Amigos escrita por camila_guime


Capítulo 14
Um Romeu com, e outro sem Julieta


Notas iniciais do capítulo

É. Estamos com Amigos num rito bem devagar entre postagens, nao gostaria que fosse assim, mas...
Boa leitura!



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Cap. 14

A tarde se esvaiu como um sopro, e logo a noite bateu à porta. Rachel ainda não acreditava que tinha em sua turma uma pessoa que, praticamente, já era membro da sociedade de elite mais desejada de direito. Seria bom tê-lo como amigo? Por que ele estava de repente interessado em ser próximo de Rachel?
— Rae! – Chamou Srª. Fox.
Rachel, porém, estava distraída, e sua mãe quase gritou para poder despertá-la.
— Pois não! – Rachel respondeu assustada.
— Eu já estou saindo. Rebecca está no quarto. Acabei de dar a janta dela. Não a deixe abrir o pote de sorvete que tem na geladeira, ok? Você aguenta tudo por aqui, certo? – Disse ela num só fôlego.
— Tudo certo, mãe.
— Então eu vou ajudar sua tia. Alguém vem pra cá hoje? A menina Vickie ou...
— Danilo. Parece. – Rachel disse soando o mais natural possível, de modo que sua mãe não saísse preocupada com nada em casa. — Tem uma notícia que eu tenho que saber, e ele vem me contar pessoalmente. Deve ser importante.
— Hm. Eu vou tentar não demorar. Espero que ele não venha pra jantar, por que eu não deixei muita comida, eu não sei se ele vai querer...
— Mãe! – Rachel interrompeu. — Está tudo certo. Não. Acho que ele não vem com o intuito de jantar. Acho que ele nem vai demorar...
— Ok. Sendo assim, qualquer intercorrência, me ligue. Mas ligue mesmo. Não importa a hora, não deixe pra depois. Eu venho a qualquer hora e...
— Mãe! – Rachel interrompeu de novo. Srª. Fox pareceu enfim respirar.
— Tudo bem, eu já entendi, tudo bem. Então eu já vou.
— Tchau!
— Boa-noite, querida!
— Manda lembranças pra titia.
E Srª. Fox saiu finalmente fechando a porta por fora. Mas Rachel não percebeu, e foi tranquilamente para dentro, ver o que seria então do jantar dela.
(...)
Alan finalmente deixava a faculdade e ia para casa. Não conseguiu prestar muita atenção dos últimos horários da sua tarde, pois um pressentimento muito ruim e chato o perturbava. Ele nunca tinha pressentimentos. Pressentimentos eram besteiras que as pessoas achavam que tinham quando deixavam de fazer alguma coisa certo, ou negligenciavam algo. Ele não tinha esquecido de nada. Fizera seu dia como sempre, então, de onde poderia vim tanta preocupação?
Por outro lado, tinha Vanessa. Mas eles estavam tão bem nos últimos dias que não podia ser nada com ela. Apesar de ele não ter conseguido contato por telefone a tarde toda, Alan sabia que ela já devia estar voltando, a final, Vanessa avisara que ia sair. Talvez somente a rede telefônica estivesse com problema, por que suas ligações não completavam mais, e às vezes dava sinal de fora da área de serviço.
Contudo, agora Alan estava indo para casa, e esperava que assim que chegasse, a sensação esquisita fosse embora. Era como Anna disse: se você está mal, o melhor é chegar em casa. E finalmente Alan comprovou a tese dela. Estava começando a se sentir menos tenso conforme chegava perto. Porém, quando chegou, já não soube mais o que pensar ao certo.
A casa estava completamente escura, trancada, quase intacta, não fosse ele ter certeza de que não tinha deixado as cortinas fechadas quando saiu.
— Vanessa? – Chamou entrando pelo corredor principal. Teve certeza de que não tinha ninguém.
Estranhando, mas ainda supondo que Vanessa fosse chegar mais tarde, Alan levou sua rotina habitual. Colocou a roupa que lavaria na área de serviço, checou se não tinha nada no microondas, foi até o quarto apanhando uma bermuda e seguiu para o banho. Eram alguns minutinhos a mais de oito horas. Não queria ser chato e tentar ligar de novo, então, Alan seguiu para a sala, e foi assistir um pouco de TV.
