Eles saíram do escritório e por muito tempo só se ouvia o som da cadeira de rodas do Marco quando por fim diante do elevador, ele resolveu quebrar o silêncio.

- Você vem pro meu quarto, agora! – num tom de ultimato.

- Marco eu quero dormir e não estou a fim de discutir.

- Pra levar a Laura atrás de uma moto você não teve sono, eu quero ter essa conversa.

- Você acha que porque está numa cadeira de rodas todo mundo tem que fazer o que você quer? Já estou cheio disso! – disse friamente.

- Eu não pedi pra estar aqui, quer trocar de lugar comigo? Eu faço isso sem pestanejar...

- Você não vai me deixar em paz até dizer tudo o que quer, não é? Então vamos terminar logo com isso – Luiz entrou no elevador e ficou a espera de seu irmão que entrou com fúria visível.

Eram somente mais dois andares, mas o clima pesado entre os irmãos abafava até o ar dentro do elevador, uma lufada de ar fresco foi sentido por ambos quando finalmente a porta se abriu e eles saíram.

- Por que você está fazendo isso Luiz? Já não tem graça nenhuma você ficar com todas as minhas namoradas, eu nunca dei tanta importância porque...

- Nem foram tantas assim, mas se quer saber eu nunca fiquei com qualquer uma de suas namoradas e se elas não ficaram com você é porque nunca deu o valor que elas mereciam.

- A Laura é diferente!

- É verdade! Ela veio pra ser a nossa irmãzinha! É isso que ela tem que ser, não é?

- Diz na minha cara que você não está interessado, se é homem bastante pra dizer a verdade.

- Vou ser sincero já que está sendo delicado hoje! Eu gosto da Laura mais do que queria gostar e é ótimo ter um quarto bem ao lado dela, enquanto você fica se fazendo de coitadinho.

- Vai ser jogo duro? Então que seja, não vou desistir desta vez. Ela vai ser minha!

- Você está se escutando ou a doença já afetou o seu cérebro? Não sou tão confiante a ponto de achar que ela vai se apaixonar por mim, mas como pretende fazer isso, ham? Ela vai pro colégio todos os dias comigo enquanto você fica aqui brincando de doente. Vai deixar a autopiedade de lado e enfrentar os problemas de frente? – Luiz estava sendo cruel, mas queria sacudir o irmão para sair da letargia confortável.

- Eu volto pro colégio! – ele estava pálido, mas disse decidido.

- Ótimo! Eu só acredito vendo! Eu quero que me mostre o quanto está falando sério e o que está disposto a fazer pela Laura, Marco. Eu quero ver você amanhã com o uniforme do colégio lá embaixo. Se você tiver coragem pra fazer isso todos os dias, tem a minha promessa de que só a tratarei como uma irmã e me afasto. Só não pense que vai ser fácil porque fico até terminar o colegial – disse com um riso amargo – depois vou pra qualquer Universidade mais distante daqui. Satisfeito?

- E a troco de que faria isso? – Marco olhava-o surpreso, ele tinha se preparado para lutar e se desarmou.

- Pra comprar meu lugar no paraíso enquanto você desce pro inferno, seu imbecil! - eles ficaram se encarando por um momento e desataram a rir.

- Se eu sou um imbecil estou melhor, você nasceu idiota! – o riso foi morrendo até ficarem sérios novamente.

- Eu vou dormir, não perco por nada a cena em que você vai se borrar todo pra não ir.

- E eu vou adorar te ver quebrando a cara!

- Então... Até amanhã – despediu-se sem se virar.