My Sweet Lady escrita por Éle


Capítulo 8
Capítulo 8: Oh Meu Deus, estou seduzindo!




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 Bem, no momento estou andando normalmente (por mais estranho que isso seja) calçando um salto agulha até o cinema do shopping. Eu estava aflito, realmente muito aflito porque, por mais que eu já tenha me passado por garota nunca fora uma transformação tão assustadora assim.

 -Que linda. Passa lá em casa gatinha!

 Ele... Ele piscou pra mim! É claro que já deram encima de mim pensando que sou uma garota, mas desta vez é muito pior... Tantos olhares, tantos sorrisos! Nossa, que vontade de falar com uma voz bem grossa e assustar a todos esses pervertidos... Ah, aquele era bonitinho... Ok, concentração Michel.

 Adentrei o cinema muito receoso. Eu não sou uma garota e não quero ser uma, mas tenho de me comportar como uma. Respirei fundo e, tremendo, fui procurar por meus primos. Encontrei-os de costas para mim, ambos apoiados no balcão de doces, provavelmente esperando para serem atendidos. Ambos olhavam para algumas garotas que passavam entediados e, obviamente, elas se assanhavam todas.

 -A ruiva piscou para você – dissera Alexander, em um tom monótono.

 -Mentiroso, foi para você.

 -Mesmo? Não percebi.

 -Que mentira! Você só diz isso para se exibir que é sempre com você! Só para me humilhar.

 Eu não pude ver as expressões deles, mas arrisco-me a dizer que Alexander houvera sorrido. Andei mais devagar na direção deles, com o coração a pulos. Já conseguia até mesmo ouvir os sussurros e caretas das garotas a minha volta.

 -E aquela loira? Você gostou? Posso ir lá falar com ela por você.

 -Há, há! Conheço você Alexander, se eu disser que gostei você vai lá roubá-la para você. Mas agora nem importa, não gostei dela mesmo. Prefiro a Mel.

 Parei onde eu estava, quase caindo do salto. Dei dois passos para trás, nervoso. Estavam falando de mim, Richard estava dando continuidade ao plano, eu não devo atrapalhar e... Eu também quero ouvir o que eles tenham para falar. Seria errado ficar escutando, mas tenho certeza que Richard me pediria para não interromper.

 -Você gostou tanto assim de nossa prima? – Alexander pergutou, voltando seu olhar para Richard. Eu dei alguns passos para a direita, escondendo-me atrás de uma parede.

 -Bem, ela é linda, simpática, tão doce e pensa tanto nos outros... Ela é diferente de todas as outras garotas – Richard disse como se realmente houvesse um sentimento a mais naquela voz, oculto.

 -Concordo. Ela é realmente única, com uma personalidade incrível, pelo o que conhecemos até agora porque, a conhecemos há apenas um dia. Ah, e ainda é nossa prima, parente sanguíneo.

 -Nem vem que laço familiar não faz diferença nenhuma! Você já pegou uma prima nossa.

 -Ela que me agarrou.

 Alexander deu de ombros, voltando seu olhar para a atendente que parara na frente dele, com um sorriso de se desconfiar.

 -Posso ajudá-lo?

 -Pede você Richard, não gosto de doces.

 Bem, pararam de conversar, acho que agora posso chegar mais perto. Droga, estou com tanto medo que minhas pernas não param de tremer. E se eu estiver agonizando tudo isso a toa? Se meus primos não gostarem? Ah, bem, mas pelos olhares de dar medo que recebi hoje... Mesmo assim, está sendo inevitável temer.

 -O-oi – foi o que eu disse, simples assim, tentando ouvir o que eles responderiam, o que seria quase impossível por causa de meus batimentos cardíacos.

 Quando ambos se voltaram para mim quase deram um pulo de tamanho que fora o susto. Mordi o lábio inferior tentando sorrir. A vergonha tomou-me por completo quando vi o olhar de ambos meus primos analisarem-me de minha cabeça de cabelos compridos, muito gliter e tinta até os pés de salto agulha. Alexander ergueu uma sobrancelha, escondendo um sorriso e Richard... Richard soltou um pigarro, levando uma das mãos à boca, tentando esconder o riso. Eu gostaria de poder dar um soco na cara daquele debochado, porque EU ESTOU PASSANDO POR ISSO POR CAUSA DELE!

