E em menos de alguns segundos tudo mudou. Eu não me sentia a mesma e algo parecia me envolver e parte de mim gostaria de saber o que era. No fundo eu sabia. Era a minha ancestral dominando o meu corpo.

- Naara, você está bem? – Raoni perguntou realmente preocupado comigo.

- Estou. Só estou me sentindo tonta.

E então toda a cena de um mês atrás pareceu começar a se repetir. Mas consegui ter o controle de mim mesma de volta em poucos instantes. Só tive de me segurar em Luka para não cair de vez no chão.

- É ela. – sussurrei, convicta. Eu já havia caído no chão e via que Luka e Raoni estavam bem ao meu lado. Senti meu corpo se contorcer internamente e uma dor infernal me envolveu. A cada segundo piorava mais e mais e eu só implorava pelo fim desta.

- Precisamos salvá-la. – Raoni disse. Percebi uma falha em sua voz. Eu já não conseguia mais vê-lo e nem ao Luka com tanta nitidez e não sei se isso poderia ficar pior. – Antes que ela perca controle do próprio corpo, novamente.

- A união dos elementos. – Luka sugeriu. – Pode dar certo. Assim como também não pode funcionar. Não custa nada tentar.

-Nunca tentei algo do tipo e de todo jeito, iríamos precisar da Perséfone e da Izabel aqui para que der certo. – um momento histórico da humanidade: eles dois se ajudando com um propósito de salvar uma pessoa, o que só pode indicar que o fim do mundo não está tão distante assim.

- Não, vai demorar demais para elas chegarem. Temos de tentar agora. – Luka disse. – Antes que o pior aconteça e...ela acabe morrendo.

Mesmo que eu não estivesse enxergando direito, percebi que eles deram as mãos e iniciaram uma prece.

-Naara, tente se unir  a nossa conexão. – Raoni disse. – Não vai ser muito fácil para você conseguir, mas isso a tornará mais forte.   Tente

Sua voz, havia se tornado mais aveludada. Tentei, de todas as maneiras, fundir minha mente à deles dois, mas foi impossível. Agora eu sentia que estava perdendo de vez o controle de mim mesma e eu sabia que estava sendo tudo em vão.

- Seria mais fácil se você estivesse segurando a mão dela, sabe? É, acho que não sabe.  – Perséfone disse, o que de inicio os assustou, mas logo senti o alivio entre eles. – E se tivessem contando com a minha presença e da irritante garota que está ao meu lado.

-Nem sonhe com essa possibilidade. – Izabel rebateu.

-Só que você não tem escolha, garota. – Luka disse. – Você estará livre de males vindos de mim pelo resto da vida.

- Que seja.

Contra sua vontade, Izabel juntou-se a nós. Perséfone também veio e os quatro se uniram em um circulo em volta de mim. Não percebi de quem eram, mas duas mãos seguraram as minhas e uma cantoria se iniciou. A dor em meu corpo se suavizou à medida que a energia dos elementos  se atenuou em minha mente.

-O que...- minha pergunta, mal formulada, ficou solta no ar. Tentei me levantar, mas cai no chão novamente. Minhas pernas não estavam doendo, porém o esforço causou um pouco de dor. Luka segurou minha mão e me colocou em seus braços, tirando-me do chão. Olhei para Raoni que nos encarava, aparentemente com ciúmes. – aconteceu?

- Ah agora esse draminha todo vai recomeçar. –Izabel reclamou, revirando os olhos. -  Não era melhor terem deixado-a morrer ou ser possuída por seja-lá-quem-for ?Seria melhor para todo mundo.

 -Seria melhor para todo mundo se você calasse a boca de uma vez. – Raoni disse. Todos nós olhamos para ele, boquiabertos. Isso tinha acontecido mesmo? – Temos que sair daqui logo, não estou com um bom pressentimento

- Eu também não – Perséfone concordou. – É noite de lua cheia e estamos numa floresta. Qualquer coisa pode acontecer aqui. Aliás, o que eu vim fazer aqui mesmo?

- Se você não sabe como vou saber? – Izabel disse.

- Quietas, as duas. – murmurei. - Eu posso tentar controlá-lo. Fiz isso da ultima vez, se bem que é melhor tentar sairmos logo daqui.

