Behind The Mask: Red, White And Black escrita por Assuero Racsama


Capítulo 2
Capítulo 1 - Riddle e Charriére


Notas iniciais do capítulo

Pode dizer que esse capítulo, na verdade, é um segundo prólogo... pois é nele que eu introduzo um dos personagens mais importantes da saga BTM. Curiosos? Leiam e comentem! XD



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Centro Penitenciário de Fresnes, Janeiro de 1955.

Morrer. Era tudo o que ele queria. Tudo o que ele mais ansiava. Tudo o que ele mais desejava. Uma morte miserável, indigna de ser registrada, com o seu cadáver sendo atirado em uma vala comum.

E, para sua inteira decepção, esse glorioso dia não chegava.

Por que, meu Deus, por que você não me mata de uma vez?, perguntou-se. Eu já não agüento mais isso! A sujeira, a podridão, a tensão e as torturas. Lembrou-se, para seu desgosto, do capitão Julian Deveraux, diretor do presídio e que costumava selecionar um prisioneiro por dia para torturar. Porém, mesmo com mais de 1200 prisioneiros como colegas, ele era o único torturado uma vez por semana.

Suspirou. Afinal, foi apenas um único erro. Mas que custara a sua liberdade.

Era um jovem qualquer, que fugira dois anos antes da casa de sua família, em Saint-Ettiene; nunca suportara o fanatismo religioso da tia, que era capaz de fazer qualquer coisa para manter a sua devoção e as dos seus familiares. Durante uma noite de tempestade, aproveitou que a tia havia ido à Igreja e fugiu de casa, viajando para Lyon.

Quando chegara à cidade, foi abordado por um grupo de garotos, que, como ele, haviam fugido de suas casas. Durante os primeiros dois meses, havia sido apenas mais um integrante qualquer, até assumir a liderança do bando. A partir daí, ele e seus colegas haviam imposto um reino de terror nas noites da cidade, cometendo roubos, assaltos, seqüestros e estupros. No seu auge, poucos meses antes da prisão, chegara a comandar mais de cem garotos, que o obedeciam cegamente. Até que cometera o único erro que não poderia cometer: demorar demais.

Estavam assaltando uma casa no centro da cidade e, enquanto alguns de seus homens mantinham o dono da casa, a mulher e a filha de 15 anos reféns, sob a mira de armas, ele e mais outros rapazes pegavam os objetos de valor que encontrassem na casa. Estavam prestes a saírem quando ele observou os reféns, centrando o olhar na garota. Ao ver o corpo dela, que tremia debaixo da camisola, ele sentira seu desejo falar mais alto: enquanto seus comparsas riam sem parar, ao mesmo tempo em que miravam os pais da menina (Que já estavam apavorados), ele estuprara a garota, várias e várias vezes. Insaciável, ele a obrigava a gemer, mesmo sabendo que ela estava sofrendo. E não pretendia parar nem tão cedo.

Até seu desejo acabar.

Até ela conseguir gozar de prazer e dor.

Ou, no caso deles, até a Polícia aparecer.

Ele se entusiasmara tanto com o corpo jovem e, ao mesmo tempo, adulto da garota que acabara ficando tempo demais na casa. Quando seu instinto de alerta falou mais alto, já era tarde demais: os policiais, liderados pelo capitão Deveraux, invadiram a casa; em questão de minutos, todos os rapazes estavam mortos, menos ele, que desmaiara depois de levar uma intensa surra dos policiais, do pai da menina e de Deveraux.

Preso.

O troféu da cidade.

Alvo de insultos e chacotas enquanto era transportado para a delegacia.

Assim que chegara à delegacia, foi empurrado em uma sala escura e atirado à uma cadeira de madeira sem vime. Foi torturado durante trinta minutos, levando golpes de corda no meio das pernas e, logo em seguida, atirado na cela mais imunda da cadeia.

Após um julgamento rápido, fora condenado a cinqüenta anos de cadeia. Foi quando, pela segunda vez na sua vida, fez algo estranho: após receber o veredicto, erguera-se da cadeira, furioso, retirando do bolso da calça esfarrapada um graveto que sempre carregava consigo, tendo roubado de um cadáver no meio do caminho para Lyon.

