The Charms Of Life escrita por Kim Jay


Capítulo 6
Estranhas Descobertas - Matthew


Notas iniciais do capítulo

Weeee!!! Finalmente vamos descobrir o que aconteceu com nosso querido Matt neh e.e
Bem, como foi comentado antes, esses dois capitulos que vão vir depois desse (ou um...sei lah n lembro) ficaram meio repetitivos, sendo apenas algumas mudanças necessarias nos POVs dos personagens!
Mas mesmo assim, esperamos que gostem do capitulo ^^



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Capítulo 6 – Estranhas Descobertas

~ Matthew ~

Estava tudo escuro...

Lentamente, abri meus olhos, acostumando-me aos poucos à claridade.

Eu estava deitado na grama, em um lugar que parecia uma clareira.

Levantei-me com certo esforço, e, ao fazê-lo, senti uma dor nos músculos dos braços e das pernas, e uma terrível dor de cabeça.

Então ouvi um barulho de água. Devia haver um rio por perto. Um banho agora seria bom. Quem sabe eu não conseguia colocar meus pensamentos em ordem e tentar lembrar o que havia acontecido...

Caminhei dolorosamente em direção ao som da água, por entre várias árvores, e então, depois do que pareceram séculos, encontrei um riacho com uma água bem cristalina.

Abaixei-me na beirada do rio para lavar meu rosto, e vi no reflexo como eu estava sujo e desarrumado. O que teria acontecido?

Decidi entrar na água para me lavar. Então percebi que minhas roupas estavam todas rasgadas, e percebi também manchas vermelhas nelas.

Arregalei os olhos.

- O que diabos...?

Então ouvi um rugido vindo detrás de mim.

Virei-me rapidamente e fiquei de pé.

Havia um lobo atrás de mim. Estranho, nunca vi lobos por aquelas redondezas.

O lobo começou a se aproximar de mim lentamente, rugindo e mostrando seus dentes afiados.

E eu estava lá, congelado de medo. Sabia que era meu fim, mas não conseguia aceitar, e tampouco fazer algo para me salvar.

Então o lobo parou do nada e farejou o ar. Depois ele sentou-se e ficou fitando-me com a cabeça um pouco caída para a esquerda. Seria até mesmo bonitinho se não fosse tão bizarro.

Fiquei sem reação. O que eu podia fazer agora? Não sabia se o animal estava brincando com a caça ou se... Ah, sei lá. Só sei que foi estranho.

Então eu fiz o que só um idiota – palavra ótima para me descrever – teria feito.

Dei um passo na direção do animal.

Mas ele continuou parado, fitando-me. Eu até percebi sua cauda se movendo para os lados freneticamente.

Dei mais um passo. Nenhuma reação dele.

Então quando eu estava perto o suficiente dele, estendi minha mão – sério, eu devia estar louco, por que alguém em sã consciência, chegaria perto de um lobo selvagem? – e pousei-a em sua cabeça.

Ele fechou os olhos de leve quando o fiz, mas continuou parado.

Então comecei a acariciá-lo. Ele abriu a boca e sua língua ficou para fora.

De certa forma, eu até achei legal. Bem... Tá certo, eu estava brincando com fogo, mas quem liga? Eu nem sabia onde estava nem como havia chegado lá mesmo.

Então tirei a mão do lobo. Ele fitou-me curioso – ah, ótimo, agora eu lia as expressões de um animal! Maravilha!

- O que foi, garoto? – perguntei sorrindo.

“Estou feliz por ver alguém como você. Pensei que fossem só lendas...”

Dei um pulo para trás e acabei caindo no chão.

Deus. Por favor me diga que eu não acabei de ouvir um lobo falar comigo! Cadê a minha sanidade? Acho que estava comigo até a pouco. O que está acontecendo comigo?...

O lobo se levantou e veio para cima de mim, parecendo preocupado.

“Desculpe, não quis assustá-lo. Tudo bem?”

- Ahahahaha! Não, não está nada bem! Nada mesmo! Espera, me deixa só... Ah, beleza eu estou. Falando. Com. Um lobo! Que lindo, isso, não é?

Juro que vi o animal parecer suspirar.

