Amigos escrita por camila_guime


Capítulo 2
O “amigo” desconhecido e não esperado.


Notas iniciais do capítulo

A sequência gente!
Aproveitem e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/161040/chapter/2

Na delegacia do centro da cidade, Vickie ainda tentava se explicar para o delegado que, aparentemente, não estava a levando a sério.

― Eu juro: eu só queria fazer minha pesquisa da faculdade! Eu juro! Eu não estava a fim de burlar nenhuma lei! – A loira implorava.

Era um lugarzinho mal visto e nojento. Vickie estava começando a suar frio.

― Mas a senhorita insultou um policial, isto é ilegal. – Contrapôs o delegado.

― AH! Vamos lá! Qual é? Onde está o meu direito de liberdade de expressão?

― “Pé-no-saco” não é uma forma certa para se expressar... – O policial ofendido falou num canto da sala.

― Ah, vai querer me prender agora? Os dois vão? Eu sou uma mulher direita, eu nunca desacatei autoridade alguma. Eu só queria saber se aquela ligação fosse uma notícia de acidente, morte, ou sei lá! Iam me proibir de atender? – Vickie se alterou.

― Sentada, senhorita, por favor.

A loira bufou e sentou cruzando os braços.

― OK. Tenho o direito de ligar pra alguém vim aqui me buscar?

― Só depois de a advertência ficar pronta...

Então Vickie esperou meia hora na delegacia. Foram mais trinta e cinco minutos de mais falatório, até ela ter que pagar uma “taxa” e ser liberada. Na rua, se viu um tanto quanto perdida. A cidade havia mudado desde que saíra, e ela também não tinha o hábito de andar por aquele bairro. Angustiada, pegou o telefone e pensou:

― Rachel está na faculdade. Não posso fazê-la vim até aqui... Stark... Com certeza não... – Ela meditava. ― Alan. Será?

A loira sentou num banco da calçada e discou o número do amigo, mas só tocava. Ninguém mais atendia.

― Será possível que não há uma santa criatura que fique em casa? Vou ter que comprar um celular pro trouxa do Alan! Agora... – Voltou a pensar. ― CLARO! Dan! Ele sim tem celular.

Então, ela discou o número e não esperou tanto até ser atendida.

― Alô?

― Hei! Dan!

― Eu não acredito! Vi-zinha!

― Vizinha? Não... É a Vickie. Vicktória, lembra?

Danilo riu do outro lado da linha.

― Claro que eu lembro, sua boba! Vi-zinha é o diminutivo de Vi! – Danilo explicou. ― Mas onde você está? Stark comentou algo, entre um rosnado e outro, sobre você poder ter voltado ontem à noite...

― É. Eu estou aqui!

― Sério? Onde?

― Num bairro chamado Da Fé, na frente da delegacia central. Será que você poderia vim aqui me pegar?

Danilo riu nervoso.

― Está brincando?

― NÃO, DAN, EU PRECISO QUE ALGUÉM VENHA AQUI AGORA!

(...).

― Aqueles ladrões... Tive que pagar uma “taxa” para não passar uma noite na delegacia só por apelidar um mero guardinha de museu!

Danilo ainda não conseguia acreditar e parar de rir, caminhando com Vickie por uma praça, já longe do bairro Da Fé, enquanto tomavam sorvete.

― Você quase indo em cana no primeiro dia de volta! Cara... Senti saudades, baixinha... – Ele brincou passando o braço por cima do ombro dela.

― É. Ria bem. Mas eu ainda posso processá-los!

― Um conselho: nem volte lá!

Vickie riu.

― Mas que bom que pelo menos não quiseram meu celular também. Pensei até que fossem querer meu corpo!

Danilo se engasgou com o sorvete.

― Bom ver que você não mudou. – Ele riu. ― Mas como foi em Roma?

― AH... – Vickie suspirou. ― Foi lindo... Eu fiz uns quadros para a aula de Desenho de Expressão. Estão comigo no hotel em que me hospedei. Vocês vão ver. Modéstia à parte, ficaram lindos!

