Na base da Nerv, um dos elevadores começa a longa descida enquanto duas amigas conversam.

- Não entendo o que foi isto, instinto maternal aflorando?– Pergunta Ritsuko Akagi, a Cientista Chefe da Nerv, para a Tenente-Coronel Misato Katsuragi.

- Não seja boba. Só achei que seria muito deprimente para um menino de 14 anos viver em um alojamento dentro da Nerv. E eu serei responsável por ele em campo de qualquer forma.

- Ser responsável por um menino em campo é uma tarefa de meio período. Treinamentos e situações de emergência. Bem diferente de ter que cuidar de uma criança 24 horas por dia.

- Adolescente. – as duas mulheres se encaram por uns segundos – Ele já tem 14 anos, afinal.

- Tanto pior.

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 Uma sala de aula nova, faces novas, professores novos. Não que faça muita diferença para ele. Os outros alunos olham pra ele diferente para ele, quando ele entra na sala para ser apresentado pelo professor. Parecem ter algum tipo de... admiração. Por ele? Por quê?

- Este é o novo aluno recém transferido aqui para Tokyo-3. Apresente-se, jovem.

- Ikari Shinji. Prazer em conhece-los

- ...Muito bem jovem sr. Ikari, seus colegas ajudarão você com o assunto que já cobrimos antes de sua chegada. Tenho certeza que você se adaptará rapidamente a esta turma.

O assunto que o professor estava dando a classe era algo que Shinji já tinha estudado antes na sua escola, o que deixou Shinji a vontade o suficiente para perceber os cochichos e troca de olhares dos outros alunos para ele. Ele não conseguia entender por quê. Quando a campainha para o intervalo tocou, uma mensagem chegou na tela de sua mesa. Era uma pergunta. “Você é o piloto do novo Eva?” Ele não entendeu como seus colegas puderam chegar a esta conclusão tão rapidamente, mas respondeu um simples “Sim”. Foi o suficiente para que todos os alunos da turma se amontoarem ao redor dele, cada um fazendo uma pergunta diferente.

- Como você foi escolhido?

- Como é pilotar um eva?

- Você não tem medo dos Anjos?

Shinji não sabia o que fazer com todo este assedio, não era algo que ele estava acostumado. Dava uma sensação boa, ser o centro das atenções assim. Uma das garotas da sala, porém, começou a afastar todos e por ordem na sala. Depois de dispersar os mais insistentes, ela voltou sua atenção para Shinji e se apresentou.

- Shinji, não é? Eu sou a representante da classe, Hikari Horaki.

- Ah, sim. Prazer em conhecê-la.

- Veja, trouxe meus livros pra mostrar em que ponto estamos nas matérias. Você usava estes livros na sua antiga escola?

- Sim.

Depois de mostrar para ele toda a matéria que a classe já tinha coberto e descobrir que a maioria dos assuntos já era conhecido por Shinji, Hikari, como uma boa representante, pediu a Shinji que dissesse a Ayanami os capítulos que a classe avançou desde que ela parou de frequentar a aula, para que quando ela voltasse ela não ficasse defasada.

- Ayanami também estuda aqui?

- Você não sabia? Imagino que você veja ela na Nerv, por isto que estou pedindo sua ajuda.

- Eu... não sei. Só encontrei com ela uma vez. – a memoria da menina ferida e cheia de esparadrapos retorna vividamente – Mas eu não estou morando na Nerv.

- Ah. Mas ainda assim, você pode encontrar com ela, eu não. Não deixam a gente visitar ela.

- Sim. Vou dar o recado.

- Obrigada.

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Shinji chega na casa de Misato, sozinho. Ninguém em casa. Ele entra naquele que agora é seu quarto, coloca os fones de ouvido e liga o som. Enquanto a música toca suave sua mente passeia pelos eventos recentes. Pela primeira vez ele recebe alguma atenção dos colegas numa escola, mas ao retornar pra esta nova casa o pequeno prazer de ser popular some diante da evidência concreta do abandono de seu pai. Ele veio morar com uma estranha. Seu pai não o quer para nada além de ser piloto. Ele recebeu um elogio, e então nenhum outro contato com seu pai. Nada. A música acaba, e a seguinte começa. E a seguinte. E a seguinte. Shinji acorda. Ele se quer tinha percebido que tinha ido dormir. Um cheiro de comida no ar, e um ruido constante indicando que ele não está mais sozinho. Shinji se levanta e vai até a cozinha, onde Misato está terminando de preparar um macarrão instantâneo e bebe uma cerveja.

