Amigos escrita por camila_guime


Capítulo 4
A Garota


Notas iniciais do capítulo

Gente, acho que dessa vez fui mais depressa. Desculpem se desapontei com a demora.
Aproveitem
Boa Leitura!



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Cap. 04 – A Garota.

— Ai meu Deus! – Rachel arfou.

Vickie abraçou Rachel com o susto. Stark ficou paralisado. Alan deu um urro irado, se abaixando rente à garota.

— Ei, ei... – Ele sussurrou. — Acorda... Chamem uma ambulância!

— Já estou chamando! – Augusto gritou mais de trás. Ninguém mais ligava se ele estava por ali, nem mesmo Stark.

— Quer que eu tire o carro...? – Danilo propôs.

— Não, pode machucar mais! – Alan parecia um pouco desordenado, mesmo estando mais calmo que os outros. Ele só não decidia se cedia à preocupação ou à culpa.

Alan sentou no chão e segurou a cabeça da garota para deixar a cervical o mais linear possível. Ele pôde ver uma fenda rasa onde sangrava, e o rosto dela.

Tinha um nariz longo e reto, cílios grossos e longos, e uma boca rosada. Parecia dormir se não fosse à linha de sangue que se formou por sua têmpora. Aparentava menos de vinte anos de idade.

A ambulância chegou minutos mais tarde. Alan conseguira cuidadosamente apoiá-la em sua perna, deitando seu corpo de forma reta no chão. A perna que ficara presa sob a bicicleta parecia estar quebrada, na melhor das hipóteses.

— Eu vou com ela! – Alan anunciou enquanto os amigos pareciam agitados e preocupados. — Rae, você pode pegar minha moto e levar Vickie pra casa.

Alan jogou a chave para ela, que a pegou no ar.

Danilo, mesmo atônito, olhou para as pernas de Rachel saindo do vestido, e logo contra-argumentou.

— Rachel não pode ir de moto. Pegue. Vá com meu carro, - Disse ele trocando de chaves com ela. — Eu pego a moto e deixo o Stark em casa.

Os para-médicos já preparavam a garota para levá-la na ambulância. Alan deu um olhar de adeus para Rachel e os demais, em seguida se enfiando na ambulância e seguindo para o hospital onde ele estagiaria no dia seguinte... Sabendo-se lá o que isso poderia interferir na carreira dele...

Augusto pegou um táxi. Danilo despediu-se de Vickie e Rachel e montou na motocicleta de Alan com Stark, que não falou com mais ninguém, e os dois saíram cantando pneu até a casa deles. Rachel e Vicktoria entraram no carro de Danilo. Rachel dirigindo e Vickie tentando se acalmar. Ainda tremia nas mãos. Ambas não falaram nada até chegarem à casa de Rachel.

― Filha? – Senhora Fox abriu a porta para Rachel, e tomou um leve susto ou reconhecer a amiga da filha. ― Menina Vi...

― Boa noite Srª. Fox. – Vickie a cumprimentou recebendo um aconchegante abraço.

Logo, um gritinho agudo seguido de risadas gostosas foi ouvido, e Rebeca, irmã caçula de Rachel, apareceu pulando pelos degraus da escada. Rae a recebeu no colo indo sentar-se no sofá da sala.

— Chegaram cedo... – Srª. Fox comentou. — Quer dizer... Eu não pensei que você viesse querida... – Referiu-se à Vickie. — Não preparei nada, nem um quarto de hóspedes... Nem sei se vocês comeram... Por que não me avisou que a menina Vi estava vindo filha?

Rachel olhou para a mãe percebendo que Vickie não sabia o que dizer. Srª. Fox sentiu uma leve tensão no ar.

— Houve um mal entendido. Tinha muita bagunça na rua, e sem querer o Alan... – Rachel suspirou. — Bem... O carro bateu numa moça que vinha a dobrar na esquina de bicicleta.

— Santa Mãe! – Srª. Fox se sentou assombrada.

— Alan correu com a moça para o hospital em que ele vai trabalhar. Depois nós duas viemos pra cá. Eu não podia deixar Vickie voltar pra casa sozinha...

— Entendo. Com certeza.

— Danilo me emprestou o carro. – Rachel notificou antes que sua mãe perguntasse.

— Ah sim... Por um momento pensei que ele tivesse ficado lá fora... – Srª. Fox esticou o pescoço para ver o carro através da janela.

