UM:

Este é meu sexto ano em Hogwarts. Provavelmente meu último. Minha vida virou de cabeça para baixo no último ano, e como diria um bruxo sábio que eu conheço, é hora de escolher entre o que é certo, e o que é fácil.

– Mione! Acorda! Acho melhor ir trocar de roupa, já, já o trem vai chegar. – a voz de Rony atravessou a cabine fria do trem.

Abri os olhos, sonolenta. Sorri ao vê-lo, ele estava sem jeito e com os olhos amêndoa-esverdeado fixos em mim. Ele deu um meio sorriso e saiu apressado, vi ele ir para a cabine do lado, e ouvi a voz de taquara rachada da Lilá Brown conversando com ele. Meu sorriso besta sumiu e desejei que um Avada Kedavra me atingisse.

Será que eu posso me jogar uma maldição da morte? Tipo suicídio...

Apontei a varinha para a minha cara. Logo em seguida a abaixei. Isso era uma idiotice, além de eu não saber fazer magia negra – estava recém aprendendo a maldição império – eu não ia me matar por causa do Ron... Ou será que iria? Será que dava pra se matar com um Avada Kedavra?

Bufei comigo mesma ainda ouvindo os risos vindos da cabine do lado.

Peguei dentro da minha bolsa as minhas vestes pretas, botei-as sobre os ombros e fui para o banheiro das meninas. Ron anda me magoando tanto ultimamente, dói tanto amar e não ser amada. E o pior de tudo é que ele não tem sequer culpa.

Quem manda se apaixonar pelo seu melhor amigo?

Andei cabisbaixa e me esbarrando pelos corredores do trem até o banheiro feminino. Se há algo estranho de se fazer é trocar de roupa no expresso de Hogwarts.

Eu botei minhas vestes pretas e voltei para o nosso vagão. Chegando lá, os ruivos mais simpáticos do mundo me receberam calorosamente.

– Hermione! – os gêmeos disseram juntos.

– Oi Fred, oi Jorge. – eu sorri meio embaraçada.

– Você está radiante. – Jorge disse.

– Absolutamente encantadora! – Fred completou.

Não pude deixar de sorrir. Os ruivos haviam voltado para Hogwarts já que a senhora Weasley não permitiu que eles largassem o ‘meio acadêmico’.

– E as Gemialidades? – eu disse puxando meu malão para o banco do vagão com o intuito de guardar minhas vestes trouxas.

– Estão ótimas. Gui vai tomar conta por nós durante esse ano. – Fred disse.

– Trouxemos alguns produtos. – Jorge fez tom de segredo.

– Para animar as aulas. – concluiu Fred.

Eu guardei minha roupa trouxa ali e fechei o malão.

– Vocês não deviam fazer isso. - Eu disse em tom de censura. – é contra as regras.

– Hermione querida... – dessa vez Fred começou.

– As regras foram feitas com uma finalidade – Jorge complementou.

– Para serem quebradas. – Fred concluiu.

Enquanto eles falavam, eu lutava para por meu malão novamente sobre o compartimento superior da cabine. Fred, rindo da minha falta de força levantou o malão e o botou em seu devido lugar.

É claro que isso não foi difícil. Uma vida inteira rebatendo balaços tem lá suas utilidades.

– Hermione! – Harry entrou afobado no vagão. – Você não sabe!

– O que?! – eu, Jorge e Fred dissemos juntos.

– Agora vocês dois também se chamam Hermione? – Harry fez tom de deboche olhando para os gêmeos.

– Já contou pra eles, Harry?! – Rony entrou no vagão logo depois.

– Contar o que? – eu perguntei começando a me irritar.

– Vai ter um baile à fantasia esse ano! – Harry e Rony disseram juntos.

– Hey! Isso é plágio!– Fred exclamou irritado.

– As frases sincronizadas são nossas! – Jorge concluiu.

Eu teria rido, se eu não estivesse tão deprimida. Eu ajeitei meus volumosos cabelos para trás da orelha e me sentei no banco perto da janela.

Rony surpreendentemente se sentou a meu lado. Eu o olhei, desconfiada. Ele era alto e suas sardas eram fofas, seus cabelos estavam lindamente desgrenhados.

– Mione, sobre o baile... – ele murmurou.

Harry estava conversando com os Weasley sobre o kit-mata-aula aperfeiçoado. Distraídos e rindo.

“Será que eles notariam se eu desse um selinho no Ron?... Hermione pare com isso! O Rony vai perceber que você não está ouvindo uma palavra do que ele diz.”

Concentrei-me no que ele dizia. Será que ele ia me convidar? Um sorriso bobo surgiu;

– Sim? – eu sorri mais.

– Você acha que a Lilá aceitaria ir comigo? – ele disse com um meio sorriso sonhador.

Eu senti como se ele tivesse me dado um soco. Meu sorriso sumiu, minha fala escapou e a minha vontade de morrer se intensificou. Foda-se se era ou não possível, eu ia dar um Avada Kedavra no meio da minha cara!

– Hein Hermione? – Rony repetiu.

