No dia seguinte, já era sexta-feira e tinha um tempo bom. Kirino não apareceu no treino matinal e nem nas primeiras aulas do dia. Em vez disso, apareceu na sala de aula completamente exausto durante o intervalo de almoço.

_Bom dia...
_Kirino! - Shindou, que estava comendo sua marmita em sua carteira, virou-se para ver o amigo entrar - O que houve? Fiquei preocupado!
_Elas me prenderam lá quando eu disse que iria me demitir - Sentou-se em sua carteira; Shindou foi até ele.

Ontem, ao fim do intervalo de Kirino. Ele voltou pra loja, entrando pela cozinha. Duas garotas vestidas de cozinheira preparavam pedidos, Kirino passou por elas, sentado em uma cadeira que ficava por lá. Suspirou

_O que foi Ran-chan? Parece desanimado
_Esse trabalho tá acabando comigo, acho que vou me demitir.
_O que!?

As duas deixaram o que estavam fazendo e foram até ele, cada uma segurando uma de suas mãos.

_Você não pode nos deixar!
_Sim, Sim! Precisamos de você!
_Eh? Pra que?
_Desde que você entrou, o número de clientes triplicou!
_E você carrega as coisas pesadas!

A chefa delas, uma maid de cabelo preto comprido preso ao estilo samurai apareceu.

_Onde estão meus pedidos?
_Eri-chan! Faça alguma coisa!
_Ran-chan quer se demitir!
_Espera aí, eu não disse--
_Você não pode! - Se aproximou também - Tem ideia de quanto estamos faturando desde que você apareceu?
_Não, mas...
_Ran-chan não nos deixe!



_Fiquei preso lá o dobro do tempo do meu turno, quase não deu pra terminar os deveres de casa - Deixou-se cair para trás na cadeira - Ainda por cima me ofereceram aumento, horário mais flexível, lanches grátis... .
_E você?
_Reuni todas as minhas forças e pedi demissão mesmo assim.
_E como elas reagiram?
_Me pediram pra ficar pelo menos mais hoje por causa das reservas já feitas.
_Seu estado é péssimo, como vai fazer?
_Aquelas garotas são incríveis com maquiagem, darão um jeito. Enfim - Retomou a postura - me dá um pouco do seu lanche, nem tomei café.
_Heh...Vou descontar do seu salário - Brincou
_Que cruel, mestre.

Os dois riram. Depois das aulas, se despediram; Kirino foi para o trabalho e Shindou para o treino.

O Maid Kissa estava lotado, e maioria dos clientes exigia ser atendido por Ran-chan, embora a maioria não soubesse a verdade sobre ele. Em especial, um homem de óculos fundo de garrafa, cabelo preto desgrenhado, trajando um suéter de algodão escuro sobre uma camisa social mal abotoada na gola; tinha cara de 20 e poucos anos. Estava lá todos os dias desde que Kirino começou a trabalhar ali, e não aceitava ser atendido por nenhuma outra maid.

_Aqui está mestre - dizia sorrindo enquanto colocava um banana split na mesa - seu pedido.
_Ran-chan você é tão gentil - concentrava-se em cada um dos movimentos da maid.
_Estou apenas cumprindo meu dever - sorriu, abraçando a bandeja - Se precisar de alguma coisa, pode me chamar.
_Ran-chan, por favor! - Outro cliente chamou
_Ah, estou indo! Com licença.

E foi-se para atender o outro cliente, sem notar que o anterior ainda olhava pra ele. O vestido de uniforme era bem conservador, chegava a metade da canela, entretanto, o fato do avental ser amarrado bem acima do traseiro, o realçara.

Finalmente, deu-se seu intervalo. Ele precisava respirar, então foi pra fora da loja.

_Ah cara, tô morto - Alongava os braços - em pensar que ainda tem mais duas horas disso... Aliás - Olhava o caminho da rua - Shindou na apareceu ainda. O treino já deveria ter terminado...

Levantou-se, indo para a passagem da rua. Olhou discretamente para os lado, sem ser visto nem encontrar nada. Suspirou. Virou-se, voltando para a porta, mas no meio do caminho fora agarrado pelas costas.

_Isso não tem graça Sh--

Virou o rosto e quem viu não era Shindou, era o cliente que o secava mais cedo. Apesar do físico normal, era bem forte. Agarrava-o pela barriga, prendendo também seus braços.

_Tsc, me solta! - debatia-se
_Isso não é jeito de falar com seu mestre, Ran-chan - Seu tom de voz era desagradável.
_Seu...
_Quando ouvi das outras garotas que você iria embora fiquei muito triste - Deu uma fungada em seu cabelo - Não tem vergonha de desapontar o mestre?
_E você não tem vergonha de ficar agarrando garçonetes à força?! Seu otaku nojento!
_Eh, então você é desse tipo? Que gracinha - ele subiu um dos braços à altura do peito - Você.. é um garoto?! - Surpreendeu-se
_Sou sim, agora me solta!
_Interessante...

A mão daquele homem subiu até o queixo de Kirino, que não conseguia se libertar. Era orgulhoso demais pra gritar por ajuda.

_Sucumba como uma boa maid...
_Tsc...
_FORTÍSSIMO!

Um grito, e logo uma bolada super forte atingiu em cheio as costas do pervertido. O impacto fez com que ele jogasse Kirino de lado e batesse de cara na parede uns 3 metros à frente. Kirino estava pasmo, caiu de joelhos no chão.

_Kirino! Tudo bem? - Foi socorre-lo
_Claro que não! - Agarrou com força a camisa de Shindou; tremia um pouco.
_Ran-chan, ouvi um barulho... - A maid chefe apareceu na porta. Quando olhou em volta, viu Kirino nos braços de Shindou e um cara inconsciente de cara na parede - O que está acontecendo aqui!?
_Esse tarado me agarrou! - apontava
_Mas ele é um cliente regular... Não me diga que é por causa dele que você--
_Não, não tem nada a ver - Ainda tremia - Mas agradeceria se chamasse a polícia e assinasse logo minha demissão.
_Diante das circunstâncias, acho que não tenho escolha. Está dispensado, volte segunda-feira para buscar o pagamento - e gritou enquanto entrava - Alguém me traga um telefone.

Kirino continuava alterado.

_Ei, você vai ficar bem?
_Nunca pensei que teria que lidar com um pervertido pior que você - Ironizou com um sorriso forçado.
_Pelo seu tom de voz, diria que está normal.
_Sério, fiquei realmente assustado - Apoiou a cabeça no peito de Shindou - Obrigado por aparecer, mesmo que um pouco atrasado, e com uma bola.
_Depois disso, acho que você nunca vai aceitar minha proposta.
_Não totalmente. Acho que seria divertido brincar disso com você só uma vez - Sorriu - mas não quero ser uma garota nunca mais.
_Então, minha maid por um dia só por diversão?
_Você tem fantasias muito estranhas, Takuto-sama. Mas ainda preciso do dinheiro.
_Pode me dizer pra que?
_Agora não.

Ignorando o cara, beijaram-se ali mesmo. O dia seguinte seria longo...