― Quem diria: temos uma artista entre os amigos!

― Eu nasci artista, querido. Mas agora me diz: como estão todos? Pula a parte do Stark, por favor...

Danilo engoliu em seco. Estava presente na sala quando Stark e ela discutiram por telefone. Foi uma discussão idiota, mas não estava preparado ainda para tocar no assunto.

― Ahn... Rachel está ótima. Ela estagia num escritório de verdade e vive estudando agora. Parou de jogar, e é claro que você sabe disso! – Danilo rolou os olhos. Era perda de tempo falar de Rachel, já que Vickie e ela eram mais grudadas que carne e unha. ― Mas, enfim... Meu curso à distância está quase no fim e eu tenho uma chance como titular no time do Estado... Só precisam me ver no jogo do fim do mês, e eles vão decidir.

― Ah, que ótimo Dan! – Vickie abraçou o amigo. ― Mas e o Alan? Vanessa...?

― Ainda moram juntos. Confesso que pensei que não fosse durar tanto como está sendo...

― Que horror sr. Danilo!

― Não me entenda mal... É que eu sei como é tentar viver de futebol, e não é simples assim, Vanessa dá muito duro, e nós dois sabemos como Alan é...

― Caseiro. Eu sei. – Vickie lembrou do amigo e suspirou de novo. — Mas ele continua meu garotão lindo de sempre? – Perguntou emocionada.

Danilo tossiu.

— Eu não sei! – Falou quase ultrajado.

— Desculpa. Eu estou perdendo alguma coisa entre vocês? – Vickie interrogou.

Danilo hesitou, mas preferiu responder sinceramente.

— Ele convidou a Rae pra ir morar com ele.

— Ah... – Vickie entendeu tudo de uma vez. — E ela?

— Ela ainda não te disse o que ela decidiu?

— Ela não chegou a me falar isso. Estava muito cansada e ocupada hoje.

— Eu sei... – Danilo suspirou.

Vickie percebeu que Rachel ainda era a coisa que mais mexia com seu amigo Danilo, e mesmo ele tendo assumido uma expressão tristonha, ela sorriu muito feliz.

— Mas a Rae te ama, então fica tranquilo. Vai dar tudo certo!

Danilo sorriu e abraçou Vickie, indo se sentar juntos num banquinho. Procurando outro assunto, Danilo recomeçou:

― Então, o Stark...

― Eu disse para não falar dele! – A loira surtou.

― Você disse para eu pular, não para eu não falar. Mas você precisa mesmo ouvir, Vickie!

― Você não entende: ele discutiu comigo só por que eu não mandei um cartão!

Danilo coçou a nuca.

― Não é bem assim...

― O que? Você não viu como pode defendê-lo?

― Acontece que eu estava lá, na mesma hora em que tudo começou. Lembra: eu moro com o louro-cabeça-de-estrela-do-mar. – Danilo falou e viu Vickie dar uma trégua. O que o incentivou a continuar. ― Vickie, era aniversário dele, e ele não parava de falar um minuto que você ia mandar uma surpresa que você mesma havia prometido. Aí ele esperou até cair no sono do lado do telefone e como laptop no colo, mas nada de você. No outro dia: um álbum no face book sobre o congresso e uma noite “entre amigos”. Como o cara poderia se sentir?

Vickie suspirou.

― Eu sei, eu sei... Falando assim parece horrível, mas, vocês precisam acreditar: eu não me diverti nadinha aquela noite. Eu fiquei com a consciência pesada o tempo todo por que eu tinha feito a surpresa, só não pude enviar. E no outro dia, a grosseria do Stark no telefone me fez ficar brava e eu desisti de mandar o presente. Eu ainda o tenho na mala... – Vickie murchou.

― Então entrega pra ele!