“Novatos...”, ele meneou negativamente a cabeça.

- Eu preciso esfriar a cabeça, é isso. Espere aqui, senhor-lobo-que-fala-com-a-mente.

Ele sentou-se.

E eu pulei na água do rio, imergindo.

Tá certo, agora, vamos pensar. Esquece o lobo falante, e tenta lembrar o que raios houve com você!

Fechei os olhos tentando concentrar-me, mas as imagens que vinham eram só borrões, antes cheios da cor vermelha, e então de verde. Droga!

Emergi, já sem fôlego, e quando olhei para a margem do rio, o lobo falante ainda estava lá. Nadei até perto dele.

- Escuta, hã, lobo. Ér... O que... Tá acontecendo?

“Transmorfo.”

- O quê?

“É isso o que você é. Um transmorfo. Traduzido em poucas palavras, metade humano, metade animal. Já tinha ouvido falar de seres como você em lendas, mas não imaginei que fosse verdade. Meus ancestrais diziam que vocês tem uma aura e uma essência inconfundível. Na época eu não sabia o que isso queria dizer, mas agora entendo.”

Enquanto ele falava, eu estava boquiaberto. Juro. Então eu saí da água e sentei à sua frente.

- Então eu posso falar com animais também?

O lobo afirmou com a cabeça. Agora que eu parei para pensar, a voz do lobo era feminina, então não era um lobo. Ela era fêmea.

- Qual seu nome?

“Airy.”

- O meu é Matthew Anywarin.

“É um enorme prazer conhecê-lo, Matthew.”

É, tá, é estranho ser chamado pelo nome em vez do apelido. Mas eu deixaria um lobo me chamar de Matt? Isso já é íntimo. Não vou ser amigo íntimo de um lobo... Anh, loba, dá licença...

“Hã, será que eu não podia chamá-lo por um nome menor? Não sei, é que nós não costumamos chamar uns aos outros sempre pelo nome, mas com humanos deve ser diferente, não é?”

Eu sorri.

- Claro. Pode... Me chamar só de Matt. – esqueça o que eu disse antes.

“Matt...”, ela repetiu, parecendo gostar. “Ah, você não pode sair por aí assim, sabe. Parece... que está semi-nu”, ela pareceu meio desconfortável ao dizer isso.

- É eu não sei bem o que aconteceu pra eu ficar assim.

“Não sabe? Nem faz ideia?”

Meneei a cabeça em negativa.

“Então você se transformou por instinto.”

- Como é?

“Meus ancestrais diziam que nas primeiras vezes em que isso acontece, há perda de memória, mas ela volta depois de algumas horas.”

- Espera, espera, volta tudo aí. Como assim “me transformei”?

“Ah, como sou burra...”, ela cobriu os olhos com a pata e depois tirou-a de lá. “Ser transmorfo não é só ser um humano que fala com animais. É ser um humano que se transforma e, consequentemente, se comunica, com animais.”

Fiquei sem reação.

- Olha, quanto a esse negócio de falar com animais tudo bem, mas me transformar? Aí já é demais.

“Tente.”

- O que?

“Tente se concentrar em uma forma de animal para se transformar agora.”

- Olha, Airy, isso é loucura... Claro... Eu estou falando com você, mas... – me interrompeu:

“Tente!”, ela rugiu. “Nunca vai saber se não tentar!”

Olhei para ela com um pouco de medo agora.

- C-certo... – quem sou eu pra discutir? Ela pode acabar comigo em um segundo...

Fechei os olhos e pensei em um animal.

Hã, na verdade não pensei. Peguei o primeiro que veio a mente. Lobo, lógico...

Concentrei-me na imagem de um lobo com pelos castanho claros e algumas listras mais escuras com olhos verdes. Parecia que a imagem ia criando vida própria. O animal se aproximou cada vez mais de mim, e enfim, me atacou.

Com isso, abri os olhos. Eu sabia, nada ia acontecer.

Estava a ponto de dizer isso à Airy, quando vi que estava da mesma altura que ela. Será que...

“Você conseguiu!”, ela disse feliz.