- Oi.

- Ah, você acordou! Estou preparando nosso jantar. Espero que goste de sardinha, mas se não quiser, o Pen-Pen não vai reclamar de comer por você.

- Pen-Pen? – Shinji não tinha visto nenhum sinal de que tinha um gato no apartamento.

- Vocês ainda não se conheceram? Tenho certeza que ele vai adorar você.

- Hm.

- Bem, a comida está pronta. Sente-se na mesa que já levo tudo para lá!

Shinji faz o que Misato pede e se senta diante da mesa, aguardando o jantar. Enquanto espera, começa a brincar com o garfo. Subitamente sente um beliscão na orelha. Quando se vira, quase perde um olho na ponta do bico de um Pinguim Imperador com uma coleirinha onde se lê “Pen²”. No susto, ele pula pra longe da mesa enquanto o pinguim celebra a vitória de ter afastado o invasor da mesa. Misato chega na sala com a comida e os dois se voltam pra ela.

- O que é isto?!– Grita Shinji.

- Ah, vejo que vocês já se conheceram. Pen-pen, este é o Shinji, ele vai morar conosco de agora em diante.

O pinguim não parece muito feliz. A ideia de dividir o peixe nunca é algo agradável para pinguins.

- Mas... mas... ele foram extintos no segundo impacto!

- Sim, o Pen-Pen é um clone geneticamente modificado para suportar as novas temperaturas da terra. Também desenvolvemos algumas focas e outros animais polares que foram extintos depois do segundo impacto. O Pen-pen aqui veio direto do laboratório para minha casa. Ele não é a versão final, o DNA dele ainda tinha uns probleminhas, mas eu não podia deixar uma coisinha fofa destas ao léu.

- Uh.

Shinji tinha a impressão – ou a certeza – de que a coisinha fofa em questão não ia ser particularmente cuti-cuti com ele. A nova casa parecia ficar cada vez pior.

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Quando chegou no segundo dia na escola, após ser gentilmente acordado com Pen-Pen tentando descobrir se os dedos do pé de Shinji eram saborosos, a ideia de chegar numa sala de aula onde ele seria bem vindo e bem tratado parecia cada vez mais importante. Por isto o choque de mal chegar no pátio e receber um soco que o derrubou no chão.

- Você se acha muito bom, hein, Piloto?

- Touji! O que está fazendo!

Um dos meninos estava na sala no dia anterior. Kensuke Aida. Foi um dos que mais fez perguntas ao Shinji sobre ser piloto. O segundo não.

- Kensuke, este Piloto incompetente precisa de uma lição!

- … Quem é você?

- Suzuhara Touji. Lembre bem do nome Suzuhara, por sua incompetência em pilotar o Eva você matou a minha irmã!

- Suzuhara! A voz da representante de classe surge num tom que congela todos os presentes. Shinji porém está em choque por descobrir que alguém morreu durante a batalha que lhe rendeu aquele elogio de seu pai.

- Suzuhara, eu lamento muito o que aconteceu, mas você não vai estar ajudando muito a sua família se você for expulso do colégio.

- Hikari...

- Vá para aula, Touji. Honre a memoria da sua irmã sendo o irmão decente que ela sempre teve. - Touji foge do olhar da representante e, com o amigo Kensuke, começa a ir embora.

- Eu... eu sinto muito.

Shinji finalmente fala, para o menino que o esmurrou. Touji olha para ele por cima do omro por um segundo e fala, antes de ir embora:

- Nós sentimos muito mais. São nossas casas que você derruba quando dá um passo em falso no Eva.

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Fim do Episodio 03