 -Você está muito, muito linda Melody – ele disse com um sorriso incrivelmente sacana no rosto, descendo o olhar de minha face para um pouco mais abaixo. –Tem até mais... Comissão de frente, não é?

 Richard movimentou as mãos abaixo do pescoço, demonstrando que se referia a meu busto, o qual se encontrava mais volumoso. Ele escondia a risada, trincando os dentes, porém sem deixar de sorrir. Ele não poderia ser um pouco menos vulgar?

 Meu rosto queimou tanto, tanto... Aquele debochado estava realmente tirando uma com a minha cara! Só porque ele sabe que sou um garoto! Ah, já estava horrível tudo isso quando era apenas eu odiando e minha tia feliz, agora, então, com o Richard debochando... Sinto-me horrível.

 -E-eu preciso ir ao banheiro, é rapidinho – eu disse sem esperar resposta, já correndo na direção do banheiro. Entrei lá e vi que se encontrava completamente vazio, o que é bom pra mim.

 Aliás, não recebi uma resposta de Alexander e, isso também é por causa dele. Não que eu me importe, ou talvez...

 Fui para frente do espelho e fitei meu próprio rosto, mesmo não parecendo ser o meu. As garotas realmente não são o que parecem ser, a maquiagem muda completamente uma pessoa, como fez comigo.

 Toquei no espelho onde havia o reflexo de meu rosto. Não era eu, era uma garota. Cabelo comprido, uma boina rosa estúpida, cílios postiços, tanta base, blash... Tudo tão falso!

 -Eu odeio Melody!

 Em resposta, ouvi o gargalhar alto de meu primo, aproximando-se de mim. Ele ria divertindo-se, mas só porque não é com ele.

 -Olha, eu esperava por muita coisa, e quando eu digo muita é muita mesmo, mas por esse resultado... Ai Mel, você está tão incrível! – ele disse tudo incrivelmente animado, rindo, se divertindo, quase pulando de tanta alegria...

 -Você ri porque não é com você! Imagina só você vestido de mulher, com uma saia com que todos os caras querem olhar embaixo, um salto o qual parece que você está encima de uma escada, um cabelo que dá um baita calor e vive grudando no batom, maquiagem que mal dá para mexer a cara e uma calcinha que fica enfiando e machucando! – eu cuspi tudo o que me estava engasgado, podendo finalmente suspirar aliviado. Finalmente tirei um peso de minhas costas. Vi Richard fechar os lábios, selando a risada, porém seus olhos o denunciavam, com aquele brilho de deboche. Logo, ele começou a soltar o ar aos poucos, para em seguida explodir e cair na gargalhada novamente.

 -Você tá usando calcinha! E tem peitos!

 -Você veio atrás de mim só para debochar mesmo, ‘né?

 Tive de esperar ele acalmar-se para poder receber uma resposta.

 -Na verdade é porque você entrou no banheiro masculino e Alexander se assustou. Vem cá, você não percebeu os mictórios não?

 Oh Droga, eu esqueci completamente que sou Melody! E como pude esquecer? Estou completamente caracterizado como Mel! E ver mictórios é completamente normal para mim, passou batido.

 Com um suspiro, fui até a parede do fundo do banheiro, me escorei nela e escorreguei até o chão, sentando-me e juntando os joelhos. Esperei mais alguns segundos até Richard parar de rir e, quando isso finalmente aconteceu meus ouvidos agradeceram.

 -Hey Michel, posso te fazer uma pergunta particular?

 Eu suspirei e fechei os olhos, jogando a cabeça para trás. Finalmente alguém me chamando de Michel, isso é um verdadeiro alívio.

 -Claro – eu respondi dando de ombros. Que ele perguntasse algo, só espero que não seja nada a ver com Melody.

 -Você é gay? – ele perguntou sério, sem rir. Eu abri os olhos e fitei-o, ele estava sem jeito, coçando a bochecha –Não é que eu tenha algum preconceito, é só curiosidade mesmo.

 -Se você não tivesse preconceito não acharia tão divertida a idéia de enganar seu irmão fazendo-o se apaixonar por um garoto – eu disse sincero, deixando-o mais sem jeito ainda.

 -É verdade. Bem, eu tinha preconceito, mas eu realmente gostei de você Michel, assim, como amigo, então se você for eu não vou me importar.