Olhei para os lados e reparei que eu via melhor as cores quentes agora. Senti meu corpo de uma forma diferente. Vi meu reflexo na água. Um lobo igual ao que eu havia imaginado antes. De certa forma, eu não estava mais tão surpreso.

“Vamos?”, disse Airy correndo alguns metros para longe de mim e parando para me esperar.

Só então que eu notei que ela tinha pelos e olhos muito bonitos. Os pelos eram cinza-escuro em suas costas e ia clareando a medida que chegavam em suas patas, deixando suas patas brancas. Em sua cauda havia uma listra negra. Seus olhos eram num tom de amarelo penetrante.

“Pra onde?”

“Caçar, lógico. Não está com fome?”

Agora que ela mencionara... É, eu estava faminto...

Então segui-a. Ela começou a correr bem rápido e eu a acompanhei com facilidade. Senti que podia até correr bem mais rápido que aquilo.

Então ela me avisou para ir parando aos poucos.

“Ali, está vendo?”

Ela apontou com o focinho para um veado que pastava à vários metros.

“Ah, não, vou ter que comer carne de veado... Crua?”

“Você não é mais humano. Agora deixe de frescura e confie nos seus instintos. Aproxime-se devagar, abaixado, tentando esconder-se no mato, e quando estiver perto o suficiente, ou perceber que a presa sabe que está lá... Dê o bote!”

“Ahn... Não sei se vai dar certo, Airy...”

“Pensamento positivo, comigo não. Acredite que vai conseguir, e conseguirá.”

Grunhi baixinho, mas obedeci-a. Falando assim, ela até me lembrava a Annia. Comecei a me aproximar da presa, me abaixando, tentando não fazer nenhum barulho.

Felizmente, eu estava me saindo bem.

Então fui aproximando-me mais e mais. Agora estava confiante. Seria fácil.

Bem... Estava tão confiante que parei de concentrar-me e acabei fazendo um barulho.

O cervo olhou para os lados e então começou a correr.

Fiz o mesmo, correndo o mais rápido que podia. Mas aquele animal era muito rápido. Então, quando já estava pensando em desistir, Airy apareceu do nada, pulando em cima da caça e mordendo seu pescoço.

Fui diminuindo o passo, até que finalmente parei. O cervo estava quase morrendo.

Quando ele finalmente caiu sem vida no chão, Airy soltou seu pescoço e virou-se para mim. O focinho e em volta da boca todos sujos de sangue.

“Não pense que eu vou ajudá-lo na próxima. O certo era eu ficar com essa caça só pra mim... Mas como você é novato... Eu vou... Dividi-la com você...”

Eu meio que dei um sorriso... De lobo. De qualquer forma, ganhei um almoço de graça!

“Obrigado, obrigado, obrigado, Airy. Muito obrigado, nem sei como agradecer”, eu disse animado.

 “M-mas não vá se acostumando. É só... Dessa vez...”

“Não se preocupe. Da próxima vez, eu vou com certeza conseguir!”

Então me aproximei do cervo e cheirei a carne. É... O cheiro era o mesmo de quando eu era humano. Não parecia nem mais, nem menos apetitoso.

“E se você for ficar com drama, dizendo que não come por que é nojento, não deixo nada pra você. Vai ter que tentar ir numa estalagem pra tentar conseguir uma carne assada.”

Então ela virou-se e começou a morder a carne do animal.

“Eu não ia falar nada...”, murmurei indo para perto do animal morto.

“Bom mesmo!”, ela disse enquanto mastigava um pedaço da carne.

Era nojento. Realmente muito nojento. Mas fazer o que não é? Eu não tinha escolha.

Mordi um pedaço do cervo e puxei com força, mastigando e engolindo em seguida. Eca. Eca.

“Com o tempo você se acostuma... Eu acho...”

“Não pretendo continuar na forma de lobo por muito tempo. Só estou assim agora pra poder comer alguma coisa. Depois vou esquecer esse negócio de virar animal...”

“Você não pode!”, ela disse aflita parando de morder a caça.

“Por que não?”

“É o primeiro transmorfo em séculos! Não pode simplesmente fingir ser um humano normal! Até por que se você ficar muito furioso, em qualquer hora, você se transformará!”