(...)
Rachel lia compenetradamente um livro imenso de direito. Estava largada na cama sob a luz do abajur de pé. Estava tão entretida no capítulo que sequer lembrava da hora, mas como o combinado, Danilo chegou e batia à porta na parte debaixo da casa.
Rachel saltou do colchão. Desceu correndo, tentando não fazer barulho na escada, pois Rebecca pegara no sono. Sequer acendeu as luzes do caminho, mais acendeu a da varanda, enquanto tentava achar a chave.
— Já vai! – Falou para Danilo.
— Ok. – Respondeu ele.
— Eu não consigo achar as chaves! – Disse Rachel.
Danilo, do outro lado, riu pelos sons engraçados de coisas batendo e arrastando que Rachel fazia, sussurrando brava contra os objetos.
— Por que você não acende mais luzes? – Perguntou do outro lado.
— Não adianta, a chave não está no lugar certo. – Rachel respondeu.
— E agora?
— Vê se não tem uma escondida dentro do vaso de plana, aí fora pendurado na parede, entre a janela e a porta.
Danilo achou uns vasinhos de planta e tateou um por um na parede.
— Não tem chave neles.
— Ah, não brinca!
— Sério! Quem te trancou? Dona Maitê?
— Deve ter levado a chave na bolsa. Deve ter esquecido de deixar no vaso... – Explicou Rachel indo até o outro lado da sala e tentando enxergar pela grade da janela.
Danilo a viu e foi até lá.
— Boa-noite! – Disse ele, gaiato, encostando-se à janela.
Rachel riu.
— Fica à vontade, e aí, como estás?
— Bem, e você?
— Não, isso não vai dar certo. – Disse Rachel saindo de perto da grande e sumindo casa adentro.
Danilo passou a mão desajeitadamente pelo cabelo, esperando.
Minuto depois, Rachel voltava correndo, corada e arfante.
— Porta dos fundos trancada também. – Anunciou.
— Será que eu vou ter que subir pela parede? – Danilo brincou, mas assustou-se quando Rachel sorriu arteira. — Eu não estava falando sério.
— Mas vai que dá certo! – Disse ela.
— Sério? Quer que eu escale sua casa?
— Se você conseguir.
— Rae eu não sou homem-aranha.
Rachel riu.
— Eu sei, eu sei, mas... – Rachel mordeu o lábio, pensando. — Dan vem cá. Dá a volta na casa para esse lado.
E Rachel sumiu de novo para dentro da casa. Danilo circundou rente à parede e se deparou com outra janela gradeada. Esta na lateral, onde Rachel estava encostada. Era a janela da cozinha.
— Aqui também tem grade... – Disse Danilo sem esperanças.
— É. Mas tem essa árvore aí atrás de você!
Danilo olhou por cima do ombro. Era uma árvore robusta e grossa, de madeira muito escura.
— E o que você sugere? – Perguntou Danilo com certo receio.
— Olha lá em cima! – Rachel apontou na direção da parece. À quase quatro metros dali de onde Danilo podia ver, a partir da altura de Rachel, havia uma outra janela.
— É. Aquela lá não tem grade... – Disse Danilo. Quando desceu o olhar, deparou-se com Rachel com um sugestivo sorriso no rosto.
— Você decide. É só uma ideia. Se quiser tentar... – Disse ela com jeitinho.
— Quer que eu escale a árvore e entre por aquela janela?
— Se você não quiser ficar no relento... Você que sabe! – Rachel repetiu, mas parecia sorridente demais para quem passava a decisão para o outro.
Danilo olhou para a altura e para a árvore. Depois de volta para Rachel.
— Bem, se Romeu ia até a sacada da Julieta...
Rachel riu.
— É. Por que você não subiria até minha janela então? – Rachel brincou.
— OK. Vamos lá! – Danilo arregaçou as mangas. Rachel mordeu o lábio de novo.
— Cuidado! – Disse enquanto sumia de novo pela casa e reaparecia na janela do quarto de cima.
Danilo se segurou num galho mais baixo e se içou para cima dele, tentando se equilibrar como numa prancha. Agarrou-se com um braço ao tronco da árvore. Estava a menos de dos metros do chão.