― Não posso! Não posso voltar atrás! Eu fui sincera com ele no telefone, expliquei que eu tinha de ir, senão ficaria sem quarto para passar a noite, mas ele não quis me ouvir, não confiou em mim. E eu não vou aceitar isso!

― Está legal! Tudo bem! Não vou pôr a mão no fogo se vocês dois são dois cabeça-duras, orgulhosos e prepotentes!

― O que? Repita!

― Docinho de coco... – Danilo sorriu angelicalmente para a loira braba. ― Não desconte em mim a raiva por ele.

Danilo beijou o rosto de Vickie.

― Ah, Dan... – A loirinha choramingou deitando o rosto no ombro do amigo.

― Vai dar tudo certo, vocês vão ficar bem. Escuta: eu tenho um bom lugar pra levar você hoje à noite, você topa?

― Eu e Rachel íamos jantar hoje à noite.

― Beleza! Tudo certo então! Vamos nós três nesse lugar. Eu não quero atrapalhar, se for caso de “saída de garotas”, ou algo parecido, mas...

― Tudo bem, Daninho, você pode ir com a gente, seja lá pra onde você quer nos levar!

Danilo e Vickie riram enquanto tomavam o caminho de volta para o carro.

― Vem. Já perdi a manhã então me leva pra casa? Por favorzinho... – A loira pediu docemente e viu Danilo ficar todo bondoso com o jeito dela.

― Você vive abusando de minha nobreza!

Vickie riu.

O horário do fim do turno tocou, barulhento como sempre, anunciando a hora de Rachel almoçar. Apressada, sem poder perder um segundo. Enfiou o que pôde na bolsa, e mais alguns fichários que os professores entregaram, apanhou uns materiais no braço e saiu praticamente fugida escola a fora.

Desequilibrada com tantas coisas, Rachel saiu pela calçada tendo de redobrar a atenção. O que ficou pior quando seu telefone tocou. Fez uma senhora ginástica para alcançá-lo na parte detrás da calça.

— Que foi? – Atendeu estressada.

— Está brava comigo? – Uma voz mansa e grave perguntou do outro lado. Rachel sentiu um pulo no peito.

— Alan! Onde você está? – Perguntou ela parando na rua. — Alan? Alan? – Ele parou de responder.

Rachel só sentiu alguém tapando seus olhos por trás e dando um beijo em seu pescoço. Ela deu um grito e pulou, virando para trás.

Alan ria enquanto amparava os pertences de Rachel.

— Seu estúpido! Eu vou te acertar um soco qualquer dia desses! – Rachel gritou ainda assustada, mas não conseguia manter a cara de brava e começou a sorrir. — Idota! Esse sim quer morrer!

— Não... Ainda não... – Disse o rapaz com cara de santo. — Mas você vai me perdoar...

Rachel o mediu com o olhar. Alan estava bem mais alto que ela, como sempre foi, pálido depois que não teve mais tempo para sair e pegar um sol, mas continuava com seu porte arrojado e atraente. Usava uma camisa de botão branca por fora da calça jeans e um sapato social. De certa forma, não parecia o Alan de regata e bermuda que ela conheceu criança... Exceto o olhar maroto: era o mesmo.

— Eu vou ver se te perdoo. – Rachel brincou.

— Vai sim! Agora... Aonde você ia com tudo isso? – Disse ele arrumando três pastas em seu braço. — Eu tinha combinado que te pegaria na frente da escola.

— Ah foi? – Rachel pareceu confusa.

— Você está bem mais maluca que eu pensei! – Alan brincou fazendo Rachel dar-lhe um empurrão.

Depois, Rachel montou na motocicleta de Alan, e deram um jeito para levar todas as pastas e livros sem cair. Depois, Alan saiu cantando pneu até uma lanchonete próxima, já que Rachel não tinha muito tempo antes de ir para o Escritório de Advocacia onde estagiava.

— Então... O que você ia me falar? – Alan perguntou enquanto comiam.

— Eu disse pro Dan que você me chamou pra morar com você!

Alan quase engasgou com o suco.