– A-acho que sim, acho que ela iria com você. – eu disse com a voz sufocada e um sorriso MUITO forçado na cara.

– Mione, você está bem? – ele perguntou. - Que careta é essa?

– Aham. Eu estou bem, eu estou com fome, é isso... – respondi casualmente e me virei para janela. Vi que os gêmeos me olharam de esguelha e cochichavam entre si, mas eu os ignorei.

Para meu desespero, Rony deu de ombros e começou uma discussão com Harry sobre as vomitilhas e seus efeitos colaterais. “Como ele consegue acreditar que eu estou bem? Garoto estúpido!” E como última facada, ele antes de se levantar passou a mão na minha cabeça, como se eu fosse um cachorro, rapidamente sussurrando um ‘Obrigado, você é minha melhor amiga’, dizimando meu coração à zero. ARGH! Amiga... Amiga... Que palavra infernal.

Eu não estava bem. Ia ser igualzinho ao quarto ano, mas dessa vez Krum não estava aqui. A garota irritante e nerd sem um par no baile. Que novidade. Cogitei a possibilidade de roubar uma vomitilha dos gêmeos com a desculpa de ir a ala hospitalar e ficar lá até o fim do ano. Esse seria um daqueles anos que eu me arrependeria de ter nascido.

– Acho que a Lilá aceita sim, cara. – Harry incentivava Rony mais ainda.

Eles ficaram conversando sobre o baile, e se o Rony devia ou não convidar a Brown para o baile. Eu estava com os olhos ardendo, sinceramente cogitando pular do trem e voltar a pé para Londres. Eu não era de chorar, ou fazer drama, mas eu realmente queria meu quarto, meu filme Moulin Rouge, meu edredom, e uma caixa de lencinhos de papel.

– Mione! – Fred chamou.

Eu o olhei e tentei forçar um sorriso, porém, meu queixo tremeu. Eu devia estar com cara de quem tinha dor de barriga. Achei melhor parar de sorrir e apenas olhá-lo, com meu melhor olhar de tédio. Infelizmente ele fez uma cara de preocupação. Maldito queixo trêmulo. Eu desviei o olhar novamente, antes que eu começasse a berrar e chorar. Vi aquela enorme figura ruiva se sentar na minha frente. Era o Fred. Provavelmente.

– Tudo bem com você? – ele disse claramente atrapalhado. Consolar não era o seu forte. E por que exatamente ele estava sendo atencioso comigo? Até onde eu sei, ele nunca foi muito intimo meu.

"Saia daqui ruivo intrometido e traga-me seu irmão caçula." eu quis dizer.

– Tudo. – eu sentia que se eu dissesse mais uma palavra iria chorar, o nó na garganta estava super apertado. simplesmente mantinha meu olhar displicente.

Ele pegou na minha mão e se agachou na minha frente. Ele apenas sorriu fazendo uma pose elegante. Eu apenas pisquei. realmente não estava afim de suas brincadeiras idiotas.

Ele ficou vesgo e fez careta, logo depois sorriu. Ele era idiota, mas estava tentando me animar, e aos poucos estava dando certo. Um sorriso fraco escapou pelos meus lábios. Quem diria que justamente ele fosse conseguir me animar e fazer eu me sentir melhor.

E eu sorri junto.

– Hermione quer ir ao baile comigo?

TAN, TAN TÃN!

Sabe aquele exato momento que todo mundo fica quieto e te encara como se você fosse um Voldemort distribuído balas? Então.

– WOW! Como assim? – Rony pareceu levemente incomodado. Eu gostei disso. – tipo, a Hermione? – Rony disse isso como se fosse algo absurdo. Eu não gostei disso.

– Hm, meu gêmeo é um infanticida. – Jorge brincou maliciosamente.

– Eu não me lembro de ter pedido opiniões. – Fred fingiu um tom irritadiço aos demais. – você quer Hermione?

Eu literalmente engoli o choro. Precisava responder, e se isso causasse nem que fosse uma ponta de ciúmes em Ron, valeria à pena.

– S-sim. – eu o olhei, abismada.

– Chora Ronald, pois a Granger vai comigo. – ele disse orgulhoso como se eu fosse uma Veela linda e seminua. Algo me diz que ele tomou alguns Whisky de Fogo antes de vir para cá.

– Rony. – Harry finalmente se manifestou interrompendo o burburinho da nossa cabine. Ele olhou para Rony como se ele fosse um Basilísco – Eu-vou-convidar-a-Gina! – Harry falou tudo de uma só vez.

As orelhas de Rony ficaram vermelhas.

– TUDO BEM! – ele disse como se fosse algo doloroso de dizer. – melhor você do que o tarado do Dino!

Harry abriu um sorriso retardado.

– Mas me escute bem Potter – foi a vez de Jorge – sem gracinhas com a minha irmã ou eu te dou de comer para um explosivin!

– E eu te faço beijar uma mandrágora! – Fred complementou.

Eles conversavam animadamente e Fred aderiu à proposta de listar ameaças dolorosas ao Harry. Enquanto isso eu ainda digeria a roubada em que tinha me metido.

Que comece meu sexto ano em Hogwarts.