Os dias passaram e eu continuava a chegar atrasado na faculdade. Nunca mais vi a Milena, mas considerei normal, afinal apesar de estudarmos no mesmo andar, havia muitas salas e encontrar alguém por lá era como achar agulha no palheiro. Admito que eu também não a procurei, que desculpa usaria?

Enfim tirei minhas férias no trabalho. Esperei muito por elas, mas muito mesmo, tanto que meu chefe só as liberou porque a segunda estava pra vencer.

Aproveitando isso, passei a chegar na hora ou até antes nas aulas. Quando chegava cedo ficava um tempo na biblioteca estudando um pouco.

Sei que falando assim eu parecia ser um verdadeiro nerd, mas não era isso. Sempre gostei de estudar sim, mas também zoava com meus amigos. Sempre soube separar as coisas nesse sentido.

Foi em uma dessas idas á biblioteca que encontrei a Milena novamente. Ela estava em uma mesa rodeada de livros e um notebook.

Como a biblioteca não estava tão lotada resolvi ir até lá. Era como se ela estivesse me esperando, pois quando me viu abriu um sorriso que nem eu mesmo esperava.

 - Olha só quem apareceu por aqui. Trocou a sala de novo? – perguntou ela tirando sarro na minha cara.

 - Na verdade não, como está muito cedo resolvi ficar aqui um pouco. Posso sentar?

 - Fique a vontade. – disse tirando alguns livros de uma parte da mesa para que eu pudesse colocar a minha mochila.

Sentei ao lado dela, que não puxou assunto como pensei que faria. Permaneceu lendo e digitando algo. Depois de um tempo naquele silencio resolvi puxar conversa, já estava lá mesmo!

 - Fazendo trabalho?

 - Sim, mas na verdade já está pronto, estou apenas revisando alguns pontos específicos.

 - Estou atrapalhando?

 - Não, já estou terminando, só um minuto.

Ela falou isso tudo sem tirar os olhos da tela do notebook, mas resolvi esperar. Ela parecia tão concentrada no que estava fazendo que não quis atrapalhar mais. Pouco depois ela fechou o notebook e enquanto arrumava os livros voltou a falar comigo.

 - Sua aula de hoje é muito importante, algo que você não possa faltar?

 - Na verdade não, por quê?

 - Ta a fim de tomar uma cerveja?

 - Nunca fui chamado por uma mulher pra beber. – disse rindo.

 - Pra tudo na vida existe uma primeira vez. Ta a fim ou não?

 - Por mim tudo bem, mas e a sua aula?

 - O professor não faz chamada, não tenho o porquê esquentar.

 - Então por mim tudo bem.

 - Certo, vou devolver esses livros e já vamos.

Enquanto ela ia devolver os livros para a bibliotecária eu a observava de longe. Parecia ainda mais bonita do que a última vez que a vi. Ela tinha um ar de menina e mulher ao mesmo tempo e sabia equilibrar bem os dois.

Fomos a um barzinho não muito longe da faculdade e não tão cheio também. Estranhei ao ver que ela pediu um refrigerante ao invés da cerveja.

 - Você me chamou pra tomar cerveja e não refrigerante.

 - Admito, mas esqueci que estou dirigindo, nada de álcool.

Eu ri. Tomei a cerveja, afinal ia pra casa de ônibus mesmo e não teria que trabalhar no dia seguinte. Apesar de poder aproveitar acabei não bebendo mais que uma latinha.

Ficamos conversando por um bom tempo no bar, tanto que quando resolvemos sair não havia quase ninguém na faculdade além dos seguranças.

 - Você disse que está de carro certo?

 - Isso. Quer uma carona?

 - Não, só queria te acompanhar até onde ele está, está tarde e não tem quase ninguém na rua.

 - Ele está aqui pertinho, mas se você faz questão...

Fui com ela até onde ela havia deixado o carro. Estava em uma rua atrás da faculdade. Era um lugar calmo, mas devido ao horário estava deserto.

 - Pronto moça, está entregue. Agora vou nessa.

 - Você mora perto daqui?

 - Nem perto e nem longe, até dá pra ir a pé, mas vou pegar um ônibus, to quebrado hoje.

 - Quebrado? Você não disse que está de férias?

 - Estou, mas ainda não repuz esses dias que trabalhei.

 - Que pena.

 - Não entendi. Por que, que pena?

Quando perguntei ela sorriu e ficou de frente pra mim.Estávamos ao lado do carro dela.

 - Você esta cansado, esquece.

 - Estou cansado, mas não surdo. Pode falar o que é.

Ela veio pra mais perto, ficando a poucos centímetros de mim.

 - Falar? Quem aqui falou em falar?

Nessa hora a Milena me surpreendeu, mas admito que gostei da iniciativa dela. Antes que eu dissesse alguma coisa ela segurou meu rosto e me beijou. Fiquei surpreso, mas retribui na mesma hora.

Ela tinha um beijo doce, a boca macia, por mais que eu tentasse sair de lá não conseguiria. Na verdade não tinha o menor interesse em sair.

Minha mochila, que até então estava segurando por uma alça só foi parar no chão. A segurei pela cintura e a encostei no carro, a deixando entre ele e eu.

Já estava ficando sem ar, mas não queria parar aquele beijo, só parei porque ela puxou os cabelos da minha nuca me afastando dela.

 - Tem certeza que está tão cansado quanto disse?

 - Pensei que estava. – respondi sorrindo pra ela.

Nos olhamos por alguns segundos e voltamos a nos beijar. Dessa vez ela que parecia não querer me largar, parece que ela queria ver até onde eu agüentaria. Pois ela viu, já que ela que teve que parar o beijo de novo.

 - Quantos pulmões você tem? – brincou ela comigo

 - Dois, como todo mundo. Por que, não agüenta?

 - Praticando acho que pego o jeito.

Ficamos lá por mais ou menos uma meia hora, até que ela teve que ir embora. Seus pais já haviam ligado perguntando onde ela estava.

A partir desse dia sempre ficávamos depois da aula e sempre que tínhamos um tempinho. Se bem que sempre arranjávamos tempo.

A cada beijo que a Milena e eu trocávamos acontecia alguma coisa dentro de mim, mas eu não sabia explicar o que era só que era muito bom.

Passou um tempo desde o dia que ficamos pela primeira vez e cansado de ficar só naquilo decidi tomar uma decisão.

Devia ter pensado muito antes de fazer o que fiz, mas agi por impulso e sinceramente, não sei dizer a vocês se me arrependi ou não.