segunda flecha não o perfurou. Eu estava abrindo a boca para responde-lo, quando o mesmo se jogou para o lado, deixando outra adaga, que iria em sua direção, sem rumo. Resolvi deixar aquela passar.

– Tente isso – Me jogou aquele pedaço de metal que tinha nas mãos. Eu acho que era feita de latão. Latão: mais um material para eu fazer pontas de flechas, era um absurdo eu não ter uma flecha feita disso.

– Sammy, o que você esta fazendo?! Por que não faz um chá e toma um pouco? Porque enquanto uma FILHA DA PUTA DE UMA ADAGA NÃO ME ACERTAR, EU NÃO TENHO PRESSA DE SAIR DAQUI! – Berrou Dean.

– Ah, cala a boca! – Me revoltei. Qual é, o cara não ajuda e ainda quer atrapalhar?!

Não esperei a sua reação, apenas peguei aquele metal e encaixei sobre outra flecha, o peso ficou bastante desproporcional, mas teria que dar certo.

Ergui o arco novamente na altura do ombro e mirei para o nada, metalizando apenas o jogador de adagas invisível. Tudo aquilo era fisicamente impossível, mas a flecha se desviou um pouco e começou a seguir o caminho correto, mas fosse o que fosse que estava na nossa frente, era inteligente, muito inteligente. Ele em poucos segundos havia entendido com funcionava o meu arco, então jogou outra adaga, a qual apenas derrubou o pedaço daquele metal e deixou a flecha continuar o seu caminho, a qual bateu no ar e caiu no chão. Mas eu acho que ele não contava com uma caçadora que previa o futuro, disso eu tenho certeza.

Voltei para o presente, ergui o arco, mirei e soltei a flecha, mas ao invés de apenas acompanhar com o olhar o seu caminho, eu saí logo atrás dela. Tudo aconteceu conforme a minha visão, bem, apenas o final foi diferente. Ele, como previsto, jogou a adaga e acertou o pedaço de latão recém adicionado, mas o metal não caiu no chão, pois eu o peguei ainda no ar e o ergui com um verdadeiro punhal, correndo lado a lado da flecha. Olhei bem o local onde ela bateu e então, com uma força descomunal, enfiei o metal dentro daquele ser. De acordo com os meus cálculos, eu acertei em seu coração.

Soltei o pequeno pedaço do metal que tinha ficado para fora do corpo e me afastei, pois conforme o pedaço de latão balançava, mostrava o quanto ele estava tremendo, e no segundo seguinte, um clarão iluminou o local sombrio, o corpo do infeliz apareceu por alguns segundos e então desapareceu. Menos um nesse mundo humano.

Andei até o local onde o pedaço de metal dado pelo Sam estava e disse àquelas palavras que eu queria dizer desde que descobri tudo:

– Isso é pelas patadas que você me deu, velho desgraçado! – Me controlei para não cuspi no chão

Então eu me virei e fui até na onde os dois jovens estavam, Sam tentava tirar as adagas que deixavam Dean preso, enquanto o mesmo dava resmungos tentado ajudar. Cheguei perto deles.

– Vocês precisam de ajuda? – Falei por falar, pois a resposta eu nem precisei olhar o futuro para saber.

– Não! – Responderam os dois juntos. Aquele machismo humano às vezes só serve para irritar e atrapalhar!

Alguns poucos minutos depois e o carinha mais velho já estava livre. Será que ele esqueceu o meu fora de hoje cedo ou de eu o mandando calar a boca? – Pensei em dúvida.

– O que você está fazendo aqui?! – Dean falou raivoso a mim. É, ele não esqueceu.

– Estou fazendo o meu trabalho – Fiquei calma

– Atrapalhar os outros é o seu trabalho, morango ambulante? – Perguntou com desdém. Ele me chamou mesmo de morango ambulante? Esse cara não quer mais viver, é isso.

– Eu vi o quanto você estava dominando a situação, até uma criancinha paralítica conseguiria desviar daquelas adagas, coisa que foi muito difícil para você, Pitanga de pernas – Debochei.

