1997 escrita por N_blackie


Capítulo 81
James




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Azkaban era mesmo o buraco do inferno.

O cheiro de mar lhe dava náuseas, as ondas batendo nas paredes da fortaleza, num ritmo contínuo e repetitivo, estavam enlouquecendo-o. Passou as mãos pelo rosto, e sentiu a barba grossa que cobria seu queixo. Olhou para frente, e seu coração perdeu mais uma batida. Outro dia ia dormir, outro dia acordava, e Lily não estava ali.

Foram separados quando chegaram, e ela lhe dissera que ficaria tudo bem enquanto era arrastada para outra ala. Dissera para ser forte. Estava sendo. Por ela.

Virou-se para o lado, e viu a sombra modorrenta de um dementador passar perto de si, levando as memórias do sorriso de Lily embora.

“James?” A voz rouca de Sirius chamou. Na cela do outro lado do corredor, ele e Marlene sentavam de frente um para o outro, um lembrete constante a James que Lily tinha sido tirada dele. Se aproximou da grade e acenou com a cabeça.

“O que decidiu?”

Desde o dia seguinte à prisão, Sirius vinha dando ideias de fugirem dali, e recusara todas uma após a outra. Não podia deixar Lily sozinha, não naquele inferno, sem saber o que estava acontecendo.

“Não posso, Sirius.”

“James, escuta aqui,” Marlene se levantou e sentou-se diante dele, séria. Seus cabelos tinham ganhado algumas rajadas de grisalho, e seus olhos estavam cansados, “precisam saber como estão as crianças, ok? Lily precisa sair daqui sabendo que os filhos dela estão bem. Não iria querer isso, certo?”

Encarou a amiga de anos com ansiedade. Sua cabeça doía muito com as opções que tinham. Realmente precisava saber como estava Harry, Sam, e Violet. Por outro lado, não queria deixar Lily ali. Prometera que faria de tudo para protege-la, e que nunca a deixaria para trás. Sirius passou as mãos pelos cabelos desgrenhados.

“Já esperei demais pra sair daqui. Prongs, você vem ou não? Se não, vou sozinho. Marlene não consegue fazer o que nós conseguimos... Desculpa, sério.”

“Não tem problema, eu devia ter seguido o seu conselho e me tornado animaga também.” Lene esfregou o ombro do marido, e James sentiu um aperto no peito. Talvez Lily fosse apoiá-lo na ideia de sair dali. Ela sempre o apoiava.

Mais dois dementadores passaram diante deles, e Sirius e Marlene se afastaram da porta de sua cela rapidamente, se escondendo na escuridão. James olhou para cima, e viu a luz entrando num canto de seu próprio cubículo. Queria ver os filhos.

“Quando acharmos uma saída,” perguntou, encarando fundo os olhos de Padfoot, injetados e contidos, “vamos voltar e salvar os outros?”

“Claro que sim, ficou doido? Não vamos deixar ninguém pra trás. Ninguém, ouviu?”

“E sabe como sair daqui?”

Padfoot sorriu.

“Óbvio que sei. Trabalhei aqui a vida toda. Precisamos nos transformar, depois é só me seguir. Consegue fazer sem a varinha?”

James olhou para as próprias mãos, se lembrando de como era estranho não ter a varinha por perto. Já executara vários feitiços sem ela, mas se transformar por completo num cervo não tinha sido um deles. Fechou os olhos, e tentou apagar o sofrimento e vazio que o preenchiam tão constantemente. Precisava de um pouco de esperança para conseguir fazer aquilo funcionar.

O problema era que os dementadores farejavam esperança em tantas formas, e tão rápido, que sua única chance de não ser consumido era mesmo buscar algo a mais dentro de si. Precisava conseguir, muito menos por ele do que por todos os outros que contavam com ele. Precisava abraçar Violet, Sam, Harry. Estaria lá para eles, sempre. Não importava o que acontecesse, estaria lá.

Sentiu a magia arrepiar todos os pelos de seu corpo, anestesiar a dor que sentia no peito, e nublar qualquer outro pensamento, e a sensação familiar de formigamento se espalhar por seus membros enquanto se tornava algo diferente, um animal muito mais simples do que tudo aquilo. Sua pele parecia estar sendo coberta de veludo, seus dedos estavam encolhendo, engrossando em algo diferente. A cabeça começava a pesar com os chifres, e se sentiu aliviado por tê-los ainda. Abriu os olhos lentamente, e o mundo ficara preto e branco. E não no sentido figurado, como vinha de fato vendo depois de tanto tempo com os dementadores por perto. Literalmente preto e branco.

Marlene, na cela em frente, acariciava um imenso cão negro, que se enroscava em seus braços com os olhos fechados, magro e desnutrido, mas parecendo até que... feliz? James não conseguir pensar complexamente, e precisava se concentrar o dobro para conseguir focar em seguir a deixa do cachorro. O rosto da mulher de Padfoot fiou pálido, e mais dementadores passaram pelo corredor.

James quis se contrair, ou se esconder, mas o dementador foi mais rápido, se aproximando curioso de sua cela. Ele aspirou o ar, e James sentiu o alívio de permanecer o mesmo diante da criatura. O que sentia era muito simples para ser absorvido por um dementador. Não sentia alegria, nem tampouco tristeza. Só existia, e queria ser livre.

Atrás da capa do dementador, viu Sirius se contorcer e passar pelas grades da sua cela, magro demais para entalar ali. James esperou o dementador sair, e logo foi em direção às barras. Os chifres atrapalhavam muito mais a passar do que as orelhas do cão, então com muita paciência, passou o primeiro por elas, e depois o segundo. Sentindo o metal enferrujado e sujo roçar por pouco em seu tronco, e depois em suas patas, deslizou para o corredor abafado, sentindo vagamente o alívio de estar livre. Sirius se aproximou de sua antiga cela e deixou-se acariciar por Marlene, e depois desatou a correr.

James foi pego de surpresa pela arrancada de Padfoot, e começou a correr também. Podia ouvir de longe as exclamações de surpresa dos outros prisioneiros, os baques surdos de suas patas no chão, mas só conseguir focar o pensamento em seguir Sirius. Esse era o principal problema de se transformar em um animal. Não se conseguia pensar em mais de uma única coisa por vez.

E naquele momento, só conseguia pensar em sair dali.

Sirius derrapou à esquerda, e James viu o que ele estava querendo fazer. Depois de alguns lances de escada, uma grande janela dava para o mar, uma das aberturas de ar para os prisioneiros do andar poderes respirar. Não dava espaço suficiente para um ser humano passar. Mas eles não eram humanos.

Sem energia para pensar duas vezes, correu o máximo que podia e saltou, rumo às ondas do Mar do Norte.


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