— Tudo certo aí? – Rachel sussurrou para baixo.
— Até que sim. – Disse Danilo de volta. Procurou um segundo galho para subir, mas este parecia mais distante de seu alcance que o primeiro. Mesmo assim, Danilo apoiou o pé numa fenda no tronco da árvore e abraçou o galho.
— Cuidado! – Rachel pedia começando a se preocupar de verdade.
Fazendo força para se puxar para cima, Danilo batia com o pé no tronco tentando dar impulso. Numa das tentativas seu pé escorregou e ele derrapou um pouco.
— Esquece! Desiste! Eu vou descer! – Disse Rachel agarrando-se ao peitoril da janela.
— NEGATIVO! Fica aí! – Disse Danilo.
— Péssima ideia, a minha. Péssima ideia... – Ela cochichava, tensa.
Assistiu Danilo se apoiar num galho a mais de três metros do chão. Agora tinha altura para se agarrar à janela de Rachel. Só não tinham mensurado que o ganho não encostava diretamente na parede ou na janela...
— Eu estou chegando! – Disse Danilo tentando acalmá-la.
— Ai meu Deus! Nunca mais ouve uma ideia minha!
Danilo quase riu, mas isso quase o desequilibrou. Estava tentando andar no galho para ficar mais perto possível da parede. Estava quase lá. Estivou uma mão para Rachel, que se debruçava na janela para alcançá-lo.
— Segura, rápido! – Pediu agoniada.
— Você aguenta?
— Nem que eu não aguente!
— Não me diz isso, Rae...
— Vem logo, vem logo! – Rachel sussurrou.
Danilo conseguiu segurá-la pelo antebraço, e ela pelo dele. Rachel escalava o braço de Danilo o puxando mais para perto. Ele, enfim, conseguiu segurar o peitoril da janela e ficar com metade do tronco para dentro. Rachel o abraçou e ajudou a puxar o resto do corpo. Os dois caíram com um barulho abafado sobre o tapete do quarto de Rachel.
— Deu certo! – Disse Danilo vitorioso caído por cima da moça.
— Eu estou sem ar! – Disse ela.
— Não precisava tanto, eu disse que conseguia...
— Não, não. Eu estou realmente sem ar! – Rachel apontou para ele em cima dela. Então, Danilo rolou para o lado e eles inverteram.
— Ok. Melhorou. – Disse ele, gaiato. Tirou o cabelo de Rachel de cima de seu rosto e colocou para trás da orelha dela, foi quando reparou em um detalhe na madeira da janela. — Sabe, qual é seu real problema com luz elétrica?
— Por quê?
— A casa está toda no escuro, e talvez você tivesse achado a chave, se tivesse acendido as luzes.
Danilo passou Rachel para o lado e foi até a tranca da janela dela, onde uma chave estava pendurada por um fiozinho num prego.
Rachel correu e acendeu a luz. Era a chave da porta.
— Mas que droga! – Ela arfou frustrada.
Danilo começou a rir do que tinham acabado de fazer. Havia sujado a camisa na árvore à toa.
— Rae, Rae... – Ele riu. — O que você estava fazendo antes de eu chegar? Dormindo?
— HAHA! – Rachel fingiu rir. — Eu estava lendo. E eu nem sabia que a chave tinha ficado aqui. Mamãe deve ter posto e se esqueceu de me contar!
Rachel emburrou-se e sentou na beira da cama, cruzando as pernas com força.
— Ah, relaxe. Não estou bravo por ter subido... Daquele jeito, pelo contrário. Vai ser uma boa história! – Disse Danilo maroto, indo até ela.
— Pior que vai mesmo! – Rachel cedeu abraçando Danilo pela cintura.
— Mas por enquanto não conta pro pessoal! – Danilo riu. — Então esse é seu quarto! Legal! Parece o quarto de uma...
— De uma o que?
Rachel inquiriu vendo Danilo apertar o sorriso, enquanto olhava para sua mesa bagunçada de livros.
— Uma estudante. – Ele aliviou pela expressão de Rachel. — Uma jovem e bonita futura advogada. – Disse galante, trazendo o rosto de Rachel para perto do seu.