– Olha aqui sua... – Dean avançou para cima de mim. Hunf, como se um humano conseguisse me derrubar! – Pensei enquanto erguia os punhos. Eu estou pronta para ensinar uma lição para esse humanozinho prepotente.

– Dean, pare! – Sam parou na frente dele. Que estraga prazer!

– Sai da frente Sam, eu não bato em mulheres, mas a acerola de arco merece! – Dean tentou abaixar os braços do Sam.

– Porra, Dean, pare! Ela nos ajudou, você poderia estar morto nessa hora e mesmo assim quer arranjar briga! – Sam empurrou Dean para trás.

– Bem, enquanto vocês resolvem a sua briguinha de casal, eu vou ir. Eu tenho coisas melhores para fazer. – Passei o meu cesto de flechas pelo pescoço, o apoiando nas costas. Aquilo não daria em mais nada.

– ELE É MEU IRMÃO! – Gritaram ofendidos se virando para mim. Nossa, até a briga eles esqueceram.

– Que seja! Dei de ombros. Então peguei o meu arco e caminhei desanimadamente para onde a minha mochila estava.

– Espera! – Escutei Sam gritar

– O que foi? – Soei cansada ao me virar para ele.

– Eu só queria agradecer e pedir desculpas pelo o comportamento do Dean. Ele ainda não aceitou o fora que você deu nele – Observei Dean cruzar os braços e nos olhar feio.

– Tudo bem, mas agora eu tenho que ir. Adeus, Sam, tome cuidado – Me virei novamente.

– Adeus, Bella – Acenei de costas.

Achei a minha mochila alguns metros depois, coloquei o meu arco e o meu cesto de flechas dentro dela. Sai novamente pela boca do palhaço e fui a rumo do meu carro. Eu espero que eles tenham um uniforme extra. – Pensei enquanto trocava de roupa no banco de trás.

Peguei o meu notebook e comecei a pesquisar. 3 minutos e 24 segundos depois e eu já estava a caminho de um novo caso.

Fim Flashback*

* Flashback inspirado no episodio ‘Todos amam o palhaço’, eu não me lembro de tudo, mas ai está o essencial. Se tiver algo de muito importante que eu esqueci, avise, por favor.


Um mês depois, e nós nos encontramos novamente.


Sempre nos encontrávamos em lugares onde havia perigo de alguma criatura sobrenatural e aquilo já estava se tornando irritantemente inconveniente. Nós trabalhávamos na mesma coisa, mas era como se fosse para patrões diferentes, e isso causava uma bela disputa. Discutíamos e disputávamos desde a pequena pista até a luta contra o monstro.


Sam, cansado daquilo tudo me chamou para se juntar ao grupo, Dean parecia que iria ter um infarto, no entanto, Sam mostrou que o “trabalho” deles não era por diversão ou disputas, mas sim de salvar vidas, e se para isso precisasse que eu ingressasse ao grupo, eu iria. A consciência de que havia algo a mais atrás daquele “salvar vidas” estava presente. O objetivo deles, eu aposto, era vingança.


Dean resmungando um ‘nem respeitam mais os irmãos mais velhos nos dias de hoje’ e ficou quieto, não aceitou e nem foi contra. A sua mente denunciava o quanto queria realizar a sua vingança, mas para ele, aquilo era assunto de família, somente os dois tinham aquele direito de executá-la. Entretanto, ocupando o mesmo espaço do desejo daquela vingança, tinha a certeza de que sozinhos não iriam conseguir. E eu, por mais que a sua macheza não quisesse aceitar, poderia ajudá-los. Mas o mais durão dos Winchester não iria admitir aquilo. Nunca.


Mesmo ficando horas discutindo com o Dean, eu aceitei. Sempre fui solitária após a morte de Mary, e era bom estar novamente entre uma família, mesmo que sendo apenas usada para algo.


