-Eu e Aki estamos namorando! – Kazuya Ichinose anunciava orgulhoso no fim do treino, com Aki agarrada a seus braços.

            -Sério? Parabéns Ichinose! – Endou ficava feliz. - Parabéns para você também, Aki.

            -Estou feliz por vocês, mas espero que não perca sua concentração nos treinos, Ichinose – Kidou repreendia, brincando com o recém-formado casal.

            -Eu sempre soube que vocês ficariam juntos! – Domom abraçava seus dois melhores amigos, que agora eram um casal.

            -Eu acho que deviamos sair para comemorar. – Tsunami sugeria. - Que tal um churrasco coreano?

            Todos concordavam com a idéia e logo se dirigiam para os vestiários, para tirarem as roupas de futebol e irem para o restaurante. A única pessoa que permaneceu no campo era Rika, que ficou brincando com a bola, fazendo embaixadinhas e truques do gênero.

            -Ei... Está tudo bem com você, certo? – Ichinose percebeu que a garota de Osaka não tinha acompanhado os demais para o vestiário, então voltou para o campo aonde ela estava. – Quero dizer... Essa coisa toda com a Aki...

            Rika voltava-se para a direção em que Kazuya estava. Seus olhos não estavam animados como sempre, mas ela forçou um sorriso com todas as forças que tinha.

            -É claro que estou bem, Darling! – opa! erro número um. – Quero dizer... Ichinose-kun... -  Pela primeira vez, Rika não se dirigiu a Ichinose por “darling”. Ao chamá-lo pelo nome, sentiu que as coisas tinham mudado completamente.

            -Certo, só queria me certificar que toda aquela história de me amar era algo como uma brincadeira. Estou muito feliz ao lado de Aki, mas quero que você seja feliz também, pois afinal, você é minha amiga. Uma valiosa amiga.

            -S...Sim, lógico, uma brincadeira apenas. Acho melhor irmos tomar banho para não nos atrasarmos para seu churrasco, Ichinose-kun.

            -Sim, vamos logo.

            Rika e Ichinose recoliam as últimas bolas do gramado e se dirigiam para os vestiários.

            Todos decidiram se encontrar no portão da escola, desde que os vestiários masculino e feminino ficavam em áreas diferentes do colégio, aquele era o ponto mais razoável.

            Kurimatsu, Kabeyama e alguns mais curiosos enchiam de perguntas o casal, que respondiam tudo com um sorriso encabulado no rosto, enquanto seguravam a mão um do outro.

            -Ali estão Megane e Toramaru, falta mais alguém? – Sakuma reparou os dois garotos chegando.

            -Acho que estão todos aqui... Exceto pela Rika, por que ela está demorando?

            -A Rika-san não virá! – Explicou o inteligente Megane. – Ela nos disse que está passando mal e achou melhor ir para casa.

            -É uma pena, mas é melhor nos apressarmos, todos os outros garotos da Teikoku já estão nos esperando lá. – Kidou partia levando todos consigo.

            Ao ouvir a notícia sobre Rika, Touko se sentiu preocupada, naturalmente, Rika era sua amiga mais próxima e estava se sentindo completamente bem no treino, o que poderia ter feito ela ficar doente nesse meio tempo?

            -Ei, o que foi Touko?! Você não vem?

            -Hã?! – Touko parava de pensar um pouco e percebia que o grupo já estava a sua frente. Corria para alcançá-lo.

-Ei, Endou... – A conversa de todos estava focada na novidade enquanto iam andando para a churrascaria, mas Touko puxava uma conversa diferente com o goleiro. - Eu estou preocupada com a Rika-chan, acho melhor ir ver o que ela tem.

            -Você tem razão. Quer que eu vá com você?

            -Não precisa. Acho que um papo entre garotas vai resolver o assunto.

            -Se é isso, então eu não posso ajudar mesmo.

            -Naturalmente! Mas não se preocupe, eu vou dar um jeito, desculpe por não poder ir com vocês.

            -Tudo bem, vá la.