Se observarmos por esse lado, nem foi roubo, pensou, enquanto observava o chão sujo da sua cela. Afinal, o cara já estava morto quando eu encontrei aquele graveto! Ainda bem que eu o escondi no local mais improvável possível, pensou, com um tênue sorriso, enquanto retirava das cuecas encardidas o que seria um graveto com cabo de madrepérola. O fato é que, não sei como, um raio verde saiu daqui e, no segundo seguinte, todos os jurados estavam caídos no chão. Mortos!

Resultado: em um segundo julgamento, foi condenado à prisão perpétua, a ser cumprida na temida prisão de Fresnes, nos arredores de Paris. Isso tudo ocorrera apenas um ano antes, e parecia que havia sido ontem.

Mas, se ele achava que já tinha sofrido o pior na cadeia pública de Lyon, enganara-se: Deveraux conseguiu o cargo de diretor, apenas para torturá-lo sempre que podia. E, com o passar dos meses, ele começara a desejar a morte, que chegara perto dele várias vezes desde que pusera seus pés em Fresnes, principalmente quando adoecera de pneumonia. Porém, a maldita médica conseguira curá-lo.

Enquanto desejava a morte, no saguão de Fresnes, um homem esperava: havia requisitado uma visita. Vestido um sobretudo negro, apropriado para o frio invernal da Região Metropolitana de Paris, ele tinha um ar meio doentio: pele pálida, belos cabelos negros e olhos castanhos vivos, que miravam atentamente a entrada dos corredores prisionais. Sorriu quando um guarda, que parecia mal-humorado por estar em uma prisão gelada, saiu de trás da porta, estendendo um maço de documentos para o visitante. Assim que este o pegou, ele disse:

-Pode entrar, Monsieur Riddle, que outro guarda o acompanhará até a cela do prisioneiro Charriére.

-Obrigado. – agradeceu o homem, enquanto entrava nos corredores; outro guarda fazia um sinal para que o acompanhasse. Logo, os dois estavam andando pelos corredores lotados da prisão; Riddle observou muitos rostos que o encaravam das portas. Sorrindo, pensou na pessoa que visitaria: estava andando pelas ruas de Lyon havia quase um mês quando ouviu falar do julgamento dele, e das misteriosas mortes dos jurados. Quando ouvira a descrição do ocorrido, tivera que segurar um amplo sorriso que tentava aparecer no rosto pálido: era exatamente de uma pessoa assim que ele necessitava. Agora, ele jazia em uma cela imunda de Fresnes; porém, depois que ele recebesse o devido treinamento e o servisse lealmente, receberia as maiores honras possíveis.

Era somente uma questão de como tirá-lo da cadeia.

Quando eles chegaram à cela 1254, a mais afastada e escura de todas, o guarda bateu três vezes na porta e anunciou:

-Visita para você, Charrieré!

-Não quero ver ninguém! Suma daqui! – exclamou o prisioneiro, a voz irritada levemente abafada pela porta. Com um sorrisinho torto, o guarda virou-se para Riddle e disse:

-Aguarde só um pouco, por favor.

-Pois não. – respondeu Riddle, com um brilho nos olhos; já imaginava o que viria a seguir. E estava certo: assim que ouviu a resposta, o guarda entrou na cela. Menos de dez segundos depois, o homem ouviu o barulho de um chute em algo sólido, seguido de um gemido abafado. E a voz do guarda, sussurrando ameaçadoramente:

-Ou você recebe o homem direitinho, ou te levo agora mesmo para a sala do capitão Deveraux. Sabes muito bem que ele adora quando te vê. – concluiu, sarcástico. Atrás da porta, Riddle sorriu, satisfeito: notara que, em pensamento, o prisioneiro mandou o guarda tomar naquele lugar. Logo a seguir, o guarda reabriu a porta e disse:

-Pode entrar, Monsieur Riddle. Ficarei por perto para o caso de ele tentar alguma coisa.

-Obrigado, mas acho que isso não será necessário: eu sei me defender. – respondeu Riddle enquanto entrava na cela imunda. Assim que o guarda fechou a porta, ele direcionou o seu olhar para o prisioneiro.