— Não... Ele foi com o Stark pra casa, na moto do Alan...

— Mas e a garota?

— Ninguém conhecia... – Vickie falou pela primeira vez. Sua voz fraquinha e temerosa. — Foi horrível... Ver alguém quase debaixo de um carro... Ela era jovem. O Alan ficou... – Vickie perdeu o raciocínio. — Eu só quero saber como vai ser agora... Nossa! Foi uma noite conturbada...

A mãe de Rachel apertou a mão das duas meninas fazendo parecer que aquela confusão toda realmente estava acabada agora.

— Vão tomar banho. Eu vou fazer um lanche para vocês antes de dormir...

Rebeca, que brincava no chão com a toalha da mesinha de centro, deu um gritinho chamando pela mãe.

— E você não deveria estar dormindo? – Rachel falou.

— É. Deveria... – Srª. Fox censurou olhando de canto para a garotinha, que deu uma risada travessa. — Vou contar até três, Rebeca...

— Não! – A garotinha se refugiou perto de Rachel.

— Um... Dois... – E Rebeca desatou a correr em direção à escada. — Sobre devagar!

Depois de comerem e se prepararem para deitar, as amigas sentaram na cama de Rachel, ambas cansadas e assustadas ainda com o que terminou a noite. Rachel, contudo, foi a primeira a falar.

— Desculpa termos levado você pra nova casa do Stark.

Vickie ergueu o olhar para Rachel. Tinha esquecido de como se sentiu manipulada por causa disso.

— É. Você deveria ter me dado ao menos uma pista. – Ela falou tentando dar um sorriso de pazes. — Eu acho que eu não teria levado o Augusto se soubesse...

— E ter perdido a chance de provocar o Stark? Não me pareceria você... – Rachel ironizou.

— Está bom! Eu sei que sou...

— Intransigente? Cabeçuda? Provocadora?

— Não contribua Rae...

— Tudo bem, desculpa.

— Mas de certa forma, você pode estar certa... Danilo também acha que eu deveria ter sido mais amena já que a displicência foi minha, de não ter dado as caras antes.

— Verdade. Mas eu sei como o Stark pode ser chato. Acontece que vocês nunca aprendem... Nessa quebra de braço de vocês não sai vencedores.

Vickie encarou Rachel por uns segundos. Ela estava tão mudada, e ao mesmo tempo tão a mesma Rae de sempre. Lembrou de quando dividiam o dormitório da escola, e conversavam até pegar no sono.

— Acho que vou ligar para o Augusto. – Vickie disse, vendo Rachel amarrar a cara logo em seguida. E acrescentou: — Amanhã. Pra me desculpar pelo Stark.

Rachel sorriu.

— Senti saudades! – Disse a morena.

— Eu também! – Vickie riu e pulou pra outra ponta da cama para abraçar Rachel.

Antes de irem dormir, deram um tempo para elas mesmas, e puseram todo um mundo de conversas em dia.

(...).

Stark e Danilo entravam em casa depois de guardarem bem a moto de Alan na garagem. Os dois também só voltaram a conversar depois de desestressar, tomarem um banho e comerem um sanduíche rápido.

— Não fica encarando, Danilo... – Stark comentou enquanto segurava compressa gelada sobre a maçã do rosto.

— Foi mal. Não percebi que estava encarnado...

— Eu até imagino o que está pensando... – Stark bufou exausto. — Vai lá! Pergunte!

— O que deu em você? – Danilo desabafou.

Stark rolou os olhos já imaginando que era isso.

— Aquele cara mereceu! Estava achando que a Vickie era dele...

Danilo riu ironicamente.

— Não falo disso. Não ainda. Para começar, por que agiu daquele jeito com a Vickie? Eu avisei: era pra você ter tentado fazer as pazes com ela bem antes!

— Eu até queria. – Stark admitiu. Era só com Danilo que ele conseguia falar mais facilmente sobre o que sentia. Com ele e com Rachel, às vezes. Entendia-se melhor do que consigo mesmo. — Mas se eu estivesse ao menos prevenido... Ver Vicktoria, de repente, foi um susto. Ainda mais com aquele mala-sem-alça do lado! O que você esperava? Que eu declarasse desculpas e amor eterno enquanto ela se debulhava de rir com aquele CDF pianinho de uma figa?

— Desculpa, mas eu não imaginava que ela fosse levá-lo! Hoje de manhã, eu a encontrei numa delegacia e...