 -E você não pensou que, assim como você mudou de opinião Alexander também pode mudar?

 -Tá brincando? Eu não me importo porque conheci você como Michel, mas Alexander, quando descobrir vai ficar todo horrorizado e cheio de nojo! Imagina só, pensou que estava pegando uma garota e, na verdade é um garoto!

 É, ele acha graça porque não é ele quem será rejeitado de forma tão repulsiva por ser quem realmente é.

 -Mas não foge da minha pergunta, Michel! Você é gay ou não?

 -Sou.

 Richard emudecera. Para não ter de ver a reação dele eu fechei os olhos novamente. Que garota iria querer alguém como eu? É claro que eu já tive uma namoradinha, ela até que durou bastante, mas um dia ela chegou e me disse: “Michel, temos que terminar. Quando beijo você sinto como se estivesse beijando uma garota e minha amigas vivem debochando de mim quando nos vêem juntos”. Depois disso parei para pensar por um tempo e constatei que, era realmente horrível eu junto de uma garota. E, particularmente eu acho a idéia de um garoto me beijando e cuidando de mim bem mais agradável. Eu sou pequeno e frágil, pareço com uma garota em tudo superficialmente.

 -E você já contou isso para mais alguém? Tipo, meu tio?

 Aliviado por não haver rejeição, nojo ou repulsa (que ele tenha demonstrado, pelo menos) por parte dele eu abri os olhos, encarando-o. É bem mais reconfortante saber que, pelo menos uma das pessoas que faz parte de minha vida agora conhece meu verdadeiro eu, como Michel.

 -Óbvio que sim, ele era meu pai.

 -Sério? E como ele reagiu?

 Meu primo aproximou-se de mim com um interesse estranho, sentando-me ao meu lado. Eu encostei minha cabeça na parede e comecei a lhe contar.

 -Ele disse que já esperava por isso, que me amava de qualquer forma, não seria uma preferência sexual que mudaria o que ele sentia por mim e que ele acabaria com todos os caras que me magoassem ou partissem meu coração – eu respondi sorrindo, recordando-me das expressões de meu pai, de seu abraço apertado, seu calor, tudo o que ele sempre me dizia para me acalmar...

 -Mesmo? Eu pensei que ele iria odiar essa idéia de ter um filho gay já que ele sempre quis ter um menino.

 -É verdade. Eu também pensei isso. De início, quando eu soube que meu pai queria ter um menino eu não conseguia deixar de pensar em toda a sua decepção ao me ver crescer e não virar mais masculino. Tive medo que ele não me amasse, me apavorei em pensar que ele poderia ter outro filho, mais másculo e acabasse me deixando de lado. Mas isso nunca aconteceu. Meu pai queria mesmo ter um filho de sexo definido, ele mesmo me dissera isso. Papai também teve duas meninas, a mais nova morreu e a mais velha foi adotada por meu pai depois de mim, mas quando completou 16 anos se mudou com sua mãe e não deixou nem rastro. Meu pai tentou encontrá-las de qualquer jeito, porém, quando ele percebeu o quanto aquela falta de atenção estava me fazendo mal desistiu e se dedicou a mim. Ele era muito atencioso, um tempo antes dele morrer me dissera que nunca quis ter um garoto para não me magoar, amava a mim, somente a mim, do jeito que eu era.

 -Que máximo! Eu nunca pensei que tio Leo pudesse ser assim, sempre pensei que ele era ‘malvadão e cruel.

 Que bom que finalmente o assunto saiu daquela coisa de “Melody” e passou para algo mais agradável. Amo meu pai e poder lembrar dele, de seu calor, daquele enorme amor que ele dedicava a mim... Isso realmente me faz bem, mesmo que um buraco em meu coração diga “ele está morto Michel, nunca mais voltará”.

 -Sabe Richard, ele até estava namorando com um homem quando morreu.

 Tudo bem contar agora, não é? Ele morreu mesmo, não tem mais que esconder. Bem, ele nunca escondeu seriamente, de verdade ele nunca teve vergonha, só não gostava de ficar espalhando, principalmente para a família.

 Vi os olhos vermelhos estranhos de meu primo arregalarem-se, ficando maiores que dois pires. Ele aproximou seu rosto do meu, ainda incrédulo. Eu me assustei, sentindo o nervosismo subir-me a face em forma de vergonha. Que droga, eu fico com vergonha por tudo!