“Airy... Depois falamos sobre isso. Vamos apreciar a caça agora, certo?”         **

Depois que acabamos de comer, insisti para que fossemos até o lago para eu tirar aquele sangue do focinho e das patas.

Airy fez o mesmo, mas então ela levantou a cabeça do nada, as orelhas mexendo-se para captarem um som.

“Está ouvindo isso?”, ela disse grunhindo e mostrando os dentes.

Concentrei-me em captar o som que ela havia dito. Escutei som de passos de alguém correndo.

“Tem alguém aqui na floresta que não é um exilado. Os exilados não costumam correr.”

“Como assim? Não me diga que... Nós estamos na Floresta Proibida?!”

“É. Achei que soubesse.”

“Hã, não, não sabia.”

“De qualquer forma, vamos ver.”

“Por que?”

“Por que eu quero”, ela disse me olhando superiormente. “Não acontecem muitas coisas aqui. Se tiver algo fora de ordem...” ela deu um sorriso de lobo, “pode ser divertido.”

E saiu correndo em direção ao som.

Suspirei. Não tinha como discutir com ela...

Corri atrás dela. Ela conhecia a floresta melhor que eu. Decidi ficar atrás dela então.

Então eu vi uma clareira a frente, e Airy parou lá. Parei logo atrás dela.

Depois de vasculhar o lugar, não acreditei no que vi. Eu melhor... Em quem vi.

“Annia!”

Então Airy começou a rosnar.

“Airy, não, eu conheço-a. Tudo bem.”

Mas ela pareceu não me ouvir.

“Airy, vá para trás.”, eu disse grunhindo.

Ela afastou-se meio que a contra gosto, ainda mostrando os dentes.

Pensei em ir até Annia, mas ela ia se assustar, então desconsiderei a ideia. Ficar parado também não adiantaria, pois ela poderia ficar louca e tentar me matar.

- O-Ok... V-v-vocês devem e-estar q-querendo o... C-cervo, não é? – ela disse nervosa.

Na verdade só agora que ela mencionou que eu vi que tinha um enorme cervo morto perto dela.

Decidi tentar me comunicar. Meneei negativamente a cabeça para ela.

- Oh. Meu. Deus. Você... Você acabou de... Ah... Não pode ser... É coisa da minha cabeça... – ela respirou fundo – Isso... É só coisa da minha cabeça e você não acabou de fazer o que eu vi você fazendo... Certo?

Tenho que admitir que estava sendo divertido vê-la daquele jeito.

Neguei com a cabeça de novo, quase soltando uma risada... De... Lobo...

Decidi aproximar-me dela, com cuidado para não assustá-la.

Então ela ficou com uma expressão de alguém que acabara de entender algo.

- AH! EU ENLOUQUECI! Meu Deus! Estou associando meu melhor amigo com um lobo! – ela gritou.

Não consegui mais segurar o riso, aquilo estava muito, muito engraçado. É... Foi estranho rir como um... Lobo...

- Agora você vai rir da minha cara? Ah, estou perguntando algo para o lobo que supostamente seria o Matthew... Como cheguei a esse ponto?

Segurando o riso de novo, toquei seu rosto com meu focinho... Focinho de lobo...

Então ela, hesitantemente, colocou a mão em minha cabeça, fazendo carinho.

- ANNIA!

Epa, epa, essa voz... Eu conheceria essa voz em qualquer lugar e em qualquer forma, humana ou de lobo. Jade...

Voltei o olhar para o lugar de onde havia escutado a voz.

“... Negligente ao ponto de parar de prestar atenção aos sons à sua volta...” ouvi Airy murmurar.

É, eu havia parado de me concentrar nos sons à minha volta como Airy me ensinara. Mas por um bom motivo. Estava me divertindo.

Mas voltando à situação... Jay... Ela estava linda usando um vestido e uma túnica... Tá, ela estava com um olhar assustado, mas isso não diminuía sua beleza de jeito nenhum.

- Jay... Você não vai acreditar no que eu vou te contar... – começou Annia ainda olhando para mim e Airy.