— Sério? Você quer? Eu não sabia, mas se você quiser, estamos de portas abertas... – Alan sorriu.

— Não. Eu não quero. – Rachel disparou. — Desculpa, quer dizer, eu me sinto grata, mas não. Não foi essa minha intenção.

— Então por que disse isso pro Danilo? Sabe que ele morre de ciúmes. Só quer uma razão e... – Alan fingiu cortar o pescoço com o dedo.

Rachel riu.

— Exagerado! Na verdade eu queria deixá-lo nervoso essa semana. – Confessou com um sorriso travesso.

— OK, mas tinha que me usar como isca? Sério. Ainda sinto os socos que ele me deu na época de escola com ciúmes de você. Meu olho ficou roxo por duas semanas! – Alan provocou.

— HAHA. Vocês dois me deixam louca! Mas escuta! No fim de semana é aniversário dele. Eu quis deixá-lo tenso esses dias só pra ter mais graça a festa surpresa que eu estou a fim de preparar. Desculpa se eu usei você, mas é o que sempre o deixa nervoso. Eu poderia dizer que era algum colega da faculdade, mas não quis meter ninguém inocente na história...

— Muito responsável...  – Alan ironizou em deboche, fazendo Rachel dar-lhe uma tapa.

— Calado! Enfim... Eu queria saber se você quer cooperar. Eu ainda vou combinar com a Vickie e você pode combinar com o Stark!

— É uma boa ideia, Rae. A propósito... É verdade que a Vi voltou? Eu falei com o Stark hoje, mas ele parece que brigou com ela e está soltando os cachorros.

Rachel caiu na risada.

— Soltando os cachorros foi ótimo! – Riu. — Sim. Eles brigaram. Vickie vai me contar direito hoje à noite. Vamos jantar fora.

— Bem... Eu ia falar com você uma coisa... – Alan coçou o cenho. — Stark quer que a gente vá à nova casa onde ele toca, hoje à noite. Disse que era pra convidar o Dan, você... Mas ele não falou nada da Vickie. O que acha de você levá-la? Ela não vai reconhece o lugar mesmo! Assim a gente põe logo esses dois para se resolver, o que acha?

— Alan... – Rachel suspirou e Alan achou que ela fosse surtar. — É por isso... Que eu te amo! – Rachel riu. — Vamos ficar todos juntos de novo! Isso vai ser ótimo! Mas e aí? A Vanessa também vai?

— Eu não sei... – Alan coçou a nuca. — Ela disse que tinha treino de manhã e... Uma outra coisa também, que na verdade é a mesma coisa, só que à tarde. Ou seja, ela só vai chegar em casa à noite e eu não sei se...Se ela vai querer fazer mais alguma coisa!

Rachel deu uma pausa no almoço e ouviu com atenção. Alan estava estressado. Mas como era do tipo dele, ele não ia dizer nem se queixar. Sabia que ele havia se deixado apaixonar por Vanessa de verdade, como não era de costume, e acreditava que ela havia tido o mesmo por ele também, mas algo ia mal.

Reconfortante, Rachel apertou a mão de Alan sobre a mesa.

— Converse com ela. Sabe que a melhor coisa é...

— Ser franco. – Alan concluiu vendo Rachel assentir. — Eu tento Rae... Eu tento, mas não somos mais crianças, sabemos o que acontece ao nosso redor...

Aquilo soou tão maduro que Rachel teve o impulso de puxar a mão da mesa. Desajeitada, colocou uma mecha do cabelo para trás.

— Mas então... – Recomeçou. — Quando a gente se falou no telefone, você disse que tinha uma surpresa bombástica! Era isso? A casa noturna do Stark?

Rachel viu Alan piscar e resplandecer de novo. Fez bem em mudar de assunto.

— Não. A novidade é outra! – Disse ele se ajeitando no lugar. — O caso é: PAN-PAN-PAN-PAAAM!

— Fala logo!