Vestindo camisa e calça brancas (Originalmente; agora, os uniformes apresentavam uma cor que misturava o verde escuro e o marrom), com a barba por fazer e cabelos negros emaranhados, o prisioneiro fitou Riddle com olhos azuis brilhantes: a única parte do seu corpo que não parecia estar sem vida. Intrigado, ele perguntou:

-Quem é você e o que quer comigo?

-Ah, estava esperando por isso, meu caro Mathias Charriére. – comentou o visitante, fazendo Charriére arregalar os olhos de espanto. Boquiaberto, ele perguntou:

-Quem é você e como sabe o meu nome? Ninguém sabe!

Com um sorriso indulgente, Riddle se agachou até ficar cara a cara com o prisioneiro; segurando-o pelo queixo, olhou nos olhos dele e disse:

-Todos sabiam apenas o seu apelido, não é mesmo? Fantome. Muito original para um ladrão, se você quer saber. Mas, voltando ao assunto, Charriére, meu nome é Tom Servolo Riddle, e vim da Inglaterra.

-E veio fazer o quê nesse fim de mundo que é Fresnes? – perguntou Charriére, ainda sem compreender. Riddle ampliou ainda mais o sorriso:

-Eu saí do meu país há alguns anos, e passei a viajar pelo mundo, em busca de algo que muitos não desejam por serem tolos demais para aceitá-lo. Foi quando eu passei por Lyon, há quase um mês, quando eu ouvi falar de você. Eu ouvi tudo sobre o julgamento e, principalmente, sobre as mortes dos jurados que o condenaram. Foi por isso que eu me interessei. Me interessei tanto que decidi vir aqui, nesse fim de mundo, só para saber mais sobre você.

-E o que você quer saber de mim, Tom Riddle? – perguntou Charriére, não tentando ocultar seu desprezo; devia ser apenas mais um desses escritores que coletam histórias para transformá-las em livros.

-Quero saber como foi que você matou o corpo de jurados. Se não for com um graveto de madeira com cabo de madrepérola que você esconde nas cuecas, então eu gostaria de saber como. – concluiu o inglês, fazendo o prisioneiro arregalar ainda mais os olhos.

-Como... como você sabe disso? – perguntou, embasbacado, ao mesmo tempo em que retirava o objeto de dentro das roupas e o estendia para Riddle, que apanhou-o e analisou-o. Continuando a sorrir, o inglês respondeu com outra pergunta:

-Você sabe o que é isso, Mathias Charriére?

-Não. Nem me preocupei em saber. Mas sei que um raio verde pode sair daí.

-Esse raio causa a morte, como você já deve saber. – começou Riddle, com um ar professoral. E, com os olhos brilhando de forma sinistra, completou. – Ele só saíra se o dono assim ordenar... nem que seja em pensamento!

Charriére sentiu um arrepio: no julgamento, quando puxara o objeto das roupas, ele realmente havia desejado a morte dos jurados. E, só Deus sabia como, aquele raio verde saíra, matando todos. Ou melhor, ele sabia; só não sabia o que significavam aquelas palavras que haviam aparecido na sua mente àquele momento.

Riddle esperava; sabia que, em poucos momentos, o prisioneiro faria a pergunta que ele mais esperava. E, se ele aceitasse a oferta que pretendia fazer, estaria satisfetíssimo. Quando Charriére saiu do seu torpor, perguntou:

-Riddle... o que significa Avada Kedavra?

Sem conseguir ocultar o seu prazer, Riddle começou:

-Essa era a pergunta que eu tanto esperava, meu caro Mathias. Mas devo começar respondendo à pergunta que lhe fiz antes. Isso – ele ergueu o objeto, segurando-o pelo cabo – é uma varinha. E, se você foi capaz de matar doze jurados com a varinha, então devo lhe anunciar que você é um bruxo.

O prisioneiro arregalou os olhos de espanto e choque; não conseguia acreditar, aquilo deveria ser uma cilada do maldito diretor Deveraux, que tentava apanhá-lo em alguma coisa. Com a voz rosnada, disse:

-Não sabia que tinha habilidade para mentir, Riddle.

