- Sonserina? – a voz grave do Chapéu se perguntou. Minha respiração estava pesada e minhas mãos suavam, os malditos coelhinhos voltaram a saltitar de dentro do meu estômago – Por que não? Grifinória? A coragem realmente se destaca em você, porém, a força de vontade é de Slytherin...

- Sonserina... – sussurrei enquanto trocava um olhar intenso com Dumbledore, na mesa dos professores.

- Tem certeza? – perguntou ele e olhei para os meus pés.

- Preciso disso... – sussurrei – Preciso cumprir essa missão...

- Sendo assim... – ele continuou em um tom mais alto – SONSERINA!

Aquela fora minha sentença de morte. Não que eu fosse dramática – aliás, eu era. E muito – Mas ir para a Sonserina era como se eu estivesse indo para o inferno e o meu diabo particular seria Tom Riddle.

Suspirei, enquanto saia do banquinho e tirava o chapéu. Andei lentamente para a mesa que aplaudia alegremente – e falsamente. Eles abriram espaço e eu me sentei hesitante. Estava naquele momento no ninho das cobras. Sabia que a qualquer momento poderiam dar o bote e... Do que eu estou falando?

Sacudi a cabeça minimamente, concentrando meus olhos no dourado do prato reluzente a minha frente.

Concentrei-me nas pontadas agudas em meu peito que com os meses me acostumara. Era constante e incessante. No começo, era insuportável mas com o tempo se tornara rotina, parte de mim. Por vezes, costumava ouvir as batidas arrastadas de meu coração, contando cada batuque. Aquilo me distraia.

O tempo passara rápido, enquanto o banquete ocorria, permanecia em silêncio tentando não perder a conta dos batimentos cardíacos do meu coração.

- Hey! – 170... Levantei o rosto e olhei para a minha frente irritada, por alguém me fazer perder a conta. Um Malfoy, fora a primeira coisa que me veio à mente. Rosto fino e reto, cabelos platinados como os de uma Veela, olhos tempestuosos e um sorriso típico – Sou Abraxas Malfoy.

Ele me estendeu a mão, por sobre a mesa. Lentamente, apertei levemente seus dedos e recolhi minha mão. Seu sorriso se alargou.

- De que família você é? – mal começamos a conversa e essa fora a sua pergunta.

- Legrand... – murmurei – É francesa.

- Nunca ouvi falar mas... Com certeza, meu pai, Brutus, sim – murmurou – Aliás... Qual é o seu nome?

Ele sabia o meu nome e por algum motivo desconhecido – ou não tão desconhecido assim – tentava puxar assunto com a ex-lufana fracassada.

- Michelly Christinny – respondi automaticamente e ele sorriu.

Já se passara horas desde que acabara o banquete, porém, eu perambulava pelos corredores. Não me importava se eu tomasse uma detenção... Nada mais me importava.

Então era isso? Eu iria ter que me “aproximar” de Tom Riddle? Por que dizer isso era tão simples?

- A Srta deveria estar em seu Salão Comunal – uma voz um tanto fria soou detrás de mim – Já passa do toque de recolher.

- Tanto faz – murmurei e finalmente, virei-me em sua direção. E então, eu congelei.

Eu não congelei por que o garoto a minha frente era estranho, nem por que ele usava um broche de monitor-chefe, e muito menos por que ele possuía cabelos escuros e olhos profundo que o deixavam belo, de uma maneira intrigante. Não... Eu congelara, quase que literalmente, por que aquele a minha frente era Tom Riddle.

Ah! Sim... Grande irônica não? Estar de frente para o assassino de meu irmão... De frente para um garoto comum, bonito... Mas que futuramente ele seria um bruxo temido e odiado. Ironia... Maldita ironia!

Minhas mãos automaticamente se fecharam em punhos, e eu me perguntei o que estava havendo. Em seguida, um ódio... Um rancor... Uma mágoa se ativou de dentro de mim. Eu o fitava, fitava e me lembrava nitidamente de meu irmão... De seu corpo caído na grama... Frio... Pálido... Morto. Saber que aquele a minha frente, era o que me causava aquilo... Alimentou ainda mais o meu ódio.

Queria poder confrontá-lo, poder matá-lo ali mesmo... Poder chorar em seguida por eu ter tirado a vida de um rapaz inocente que nem sequer sabia que futuramente seria um sádico e assassino. Ele era belo... E aquilo de fato acalmava o meu ódio, pois eu me perdia na profundidade de seus olhos negros como a meia-noite.

- Ah, sim – murmurou sem mudar a expressão de tédio em seu rosto – A aluna nova.

- Michelly Christinny... – forcei minha voz a sair.

- É… Dippet anunciou você no banquete – falou enquanto girava a varinha distraidamente nos longos dedos – 3 vezes.

Involuntariamente, estendi minha mão a ele. E quando percebera o que fizera, já era tarde demais, eu já havia dito as palavras.

- Prazer... – nenhum, completei mentalmente.

Ele me fitou por longos minutos com a mesma expressão. Frieza e tédio.

Suas mãos ainda brincavam com a varinha, enquanto seus olhos negros me fitavam como se enxergassem sua alma, igualmente a Dumbledore. Porém, os olhos de Tom Riddle me incomodavam, me incomodavam de tal forma que sentia algo inquieto de dentro de mim.

Houve um silêncio de muitos minutos, que para mim se arrastaram como se fossem horas. Eu o fitava desafiadoramente, e ele sustentava meu olhar. Por fim, ele parou de girar a varinha e lentamente me estendeu a mão. Esse movimento bastou para que eu desse um pulo para trás, esperando que fosse a Maldição da Morte que sabia que ele logo iria me jogar.

Ele me fitou de uma forma mista. Diversão, desdém e curiosidade.

- Tom Riddle – murmurou por fim quando apertei levemente sua mão – É um prazer conhecê-la, Srta. Legrand. Acho melhor ir para a cama – falou como se eu fosse uma doente mental com sérios problemas degenerativos, ou apenas uma criança.

E quando ele finalmente se afastou, eu me lembrei de uma coisa.

Eu era a Srta. Legrand.