Passaram-se algumas semanas daquele ocorrido e a Milena continuava em busca de um novo emprego.

Ela teria uma entrevista próxima do meu trabalho, então me pediu uma carona. Ela parecia calma, mas podia ver que havia algo de errado em seu rosto.

 - Mi, você está bem?

 - Na verdade não, to com o estomago embrulhado, parece que vou vomitar.

 - O que você comeu?

 - Nada de diferente do que sempre como.

Ela estava pálida e estava vendo a hora de ela vomitar no carro.

 - melhor passarmos em uma farmácia e ver o que podemos comprar pra você.

 - Não Fábio, minha entrevista, não posso chegar atrasada.

 - E de que adianta chegar na hora passando mal? Não vamos demorar, passamos na farmácia, você toma o remédio lá mesmo e até a hora da entrevista já vai estar melhor.

Ela olhou no relógio e concordou comigo, ela mesma já não estava agüentando mais. Assim que chegamos a farmácia ela explicou como estava se sentindo. O farmacêutico foi procurar na imensa prateleira de remédios o certo para ela, mas não deu tempo. A Milena vomitou ali mesmo, dentro da farmácia.

 - Meu Deus que vergonha, desculpa! – ela dizia com a voz bem baixinha.

 - Não precisa pedir desculpas, vou pedir pra limparem aqui. – disse o farmacêutico chamando uma faxineira.

A Milena sentou em um banquinho que estava perto da sala de injeções e o farmacêutico aproveitou pra falar comigo sem que ela percebesse.

 - O senhor é namorado dela?

 - Isso.

 - Bom, eu não posso precisar, mas creio que das duas uma. Pelos sintomas principais que ela me passou, ou sua namorada está grávida ou com uma forte virose, mas aconselho leva - lá a um médico, ele vai poder dar mais certeza.

Eu ouvi cada palavra que me foi dita, mas não queria acreditar. A Milena não podia estar grávida, ia acabar com a minha vida.

Quando ela se estabilizou um pouco mais voltamos para o carro, mas eu não conseguia dirigir.

 - O que foi Fábio? Parece que é você que esta passando mal.

 - Vou te levar ao hospital.

 - De jeito nenhum! Não posso perder minha entrevista. Preciso trabalhar o quanto antes.

 - Milena, você não está em condição de passar por entrevista nenhuma, vou te levar ao hospital e pronto.

 - eu não quero Fábio, minha entrevista é daqui meia hora, não vai dar tempo.

 - Vou falar só mais uma vez. Você não vai à entrevista nenhuma. O farmacêutico disse pra te levar ao médico e é o que vou fazer.

Levei-a sobre protestos, mas ela não tinha escolha.

Não demoramos muito e o resultado dos exames dela me tranqüilizou bastante. Ela estava com uma virose, nada mais.

No caminho de volta ela estava melhor, porque tomou soro lá.

 - Nossa que preocupação comigo.

 - Claro, sempre me importei com você.

 - Eu sei seu bobo, só brinquei com você. É que nunca te vi tão preocupado. O que o farmacêutico te falou?

 - Disse que ou você estava com uma virose ou podia estar grávida.

 - Grávida? Eu?

 - Claro quem mais?

 - Por isso sua preocupação?

 - Também né Milena. Claro que me preocupei com você, sua saúde, mas um filho agora sem chance.

 - E se fosse isso Fábio? E se ao invés da virose eu estivesse mesmo grávida? O que você ia fazer?

 - Você não está grávida Milena, deixa esse assunto quieto.

 - Então responde. O que você ia fazer se eu estivesse grávida?

 - Sei lá! Podemos mudar de assunto?

 - Bom, pelo visto sua reação não seria das melhores.

 - Pô Milena, eu não sei o que te dizer. Nunca pensei em ter filho, muito menos agora.

 - Ia me fazer abortar?

 - Cala essa boca! Nunca faria isso! Eu disse que não quero filhos agora, é diferente.

 - Ta Fábio, mas e se eu estivesse grávida afinal?

 - Porra Milena, mas você não está! Não está! Não tem filho nenhum aí! Dá pra parar de falar nesse assunto? Está me deixando nervoso.

Ela não falou mais nada e ficamos em silencio até eu deixa-la em casa. Só aí ela falou comigo.

 - Desculpa por ter te deixado nervoso, mas nem sei o porquê dessa sua reação. Sempre usamos camisinha e eu tomo remédio, não tinha como eu estar grávida. Mas foi bom, ao menos agora sei o seu ponto de vista sobre o assunto.

Dizendo isso ela abriu a porta do carro e saiu. Ela mal virou as costas e eu fui embora.

Durante meu trajeto fiquei com as palavras dela na cabeça. Realmente, sempre usei camisinha e ela tomava pílula, porque fiquei tão assustado?

Ela não me entendia. Agora que eu estava crescendo profissionalmente um filho só iria atrapalhar. Na verdade não só a minha vida, mas a dela também.

Ela me questionou quanto a pedir pra ela fazer um aborto. Nunca pensei nisso antes, mas se realmente fosse o necessário a fazer, porque não cogitar a possibilidade? Ela é nova, poderia ter mais filhos futuramente, só que com uma estrutura bem melhor.

Não tinha o porquê pensar naquilo. Afinal ela não estava grávida, para minha sorte.

Durante alguns dias a Milena me tratou com frieza, mas até que considerei normal, ela devia estar com raiva por causa da nossa discussão daquele dia., mais cedo ou mais tarde passaria.

Não demorou muito até que ela arranjasse um emprego, onde ela ganharia bem mais que no anterior e tinha a possibilidade de crescer lá dentro.

Ela me contava sempre do que fazia lá, das coisas que aprendeu no dia e tudo o mais. O que ela não entendia é que minha cabeça estava cheia das coisas do meu trabalho e eu não tinha interesse algum em saber do trabalho dela. Será que ela nunca se tocou que eu não comentava do meu trabalho?

 - E então, o que você acha?

 - De que?

 - Fabio, você não esta prestando atenção no que estou falando?

 - Desculpa Mi, to com uma dor de cabeça terrível, já vou até embora.

Até que ela engoliu bem minha desculpa. Quando cheguei em casa cai na cama e fiquei pensando em como a Milena pode ter se tornado tão chata. Nem parecia a mesma que eu conheci na faculdade.

O que eu não me dava conta era que ela não tinha mudado, mas eu sim.