— O que? – Stark surtou.

— Ela desrespeitou um policial no Museu.

— A cara dela... – Stark sorriu abobalhado e até... Orgulhoso.

— Pois é. Ela teve que pagar uma fiança pra não ter de passar a noite na cadeia. Ela me chamou pra levá-la de volta pra casa, já que estava perdida e sem dinheiro. Ela me contou a versão dela da história de vocês...

— Ah, e você mudou de lado? Vai defendê-la.

— Não é esse o caso! Ela... Ela é... Ela é mulher Stark! – Danilo falou sem saber como se expressar melhor.

— E isso dá poder a ela de ignorar, esquecer, trazer um “amiguinho Restart” à tira colo, e ainda me tirar o apoio do meu amigo?

— Não é nesse aspecto que eu estou falando... – Danilo passou a mão pelo cabelo, tentando organizar as ideias. — O caso é que, sendo Vickie uma mulher, ela esperaria que você fosse mais cuidadoso. Você estava chateado, mas brigar como se tivessem treze anos por telefone não era a atitude que ela esperaria de você!

— Eu não pareço ter treze anos!

— Pareceu sim.

— Pareci não.

Danilo não voltou a responder, deixando Stark cair em si.

— Ok... – Stark recomeçou. — Eu perdi o controle. Vi as fotos daquela noite dela em Roma e pensei... Que eu estava sendo um idiota aqui, parado, dormindo na sala, esperando ela telefonar...

— Pior que parecia mesmo! – Danilo riu sem se controlar.

— Você quer que esse saco de gelo desinche algo em você? Posso providenciar isso... – Stark ameaçou, mas Danilo não se sentiu nem um pingo intimidado.

— Tudo bem, Tudo bem... Mas já pensou que se, talvez, você dissesse essas coisas pra ela, tudo poderia voltar ao normal? Vocês poderiam se entender e parar de ser uma ameaça à sociedade. Vocês não medem as consequências do que fazem, nem a si mesmos nem um ao outro!

— Acho que já percebi isso. Mas é tão difícil. Vickie me... Tira do sério! – Stark suspirou se enterrando deitado no sofá.

— Ai o amor... – Danilo zoou.

Stark o ameaçou com um olhar.

— Mas agora? Ela deve estar me detestando por ter batido no coleguinha dela...

— Ou talvez por aquele beijo monstruoso que você deu nela! – Danilo riu.

— Ou talvez por ter acabado com o lindo sorrisinho do amigo Dondoca dela! – Stark re-ameaçou.

— Nossa. Você está com um espírito homicida hoje... – Danilo se assustou. — Eu vou parar de implicar.

— Ótimo!

— Mas se quer saber... Ela não se importou tanto com ele quanto você pensa... Ela só gritou por você.

— Mesmo?

— É. Até enquanto eu conseguia ouvir, pelo menos, antes de eu apanhar junto. – Danilo riu. — Mas agora, quer saber o que realmente é preocupante?

— A garota. – Stark não precisou de esforço para adivinhar.

— A garota.

(...).

Alan aguardava sentado num banco da sala de espera. Seu futuro chefe estava no plantão, e já haviam conversado. A polícia teria de ser envolvida, caso a garota quisesse fazer queixa pelo atropelamento. E Alan não sofreria grandes consequências a respeito do seu trabalho se não fosse acusado ou preso, ou qualquer coisa do tipo... Mas tudo dependia dela. Por hora, eles só queriam que ela acordasse, já que não conseguiram contatar os familiares, e Alan ainda era responsável pela estadia dela no hospital. A garota não levava nenhum documento, celular ou qualquer meio de identificação. Estava limpa.

E foi pensando em “comunicação” que Alan se lembrou dele mesmo. Procurou pelo celular no bolso da calça, e constatou algumas chamadas não atendidas, mensagens e uma mensagem de voz, tudo de Vanessa.

As mensagens diziam basicamente “Atende, ou liga pra casa!”. Mas a mensagem de voz dizia mais:

“Alan... Já é uma da manhã... Eu sei que você está com o pessoal, mas... Ah, esquece! Não, não... Quer dizer... Ah, você sabe que eu estava brava, mas eu não queria que não se divertisse por minha causa. Você anda cansado, eu sei... Eu também estou”. Houve uma pausa meio longa. Deu pra ouvir Vanessa respirando. “Só... Liga pra mim. Não me deixa ficar mais preocupada. Você e uma moto, sozinho de madrugada... Me liga. Tchau”.

