Adentrei silenciosamente, tentando não ser vista, no Salão Comunal da Sonserina. Era totalmente diferente do que eu estava acostumada. Era imenso e frio, onde nem mesmo o fogo verde, que crepitava lentamente na lareira, aquecia.

Ainda estava cheio, mesmo que fosse quase 1 da manhã. Todos conversavam em um tom baixo, porém, suas vozes ainda ecoavam. Logo que entrei, a maioria dos olhares se voltou para mim. Tudo o que eu menos queria.

Tudo se silenciou e senti um calafrio percorrer pelo meu corpo. Permaneci parada, como uma completa idiota que eu era. E em meio ao silêncio, uma menina baixinha de cabelos verde limão se aproximou de mim.

- Hey! – exclamou sorridente. Seu rosto era delicado e seus olhos eram grandes envoltos por uma doçura – Michelly Christinny?

Engoli a seco e balancei a cabeça minimamente.

- Sou Suzannah Rowle – falou – Pode me chamar de Sue.

- Oi... – murmurei sentindo minha respiração se tornar pesada com os olhares de todos do Salão Comunal, sobre mim – Eles são... Sempre assim? Quer dizer... Qual é o problema deles?

Sue soltou uma risada de prata. Parecia uma fada.

- Não... Só estão curiosos – ela me puxou em direção a escada do dormitório feminino. Meu corpo se colidiu com outro e minha mão se soltou da mão de Sue.

Olhei para cima, dando de cara com uma garota alta que mais parecia um gorila.

- Oh céus – arfei recuando um passo.

- Algum problema? – sua voz era grave, porém, falava com naturalidade sem o tom rude.

- Na-não... – gaguejei – Problema nenhum...

- Vem Myh! – Sue novamente me puxou pela mão em direção as escadas. O gorila... Quero dizer... A garota me seguiu logo atrás.

Adentramos em um dos quartos e fechamos a porta.

- Pode ficar com essa cama – Sue saltitou em direção a cama perto da janela, onde meu malão estava.

- Hm... Obrigada – murmurei e olhei de relance para o gorila... Quer dizer... A garota.

- Prazer... – ela me estendeu sua mão grande – Sou Amanda. Amanda Parkinson.

- Oi... – apertei sua mão com medo de que ela a esmagasse – Sou...

- Michelly Christinny – completou Sue que até aquele momento saltitava por entre as camas vazias – Todos sabem… A aluna transferida de Beauxbatons. O diretor Dippet anunciou seu nome. 3 vezes.

Enquanto ela tagarelava, seus cabelos mudavam de cor. Uma hora, azul celeste, outra verde limão e no final, se tornou laranja berrante. O quarto estava escuro, mas mesmo assim as cores fortes de seus cabelos reluziam como neon.

Sue parou de saltitar e me fitou sorrindo de orelha a orelha.

- Sou Metamorfomaga – falou ao ver minha expressão confusa.

- Hm... legal – sorri.

- Olha... Sei imitar o sorriso do Prof. Slughorn – ela falou enquanto sua boca logo se abria em um gigante sorriso falso. Amanda e eu rimos em sincronia.

Minha noite fora mal dormida. Remexia-me inquieta na cama, enquanto a luz da lua batia diretamente em meu corpo. O quarto estava em um completo silêncio e escuridão, onde ouvia-se apenas as respirações calmas de Sue e Amanda. Adormeci sentindo no ar a fragrância do perfume caro de Amanda.

Não apenas aquela noite, como quase todas da semana que se passou, em que eu mal dormia. Não era por falta de sono.

Em segredo, costumava sair do Salão Comunal e observar de longe, Tom Riddle em suas rondas. Não era por vontade própria que eu fazia aquilo... Era por obrigação. Quando eu me lembrava de em que ano eu estava, me lembrava também do meu motivo de estar lá. Então, toda manhã em que despertava e olhava sempre para o calendário posto ao lado da cama, lembrava-me de meu propósito em estar lá.

Na manhã se sexta-feira, sentei-me sonolenta perto do Saguão onde dali podia ser visto o corredor abarrotado de pessoas. Escorei minha cabeça na pilastra e senti meus olhos pesarem.

- Aposto que se não estivesse me observando toda noite, suponho que não estaria com sono, Srta. – uma voz soou atrás de mim, me sobressaltando. Virei-me rapidamente e lá estava o meu diabo particular. Seus olhos, naquele momento, estavam verdes – Da próxima... Tente ser mais discreta.