            Touko saia correndo na direção contraria à que o grupo estava andando, enquanto corria, ela olhava para trás e acenava:

            -Aki! Ichinose! Parabéns!!!

            Devido as conquistas consecutivas dos times colegiais de futebol no Japão, o esporte mais famoso do mundo ganhou muito mais destaque e investimento no país e como Inazuma City foi a cidade de origem da maioria dos jogadores que colaboraram para tais conquistas, a associação japonesa de futebol, em conjunto com alguns diretores, desenvolveu um projeto no qual os maiores jogadores de futebol colegial do país iriam ser mandados para essa cidade por um ano. Os esportistas iriam tornar-se estudantes ou do colégio Raimon ou de Teikoku durante o tempo em que estivessem lá e não iriam pagar nada, contanto que participassem do clube de futebol, os que fossem mandados para Raimon seriam comandados por Endou e os que fossem mandados para Teikoku seriam comandados por Kidou, mas isso não importava muito, pois os dois colégios se juntavam para treinar na maioria das vezes. Esse programa era o motivo para que Rika, Ichinose, Tsunami e outros estivessem por lá .O projeto oferecia dormitórios para os “intercambistas” morarem, porém, morar lá não era obrigatoriedade, se hospedar na casa de um amigo ou achar qualquer outro lugar para morar era permitido, se bem que o dormitório era bem confortável e oferecia refeições de graça para seus moradores, por tanto a maioria ficava por lá mesmo.

           Touko correu para esse prédio de dormitórios. Ela corria pois temia que Rika não estivesse doente de verdade. Sendo muito próxima da morena, ela era a única que já tinha ouvido o tanto que sua amiga de cabelos azuis amava Ichinose, Rika não se cansava de contar para Touko todos os planos que tinha de se casar com ele e ter filhos e até já tinha decidido o nome dos filhos. A ruiva sabia que o que Rika sentia por Kazuya era forte.

            -Rika, abra a porta! – Touko gritava enquanto tentava recuperar o fôlego, intercalando suas palavras com sua respiração e batia na porta do quarto 138. – Sou eu!

            A porta se abriu vagarosamente e a ruiva ofegante se deparou com uma visão que jamais tinha visto antes: Rika parecia muito deprimida, encarava o chão, com a cabeça baixa, enquanto segurava seu cotovelo esquerdo com a mão direita.

            -O que que você quer... Touko-chan?

            -E...Ei... – Touko correu para ajudar sua amiga, mas não tinha pensado em nada do que ia dizer quando a encontrasse e era péssima nesse tipo de situação, não sabia o que fazer.

            -Rika-chan... Está tudo bem?

            -Claro... Não se preocupe comigo.

            -Seu rosto não condiz com o que você está dizendo.

            -... – A morena continuava encarando o chão, com uma expressçao quase mórbida.

            -Rika...

            -Você pode me deixar sozinha, por favor?

            -O que? Claro que não! Eu quero te ajudar. Por que você não me deixa entrar e me conta tudo que está acontecendo?

            -Eu só quero ficar sozinha.

            -Essa não é a solução.

            -Mas eu quero.

            -Deixa eu te ajudar.

            -Touko! – Rika finalmente parava de encarar o chão para encarar a amiga. Não era possível dizer se sua expressão nesse momento era de tristeza ou de raiva, talvez uma mistura das duas, tudo que podia se dizer é que estava segurando o choro, que já deixava seus olhos úmidos – Me deixe em paz! Eu não quero saber de você aqui! E nem de ninguém! Eu não preciso de ajuda nenhuma, só quero que você suma da minha frente!

            -Você não pode ficar assim só por causa do Ichinose! – “eu não devia ter dito isso” pensou a filha do ministro Zaizen, ao explodir, seguindo a onda da morena.

            O grito de Touko não teve nenhuma resposta. Rika ficou observando a ruiva, assustada, mas não assustada pelo grito e sim pois sua amiga disse o que disse em bom e alto som, tornando, para ela, a perda de seu darling mais real ainda.

            -Rika...Eu não quis dizer...