Depois de brigas, amizades, companheirismos e salvamentos, nós realmente nos tornamos uma verdadeira família. O meu eterno desentendimento com o Dean resultou em algo mais, contudo não deu certo. Eu não sabia como era beijar um-não-amigo-meio-irmão, mas deveria ser parecido com o nosso primeiro beijo. Foi algo quente, mas frio. Excitante, mas broxante... É até difícil de explicar. Fazer o que, néh? Como vocês humanos dizem: “É a vida”.


Depois de um tempo, eles começaram a me tratar como se fosse a irmã caçula deles: tinha hora para voltar, responder um interrogatório inteiro ao chegar em ‘casa’ – leia-se: Motel onde estávamos hospedados , ser tratada como uma donzela em perigo nas caçadas e assim ia.


O estranho era que eu gostava daquilo, – tirando a parte da donzela... donzela o escambal! – eu me sentia querida, era como se fossemos uma família... normal, onde os irmãos tinham ciúmes de tudo o que a irmã mais nova fazia. Tirando toda essa historia de caçada a criaturas sobrenaturais e todo o resto, é claro. Mas o que claramente me deixava feliz, era que aquele sentimento de vingança estava aos poucos sumindo, não que eles tivessem a esquecendo, nunca, o diferente era que agora os irmãos Winchester estavam pensando, fazendo planos e não arriscando a vida banalmente somente indo de encontro ao tal demônio e então tentar destruí-lo. Era suicídio na certa.


Eles nunca souberam o que eu realmente era, mas sabiam que eu era diferente, isso era comprovado em cada caçada. Mesmo que me achassem algo sobrenatural, não me destruíram, eu era humana demais para ser algo ruim. Os dois me interrogavam constantemente e eu falava alguma coisa ou outra sobre mim, mas nunca tudo. Não era falta de confiança, nem pensar, era apenas uma forma de protegê-los contra algo futuro.


No entanto, eu realmente acho que alguém não gosta de me ver feliz, pois primeiro foi a morte da Mary, agora algum agente, que não estava na grande destruição da base, descobriu que eu havia conseguido fugir viva de lá. Eles, incrivelmente, engoliram o orgulho e espalharam para o mundo inteiro a ameaça que eu era. Apenas me tornei a “criminosa” mais procurada do mundo. Sim, eu já era procurada por alguns delitos que havia cometido em alguns salvamentos, mas ser procurada daquela maneira era inacreditável. Tudo simplesmente... fudeu!


Foram 4 anos vivendo com eles e eu nunca iria deixar pegá-los, ainda mais por algo que era culpa minha. Então, apenas com o sentimento de proteção em meu coração e a razão em minha cabeça, eu os abandonei. Deixei para trás uma singela carta explicando tudo com uma confiante promessa de que eu iria reencontrá-los, fosse onde eles tivessem, pois eles sempre seriam os meus eternos maninhos.


Depois desse episodio, eu me tornei, novamente, a caçadora solitária.


Após rodar vários estados como meu precioso carro carregado de equipamentos, eu percebi que não adiantava mais viver essa vida de caçadora, pois seria apenas perda de tempo abandonar os Winchester para depois que descobrirem que era uma caçadora, irem interrogá-los e usá-los de chantagem contra mim.


Pesando bem, chega até ser cômico essa procura, eles me criam para nunca ser pega ou destruída, porém tentam, a todo custo, me matar. Às vezes a ignorância humana ultrapassava os seus próprios limites.


Ao terminar de ver todas as minhas opções, notei que a mais aceitável era de tentar viver uma viva que a grande maioria dos seres que habitam essa terra vive, ou seja, de tentar levar uma vida ‘normal’ nos padrões humanos. Sim, eu vivi um projeto de vida humana com Mary, mas viver totalmente assim era insano. Entretanto, qual militar pensaria que a poderosa “Arma X 4.863” (Esse era o meu numero de série) fosse viver numa forma tão primitiva? Eu nunca imaginaria se tivesse no lugar deles. E era para isso que torcia.


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