-Tem certeza disso? – Luka perguntou, especialmente para mim, pois ele sussurrou em meu ouvido.

- Sim. – respondi, falando um pouco mais baixo do que ele.

Todos nós começamos a caminhar um pouco rápido. Não podíamos ir muito rápido por minha causa e eu sabia que isso poderia nos prejudicar.

-Eu quero andar também. – disse eu, com firmeza. Eles pararam de andar e olharam para mim, todos com os olhos arregalados. – Isso vai nos atrasar ainda mais e eu não quero que o pior aconteça com nenhum de vocês então é melhor confiar em mim.

- Mas Naara...- Luka e Raoni protestaram ao mesmo tempo.

-Confiem em mim. Por favor. – encarei Perséfone como se pedisse o apoio dela, mas Izabel falou antes que a outra pudesse pensar.

-Pode parecer estranho, mas eu tenho que concordar com essa daí. – ela falou, tive vontade de bater nela mas nem poderia fazer isso já que ela era a única que estava me apoiando. – Larguem ela de vez

Luka relutou, mas lentamente me colocou no chão. Começamos a andar e depois nossa passada aumentou quase se transformando em uma corrida.

Ao mesmo tempo, paramos e congelamos (não literalmente, é claro), ficamos plantados ao chão como arvores.  Não sei dizer em qual de nós a reação foi pior, mas pelo menos eu agradeci mentalmente por ter feito com que me deixarem caminhar. Se não tivessem feito isso ainda estaríamos no meio da floresta, o que seria bem pior para nós.Um arrepio percorreu minha espinha ao ouvir o uivo de um lobo. Izabel começou a chorar como uma criança (nenhuma novidade nisso) e agarrou-se a Raoni. Perséfone e Raoni eram os que pareciam estar se sentindo os menos piores do grupo.

- O que faremos? – perguntei, sussurrando novamente. Todos pareceram me ouvir muito bem.

- Correr e nos preparar pro pior. – Luka respondeu não muito seguro disso. Se bem que ele não era o único. – Ou  podemos ficar aqui e enfrentar o lobo. Se ele nos atacar, teremos forças suficientes para nos defendermos e talvez até matá-lo.

- Eu fico com a primeira opção. – Izabel disse, agora chorando mais alto que o normal. Minha vontade de bater nela havia aumentado, mas eu não podia culpá-la. No fundo (ou talvez não tão fundo assim) eu também estava apavorada. Porém a reação dela já estava me dando nos nervos.

- Concordo com ela, infelizmente.- Perséfone falou. -  Por mais que se saiba quem é o lobo, ao se transformar em lobisomem o antes humano se esquece de quem é. Isso aumentaria o perigo pro nosso lado.

- Você sabe quem é o lobo? – perguntei a ela. Ela assentiu que sim com a cabeça. – E quem é?

- Dá pra acabar com o papinho e entrar em cena o nosso plano de ir embora por favor? – Izabel implorou. -  Não estou com vontade de virar espetinho de lobisomem.

- Teria de ser um lobisomem muito idiota ou louco para querer te comer. – Luka disse o que me fez rir. Izabel mostrou a língua para ele. A criatura recebe um elogio desses e ainda se sente ofendida. Vá entender – Sem ofensas.

-Eu não esqueci do que perguntei. – olhei para Perséfone. – Quem é o lobo?

-Eu só conto se o Raoni concordar em dizer. – ela brincou com uma mecha do seu cabelo.

- Até o Raoni sabe? – questionei, o que era até uma coisa obvia. Se ele soubesse é claro que a Perséfone saberia também. Que idiota eu.

-Já passou da hora de ela saber. – ele falou, evitando olhar para nós duas.

-Ah, por favor, deixem de drama e contem de uma vez a ela. – disse Izabel com a voz chorosa. – contem a Naara sobre a verdade – ela olhou especialmente para mim, e eu percebi que seus olhos ainda estavam cheios de lágrimas. Raoni e Perséfone ainda hesitavam, ambos evitando olhar para mim. Luka parecia fazer o mesmo, mas creio que ele não tinha idéia do que estávamos falando. – Ótimo, se não vão contar eu digo. O seu amiguinho Brian é um lobisomem. Não qualquer um, ele é o que está na floresta nesse exato momento fazendo sei-la-o-que.