Cheguei em casa ainda meio arrasado... Eu nunca poderia imaginar que a Carol e a Kate... Nossa! Ethel estava deitada na cama lendo uma revista minha qualquer...

E: Ville... Você ta estranho, amor!

V: Sério? Estranho como?

E: Pálido... Parece que viu um espírito ou algo do tipo...

V: Vi algo pior. A Kate... Sabe, a delegada... E a namorad... A ex-namorada do Linde, a Carol... Elas têm um caso!

Fez-se um silêncio.

V: Você já sabia disso!

E: Já.

V: Por que nunca me falou?

E: Você ia contar pra ele! Eu não poderia deixar isso!

V: Por quê?

E: Longa história.

V: Longa história? Você invade minha casa, deita na minha cama e lê minha revista e não pode me contar essa longa história?

E: Olha aqui... Não existe essa história de “meu/minha”! Você mesmo disse isso na semana passada quando pegou meu celular sem nenhum motivo aparente! Então queridinho, nem vem que não tem!

V: Ótimo!

E: Ótimo!

Fiquei irritado e como sempre peguei um cigarro no bolso e o acendi. Comecei a fumar e olhei pela janela. O que aconteceu a seguir foi muito estranho... Não vi nada pela janela... Só a chuva que começava a cair... Deixei o cigarro cair no chão... O mundo parecia que estava se acabando... As paredes se fechando em cima de mim... O ar estava se esvaindo... Senti o meu corpo tocar o chão... Será que já era minha hora de morrer? Estava cada vez pior... E ela tentava falar comigo algo que eu já não conseguia ouvir direito. Estava doendo... Estava doendo muito. E eu não conseguia mais respirar. Com muita dificuldade, apontei para uma pequena gavetinha perto da cama... Ela correu até lá e daí já não consegui ver mais nada...

...

...

Quando acordei, ainda estava com um pouco de falta de ar e isso ficou bastante evidente.

E: Aqui, amor...

Ela me deu minha bombinha e senti o mundo se abrir de novo... O ar... Que maravilha era poder respirar de novo... Olhei para mim mesmo e vi que estava deitado na cama... E ela estava ao meu lado acariciando meus cabelos.

E: Você é um retardado mental...

V: Eu sei...

E: Além de nunca ter me dito que tinha asma, você fuma que nem o diabo...

V: Eu também sei...

E: Idiota. Tem noção do que teria sido se você tivesse morrido na minha frente?

V: Desculpa... Eu não queria...

E: Ville... Não tem desculpa pra esse tipo de coisa! Eu fiquei desesperada aqui... Você é maluco ou o que?

V: Darling... Eu não queria... Eu só... Só aconteceu... Não... Não vai embora...

Ela se levantou e saiu de perto de mim.

E: Você tem que ir ao médico.

V: Não! Eles vão me internar lá e...

E: Só que é isso mesmo que tem que acontecer! Você... Você ta se recusando a ir até lá?

V: É óbvio! A última vez que eu fui, fiquei lá 5 dias! Eu tenho os remédios aqui! Não vou pra lugar nenhum!

E: Então você que se cuide sozinho! Porque eu não vou viçar que nem uma retardada atrás de você de novo não!

V: Ethel... Por favor... É só que...

E: Não tem “é só que”, Ville! Até parece que você não sabe que eu fiquei preocupada! Eu não quero perder você! Mas que droga!

Mais silêncio. Eu comecei a me sentir muito mal agora... Pior que antes.

V: Teria sido melhor se eu tivesse morrido então...

E: Cala a boca Valo... Você parece que ta delirando.

V: Mas eu to falando sério. Primeiro porque você não estaria me tratando assim, segundo porque não ia me chamar pelo sobrenome, terceiro porque não iria ficar brigando comigo...

E: Você é idiota... Muito idiota... E eu me sinto idiota por sua causa... Eu fiquei preocupada e eu sei que nada vai mudar... Você não vai parar de fumar e nem nada.

V: Não... Eu não vou parar mesmo. Eu não quero parar.

E: Eu vou embora.

V: Não, darling... Por favor... Eu preciso da sua ajuda... Ta tudo bem, eu sou um idiota mesmo, mas se você for... Eu sei lá o que vai acontecer e...

Ela só olhou pra mim e saiu. Ta... Eu era um idiota mesmo. Fiquei mais um tempinho deitado... Quando me levantei foi horrível, quase caí pra trás... Fui andando vagarosamente até a gaveta e peguei um dos remédios pra tomar. Voltei para cama ainda sentindo dor... A noite iria demorar pra passar hoje...