- Do que esta falando, Riddle? – perguntei tentando fazer minha voz sair de forma fria, mas só consegui fazê-la sair de forma arrastada.

Ele soltou uma risadinha, enquanto se aproximava fazendo sua capa preta esvoaçar com o vento.

- Posso me sentar aqui? – perguntou sem sequer me fitar.

- À vontade – dei de ombros e observei seus movimentos majetosos ao sentar ao meu lado, com certa distância.

- Lembre-se de que a passagem secreta do Salão Comunal da Sonserina, produz um rangido ao se abrir – falou com formalidade fitando algo distante - Mas isso não vem ao caso, no momento. Vim tratar de outro assunto com a Srta.

- Diga... – murmurei.

- Por que diabos você me observa toda noite? – perguntou sem mudar o tom de sua voz e até mesmo a expressão de seu rosto.

Oh! Droga! Sabia que ele faria aquela pergunta. E então por que eu até aquele momento, não havia pensando em uma resposta descente?

Engoli a seco, tentando colocar minha mente para funcionar.

- Por quê? – repeti a pergunta – Ora... Por que... Sue queria que eu o... Vigiasse.

- E por que ela quis que você me vigiasse? – sua pergunta possuia um toque de deboche, como se ele estivesse ironizando-a.

Me desculpe, Sue.

- Por que ela gosta de você – soltei a primeira coisa que me veio a cabeça.

- VOCÊ O QUE? – ela perguntava aos berros. Estávamos em pé no meio do dormitório, enquanto Amanda assistia tudo aquilo em silêncio sentada na beirada de sua cama.

- Eu... Eu não tinha outra resposta! – exclamei.

- Christinny... – ela fechou os olhos e seus cabelos, de uma forma surpreendente e incrivel, começaram a mudar de cor em uma rapidez constante – Agora, me responda... O que diabos você estava fazendo ao ficar observando Tom Riddle?

- Sue... Não posso contar – supliquei – Não posso! Juro que se pudesse eu...

- Espere! – ela abriu os olhos e brevemente, o sorriso de fada se formou em seu rosto – Não me diga que...

Seus grandes olhos ganharam mais brilho e se tornaram violeta, seus cabelos ganhou a coloração vermelho vivo e o sorriso em seu rosto parecia aumentar cada vez mais. Eu sabia, de alguma forma, o que aquilo significava.

- Oh, não... – recuei um passo – Se você esta pensando nisso, pode ir parando! Claro que não!

- Por que não? – ela saltitou até mim – Ele é bonito e misterioso. Mesmo que eu o odeie!

- Por que você o odeia?

- Nem adianta mudar de assunto! – ela me cortou – Vamos, confesse Christinny... Você gosta dele...

- Por que você não acredita em mim? – perguntei – É óbvio que não estou gostando dele... Se quer mesmo saber a verdade... Nunca me apaixonei e então, se eu estiver gostando dele, posso não ter percebido...

- Então você admiti que esta gostando dele mesmo que você não saiba disso? – a pergunta saiu de forma rápida de sua boca e por pouco, não conseguira entender.

- Não! – exclamei e a segurei pelos ombros – Escute! Eu-não-gosto-dele!

Ela suspirou teatralmente, enquanto se afastava.

- Tudo bem, tudo bem – ela abanou a mão – Quem sabe um dia, não é mesmo?

- Suzannah! – eu a repreendi e ela gargalhou junto de Amanda.

- Parei – ela levantou os braços em forma de rendição enquanto abria a porta do quarto – Tenho que ir... Vejo vocês no almoço.

E dizendo isso, saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Um silêncio se instalou no quarto.

Mal conhecera Suzzanah e Amanda e as duas já pareciam ser minhas melhores amigas.

- Ela esta certa – a voz grave de Amanda soou e eu a fitei.

- Até você? – perguntei suspirando cansadamente. Sentei-me na minha cama e apertei meu travesseiro nervosamente.

- Não quer me contar o verdadeiro motivo? – ela perguntou e eu suspirei novamente.

Naquela semana, eu havia aprendido uma coisa. As aparência enganam. Amanda era como uma versão feminina de Gregório Goyle e Vincente Crabble, porém, ela possuia um bom coração. Sabia que podia contar com ela, pois ela não era uma maluca como Sue. Amanda era uma boa amiga.

- Posso mesmo contar a você? – perguntei e ela confirmou com a cabeça, sonelemente.