Aquilo pesou na consciência de Alan. Passou boa parte da noite remoendo a discussão com Vanessa enquanto ela se preocupava sozinha em casa... E de quebra ainda atropelara uma moça que não tinha nada a ver com a história de ninguém...

Mais culpado que nunca, Alan discou o número do celular de Vanessa. Mas ela havia pegado no sono, exausta, e deixara o aparelho cair pra fora da cama. Ele tocava com o áudio abafado pelo tapete fofo no chão.

Sem opções, Alan deitou o rosto nas mãos enquanto tentava manter uma linha de raciocínio esperançosa. Foi interrompido por uma mão tocando em seu ombro. Uma senhora de rosto bondoso e cansado.

— Você é Alan Castellan? – Perguntou uma enfermeira com uma fixa na mão.

— Sou. – Respondeu ele passando a mão no rosto para espantar a exaustão.

— É melhor ir pra casa. A menina não vai acordar agora, foi sedada. Ela está estável. Você vai ser o novo estagiário, não?

— É o que eu ainda espero. – Alan respondeu fracamente.

— Não se preocupe. Só se preocupe em ir para casa e voltar apresentável amanhã à tarde. Uma em ponto.

— Vou estar aqui bem antes. – Alan garantiu olhando para a fixa da garota.

— Como quiser... Ainda tem um táxi 24h disponível, espero que possa chegar em casa.

— Claro. Posso sim, obrigado.

Alan pegou o casaco da cadeira e, como se seu corpo todo estivesse encravado, se pôs de pé sob os ruídos da coluna cansada da má posição. Meio zumbi, ele conseguiu conduzir o motorista até onde morava. Chegando a casa, se deparou com Vanessa apagada sobre a cama. As roupas que vestia não eram pijamas, o que indicava que passara a noite atordoada e preocupada. Dormiu em má posição atravessada no colchão.

Alan fez o básico, tomando banho e trocando de roupa. Não comeu nem bebeu nada, e foi para o quarto. Sentiu um nó no peito e na garganta por Vanessa. Por eles dois, e pelo que estavam fazendo um com o outro.

Alan sentou perto do espelho da cama, e calmamente esticou-se também atravessado, ficando ao lado de Vanessa. Ela moveu-se muito pouco, e continuou dormindo. Alan cuidadosamente conseguiu colocar um travesseiro sob a cabeça dela, trazendo-a de encontro ao seu peito, e a abraçando.

À noite (ou o que restou dela) seguiu em paz.

(...).

Um zumbido perturbador e constante finalmente parecia incomodar, ao passo que a consciência voltava. Abrir os olhos nunca requeriu tanto esforço. A luz machucou num primeiro contato. Seis luminárias redondas embutidas no teto exatamente sobre ela. À frente, uma janelona de vidro, a fazendo sentir como se fosse um peixe no aquário. Lá fora um corredor quieto e muito iluminado que não dizia nada especificamente.

Olhando para si mesma, um lençol fino e branco cobrindo o próprio corpo. Sob ele, dois volumes desiguais, o que a fez se preocupar em olhar para as pernas. Porém, uma vertigem a atingiu antes disso. E novamente voltou a apagar.

(...).

Rachel madrugou, como sempre, e não imaginava como poderia se sentir mais exausta. Fez tudo como de costume, se arrumando rápido, e desceu para pegar o café da manhã. Surpreendeu-se ao ver Vickie já à mesa com sua mãe.

— Rae! – Vickie a cumprimentou.

— Dormiu bem filha?

— Claro. – Rachel mentiu. Era desnecessário comentar sobre o sono mal dormido e a preocupação com Alan e os outros. — Mas por que você já acordou, Vi?

— Não queria que você fosse embora e eu ficasse. Não queria incomodar a senhora Fox.

— Não adianta! – Srª. Fox comentou. — Ela nunca vai acreditar que não incomoda!

Rachel riu.

— Ela é modesta... – Rachel comentou. Na verdade, modéstia não era a qualidade mais óbvia de Vickie, e era estranho dizer aquilo.

— Pois é. Então, você pode me deixar perto daquele shopping novo que eu não aprendi o nome Rae? – Vickie perguntou.

— Shopping? Você sabe que vai estar fechado, não sabe?

— Eu não quero ir ao shopping, é que meu hotel fica lá perto. – Vickie riu. — Isso se não for atrapalhar seu horário na faculdade.