— Eu consegui... Um estágio no Hospital das Clínicas!

— AH! SÉRIO? – Rachel gritou no meio da lanchonete, e mesmo com pares e pares de olhos voltados para ela, ela não se importou.

A garota se levantou e cruzou a mesa, pulando no colo de Alan e o abraçando forte. A lanchonete inteira começou a rir, xingar, mandar calar a boca...

— Rae, eles vão mandar nos linchar se a gente continuar assim! – Alan a alertou arrumando o cabelo da amiga pros lados do rosto.

Rachel concordou e voltou a se comportar.

— Você vai ser o fisioterapeuta mais gato daquele hospital! – Elogiou.

Alan não respondeu, mas seu rosto avermelhou como um bobo, denunciando-o, e simplesmente riu.

À noite, Rachel já terminava de se arrumar para ir ao encontro de Vickie, quando seu celular decidiu começar a tocar.

— AI caramba! – Queixou-se quase colocando o rímel pra dentro do olho. — O que foi? Pois não?

— Sinceramente, você deve decidir se vai ser educada ou se está com raiva... – Disseram na outra linha.

Rachel sorriu sem perceber ao ouvir a voz de Danilo.

— Senhor Luxer... Desculpa, mas é que eu estava fazendo algo impossível aqui... – Rachel dissimulou.

— O que? Tentando criar uma lei mundial? Ou tentando lembrar do meu nome?

— Ah... Você adivinhou! Eu chuto Douglas. Ou... Daniel? ...

— Muito engraçado! – Danilo fingiu rir. — Pelo menos o nome do meu pai você acertou!

Rachel riu.

— Sr. Daniel é um máximo... Como esquecer? Mas não. Eu só estava tentando passar rímel sem acabar cega. Mas, enfim... O que me contas?

— Eu chamei Vickie pra sair. É. Eu me encontrei com ela hoje, depois que ela foi detida, mas...

— O QUE? DETIDA?

— Longa história, mas está tudo bem, Rae. Acontece que ela me explicou sobre a briga com o Stark, e ela não o quer ver nem pintado! Mas ela falou que ficou de sair com você, e eu achei que pudéssemos ir juntos a um lugar...

— Nossa! Eu também achei. Na verdade Alan me deu a ideia de irmos à nova casa noturna do Stark. Todos juntos.

— Eu também pensei isso. Vickie não reconheceria o lugar!

— Exato! E eu ia encontrá-la e levá-la sem comentar nada até que ela o visse.

— Exato! – Danilo repetiu. — Opa, Rae! Acho que tem uma outra ligação na espera. Acho que é nossa loirinha.

— Certo. Explique a ela que eu já sei que vamos juntos.

— Ok. Eu vou apanhá-la. Quer que eu passe pra te pegar?

— Não. Eu já estou pronta. Vou à frente.

— Então tudo bem. Um beijo, Rae!

— Outro...

(...)

Stellaire. O letreiro em neon rosa brilhava sobre uma fachada impecável. Um muro completamente branco, um toldo vermelho num caminho de concreto até a entrada. Atrás de uma grade toda trabalhada, um par de portas de vidro escuro.

O nome Stellaire tornava a aparecer num adesivo no vidro, acima de um aviso de Bem-Vindos, a cima de um alerta de “Censura: 18 anos”.

— U.A.U. – Rachel se admirou. — Isso que foi investimento!

Nervosa, e não querendo entrar sozinha, Rachel se encostou perto do toldo e esperou, olhando de um lado para o outro, prestando atenção se seu celular ia tocar dentro da bolsa de mão.

Não demorou muito, uma Harley preta freou a entrada. O motoqueiro, todo de preto também, deu duas buzinadas antes de desligá-la e tirar o capacete. No momento Rachel teve que segurar o impulso de suspirar e passar a mão pelo cabelo.

— Boa-noite... – Alan cumprimentou se encaminhando até a amiga.

― E aí? – Rachel o abraçou. ― Quer arrasar o coração de quem, Laninho?