            Os olhos fitantes de Rika liberam as primeiras das várias lágrimas que estavam por vir e a garota corre em direção as escadas.

            -Rika! – É inútil. A morena desce as escadas e foge. A realidade estava se mostrando para ela muito rápido e brutamente, era muito para que ela pudesse aguentar sozinha.

            Percebendo que sua amiga não iria retornar, Touko decidiu correr atrás dela. Após alguns passos, retorna à entrada do quarto 138, cuja porta Rika deixara aberta. A ruiva entra no quarto, pega uma bola que estava no chão e então sai de lá, fechando a porta e pondo-se a correr atrás da morena.

            O pôr-do-sol pintava o céu de laranja. Rika estava no local aonde tinha a torre da cidade. O mesmo local que Endou e os outros usavam para treinar com pneus. Ela observava o pôr-do-sol debruçada sobre as grades de proteção.

            -Rika! – Touko finalmente tinha encontrado a morena que, ao ouvir seu nome, se virou, vendo a amiga longe segurando uma bola na mão. Sem que Rika pudesse pensar, a bola que estava na mão da ruiva é chutada por ela, atingindo Rika, que era derrubada.

            -Rika... Eu gosto muito de você... Pare de ser cabeça dura e me deixe te ajudar. – Dizia a ruiva se aproximando da amiga. O rosto dela condizia com a ação que acabara de fazer, porém seus olhos, mesmo ríspidos do jeito que estavam, estavam se segurando. Era como se Touko quisesse chorar também, mas tinha que ser forte, se quissese que sua amiga tivesse força igualmente.

            A morena não tinha se enfurecido pela pancada que acabara de levar. Pelo contrário, entendia que realmente tinha merecido aquilo. Com a ajuda da mão de Touko, se levantou.

            -E então – a ruivinha sorria de um jeito quase maternal.

            -... – a expressão deprimida e mórbida de Rika mudou para apenas triste e, então, a feição confortante de Touko fez com que ela se soltasse.  – Como eu pude perder para a Aki? – ela chorava tudo que segurou de uma vez. A ruiva abraçava-a, enquanto as lágrimas não paravam de escorrer de seus olhos. – Por que o Ichinose não me escolheu? Se ele sabia que tinha chances maiores comigo, por que ele se arriscou com a Aki? Eu não sou boa o suficiente? – ela intercalava seu choro com suas perguntas sem respostas. – Eu não sou feminina o suficiente? Eu não sou bonita o suficiente para ele?

            Touka abraçava a amiga, confortando-a.

            -Está tudo bem, Rika-chan, isso é normal de se acontecer, e não se preocupe, você é linda.

            Sem tirar a cabeça que estava afundada no ombro direito de Touko, Rika duvidava:

            - Você acha mesmo isso?

            -Claro que sim, se eu pudesse ter metade da sua beleza, eu estaria muito satisfeita.

            -Você é muito legal, Touko-chan. – Ela apertava ainda mais forte a ruivinha.

            -Eu tive uma idéia... – A morena levantava sua cabeça, que estava toda marcada do choro, do ombro da amiga, para ouvir que idéia estava por vir. Poucas lágrimas apenas terminavam de escorrer de seus olhos. – Você sabe que eu não moro no dormitório que nem você e os outros, certo?

            -... – Ela apenas esperou que a ruiva terminasse de contar sua idéia.

            -Eu estou morando em um hotel da cidade que é da minha tia. Como o hotel é da família, minha tia deixa eu ocupar um quarto sem pagar nada. Por que você não vem morar comigo? Lá é um lugar muito legal e eu prefiro você perto de mim do que em um dormitório sozinha, ainda mais nessa situação.

            -Heh... – animando-se aos poucos, Rika debochava – A família do ministro é toda bem riquinha, hein...

            -Você não perde a chance de fazer uma gracinha...

            -Eu aceito. Eu vou morar com você. – O abraço só foi desfeito nesse momento.

            -Então vamos pegar suas coisas e falar com os diretores do programa. – as duas começaram a caminada de volta para o dormitório.

            -Touko... Obrigada pela sua amizade.

            -É um prazer.