— Não. Acho que não. Eu só preciso saber como...

Rachel foi interrompida pelo celular. Era Danilo.

Enquanto ela ia atender num outro cômodo, Vickie e srª. Fox sorriram cúmplices.

(...).

Stark acordou sentindo as dores de ontem à noite. Detestou-se por dentro por perder o controle tão facilmente. Talvez a única coisa da qual não se arrependeu foi de ter beijado Vickie, ainda que de maneira nada romântica, principalmente por que ela correspondeu do mesmo jeito.

Vickie...

Não sabia como nem quando, mas queria vê-la o mais rápido possível. Nem que para isso tivesse que interrogar Rachel e Danilo para saber onde a loira estava hospedada. E foi ao passar pela cozinha, que viu Danilo ao telefone. Parou para tirar um sarro.

— Eu passo lá e pego o carro depois de deixar a moto do Alan. – Dizia o rapaz.

— “Eu passo lá depois de deixar a moto, querida!” – Stark imitou.

 Danilo gesticulou para ele sair, mas Stark, entojado, sentou-se à mesa e começou a se servir café.

— Então, Rae... Você o deixa estacionado lá na frente. Eu ligo e você me entrega as chaves. Mas e vocês? Chegaram bem?

— “E vocês chegaram bem?”.

— Que bom, Rae.

— Ah... – Stark fingiu suspirar entediado. Danilo pensou num jeito de pará-lo.

— E a Vickie? Como ela está?

Rachel respondia na outra linha enquanto Stark de repente se fez interessado. Tentou encostar o ouvido no telefone para saber de Vicktoria, mas Danilo não permitiu.

— Ah qual é? – Stark se incomodou.

— Entendo... – Danilo comentou com Rachel.

— Entende o que?

— Mas ela vai ficar bem...

— “Bem”? “VAI FICAR”? Como assim? – Stark continuou insistindo, mas não conseguia entender nada que Rachel dizia.

— Claro. Eu vou ficar de olho.

— De olho? Na Vickie? Deixa que eu fico! – Stark aos poucos desistia de tentar pegar o fone.

— Então tchau Rae. A gente se vê logo.

— Não! – Stark surtou.

— Um beijo.

— NÃO!

— Para com essa gritaria, seu gay!

— Não! Não!

— Ah, Stark! – Danilo rolou os olhos e voltou para seu café da manhã.

Stark parou de fazer graça e voltou a si.

— Desembucha.

Danilo riu.

— Desembucha o que?

—Vickie, Vickie, Vickie! Me. Fala. Da. Vickie!

— Isso está virando obsessão... – Danilo debochou.

— Que seja! Eu acho que sei o que fazer... E eu sei que você sabe onde ela está!

— É, eu sei... – Danilo riu zombeteiro.

— E vai me dizer?

— Se a Vickie permitir... – Danilo jogou.

— Nós dois sabemos que ela não vai! – Stark implorou.

— Então você vai ter que se virar, colega. – Danilo disse já se levantando. — Dá um tempo pra ela Star...

— Tudo bem, tudo bem, irmão. – Stark tentou fingir ressentimento, o que não adiantou com Danilo.

— Eu vou deixar a moto na casa de Alan antes que ele pense que eu vou ficar com ela. – Danilo viu Stark ficar sério, não estava mais o ouvindo. Estava pensando. — Você vai pra faculdade hoje, não vai?

— Aham.

— Eu vou para um treino. Então vai ter que se virar com o almoço.

— Aham.

— Estou indo...

— Aham.

Danilo desistiu e deixou Stark pensativo na cozinha. Era muito sinistro ver Stark confabular, então, foi até a garagem e descobriu a motocicleta. De dia, notou o quanto ela era bonita, e pensou que Alan tinha bom gosto quanto a isto.

(...).

Vanessa despertou sozinha, sem auxílio do celular. Um peso a apertava na cintura e, com certo susto seguido de alívio, constatou ser o braço de Alan, segurando-a como se houvesse passado à noite na mesma posição. Algo dentro dela sorriu e chorou ao mesmo tempo.

Virando-se para o outro lado, parou perto do rosto dele. Alan dormia profundamente, e sua expressão, mesmo serena, exprimia cansaço. “O que estavam fazendo com eles mesmos? E um com o outro?”. Ela pensou. Trechos da briga de ontem retornando em sua mente:

“Alan, eu estou cansada. Não percebe isso?”.