Beijou-a delicadamente, enquanto Rachel se soltava, se aprofundando e se deixando beijar Danilo à vontade. À vontade até que sentiu um calafrio quente (se é que é possível) apoderar-se de si com o aperto de Danilo em sua cintura. Onde ela estava com a cabeça que não se lembrava mais do quanto Danilo mexia com ela? Passou um dia quase sem vê-lo e tinha se esquecido!
Segurou no ombro de Danilo com a primeira intenção de afastá-lo, mas seus dedos o seguraram com firmeza, e Danilo a abraçou forte em resposta. O perfume dele era inebriante demais para ela, e o cérebro de Rachel estava morrendo aos poucos, no meio da confusão.
Danilo estava gelado da noite lá fora, e teve a ótima sensação dos braços de Rachel deslizando pelo seu pescoço, fazendo-a ir de encontro a ele, até que, quando menos esperou, Rachel esgueirou-se para longe, pondo-se de pé e parecendo perturbadoramente corada.
— Uff! – Ela suspirou quase se abanando, mas se contendo e indo até seu abajur de pé, desligando-o. — Então... – Falou, e sua voz quase falhou. — O que você disse que tinha para me contar?
Danilo se ajeitou e ficou de pé. Era melhor se ficasse longe da cama.
— Ah sim. Espero que tenha o fim de semana livre! – Alertou.
— Ah é? É algo divertido?
— É. Mas não se preocupe, não é divertido, romântico, num lugar fechado, e que nunca fizemos! – Danilo se apressou em dizer lembrando da última vez que um tentou adivinhar uma coisa do outro. Rachel sentiu o sangue subir para seu rosto, não sabia se ria ou se fechava a cara. Virou-se de costas para fugir do olhar de Danilo.
— Então o que é? – Disse pegando o livro que lia e arrumando-o na mesa.
— Lembra que eu queria muito aquela vaga no time profissional que eu falei? – Danilo começou encostando-se ao lado de Rachel.
— Lembro. Por quê?
— A decisão ia ser nesse fim de semana e...
— E...?
— E o técnico achou que talvez eles queiram me contratar, o que significa que eu vou fazer o teste nesse fim de semana!
Danilo anunciou fazendo um grande e satisfeito sorriso crescer no rosto de Rachel.
— É sério? Era isso? E por que não me falou antes! Ai, parabéns Dan! – Rachel saltou e abraçou Danilo.
— Era pra eu contar quando estivesse mais perto, sabe... Pra nada interferir!
— É claro. Mas isso merece comemoração! Eu não tenho nada alcoólico, então vamos tomar refrigerante! Vem!
Rachel saiu nas pontas dos pés puxando Danilo pela mão. Passaram por uma porta aberta no corredor e Danilo vislumbrou Rebecca dormindo numa caminha de criança.
— Então sua mãe foi mesmo até sua tia? Ela está muito mal? – ele sussurrou descendo as escadas.
— Não tenho certeza. Ela está com a saúde fraca há muito tempo. Era irmã do papai, e quando ele... Ele morreu, ela ficou meio debilitada. Eram gêmeos.
— Sinto muito. – Disse Danilo quando chegaram à cozinha e Rachel acendeu as luzes.
Rachel se virou para ele, e finalmente o olhou de verdade no claro. Sentiu-se num estado de felicidade diferente enquanto olhava e sorria sem se dar conta.
— Obrigada. – Disse logo se voltando para a geladeira.
Danilo pegou uns copos no armário e pôs na mesa.
— E ela volta hoje? Sua mãe.
— Talvez sim. Talvez não. Não sei. Mas por quê? Está me propondo companhia? – Rachel sorriu marota.
— Não dá ideia Rae...
(...)
Stark havia pegado no sono no sofá. A televisão ainda ligada. Dormiu pensando no seu dia, e no que ia fazer da sua vida. Precisava achar um caminho que mudasse o rumo em que estava indo. Precisava que algo que realmente fizesse a diferença. Stark acabou sonhando com o anunciou do exército que viu na internet há uns dias. Mas acordou com o telefone tocando alto perto do seu ouvido.
