Não sabia há quantas horas estava ali, no escuro, abraçando Teddy e ofegando. Tentara de soltar da focinheira, mas além de não ter conseguido desfazer a fechadura enfeitiçada ainda conseguira se cortar com as beiradas grosseiras do objeto. Agora além de cansado, suado, e nervoso, estava sangrando. Que posição digna.

Teddy adormecera um pouco depois que a confusão terminara, e parecia completamente alheio à situação bizarra em que se encontrava, mas para Romulus era melhor assim. Já bastava ele em desespero. Tentava bloquear imagens do pai sendo torturado e morto na prisão, se concentrando em salvar Ted e encontrar os amigos. Lentamente, conforme deixava as prioridades relaxarem seus músculos, deixava o sono dominá-lo.

Acordou subitamente ao som de alguém esmurrando a porta, e se encolheu mais ainda contra a parede. Seria possível que os aurores estavam voltando mesmo para busca-lo. O pânico ameaçou dominá-lo novamente, até que a voz instável de Adhara retumbou pelo lugar.

“MOONY? MOONY, ESTÁ AÍ? EU VOU EXPLODIR A PORTA! “

Tentou gritar por ajuda, mas percebeu que mover o maxilar reabria as feridas no rosto, então parou. Teddy despertou também, e pela primeira vez naquela noite Romulus agradeceu ao irmão por chorar tão alto. Outras vozes se juntaram à de Padfoot, e gradualmente os móveis que formavam uma barreira entre os irmãos e o mundo começaram a ceder.

Romulus protegeu a cabeça de Ted quando os estilhaços do armário voaram com a última explosão, e a porta de abriu para a silhueta de Padfoot e Prongs. “Ah, meu deus, Moony! “ ela gritou, correndo na direção dele. Trêmula como ele nunca a vira, ela ajudou-o a tirar Teddy dos braços, e o abraçou contra o peito. Harry se ajoelhou perto dele.

“Meu deus, o que fizeram com você?! Sam! “

Samantha entrou correndo também, e soltou uma exclamação antes de correr até ele e o abraçar. Com cuidado, os irmãos desfizeram o fecho da focinheira, e uma golfada de ar frio atingiu seu rosto machucado. Sam puxou uma fralda de Ted e começou a secar o sangue que voltara a escorrer.

“Lobisomem. “ Conseguiu balbuciar entre os gemidos de dor. “Filhote de lobisomem. “

“Nojentos, asquerosos. “ Adhara cuspiu, acariciando a cabeça de Teddy com preocupação. Pollux surgiu próximo dela e olhou para Romulus, tirando um lenço limpo do paletó.

“Aqui, tente com isso. A fralda não vai absorver direito. “

Se não fosse o estado deplorável em que estava, Rom teria se sentido humilhado, mas não estava em condições de ter brigas com ninguém. Agradeceu em silêncio, e observou quando Violet entrou receosa no quarto, correndo para dar inúmeros beijos no bebê.

“Viola, conte a eles. “ Harry chamou. Romulus estranhou a expressão dura que se formou no rosto de Violet, e ela suspirou.

“Eu achei que fossemos esperar os Weasley... “

“Tá parecendo que a gente tem tempo pra isso? “ Padfoot rosnou, voltando lentamente ao normal. Parecia o dobro de irritada, e Romulus teve um pouco de medo em antecipação ao que ela provavelmente diria quando a conversa ficasse séria.

Violet se colocou em posição defensiva, e começou a narrar uma história bizarra, que começava com Snape a chamando para conversar (“E porque não me contou? ” “Ele me pediu, Leonard! “) e chegando numa parte que Romulus nunca ouvira falar. Aparentemente, Voldemort teria como ficar imortal através de objetos, e os membros da Ordem estavam caçando esses objetos, e eles já sabiam que seriam presos, um monte de coisa. A cabeça de Romulus começou a doer.

“Então é certo: Ele voltou mesmo? “ Jack perguntou, e Violet assentiu.

“Não contei antes porque me pediram... O que querem agora? “

Romulus sentiu o peso do que ouvira, um misto de esperança com desespero. Era como se ao mesmo tempo sentisse que pudessem derrotar Voldemort uma segunda vez e se desse conta do absurdo que estava pensando. Como faria algo que nem a própria Ordem da Fênix conseguira? Harry puxou um distintivo do bolso que Romulus reconheceu ter visto no peito de James e apertou.

“O que eu quero? “ Adhara colocou Teddy no berço, seus olhos virando estacas de gelo, “ O que eu quero? Eu quero vingança! Eles vão pagar por terem prendido o meu pai! E vão pagar nas minhas mãos, Violet! Eu quero sangue! Eu. Quero. SANGUE! ”

Os olhos dela estavam injetados, e a lâmpada sobre eles chacoalhou conforme ela cerrava os punhos furiosamente. Harry continuava de cabeça baixa, e Romulus teve de admitir que, mesmo que pudesse, não pararia Padfoot dessa vez. Sam parou de ajuda-lo. Leonard passava as mãos protetoramente pelos ombros da namorada.

“Pads tem razão, eu quero lutar. “ Finalmente disse, um pouco atrapalhado pela dor que sentia na ponte do nariz e nas bochechas. Se Teddy não estivesse ali provavelmente estaria tão nervoso quanto Adhara, e um movimento de Harry lhe disse que Prongs também se sentia assim. Todos mergulharam no silêncio novamente, até Padfoot recomeçar a falar.

“Vamos até os Weasley, vamos ver o que aconteceu com eles, mas assim que soubermos quem sobrou, vamos nos dividir. Eu não ligo quem vier comigo, mas não volto pra Hogwarts até ter a cabeça deles pra mostrar. “

“E Teddy? “

Os olhares de voltaram ao bebê, e Romulus se sentiu culpado pelo irmão ser uma complicação a mais na situação já péssima de todos. “Eu vou manda-lo para Andrômeda...”

“Acho melhor juntarmos alguns de nós para fazer isso.” Harry se ajoelhou e buscou algo na bolsa que estava levando. Quando tirou, Romulus reconheceu um dos pares de espelhos-de-duas-faces. “Aqui, Violet, fique com isso. Eu, Padfoot, e Moony vamos até Andrômeda entregar Teddy em segurança. Vocês vão até os Weasley com Wormtail e confiram quem está bem. Qualquer coisa, qualquer uma mesmo, me avise. Vamos nos encontrar nos Black, que está vazio, e então nos dividimos. ”

“Posso ir com vocês. “ Sam se ofereceu ao lado de Romulus, mas Harry negou.

“Você, Pollux, Lewis e Mary são os responsáveis. Qualquer coisa não hesite em usar magia, é sério. Moony, como está? ”

“Vou viver. “ Romulus abraçou Sam em agradecimento. “Nos vemos na Mansão. Muito obrigado. “

“Nos vemos. Se cuida, ok? “ Ela sorriu meio triste. Rom pegou Teddy, e junto de Adhara e Harry, desaparatou.