- Lobos? Nunca vi lobos por aqui... – disse um cara que eu nunca vi. Ele estava segurando um arco. Aproximou-se de mim, e eu dei uns passos em sua direção farejando o ar.

- An, o que você estava pensando? – perguntou Jay, esquecendo-se totalmente do fato de ter dois lobos ali.

- Ei... Eu matei o cervo, não matei? – rebateu Annia.

Ela assentiu e se aproximou de An ajudando-a a levantar.

Então eles começaram a conversar entre eles, nos ignorando completamente. Sério... Eles podiam ser mortos, se nós não os reconhecêssemos. Imprudentes. É, olha quem tava falando...

“Matthew!”

Abaixei as orelhas. Quando me chamam pelo nome nunca é coisa boa.

“S-sim, Airy?”, perguntei virando a cabeça lentamente e tentando sorrir... Como um lobo...

Sério, eu não havia me acostumado a ser lobo ainda...

Ela me olhou com raiva.

“O quê?”, perguntei inocentemente.

“Sinceramente, Matt, conversando com humanos? Você é um lobo! Quando eles invadem nosso território, nós os atacamos!”

“Eu nunca, em hipótese alguma, atacaria minhas amigas!” grunhi baixinho, andando para perto dela.

Ela me olhou, parecendo pensar no que ia falar, mas então se calou e começou a fitar o chão, com as orelhas um pouco baixas.

“Depois falamos sobre isso”, disse simplesmente e começou a olhar para... É... Os “humanos”...

Então no mesmo momento, eles voltaram a atenção para nós.

“Jay...”

Eu tomei coragem e aproximei-me dela e esfreguei minha cabeça em suas pernas.

Ela sorriu e se abaixou, acariciando-me. Suas mãos eram tão leves... Eu podia ficar daquele jeito o dia inteiro.

Devo ter ouvido Airy grunhir atrás de mim em algum momento, mas eu estava mais ocupado aproveitando algo que eu não recebia quando estava na forma humana... Ser lobo tem suas vantagens...

- Ei, Matt – chamou An e eu olhei-a por reflexo – Pode dizer ao seu amiguinho que eu não sou comida?

“Amiguinho, ela não é comida.”, eu disse brincando.

“Não gosto dela”, disse rosnando.

- Também não gosto de você – disse An se afastando.

“Viu isso, ela pareceu ler sua mente. Vocês vão se dar bem, você vai ver.”

“Nunca!”

Airy se aproximou de mim e me cutucou com o focinho.

“Vamos embora”, ela pediu, parecendo, pela primeira vez não bancar a chefona.

Olhei-a nos olhos e vi como ela não queria mais ficar ali.

“Airy... Eu... Só vou me despedir delas... Pode ir na frente?”

Ela assentiu e saiu correndo pela mata.

Suspirei internamente.

Então me esfreguei novamente na Jay, e depois na An e saí daquela clareira, indo atrás de Airy.

Encontrei-a perto do lago.

“Airy...”

“Humanos... Não gosto deles nem um pouco.”

“Ah, não? O que eu sou mesmo?”

Ela virou-se para mim e revirou os olhos.

“Matt, dá licença, né. Você é... Diferente.”

“Não, Airy, não sou. Sou o mesmo que aqueles humanos. Por sinal, aquelas duas são minhas melhores amigas. As únicas que eu já tive...”

“As... Únicas...?”

“É... Hã? Ah, não... Não, não Airy, você também é minha amiga, é que...”

“Vá lá com elas, então. Vá lá com suas amigas. Mas não esqueça de que aquela que o ajudou quando não sabia o que havia acontecido, não foi nenhuma das duas!”

Achei ter visto seus olhos mais brilhantes que o normal.

Ela passou correndo por mim e entrou na floresta novamente.

Não pensei em mais nada e fui correndo atrás dela. Foi fácil achá-la. Ela não estava correndo o máximo que podia.

“O que está fazendo vindo atrás de mim?”

“Airy, deixe de ser criança, você não é assim.”

“Diferente do que você deve pensar, eu tenho sentimentos também.”

“Pare de fugir e olhe nos meus olhos!”

Ela parou subitamente e eu fiz o mesmo.

“Airy...”

Ela virou-se para mim e eu vi lágrimas em seus olhos.

