Memória escrita por Guardian


Capítulo 6
Dolorosas lembranças


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, eu gostaria de dizer que estou super feliz por vocês estarem lendo a fic e ficando indignados comigo (sim, eu gosto disso xD.
E segundo, por favor, me desculpem por não ter respondido todos os reviews ainda e por ter demorado pra atualizar, mas só agora (a partir de hoje) eu estou livre de livros e provas, e essa folga nem vai durar muito... Mas enfim. Desculpem-me, de verdade...



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– Quem... Quem é você?

Como?... Acho que eu ouvi errado, só pode ser isso... É, deve ser efeito da noite em claro, com certeza.

– O que disse? Sua noção de humor já foi melhor, sabia? – falei com um riso nervoso. Senti minhas mãos gelando, desde a ponta dos meus dedos até as palmas.

Ele apenas continuou me encarando daquele jeito estranho.

– Quer parar com isso?! Sabe como eu fiquei preocupado, caramba?! - explodi, mais por não saber como reagir do que por qualquer outra coisa, mas eu realmente não deveria ter feito isso. Porque assim que eu aumentei o tom de voz, seus olhos ganharam um nível a mais do medo que já estava lá e que eu fiz de questão de ignorar.

Porque eu não queria acreditar.

– Mello! – ouvi alguém exclamar da porta. Droga, era o Roger – Eu mandei você esperar, não mandei?

Ok, ele estava bravo. Mas eu não iria me importar com isso agora, né?

– Roger, o Matt... – sentia algo entalando na minha garganta, mas comecei a falar mesmo assim. Mas isso não quer dizer que consegui terminar.

Ele me lançou um olhar preocupado, e ao invés de falar comigo, andou até a cama e falou diretamente com Matt.

– Matt? Como você está? – ele perguntou em um tom gentil. Provavelmente um tom bem diferente daquele que ele usou na última vez que falou com ele.

De novo, Matt não falou nada. Parecia estar confuso demais, assustado demais, para falar qualquer coisa. Roger virou para mim, indagando com o olhar qual era o problema.

–...- não nego que foi um pouco difícil dizer – Ele não lembra. Ele... Não lembra...

Roger virou de novo para o meu amigo, com a expressão bastante surpresa, e falou sem nem me olhar, apertando o botão em cima da cama que servia para chamar as enfermeiras – Mello, espere lá fora.

Não foi preciso mandar duas vezes.

Deixei a porta do quarto aberta , para a mulher de uniforme rosa claro que vinha apressada para entrar, e me afastei dali, sem ver para onde ia. Acabei parando na sala de espera onde tinha encontrado Roger ao chegar, e me encostei na parede, deslizando até o chão. De repente a noite em claro pareceu pesar em mim.

Eu não sabia direito o que fazer... Quero dizer, Matt é meu melhor amigo, o único amigo de verdade que eu tenho. E agora... Ele não se lembra de mim, ele provavelmente não se lembra de nada! Era um tanto quanto... Doloroso.

Isso me trazia más lembranças. Memórias e sensações que eu tentei, e gostaria muito de conseguir esquecer.

Mas que agora vinham à tona sem me dar qualquer outra escolha a não ser aceitá-las inundando minha mente como há muito não faziam.



– Mihael, vá para o quarto – meu pai mandou, tentando não me deixar ver o estado que minha mãe estava – Agora!

Ele bloqueava a entrada da cozinha com o próprio corpo, e sem querer discutir, fui em direção às escadas em silêncio. Não subi até o final, algo me impediu de subir mais. Sentei em um dos degraus e abracei meus joelhos, tentando não prestar atenção nas vozes que vinham da cozinha, mas ao mesmo tempo, sem conseguir conter o impulso de presenciar a cena, mesmo que de longe.

Porque eu não precisava ver, eu conseguia ouvir. E eu sabia.

Doía.

Não importava o tempo que passava daquele mesmo jeito, continuava doendo. Muito.

– Quem é aquele?! Onde está meu filho?! – ouvia os gritos histéricos da minha mãe abafando as tentativas de meu pai de acalmá-la – Mihael! Eu quero o meu filho! – podia imaginá-la chorando e tentando se desvencilhar dos braços do meu pai, em desespero, com os cabelos loiros bagunçados e quase desfazendo o rabo de cavalo que sempre usava, e o rosto jovem molhado de lágrimas que não cessavam.

Ou melhor, eu não precisava imaginar nada. Porque eu já tinha visto aquilo se repetir pelo menos duas vezes só nessa semana.

Isso mesmo, esse era eu com 6 anos de idade. Apenas uma criança cuja mãe não se lembrava de ter. Melhor dizendo, ela não mais me reconhecia como sendo seu filho.

“Quem?” foi o que eu mais ouvi da boca dela por um tempo que eu não sei determinar, mas que eu tinha a noção de que foi longo.

Não lembro mais como começou, nem mesmo como era antes dos ataques dela começarem. Não sabia se era uma doença, ou se ela simplesmente tinha enlouquecido, mas por muito tempo, tempo que vivíamos sozinhos na casa, por conta das constantes e demoradas viagens de trabalho do meu pai, ela me tratou como um completo estranho. Por muito tempo, eu vivi praticamente sozinho. E quando meu pai voltou em definitivo e percebeu o que estava acontecendo, tentou consertar as coisas.

Mas já era tarde.

A memória já estava armazenada, o sentimento já tinha sido decorado.

Porque nada dói mais, quando alguém querido se esquece de você.



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Notas finais do capítulo

Ficaram com dó do pequeno Mihael? Ficaram? Vai ter mais flashback, aguardem xD
Reviews para mostrar que não me odeiam? :3 Ou para mostrar que odeiam, pode ser também -q