— Mas que droga! – Resmungou atordoado. Olhou o relógio e era mais de nove e meia. Achou que fosse algum problema por Danilo ainda não ter voltado. — Alô.
— Stark?
— Alan? – Stark estranhou. — Fala aí irmão! Algum problema?
— Não. Bem... Talvez. Na verdade eu queria saber se a Vanessa passou por aí.
— Por aqui? Não mesmo. Por quê? O que aconteceu?
Stark ouviu Alan expirar pesado.
— Ela ainda não chegou e ela não costuma passar das oito e meia. Eu achei que ela tivesse ido falar com o Danilo, algo sobre futebol, eu sei lá...
— Não. Ela não veio por aqui. – Disse Stark. — Já tentou ligar pra ela?
— O dia inteiro. Cai a ligação dizendo que é um número fora da área de cobertura, ou que não existe.
— Vai ver ela deixou o celular dentro de uma lata! – Stark disse brilhantemente. — Ela já vai chegar Alan, fica frio. – Mas aquilo não pareceu ajudar. — Olha... Se serve de alguma coisa, o Danilo foi à casa da Rachel contar uma novidade sobre futebol. Vai ver ela pode ter descoberto algo sobre isso e ido até lá.
— Rachel, Danilo e Vanessa? – Alan pensou em voz alta. — Só sendo por futebol mesmo...
— Tenta ligar para eles. – Stark bocejou.
— Tudo bem. Foi mal, Star... Vai dormir.
— Por nada Laninho. Vou pra cama mesmo. Dormir até esquecer!
Alan riu brevemente de Stark enquanto desligava, mas nada parecia ter mudado. Ele não podia ter ficado mais tenso.
(...)
Rachel e Danilo estavam meio deitados, meio sentados confortavelmente nas almofadas no chão da sala, assistindo TV e conversando. Fazia algum tempo que não tinham mais esse tipo de contado. Estava uma noite quieta e fria lá fora e tudo estava aparentemente no seu lugar. Na TV, o filme que assistiam foi interrompido pelos comerciais.
— Hm... Rae? – Danilo começou meio inseguro.
— Hm?
— Sabe aquela coisa que a gente ia conversar? – Perguntou com cautela. Rachel, que estava apoiada no ombro dele, não se virou para encará-lo, mas Danilo podia imaginar sua expressão confusa.
— Que assunto?
— Aquele que você tinha pensado em começar...
— Aquele?
— Aquele. – Danilo admitiu agradecendo por ela não poder ver sua cara de possível vergonha.
— Acha mesmo que é a hora para...
— Acho. Quer dizer, quantas vezes podemos ficar quietos e sozinhos para falar com calma de uma coisa dessas?
Rachel teve que considerar, mas não achava que tinha como reunir tanta coragem para isso naquela hora. Ela não achava que reuniria tanta coragem assim hora nenhuma.
— E? – Incentivou.
— E que eu fiquei... Curioso, sobre algumas coisas...
— Ah foi? Interessante.
— É verdade. Por exemplo: desde quando? – Danilo perguntou sem jeito.
Rachel teve que segurar para não rir de nervoso.
— Desde quando o que exatamente?
— Desde quando você tinha pensado nesse assunto?
Rachel se mexeu, desconfortável.
— Ah, eu não sei! Eu não tenho certeza. Veio surgindo na minha cabeça, e eu me peguei pensando... – Rachel riu desconcertada, mas não queria só falar. — E pra... Você?
— O que?
— É sim. Você não vai só ouvir! Eu tenho que ouvir também!
— Tudo bem, tudo bem... Eu não sou bom pra falar disso, mas vamos ser...
— Francos.
— Isso. – Danilo riu. — A pergunta era...
— Desde quando você...
— Ah sim, desde quando eu penso... Eu também não sei. Eu acho que eu não penso exclusivamente nisso. É natural conciliar você a isso de certa forma!
Com esta, Rachel deu um salto virando de frente, alarmada.
— Então você sempre me conciliou a esse tipo de coisa!
— Eu disse que não era bom pra falar desse assunto, Rae, mas, por favor, não me leve a mal...
— Nada! Mas foi uma declaração um pouco assustadora.
— Assustadora?  Por que assustadora? – Danilo ficou tenso.