“Odeio você...”, ela murmurou.

“Não, você não me odeia. Não vou cair nessa.”

Ela rosnou para mim, ficando em posição de ataque.

“Airy...”

“Pare de ficar falando meu nome!”

E pulou em cima de mim.

Caí deitado, com Airy em cima de mim, rosnando.

“Você não vê nada, não é, Matt? Não consegue ver! Isso me irrita muito! Muito!”

Continuei sem fazer nada. Sabia que ela não me machucaria.

“Matt...”, ela recomeçou a chorar. “Sei que o conheço há pouco tempo, mas...”

Ela foi interrompida por um grito. Da... Jay! Não!

Nem pensei em mais nada. Empurrei Airy, sem perceber se foi com força ou não – mas provavelmente foi – e comecei a correr em direção ao grito.

Quando eu cheguei lá, fiquei com vontade de matar aquele cara que havia encostado um dedo na Jay. Na minha Jay!

Rosnei e sem pensar em mais nada ataquei-o, pulando em seu pescoço.

Jay estava encostada em uma árvore, completamente confusa e aturdida. An e Sky estavam de joelhos ao lado de Walian, que permanecia inconsciente.

Que mestre mais inútil!

Comecei a correr em volta dele, tentando aturdi-lo, atacando-o de vez em quando.

Então chegou uma hora em que parei e olhei para Jay, pra ver se ela estava bem.

Nossos olhares se encontraram por um segundo, e, no outro, eu senti meu corpo ser jogado para longe.

Eu havia caído perto de Jay pelo jeito, já que o grito de “Não!” que ela deu, pareceu estar mais perto.

Pisquei algumas vezes, atordoado. Meu corpo inteiro doía.

- Vis Fulgurum – ouvi Jay murmurar, mas não vi o que aconteceu com o grandalhão.

Mas depois, quando já havia me recuperado um pouco, olhei para ele.

E o que eu vi? Ninguém menos que Airy, pulando em cima daquele gigante.

“Airy... Airy, não faça isso...”, murmurei em vão, pois ela não me escutou.

Mas então o gigante segurou-a pela nuca e empurrou-a com tudo contra o chão. Ela se debatia, tentando livrar-se do aperto. Sério, o cara tava pedindo pra morrer!

Ouvi o ganido de Airy e não aguentei mais.

Comecei a me mexer, tentando levantar-me. Eu nunca deixaria que ela fosse ferida por um cara qualquer. Não a conhecia há muito tempo, mas considerava-a alguém importante para mim. Não podia perdê-la e não iria.

Levantei-me e corri em disparada em direção àquele gigante dos infernos e mordi seu pescoço com vontade. Ele soltou minha amiga e Jay fora rapidamente até ela. Fiquei aliviado.

O homem foi cambaleando e finalmente caiu no chão.

Então me afastei e Annia usou sua espada para matá-lo.

Graças aos deuses...

Então fui correndo para perto de Airy.

“Desculpa, Matt, eu fui uma idiota... Eu sei como essas humanas são importantes para você, mas eu só queria... Ser importante para alguém, também. Pelo menos uma vez na vida...”

”Você é importante para mim, Airy. E obrigado.”

“Eu não o odeio, Matt. Nunca o odiaria, eu só... Estava com ciúmes, eu acho...”, ela gemeu de dor.

“Não diga mais nada.”

“Acho que não vou melhorar...”

“Pare de falar besteira!”, rosnei, fazendo Jay tomar um susto e olhar com um pouco de medo para mim. “Você vai melhorar, sim. Tem que melhorar.”

Ela apenas fechou os olhos em resposta. Sua respiração estava acelerada e ela não se mexia. Apenas ficou deitada lá.

Foi nesse momento que escutei uns passos vindos do meio da floresta.

Apareceram três homens. Kaled, Rynden e um outro de cabelos e olhos negros e pele bem clara... Ah, Lihios.

Fui correndo para perto de Rynden. Ele era um mago, devia ter um feitiço que o fizesse entender o que os animais diziam. Mordi sua túnica e puxei-o. Queria que ele ajudasse logo a Airy.