-E eu não estou mentindo. Olhe só. – Apontando a varinha para as barras da janela, ordenou. – Flipendo!

Charriére arregalou ainda mais as orbes: as barras explodiram diante de si, espalhando seus restos pela cela. Voltando o olhar para Riddle, perguntou:

-Como... como fez isso?

-Magia. – respondeu Riddle simplesmente. – Eu notei que você deveria ter poderes mágicos quando eu ouvi a história do julgamento. Mas tinha que vir aqui para saber se era verdade. Agora, eu sei que é.

-E o que você pretende com isso?

-Mathias Charriére, você gostaria de ganhar a liberdade? – perguntou Riddle, com um brilho ávido nos olhos.

***

-Diretor, socorro! O prisioneiro Charriére se rebelou e está matando, junto com os visitantes, todos os guardas! – exclamou o policial, assim que entrou no escritório de Julian Deveraux: estava com o rosto pálido, como se tivesse visto assombração.

-E como vocês ainda não os detiveram? – perguntou Deveraux, irritado, sacando a arma do coldre escondido por sobre o paletó.

-Eles simplesmente derreteram as balas com dois gravetos! – respondeu o homem; antes que o diretor replicasse, as vozes do visitante e do prisioneiro exclamaram:

-Bombarda! – a porta explodiu, espalhando poeira por todo o local. Antes que o guarda tentasse esboçar alguma reação, Charriére se adiantou, erguendo o que parecia ser um graveto, embora ostentasse um belo cabo de madrepérola, e perguntou para o visitante:

-Milorde, posso matar o Deveraux? Ele tem muitas contas a acertar comigo.

-Claro que sim. Eu cuido desse trouxa inútil. – respondeu o visitante, também erguendo um graveto como o de Charriére e apontando-o para o guarda. Com um sorriso maníaco, ele ordenou. – Avada Kedavra!

Um raio verde saiu do graveto e atingiu o guarda, matando-o na hora. Deveraux, que tentava manter o sangue-frio até aquele momento, decidiu agir: atirou três vezes em Charriére. Mas, antes que as balas atingissem o prisioneiro, o visitante apontou o graveto para ele e gritou:

-Incêndio!

Não somente as balas derreteram, mas o revólver também; de quebra, Deveraux sentiu queimaduras surgirem instantaneamente na mão direita. Soltando um urro de dor, largou o revólver e desabou na poltrona, soprando a mão ferida. Aproximando-se do diretor, ainda mantendo a varinha erguida e apontando-a para o velho desafeto, Charriére sussurrou:

-Como a vingança é doce...

-O... o que vocês querem?

-Eu quero um servo, meu caro diretor. – replicou o visitante, enquanto se sentava em cima da mesa. – E o nosso amigo aqui, vingança. Sabe o que fazer, Charriére?

-Claro, milorde. Sempre aprendi rápido as coisas. – completou, antes de exclamar uma palavra incompreensível para Deveraux. – Crucio!

Foi como se centenas de milhares de punhais finíssimos penetrassem no seu corpo, provocando uma dor mais do que insuportável. Sem notar, Deveraux começou a gritar feito um desvairado, suplicando que aquilo fosse apenas um maldito pesadelo. Fora da sala do diretor, os prisioneiros mais próximos, embora não compreendessem aquilo tudo, aplaudiam sem parar.

Quando Charriére finalmente baixou o graveto, Deveraux estava arquejante: jamais sofrera tanto quanto naquele momento. Aproximando seus lábios do ouvido do diretor, Charriére falou baixinho:

-Sabe, meu caro amigo... se pudesse, teria mais tempo para torturá-lo. Mas meu mestre exige que saiamos daqui logo, para que eu posso começar meu treinamento. Por isso, encerro a sua vida com estas palavras. AVADA KEDAVRA!

Deveraux não teve tempo de responder. Nunca mais teria tempo para nada nesse mundo.


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Notas finais do capítulo

Bem forte esse capítulo 1, hein? E olhe que o Mathias é tão perigoso quanto o Tom... mas ele também pode se revelar uma caixinha de surpresas. Aguardem!



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