— Eu nunca imaginaria, mesmo você sendo um rapaz, que me visse desde sempre sob esta perspectiva!
— Eu não te vejo sempre sob esta perspectiva, não toda hora ou todos os dias. Mas você não devia ficar assustada! Pensei que soubesse que você provocava esse tipo de pensamento.
— Eu provoco? – Rachel se surpreendeu num misto de curiosidade e vaidade. Mas se arrependeu de ter perguntado com o olhar que Danilo dispersou por ela.
— Com certeza provoca. – Disse ele vendo Rachel enterrar o rosto numa almofada. — Ah, o que é isso Rae? Fala sério! Você não pode fazer isso!
— Fazer o que?
— Fazer parecer que eu não penso em outra coisa! Não é culpa minha se há muito tempo você não parece mais nenhuma criança, e é mais que natural que você desperte esse tipo de interesse. Caramba, você é muito linda e atraente...
Rachel desenterrou o rosto da almofada e encarou Danilo, meio perplexa, meio envergonhada, meio envaidecida. Ela sempre achou que só ele era atraente e provocante a ela, não o contrário. Ela nunca achou que tinha tentado se esforçar para isso, por isso não fazia ideia que...
Danilo agradeceu pela sala não estar tão iluminada por que temia estar corado. Ele nunca imaginaria que Rachel não enxergasse todo o efeito que surtia nele.
Ambos, de repente, sentiram que o cômodo estava ficando abafado, como se o tempo esquentasse e uma boa quantidade de ar fosse roubada da sala, mas sobressaltaram, assustados, quando a porta foi batida de supetão.
— Ai meu Deus! – Rachel quase gritou.
— Quem pode ser? – Perguntou Danilo acendendo as luzes.
— Não faço ideia! Não recebemos visitas essa hora da noite! – Rachel disse e viu um sorriso sugestivo de Danilo, que indicava que ele era a única visita da noite.
— Deixe que eu veja. – Disse ele por fim, indo até a janela e espiando para fora. — Ah, é sua mãe!
Rachel sentiu a tensão aliviar e correu para abrir a porta. Dona Fox entrou chacoalhando o guarda-chuva.
— Onde você estava que demorou em abrir, não viu a chuva... – Ela parou subitamente notando Danilo na sala. — Ah, Danilo!
— Boa-noite srª. Fox... – Disse Danilo educadamente, reparando que Maitê passava os olhos pela sala checando a bagunça de almofadas e dois copos vazios na mesa de centro.
— É. A noite estava boa não é? – Disse ela.
— MÃE! – Rachel ralhou.
— O que? Só estou falando que está um tempo fresco lá fora, acabou de chover! Mas acho que você não percebeu! A casa fechada desse jeito... Não estava ficando abafado...?
Rachel não sabia se foi mais constrangedor conversar com Danilo sobre aquilo ou ouvir sua mãe falando num tom que só ela, como filha, sabia que era malicioso e pretensioso. Enquanto isso, Danilo tentava disfarçar o rosto rubro e uma vontade de rir que deixava Rachel com as bochechas em brasa.
— Na verdade até que estava. Eu já ia abrir... – Disse Danilo tentando quebrar o clima.
— A Rachel é meio desconcentrada quando se foca numa coisa só. – Comentou srª. Fox. — O que estavam fazendo?
— Só conversando. – Responderam os dois ao mesmo tempo automaticamente.
Maitê estreitou os olhos.
— E Rebecca dormindo?
— Sim.
Ela pareceu avaliar o estado dos sofás de novo.
— Tudo bem. Rebecca dormindo e vocês... Conversando na sala. Tudo bem. Espero que tenham tido uma boa noite... – Disse ela num tom alfinetador que só Rachel pôde perceber de novo.
— Ah, sim, eu já... – Mas Danilo não pôde terminar de falar por que o telefone da casa tocou escandalosamente.
Maitê correu para atender antes que acordasse Rebecca.
— Boa-noite. – Disse ela. — Ah, sim, meu querido, um minuto. – Ela estendeu o fone para Rachel. — Querida, é o Alan.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Desculpem o título *merreca" mas obrigada por ler!
Até mais!
Mila.



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