A poeira assentou, e Leonard deu um aperto na mão de Violet. Estavam parados em um círculo mal feito em torno do quarto destruído do bebê, segurando um mapa velho que Harry acabara de entregar e sem nenhuma perspectiva de melhora. Ótimo.

“Vamos até os Weasley mesmo? “ Perguntou Mary, encolhida perto da parede.

“Claro que vamos, ficou doida? Richard tá lá! “ Jack balançou a cabeça com indignação, e Leo olhou para Lewis, esperando alguma atitude responsável da parte dele. Adhara dizia que ele era meio abobalhado, mas Leonard sempre duvidara tendo em vistas o jeito como ela sempre falava dos outros. Contudo, diante da expressão atrapalhada com que ele lhe respondeu, Leo teve de dar o braço a torcer. Se dependesse de Lewis Pettigrew, ficariam um bom tempo naquele quarto olhando um pro outro sem seguir em frente.

“Não precisa se exaltar, Jack, “ Tomou a frente, soltando Violet com relutância e dando um passo à frente, “ vamos, Lewis, dê a mão para Mary, e vão segurando uns aos outros. Bem firme, por favor, já temos problemas suficientes sem ninguém destrinchando no caminho. “

Com uma exclamação de surpresa, Lewis fez o que Leo mandou, e todos em breve estavam numa espécie de corrente humana, prontos para a aparatação conjunta. Fazendo uma careta de concentração, Pettigrew deu uma pirueta, e Leonard sentiu-se puxado no meio do ar.

Quando chegaram, a Toca estava em chamas. Labaredas se espalhavam pelo quintal, e os gnomos saiam dos arbustos ao redor correndo em múltiplas direções, balançando os braços curtos no ar em um desespero quase cômico. Samantha soltou um grito e começou a correr para dentro, enquanto Lewis puxava a varinha. Leo, sem pensar, puxou a dele, para logo depois se lembrar que não podia fazer mágica sem ser detectado.

“Lewis, siga o que eu disser! “ Bufou em frustração e se aproximou do gordinho. Apesar da resistência dele (“Eu sou o maior aqui, Leonard! Ugh...”), conseguiu convencê-lo a atingir os focos do incêndio, e o resto do fogo depois. Conforme as chamas ficavam menores, só restava a fumaça, e de dentro da cortina cinzenta saíram Sam e Jack segurando os amigos. Violet correu para socorrer Hermione, que tossia muito, e Leonard deu as últimas indicações a Lewis antes de amparar Ron.

“Chegaram no meio da noite, não teve jeito! “ Ginny tossiu.

“Quem eles levaram? “

“Todo mundo. “ Richard tinha as bochechas cobertas de fuligem. “Tia Molly, Mamãe, Tio Gideon... Bill, Percy, Fred e George... “

“Mas os mais novos não fazem parte da Ordem! “

“E eles ligam pra isso, Sam? “ Ginny olhou tristemente para sua casa, “só entraram, pegaram todo mundo e foram embora. “

“Gente, acho melhor sairmos daqui...” Lewis murmurou timidamente, olhando para os lados com a varinha nas mãos inquietas. “Podemos conversar melhor depois, por favor. “

“Levaram os Potter também? “Hermione balbuciou preocupada, e Sam assentiu. Leonard olhou para os lados, começando a ficar ansioso também. Não era seguro ficar exposto ali no meio do descampado, pelo menos não enquanto poderiam ter comensais, aurores, e sabe-se lá o que procurando por eles. Contudo, não podia deixar de se sensibilizar. Hermione não tinha nada a ver com aquilo, mas tinha sofrido as consequências de todos eles. Pensou que talvez seria mais prudente deixa-la aos cuidados da família trouxa, para evitar uma desgraça maior, mas enquanto formulava um jeito delicado de sugerir isso, ela se levantou energicamente e olhou rapidamente para o galpão do Senhor Weasley.

“Se vamos nos reunir ou algo assim, acho que devemos pegar os documentos da Ordem que estavam por aqui, não acha? “

“A Ordem tem documentos? “

“Claro que têm. “

“Ótimo, mais uma coisa pra ficar procurando! “ Bufou Sam. Hermione começou a correr para o balcão.

“Não reclame, Sam, pode ser uma saída! Eu tenho certeza que é aqui onde o seu pai estava guardando aquelas pastas, Ginny, não é? “

A ruiva perto de Leonard deu de ombros, mas entrou no barracão do mesmo jeito. Lewis parecia que iria ter uma síncope, então Leonard decidiu ajuda-lo um pouco. “Quem não estiver pegando os papéis vai para a minha casa com Lewis, ok? Vamos, melhor sair daqui mesmo. Wormtail, vá e volte para buscar o resto, beleza? “

“Ok, ok! “

O estalo da aparatação deixou Leo mais tranquilo, mas seu coração só perdeu os compassos acelerados quando, com ar de triunfo, Ginny e Hermione saíram carregando algumas pastas chamuscadas, depositando parte delas nos braços de Leonard. Não havia nada escrito na frente delas, mas pelo peso dos pergaminhos dentro, havia muita coisa que a Ordem apurara antes de ser capturada. Enquanto esperava por Lewis, Leo abriu uma delas discretamente, e reconheceu a letra floreada da mãe em um dos arquivos. Algo ardeu em seu peito, e percebeu que ainda não parara para refletir exatamente o que os pais estarem na prisão realmente significava. Talvez nunca mais pudesse ver a mãe.

As palavras se alojaram em seu cérebro, e o garoto sentiu um nó na garganta. Entendia a fúria de Adhara. Não podia agir por impulso, não era esse o seu jeito de ser, precisava pensar, mas para pensar, precisava de tempo.

E tempo era algo que definitivamente não tinha.

Contudo, a caligrafia da mãe lhe lembrava, a cada espiada, que precisava ajuda-la de alguma forma, que não podia deixa-la ali, para morrer em Azkaban. Não, ela não iria morrer. Eles não teriam coragem de matá-la. Ou teriam?

Lewis aparatou a seu lado, ansiosamente olhando de um lado para o outro enquanto reunia ele e as garotas para partirem novamente. Leonard segurou-o com firmeza enquanto abraçava as pastas com a mão livre. O mundo girou uma, duas vezes, até que ele se viu na sala de casa.

Tudo destruído, do jeito que deixaram, e o restante do grupo parado, lhes esperando. Leonard suspirou aliviado, até perceber que não estavam sozinhos.

“Leo, querido, fiquei muito preocupada com todos vocês. “

Em cima da escadaria, segurando ao corrimão raspado pelos feitiços, estava Druella.

“Espero que não se importe, mas Cissy e Lucius estão vindo analisar o estrago. Vamos receber alguns hóspedes. ”