Steiner e Meminger escrita por Mrs Jones


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Não me matem. A culpa é do Destino que gosta de pregar peças...



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– Liesel...

Sabe o que você veria ao entrar no quarto da Menina Que Roubava Livros, neste exato momento? Você a veria sentada, olhando pela janela.

Chegando mais perto, você conseguiria enxergar a dor em seus olhos. Você poderia gritar bem alto, poderia sacudi-la, poderia arrastá-la do quarto... Sabe o que ia acontecer? Nada! Ela estava morta por dentro... E estando morta era incapaz de responder...

Chame-a quantas vezes quiser. Ela vai permanecer muda. Surda. E cega.

E lembre-se... O mundo acabou para ela... Sua vida acabou...




– Liesel... Você não pode ficar aí sentada o dia todo. Você precisa se alimentar...

Papai, Mamãe e Max aparecem de vez em quando para vê-la. Não se alimenta desde que soube da notícia. Não tomou banho. Não chorou. Seu corpo era incapaz de reclamar. Ela não sentia fome. As lágrimas não vinham. Um grito estava sufocado na garganta. Seus ouvidos eram incapazes de ouvir qualquer coisa. Ela só escutava o ecoar da notícia. O rádio agora repousava na mesinha do prefeito. Estava desligado, mas se mantinha vivo na cabeça de Liesel. Era um pesadelo! A voz no rádio só repetia a mesma coisa. Seus olhos viam a paisagem pela janela. Era Molching lá fora. Mas ela não conseguia ver. Só enxergava seu rosto... Seu amado Saukerl...




Quando Mamãe e Papai dormiram, Liesel sorrateiramente saiu de casa. Antes, pegou na cozinha uma faca bem afiada.

"Me perdoem pelo o que vou fazer", ela pensou. Conseguira sair do estado em que se encontrava. Agora já era capaz de ver. De falar. E de ouvir. Mas não dissera nada a ninguém. Durante meses...

Desde o dia da notícia, ela não era a mesma. A Livraria Himmel ainda funcionava, mas era Max quem colocava ordem nas coisas, sempre solitário e preocupado.

Quanto ao livro, sua história... Ela fora capaz de escrevê-lo do início ao fim. A dor era aliviada quando ela escrevia.

A Menina Que Roubava Livro jamais foi a mesma.

Aqueles meses sentindo a dor que ela sentia... Aquilo precisava acabar... Ela não suportava mais. Sabia que precisava viver. Ela tinha os pais adotivos. Tinha Max. Se matando, estaria matando uma parte deles...

Mas aquilo definitivamente precisava acabar...




"Perdão.

Eu não gostaria de causar dor a vocês, mas não posso viver com a dor que estou sentindo. Estou indo me unir a ele. Tenho certeza de que ele foi para um lugar bom. Talvez agora eu saiba como é o Céu. E se existe mesmo um Paraíso.

Mamãe, a senhora foi maravilhosa. Me acolheu como se eu fosse uma filha. Sei que não posso ocupar o lugar de seu filho. Talvez eu o encontre quando chegar lá... Só quero dizer que a amo.

Papai, o senhor foi muito bom todos esses anos. Você me aceitou na sua casa, na sua vida. Me deu de presente uma livraria. Nunca poderei lhe agradecer por isso. Eu o amo como se fosse meu verdadeiro pai.

Max, vou sentir falta do seu cabelo. Da sua companhia. Sei que você irá sofrer, mas peço o seu perdão. E também, espero reencontra-los. Todos aqueles que perdi. Meus pais biológicos, meus pais adotivos, meu irmão... Meu Saukerl...

Eu amo vocês. Perdoem-me. E por favor, não deixem de ler o meu livro. A minha história. Sobre a minha cama, encontra-se um livro: A Menina Que Roubava Livros. Uma lembrança minha..."




A carta fora deixada sobre a mesa de cabeceira dos Hermann. Liesel os olhou pela última vez. Adeus.


"Vi a morte três vezes. Na primeira vez, ela levou meu irmão. Na segunda vez, ela levou um desconhecido. Na terceira vez levou meus pais adotivos e meus vizinhos da Rua Himmel.

Não esperava encontra-lá uma quarta vez. Mas ela levou meu melhor amigo e aquele que eu amo. Sendo assim me sinto na obrigação de encontra-lá mais uma vez. Esta será a quinta e última vez. Pelo menos nessa vida. Será que existem outras? Ainda não sei se acredito em reencarnação..."

Assim se iniciava o livro de Liesel Meminger. Ela não esperava que fosse publicado depois de sua morte, mas sabia que necessitava ser lido. Ela perdera uma parte de sua história uma vez. Não perderia de novo.




No Amper, A Menina Que Roubava Livros segurava uma faca. O vento frio a balançar seus cabelos loiros. Vestida de branco. Pronta para seguir seu caminho.

– Você se lembra? Mergulhou na água gelada para salvar meu livro... Você disse: "Que tal um beijo, Saumensch?". Agora sou eu quem digo, Saukerl. Que tal um beijo? Mas você não está aqui... Me perdoe, Jesse Owens. Eu devia ser mais forte, deveria superar... mas eu te amo e estou indo a seu encontro...

Ela se sentou no chão frio. Admirou a faca por uns instantes então cortou os pulsos. O sangue a manchar seu vestido...

– Eu te vi quatro vezes - disse como se a Morte pudesse ouvi-la - Chegou a hora de nos encontrarmos pela quinta vez. Venha me buscar. E por favor, não demore...



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Notas finais do capítulo

Não parem de ler, por favor. Esta história não termina assim...