“Claro que percebo. Você não é a única. Mas acho que pensa que é!”.

“Certo. Então vá. Eu não me importo, eu tenho muito que fazer amanhã. Não é só por que eu vivo de jogar que isso é fácil”.

Alan tomou fôlego para responder, mas preferiu guardar palavras afiadas. Não queria machucar e se arrepender depois.

“Então até mais tarde”. Disse e saiu porta a fora.

Vanessa nem soube o que pensar. Plantou um beijo na testa de Alan, e um de leve sobre os lábios. Ele não despertou. Se esgueirando, escorregou para fora da cama, e constatando que estava atrasada, correu com seus afazeres. Ao terminar de se aprontar, pegou uma fruta da cozinha e saiu de casa. Na calçada, deparou-se com alguém chegando à moto de Alan.

— Dan... Danilo? – Perguntou embasbacada.

O rapaz estacionou e pousou a moto no apoio.

— Bom dia Vanessa. – Danilo cumprimentou educadamente, abraçando-a.

— Nossa. Que surpresa. Mesmo.

— Sério? Quer dizer que o Alan não voltou pra casa? Ele não contou nada?

— Não. Ele voltou sim, mas eu devia estar dormindo. Ele ainda está dormindo e eu não quis... Você sabe... Acordá-lo.

— Com certeza. Ainda mais depois de ontem...

— Como assim? Me explica por favor.

Danilo e Vanessa sentaram na cadeira da varanda e ele começou a explicar os últimos acontecimentos. Cada vez mais a culpa e o remorso pesavam na consciência de Vanessa. Ela começou a tomar uma decisão.

(...).

Alan acordara como quase todas as manhãs: sozinho. Foi mais difícil naquela manhã sair da cama, imaginando Vanessa ainda ali, ao lado. Era como se o sonho acabasse e a realidade viesse puxar o tapete. A Vanessa que ele tinha em breves momentos (como o da noite passada) não era mesma que costumava ter todos os dias. Em resumo, arrumou-se para ir para o hospital, e só então descobriu a moto recolocada em seu lugar, no pátio da casa. Não pensou em ligar para Danilo e agradecer, faria isso depois. Naquela hora, Alan queria mesmo era chegar ao hospital, rever aquela garota, e decidir o que faria. Era a questão mais latente a ser resolvida. Começou a rezar para que ela não o denunciasse, ao mesmo tempo em que a culpa que sentia já o condenava.

Alan desceu da moto no estacionamento do hospital. Subiu a rampa da entrada quase correndo, ansioso. Lembrou-se do rosto da garota. O estado dela. De acordo com o que sabia de fisioterapia, ela não estava em grandes riscos. Mas queria muito ver as radiografias (coisa de médico).

Ao passar pela entrada, dois vasos grandes de flores ladeando a porta, Alan teve o impulso de apanhar uma flor. Aquilo poderia parecer uma tentativa de induzi-la, mas não era, era um pedido de desculpas desesperado de uma consciência pesada.

Enquanto isso, no quarto da garota, o movimento começou cedo. Médico, exame, enfermeiras. Ela já estava acordada há algumas horas, e o médico chegou a contar, por alto, o que aconteceu com ela.

Ela sabia de sua perna, lembrava do atropelamento. Soube que logo seria visitada, inclusive pela polícia. Chegou a dar o telefone da casa dela para que contatassem algum parente. Também foi imformada sobre a visita do atropelador e, no momento, assistia uma TV do lado de fora do quarto. Não ouvia o que dizia, mas entretinha a vista.

Entretinha a vista até que outra coisa lhe chamou atenção.

Seu médico reapareceu no corredor, acompanhado por um homem que ela não conhecia. Estava pálido, sério. Tinha cabelos escuros penteados pra trás, trajava branco, mas não parecia com nem um enfermeiro que ela tenha visto hoje. Um sentimento estranho tomou conta de seu peito, deixando-a nervosa. Não era um sentimento lá muito agradável. Contudo, antes mesmo de ele adentrar o quarto, ela já sabia quem ele era.

— Aquela pessoa que precisava falar com você... – Anunciou seu médico entrando sem reservas no quarto dela.

O rapaz avançou para perto da cama, parando bem ao lado dela.

— Oi... Sou Alan Castellan...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler!
Preciso necessariamente da opinião de vocês sobre os núcleos!
Mila



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