 -Isso é sério? Tio Leo? Você só pode estar brincando!

 -O nome dele é Leandro – eu respondi, também aproximando meu rosto dele com um sorriso desafiador brincando em meus lábios.

 -Quantos anos ele tem?

 -24.

 -Profissão?

 -Cabeleireiro.

 -Cor do cabelo e penteado?

 -Ruivo comprido, da altura do rosto o cabelo era cortado superficialmente e o resto era preso em um rabo de cavalo baixo.

 -Fala sério, o tio Leo era gay! – ele vibrou, perto de meu rosto. Quando percebi a aproximação extrema me separei bruscamente, virando o rosto para o lado contrário.

 -Sim. Leandro é muito doce, meigo, simpático e alegre. Ele queria que eu fosse morar com ele quando meu pai morreu.

 -E por que você não foi? Não que eu queira te mandar embora nem nada, eu gosto de sua presença, então não leve para o lado pessoal.

 É engraçado como Richard acha que eu vou levar tudo para o lado pessoal e me magoar.

 -É complicado... Mas não é culpa de Leandro, ele era realmente incrível e muito bom para mim.

 -Entendo.

 Ainda bem que ele não insistiu, daí sim iria começar uma longa história...

 -Que estranho, eu sempre pensei que você fosse infeliz, mas parece que não.

 Voltei-me novamente para ele, erguendo uma sobrancelha. Pensou que eu era infeliz? Devo parecer um podre coitado. Que droga, meu pai ficaria triste com isso, sempre fez de tudo pela minha felicidade. Mas, o que levou meu primo à idéia de que eu sou infeliz? É claro que eu tive minha fase adolescente deprimido, mas, tirando isso, nunca fui infeliz.

 -Por que achou isso?

 -Ah, sei lá, você já no aeroporto estava com uma carinha de ‘tristinho. Depois disso, tudo parecia assustar você, ontem na piscina até se estressou e tem essa aparência, ‘né-

 -Por que estão demorando tanto? O que há de tão interessante no banheiro masculino que os fez continuar aqui? – era a voz de Alexander, interrompendo nossa conversa. Coitado, eu já havia até me esquecido dele.

 Senti uma forte cotovelada, provavelmente só porque sou garoto meu primo acha que sou de ferro. Isso era um sinal de que era para eu bolar uma desculpa. Por que tinha que sobrar para mim? Eu não consigo pensar quando estou nervoso! Pensa Michel, o que há de mais no banheiro masculino que não há no feminino...?

 -Mictórios! Eu... Me assustei.

 Que ridículo, ainda bem que estou fazendo o papel de uma garota.

 -Até acredito nisso, mas não que passaram o tempo todo aqui só por causa de uma coisa tão banal como essa.

 Eu e Richard nos entreolhamos e... Rimos, simplesmente rimos. Fui o primeiro a me levantar, dirigindo-me a Alexander que, mesmo eu estando de salto alto ainda é bem mais alto que eu.

 -Desculpe primo, desculpa mesmo, é que depois do susto acabamos nos distraindo conversando sobre coisas de minha vida, minha família, meu pai...

 Antes de receber uma reposta dele eu o agarrei pelo braço, feliz. Alexander e Richard, acima de tudo são meus primos e, quero que também sejam meus amigos. Mesmo que daqui a algum tempo eles venham a me odiar como Michel, que seja bom enquanto dure.

 -Tudo bem então – ele aceitou sorrindo, gostando de meu ato animado. Ele segurou minha mão e eu senti mais uma vez aquela sensação gostosa. Eram como ‘choquinhos que me proporcionavam aquela sensação de felicidade que começa no peito e se espalha por todo o corpo.

 -Vem também Richard, quero andar de mão com meus dois primos.

 Sorrindo, Richard também se aproximou, segurando minha outra mão. Ambos eram quentes, com mãos maiores que as minhas.

 -Que filme vamos ver? Ou melhor, que gênero é? – eu perguntei sorrindo, esperando um romance ou talvez comédia...

 -Terror.

 Oh não, eu morro de medo de filmes de terror!


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Notas finais do capítulo

Capítulo dedicado aos fãs de Richard. Próximo vai para os fãs de Alexander.