― Eu? – Alan riu. ― Você é que deve estar querendo dar dor de cabeça para o Danilo... O que é isso?

Alan girou Rachel pela mão assobiando, gaiato.

Ela já era bonita na época de escola, uma menina em crescimento, mas depois de crescida, era como ver o esboço transformado em arte-final. Alan só parou de admirá-la quando se deu conta de que o sorriso satisfeito de Rachel estava virando um sorriso de constrangimento.

― Mas então? O que estamos esperando? Stark deve estar lá dentro. Vamos entrar?

― Não. Eu prefiro esperar o Danilo aqui fora. Vickie está com ele e eu quero ter a chance de vê-la antes de entrar e todos nós ficarmos ao “Deus dará”!

― Entendo... Ninguém sabe como ela vai reagir não é?

― Eu posso fazer uma ideia. Mas não acho que é tão boa...

Alan sorriu tentando dar apoio. Um apoio do qual nem mesmo ele estava muito certo.

― Mas e Vanessa? Não vem mesmo? – Rachel perguntou.

― Tivemos uma pequena discussão. Era como imaginei... – Alan suspirou. ― Ela está esgotada, não queria ir sequer à esquina. Deixei uma comida que eu tinha encomendado na geladeira. Ela vai ficar bem. É durona, você sabe.

Rachel sentiu um nó dificultar o caminho em sua garganta. Alan estava mais maduro, mas não era só isso. Estava mais machucado, mais saturado. Ele amava e via Vanessa de uma forma mais séria e intensa do que qualquer um entenderia. Fazia parte da pessoa que ele construiu, do seu caráter, de quem ele era como homem, e ninguém poderia fazer nada para ajudar. Rachel sabia.

Rachel tentou dar apoio apertando o ombro de Alan.

― Vocês vão se harmonizar.

Alan sorriu. Não era o sorriso mais feliz que tinha, mas dava esperança. Então, continuaram a esperar. Contudo, menos de dez minutos depois, um carro prateado, que Rachel conhecia muito bem, foi se aproximando e diminuindo a velocidade até parar em frente a Stellaire.

Primeiramente, a porta do motorista abriu. Aos poucos, Rachel viu Danilo sair do carro. Camisa pólo, mangas enroladas até os cotovelos. O resto era uma combinação básica e até bem simples, mas parecia que Danilo estava esplêndido. Era o tipo de beleza que, não importa o que use, vai parecer muito mais bonito e sofisticado que se fosse em outra pessoa.

O rapaz virou e assim que viu Rachel, seu sorriso se abriu: cativante e sincero, como sempre, iluminando o rosto já bonito. E, satisfeito em vê-la, Danilo acenou com um piscar de olho. Rachel puxou o ar pela boca, sorrindo sem se dar conta.

Danilo deu a volta no carro e foi abrir a porta para Vickie. Então a atenção de Rachel virou expectativa, e prestou atenção a cada movimento, sentindo os olhos começarem a lagrimar de saudades.

Vickie saiu do carro estonteante. Estava de cabelos curtos e repicados. Toda arrumada, de vestido e saltos, parecia mais madura, ainda que seu rosto lembrasse uma menina de quinze anos, estava mais altiva que antes. Sorrindo, deu a entender que ia correr para Rachel, que até se preparou para recebê-la. Porém, Vickie parou e voltou pra dentro do carro, logo em seguida saindo e puxando mais uma pessoa com ela.

A pessoa que Vickie tirou de dentro do veículo parecia tensa e tímida. Mas com certeza abalou a todos ali. Rachel, boquiaberta, olhou para Danilo na esperança de uma explicação silenciosa nos olhos dele, mas o rapaz parecia dizer “também não entendi nada!”. Assim como Alan, que foi o primeiro a falar, mesmo sendo a coisa menos relevante que poderia dizer:

― Vickie?

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não percam o próximo capítulo. Coisas vão pegar fogo...

e obrigada por lerem!

Mila.