Primeira Canção escrita por Gaby Soares


Capítulo 6
Definição confusa




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Era o primeiro dia de Bella com roupas diferentes. Era o primeiro dia de Bella com um estilo diferente. Era o primeiro dia de Bella tentando ser uma pessoa normal.

Ela se levantou sedo aquele dia, ainda estranhando a falta dos moletons que a envolviam toda manha, ao invés disso, estava o algodão claro com apenas alguns desenhinhos pretos. Sentou-se na cama e esticou seu braço em direção à luz do Sol, sorrindo com o pensamento de que ela iria tentar ser uma pessoa diferente. Já havia gratificado Alice por ter sido tão tosca todos esses dias. Agora faltava o resto.

Levantou-se disposta a fazer tudo diferente. Tomou um banho relativamente rápido. Passou seu creme preferido de morangos e pela primeira vez em anos colocou um short jeans largo com uma bela regata branca com rendas. Escutou o toque de mensagens do seu celular e levantou-se rápido para atender antes que acordasse o resto da casa – se é que eles já não estivessem acordados. Viu uma mensagem de Alice que a animou pelo resto do dia. Pensou se teria levantado com o pé direito e repassou internamente os seus movimentos esta manha enquanto lia.

Uma volta na praia essa tarde? ;-) A.

Desceu depois de responder positivamente a mensagem na ponta dos pés, já que, como ela havia previsto, ninguém estava de pé a àquela hora da manha. Foi fazer o café da manhã bem caprichado, mais como uma forma de se redimir por estar tão ausente todo esse tempo. Parou para pensar e revisou todas as suas atitudes por esse tempo que estivera aqui. Não havia se dirigido a palavra nem uma vez para seu pai. Nem mesmo o dia que estivera de bom humor e por um milagre fez um maravilhoso bolo de iogurte para Felipe.

Não sabia como o seu pai gostava do café então fez forte e doce, como ela gostava. Saiu de casa cedo para comprar pães doces, como seu irmão preferia. Voltou alguns minutos depois com um jornal que havia comprado na esquina. Ainda não tinha ninguém acordado. Esquentou o leite e deixou sobre o fogão, e, se eles preferissem, também teria suco de laranja natural em cima da mesa de madeira bruta.

Encostou-se na bancada e esperou os homens da casa acordar. Alguns minutos mais tarde seu pai desceu calmamente e bocejando alto, esticando longamente os braços, pensando estar sozinho. Por um segundo Bella se perguntou se não seria melhor sair sem ser vista. Seria difícil conversar com o pai sozinho. No mesmo momento que pensava isso ele a viu. Agora não tem volta, pensou. Mas ele se adiantou.

– posso conversar com você? – Bella apenas balançou a cabeça sentindo uma secura repentina na garganta. – você... – ele parou para pensar um pouco. – mudou. – disse enfim. – e eu... Gostei muito dessa mudança. Sei que minha opinião não importa muito pra você, mas se isso for uma tentativa de se tornar uma pessoa melhor... – ele ergueu os olhos e a encarou profundamente. – eu estou orgulhoso de você.

Ela se paralisou por um momento enquanto seu cérebro tentava processar todas essas informações, logo depois ela sorriu timidamente se perguntando se aquilo era um sonho. Mas não, não era. Seu pai realmente era uma pessoa muito melhor do que jamais poderia ser.

(*) (*) (*)

Ela nunca havia pensado sobre o amor. Pra ela isso era apenas uma palavra normal que escritores haviam inventado para caracterizar a vontade de duas pessoas – ou mais – de estarem perto uma das outras. Na sua percepção isso era para iludidos. Não achava que uma pessoa podia se prender a outra de forma irrevogável. Era passageiro, nunca aconteceria com ela.

Por ter sido tão descrente não havia pensado sobre paixões, nunca havia verdadeiramente se apaixonado, todas as suas aventuras, nunca haviam passado disso, aventuras. Não tinha estabelecido um conceito satisfatório para isso, como qualquer outra garota da sua idade já teria feito. Não tinha planos de se casar, nunca ao menos tinha pensado para pensar nisso. Nunca ao menos havia parado para refletir sobre sua relação com Renée. Portanto, parcialmente, não sabia o que era o amor.

Pensava nisso enquanto caminhava pela areia branca da praia da praia lotada com Alice. Ambas estavam caladas e nenhuma tinha a intenção de interromper o silencio. Portanto Bella se viu livre para continuar em seus devaneios.

Não tinha irmãos, então não sabia como era o envolvimento por laços genéticos ( que não fosse paternos e maternos). A maioria de suas amizades eram superficiais, apenas Alice ou Ângela ocupavam um lugar especial em seu coração. Perguntou-se se era que significava o amor, ter uma pessoa que estava acima de tudo em sua vida.

