A semana passou rápido. Segunda-feira chegou logo fomos até a concessionária escolher o carro.

V: Vou levar uma grana, porque se o único carro bom for caro e...

E: Ta certo. Ville, eu sou escritora... Tem bastante dinheiro na poupança... Você sabe!

V: Ta... Sei disso, sei disso... Só to dizendo pra não chegar lá na hora e...

E: Vamos logo, que tal?

Pegamos um ônibus e fomos até o lugar. Era um pouco longe. Sem falar que chegar lá foi muito triste: vários carros caríssimos e importados... Isso me fez lembrar o quanto eu era pobre... Foi aí que vi exatamente o que eu queria: Uma Mercedes SLR preta... Conversível... Piscando... Acenando pra mim. Juro que a ouvi dizer: “Venha me comprar agora mesmo!” Eu é que não sou maluco de não obedecer a uma Mercedes...

V: Darling... É aquele.

E: Tem certeza?

V: Aham... Quanto custa?

E: 150 mil...

V: 150 MIL? PUT...

E: Melhor você não gritar isso no meio de todo mundo!

Era aquele o carro... Tinha que ser aquele. Não tinha nenhum outro melhor!

V: Vamos dividir então?

E: A gente veio aqui para isso.

O vendedor veio, mostrou outros carros, mas não. Era aquele! Ele falou que era uma ótima escolha... Falou que ainda estava na promoção e que o verdadeiro preço era o dobro daquele... O dobro! Meu Deus, como eu sou pobre!

Assinamos a papelada, pagamos uma parte da taxa, bla, bla, bla... E depois... Fomos dirigir. Me empolguei.

V: Darling... Olha esse carro... Eu quero dirigir! Saí da miséria! Quer dizer... Entrei na miséria! Vou ficar mais pobre que o normal... Viu a grana que a gente gastou? Nem pense em esfaquear alguém aqui dentro... Ou comer qualquer coisa aqui dentro...

E: Ville... Acho que você ta exagerando, não ta não?

V: NÃO! Esse carro é sagrado! É o nosso presente... Eu te amo!

Ela sorriu. Depois olhou nos meus olhos.

E: Eu te amo também...