Ele chegou perto de Jay e passou os braços em volta de Jade, e ela fitou-o. Que raiva que eu fiquei daquele cara. Sério, só por que era mestre, não precisava ser tão íntimo. E aquele olhar? Ah, eu até o atacaria em outras condições, mas não agora.

- O que aconteceu? – perguntou preocupado.

Ah, não, ainda vai querer ouvir a história? Dá licença, né... Agir primeiro e falar depois.

Jay começou a explicar o ocorrido, e eu fiquei impaciente enquanto ela o fazia. Por quanto tempo mais prolongaremos o sofrimento de Airy. Passei a pata pelo rosto, ganindo baixinho para ninguém ouvir.

Por fim, Jay pediu que Rynden ajudasse Airy.

Ele pegou um grimório e folheeou.

Por fim, disse que poderia ajudar, mas só se transformasse Airy em humana.

- Mas e o outro lobo? – perguntou Jay.

- Acho que você mesmo pode nos contar, não é, Matthew Anywarin? – disse o mago.

De início fiquei surpreso. É... beeeem surpeso. Mas então pensei que, já que ele sabe, por que os outros não podem saber?

Concentrei-me em minha imagem de humano. Meu “eu” humano sorriu e veio caminhando até mim, e sua imagem encontrou-se com minha imagem de lobo. Não pude deixar de notar que haviam outras figuras de animais à minha volta, mas só pude distinguir uma águia e um tubarão branco.

Bem, mas por fim, abri meus olhos e vi o mundo de uma perspectiva diferente. Com olhos de humano. Da altura de um humano.

Olhei para os lados e vi uma Jay surpresa e uma Annia... É, bem...

- MATT! – ela exclamou.

Agarrou-me pelo colarinho e começou a me sacudir gritando várias coisas que eu não prestei atenção.

Tentei ser gentil e disse para irmos logo cuidar de Airy.

- Quem?

- A loba... – fui para perto dela e tomei-a do colo de Jay, apoiando sua cabeça em minhas pernas agora.

“Você... Voltou a sua forma normal... Por que?”

- Pra ajudá-la... – passei a mão por sua cabeça ignorando os olhares de medo que me mandavam – Não vou deixá-la. Vou ficar sempre aqui com você...

“Matt...”, uma lágrima brotou em seus olhos. “Está doendo muito...”

Mordi meu lábio inferior. Sabia que devia doer muito.

“Matt?”

- Sim?

“Talvez eu não possa dizer isso pra você depois então... Eu amo você...”

Fiquei sem reação. Tipo, eu gostava muito dela, mas... A Jay era aquela que eu amava...

- Airy...

“Não preciso que isso seja mútuo, idiota. Só queria que soubesse. Você é humano, e eu, um lobo. Nunca daria certo, mesmo, não é?”

Sorri tristemente para ela.

- Me desculpe...

Ela me deu um sorriso triste de... Lobo...

- Hã, desculpem interromper esse momento que... Vocês provavelmente estão tendo, mas eu tenho que fazer algo logo, certo?

- Ah, certo, Rynden – me segurei para não revirar os olhos.

Ele tentava ser amigável, mas não comigo. Isso não funcionava comigo. Esse mago... Eu o odeio.

Senti um tapa forte em minha cabeça.

- É “mestre” Rynden pra você, pirralho – disse Lihios.

- Ele não é meu mestre.

- Mas é bom respeitar aqueles que estão acima de você, não é?

- Gente, gente, por favor... – interveio Kaled – Vamos parar de brigar. Rynden, vá curar a... – ele olhou para o lugar onde antes estava o mago – Rynden?

Ele estava ajoelhado ao lado de Airy conjurando um feitiço.

Tocou a testa dela e uma luz branca tomou conta de seu corpo. Então o corpo de Airy começou a se modificar, e quando a luz sumiu, eu a vi em um corpo humano e ela... Bem, ela estava... Nua...

Desviei meu olhar rapidamente e vi todos os outros homens fazerem o mesmo, só que mais disfarçadamente.

- Matt... – ouvi a voz de Airy me chamar.

Virei-me relutantemente para ela.

- Você disse que ia ficar do meu lado... – ela deu um sorriso fraco.