Parou para pensar no que sentia por sua mãe. Pensou em todas as vezes que sussurrou um baixíssimo “eu te odeio” em seu ouvido enquanto se abraçavam para construir uma falsa imagem de família perfeita. Isso acontecia frequentemente, quando Bella ia se despedir para uma viagem longa na frente de algum parente ou vizinho. Apesar da péssima relação não era freqüente os gritos ou xingamentos, apenas as respostas e desobediência, como se isso fosse pouco. Pensou nas vezes que voltava as cinco da manhã de uma festa, ou porque simplesmente queria afrontar a mãe. Os dias que falta à aula (na maioria das vezes estudava do mesmo jeito só que na biblioteca publica, ela não queria que sua vontade de chamar a atenção afligisse suas notas ou seu futuro, apesar de que na época não estar muito ligada nele). Balançou a cabeça, tentando se livrar de tais pensamentos, mas, por mais que tentasse, as imagens das brigas vinham lívidas em sua cabeça, como se estivessem sendo vividas ali, bem agora.

Concentrou-se na areia que deslizava sobre seus pés. Sua mãe sem duvida a amava, para aturar tudo que Bella aprontava, talvez, pensou, fosse isso o amor, a precisão de estar por perto, ou talvez fosse outras coisas além de aturar defeitos, continuou. Tudo era muito confuso, tentou evitar o raciocínio por um momento e apenas curtir a brisa leve de fim de tarde.

Virou-se para a amiga, e ao encontrar com os olhos claros que reluziam à luz laranjada no pôr-do-sol maravilhoso que acontecia, teve vontade de achar uma definição não clichê para essa palavra, apenas para falar com todas as letras, palavras, silabas e entendimento que a amava. Alice a encarou e sorriu, mas tinha algo de errado naquele olhar, tinha algo triste ali, que não combinava com aquele rosto risonho que a amiga sempre exibia.

– Bella, eu estive pensando… será que nós poderíamos ir a um lugar… importante pra mim? Por favor? – ela olhou no fundo dos olhos de Bella, suplicante. – eu não sei, senti uma enorme vontade de ir a esse lugar agora. É como se algo me puxasse naquela direção. E quero ir lá apenas com você.

–tudo bem.  – ela disse dando de ombros e pensando que aquilo não faria mal nenhum.

Andaram trocando comentários sobre a paisagem. Tudo parecia muito surreal. Em alguns minutos elas entraram em uma parte da praia que era deserta. A areia era mais fina e o mar mais azul. Talvez fosse apenas uma ilusão de ótica muito agradável, mas se toda miragem fosse essa Bella com toda a certeza gostariam de tê-las mais vezes. Mas Alice sabia que aquilo era real, que estava de frente para a praia mais bonita que já estivera em toda sua vida. A que marcara sua adolescência de maneira memorável.

O sol continuava sua caminhada preguiçosa para dar espaço à noite, o mar guardava ondas calmas que se quebravam em uma espuma branca ao chegarem mais perto do raso. A areia branca e fina fazia cócegas nos pés nus das moças. No lado contrario ao mar árvores frondosas, altas e antigas se postavam, algumas se inclinaram sobre a praia formando uma espécie de arco ao leste.

Sentaram-se no alto das pedras colocadas acidentalmente em lugares perfeitos ao norte, cada uma absorta em seus próprios pensamentos. Por um segundo, Bella se perguntou o porque de ambas estarem tão caladas daquela forma. Mas se deu conta de que o silencio não era incomodo, pelo contrario, dava-a tempo para pensar.

Alice encarou o mar, com as mãos ao redor dos joelhos e com expressão concentrada. Bella queria perguntar o que estava acontecendo com a amiga. Era seu dever saber. Mas não encontrou nada para dizer. Não era muito boa com palavras. Vendo os olhos dela, encontrou uma ruga que não estava presente nos outros dias que se encontrou com a amiga.

Sentia que a amiga estava feliz apenas por ela estar ali, por poder compartilhar aquele momento. Mas Bella achava que era pouco, que devia fazer mais. Continuou a encarar Alice, com olhos atentos a qualquer mudança, mas ela estava muito imóvel, e acabou por não encontrar nenhuma mudança nos próximos trinta segundos. Tentou, pelo contato visual, de alguma forma, mesmo sabendo que era impossível, ler sua mente por um instante e saber o que tanto a afligia.

Alice a encarou por um momento, forçando um sorriso amarelo, que saiu mais triste que o planejado, ela retribuiu complacente, ainda pensando o que estava acontecendo. No instante em que os olhos de sua amiga desviram dos seus um olhar de surpresa parou sobre Alice. De primeiro momento essa foi a única expressão evidente em seu rosto, depois veio a alegria, quando um sorriso enorme, que com certeza não estava ali há alguns minutos atrás iluminou seu rosto.

Bella seguiu seu olhar, e não podia ter tido uma visão melhor. 


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Notas finais do capítulo

*agora, é a vez de vocês: O que é o amor?
*o que será que fez Alice quase pular de alegria?
Mistéééééério!!!! *-*
Proximo cap em breve!