James Dean escrita por Mara S


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu tive essa idéia do nada, no caminho pro trabalho. Estava pensando na Nina e em como estava com saudades dela e do seu jeito único. Eu tenho uma nova história longa dela, mas só vou postar depois que tiver terminado alguns projetos abertos, como Philia. Odeio lotar meus leitores com histórias sem fim.
Bem, é um conto simples, feito por alguém que precisava usar seu momento de criatividade com a adorada Nina.



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“Rebel Without a Cause”

Era esse o título do filme que a jovem de dezessete anos viu na locadora. O nome lhe chamara atenção, mesmo que estivesse em um local da locadora que não lhe agradava muitos: Clássicos de Hollywood. Ela sempre tinha a impressão que aqueles filmes eram perfeitinhos demais, com suas atrizes glamorosas e atores com cabelos impecáveis. Mas aquele parecia diferente. A sinopse era ridícula como todas as outras, mas ela gostara do título e do foto que servia de capa. O ator se chamava James Dean e realmente poderia ser dito que era um sujeito interessante, mesmo depois de passados mais de trinta anos. A jovem pensou que precisava de um James Dean depois de ver o estilo da foto.

Levou a fita até o atendente espinhento, que deveria ter sua idade, e esperou que ele entregasse o filme em um saquinho como de costume.

- Sabe que ele morreu com vinte e quatro anos?

- Não.

Ela odiava conversas enquanto era atendida em locadoras. Sempre tinha a impressão que os jovens espinhentos queriam mostrar seu conhecimento inútil sobre filmes, como se o salário deles fosse aumentar com isso.

- Morreu em um acidente de carro, porque gostava de testar seus limites e...

O atendente ficou mudo ao entregar a fita para a jovem e notar algumas ataduras em seus braços. Talvez achasse que fosse alguma suicida, mas ao notar que parecia má educação reparar aquele tipo de coisa, continuou timidamente:

- Bem, espero que goste do filme.

Ela meramente murmurou um “obrigado” e saiu de perto do atendente nervoso. Começara a se acostumar com esse tipo de coisa que acontecia com certa freqüência desde que decidira sair com os braços descobertos.

Nina era uma jovem diferente do usual. Se James Dean fosse aquilo tudo dito pelo atendente, então Nina também morreria cedo. Era filha de pessoas “honestas”, como diriam muitos; uma filha que poderia afirmar pra qualquer um que tinha uma família estabilizada e supostamente feliz. Contudo, lutava para não se ver como parte dessas pessoas; talvez apenas mais uma adolescente que se tornaria uma mulher frustrada. Apesar de preferir pensar que sobreviveria ao mundo normal, que conseguiria manter sua identidade.

A identidade que lutava para deixar visível a todos. Seja pelas roupas, gostos particulares, assim como o tal de James Dean, ou pelo físico resumido tão bem pelas cicatrizes que começavam a se formar nos braços, ainda delicadas e quase invisíveis.

A maior parte das pessoas, isso incluía o atendente, tentava compreender o sentido daquelas marcas. Pensavam em suicida potencial ou maluca, alguns quase acertavam ao comentar algo como “essa menina não passa de uma vadia querendo chamar atenção!”. Era maior que aquilo, naturalmente. As cicatrizes não eram fruto de traumas, ela não as fazia para descontar suas frustrações mais íntimas, e nem como uma maneira de autoflagelação. Também não era apenas a curiosidade adolescente. Eram feitas por uma alma masoquista que gostava da dor. Algo doentio, na opinião de psicólogos e que deveria ser tratado.

Seus pais choravam ou a ameaçavam com tapas, até mesmo uma possível internação já fora cogitada. Entretanto, Nina ignorava todos os comentários, já que tinha certeza que não duraria muito na casa de seus pais. Antes sofrer uma vida sem rumo do que continuar fingindo ser tudo normal no conforto de um lar. Até quando a família - mais uma convenção - passaria por cima das satisfações individuais?

Nina chegou na casa deserta e jogou a bolsa no chão, ligando a TV logo em seguida. Deitou-se no sofá e assistiu ao jovem James Dean em seus atos de rebeldia em 1955. Tudo parecia tão mais simples vendo com olhos atuais, mas imaginava que naquela época, o mostrado no filme resumia bem o que era ser um jovem transgressor. Nina não era tão diferente daqueles adolescentes de dezessete anos mostrados ao longo de horas. Apesar das décadas passadas, eram pessoas frustradas com os valores, com a forma que o mundo via certas ações e condenava seus atos. O filme só mostrava que não havíamos mudado nada...

As falas De Jim Stark foram se embaralhando lentamente e Nina adormeceu pensando em James Dean e liberdade.

~~~~~

- O que te fez fugir de casa, Nina?

Fazia algum tempo que não ouvia aquele tipo de pergunta. O namorado não a fizera quando a aconteceu, talvez satisfeito com as informações que possuía. Agora, parecia estranho responder aquilo, mas era algo que estava cansada de mentir. Para cada pessoa que passava na sua vida respondia alguma coisa diferente, mas seria sincera agora.

- James Dean – respondeu calmamente.

- James Dean? – ele perguntou intrigado com a resposta dada por Nina.

- Você me perguntou o que me fez fugir; o que me deu coragem. Eu pensei em fugir por um bom tempo e provavelmente o faria; mas, em um determinado momento, algum fator ajudou nessa decisão. Esse fator foi James Dean.

- Isso foi inusitado. Pensei que responderia drogas, sua rebeldia, liberdade ou até uma internação insana; nunca um ator americano que morreu de acidente de carro com vinte e poucos anos.

- Você falou as razões, não nego. Uma hora, talvez fosse expulsa de casa por causa de alguns desses motivos. Ainda me lembro quando minha mãe achou erva no meu quarto! – sorriu com certa amargura na voz.

O namorado riu, tirando a pequena navalha afiada da água fervendo. Beijou o braço de Nina e iniciou os pequenos cortes pelo braço esquerdo da jovem, o sangue vertendo lentamente, enquanto ela observava tudo com um olhar satisfeito.

- Mas não é incrível? Ele era parecido comigo e com tantos jovens até...

- James Dean?

- Sim. Testou sem limites, não aceitava certas imposições... Experimentava a vida pra morrer sem frustrações. É só uma comparação boba, mas foi inevitável. Dizem que todos procuram por um herói na vida... Aí está um bom herói!

- Parece uma sonhadora falando, Nina. Você é estranha, garota... Não deixa de ser excitante, mas suponho que seja porque sou um doente também.

- Sim, claro que é por este motivo – Nina respondeu beijando o namorado.

Ele limpou o machucado e disse:

- Duvido que James Dean se cortava nas horas vagas.

- “Um dia espero não precisar me sentir confuso ou ter vergonha de qualquer coisa que fiz. Se eu sentir isso quer dizer que pertenço a algum lugar. Você entende?” – Nina recitou com um olhar desanimado

- Ele disse isso?

- Jim Stark disse... E sabe a ironia de tudo isso?

- Não tenho idéia.

- A frase não envelheceu nada.

~~~~~

“Você pode acordar agora, o universo acabou”

Jim Stark

Fim.

24 de agosto de 2011


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Notas finais do capítulo

- Espero que tenham gostado. Pensei em uma homenagem ao James Dean e à Nina, em especial. Reviews são bem vindos.