Eu suspirei. Ela tinha razão. Fui aproximando-me dela e abaixei-me ao seu lado.

Ela estava no corpo de uma garota, mais ou menos da minha faixa etária. Estava com longos cabelos prateados e para minha surpresa orelhas de lobo estavam saindo do topo de sua cabeça, movendo-se para os lados na direção dos sons. Os olhos continuavam no mesmo tom amarelado de antes e sua pele, bem pálida.

Se ela não estivesse com uma expressão de dor, acho que estaria fofa...

Enquanto eu estava ao seu lado, Jay tirou a parte de cima da túnica ficando apenas com um vestido sem mangas preto colado na parte de cima e bem solto da cintura para baixo.

Ela colocou delicadamente a túnica branca sobre o corpo de Airy e sorriu docemente para ela.

- Você vai ficar bem, não se preocupe...

- O-obrigada... – disse Airy.

- Jay, você pode se afastar um pouco? Preciso concentrar-me agora. Um deslize e eu posso piorar a situação dela.

- Sim, mestre.

Jay levantou-se e foi para perto de Annia.

- Matthew, preciso que se afaste também...

Mordi meu lábio inferior. Eu havia dito que ficaria do lado de Airy. Não podia deixá-la agora.

Ela olhou para mim e assentiu.

- Pode ir...

Então me levantei e fui para perto dos outros, mas sem tirar os olhos de Airy.

- Matt... – ouvi Jay chamar, e virei-me para fitá-la.

- Sim?

- Por onde você andou por todo esse tempo?

- Ah, bem... – cocei a cabeça meio desconfortável – Devo provavelmente ter vagado por aí na forma de lobo... Hã... Selvagem, digamos assim.

- Significa que não estava ciente do que fazia?

- Minhas lembranças são como borrões. Não consigo entendê-las. Mas o que importa é o presente, não é? Estou feliz por tê-las encontrado – concluí sorrindo.

Então Jay veio para cima de mim e me abraçou, para minha surpresa.

- Fiquei preocupada com você...

Envolvi-a com os braços também.

- Desculpe... – disse afagando seus cabelos.

Então senti um tapa nas minhas costas. Quem era? Lógico que era Annia sorrindo maliciosamente e murmurando algo como “Se deu bem, hein?”

Então Jay se afastou de mim, parecendo meio desconfortável.

- Ela tinha várias costelas quebradas. Umas quatro, no mínimo. Mas agora ela já está bem. Só precisa descansar um pouco.

Suspirei aliviado.

Então Rynden se levantou.

- Pode ficar perto dela agora, Matthew – ele disse sorrindo.

Era um plano dele! Eu ia ficar perto de Airy e ele ficaria perto de Jay! Esperto, esse mago...

Mas tudo bem, eu fui. Abaixei-me e fiquei ao seu lado, segurando sua mão. Ela estava dormindo tranquilamente.

Que alívio senti.

- Que bom, não é? – ouvi a voz de Jay, e senti que ela colocou a mão em meu ombro. Há! O mago não está com ela!

- Temos que voltar agora – disse o inútil do Walian.

Olhei para a direção dele e vi Annia para em um lugar. Sky foi para perto dela, para provavelmente pegá-la no colo. Eu tinha ouvido alguma coisa sobre ela estar com o tornozelo torcido antes.

Mas então Kaled apareceu pegando-a antes, fazendo um cena hilária, e eu tive que segurar o riso.

- Isso acontece com freqüência? – perguntei para Jay.

- Mais ou menos – ela disse rindo baixinho. – Hoje esses dois andam competindo bastante.

Ah, eu vou competir com o mago também, você vai ver, pensei com escárnio.

Então peguei Airy no colo e voltamos para a cidade.


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Notas finais do capítulo

Então, esperamos que tenham gostado. O que acharam do Matt? E da Airy (a Ana odeia ela >.>)?
Hehehehe''
Bem queremos comentarios e pretendo estipular um prazo para postar os capitulos, não um por dia, porque se não acabamos não conseguimos adiantar e tudo fica atrasado ok?
Bom, comentarios? Recomendações (ñ exagere)? Ok...
Beijoss