Acordei com o barulho do meu celular tocando no criado-mudo, podia jurar que a vibração dele fazia mais barulho que qualquer outra coisa. Suspirei, estendendo eu braço e com a melhor voz de travesti possível atendi o aparelho.

–Alô.

–. . .

–Ele de novo? Quem foi a vitima dessa vez?

–. . .

– Capela?Estou a caminho.

Me levantei rapidamente, praticamente correndo, apesar da minha lerdeza ao acordar. Olhei o relógio enquanto me arrumava e me surpreendi com o horário.

– Três horas da manhã... 

Disse surpreso. Eu e a minha mania de falar sozinho...  Terminei de me arrumar e sai de casa , arrancando pelas ruas de New Orleans com meu ChevetSL/E.  

– Mais uma vitima , é a sexta só esse mês...

Suspirei enquanto mexia em alguns papeis no painel do carro,  não era a primeira vez que me acordavam para ir a cena de um crime, mas fiquei surpreso  com o horário... Cedo demais.

 Depois de muita procura, encontrei meu CD do Bee Gees, minha banda preferida e  durante uns 10 minutos eu dirigi embalado pelo som de Massachussetts.

Chegando na cena do crime, meu chefe, o delegado Yoshikitty-Digo, Yoshiki, veio ao meu encontro .

– Acho que conhece a vitima, Akira-san.

Aproximei-me apreensivo, um tanto curioso. Eu não tinha muitos amigos e meus parentes não moravam por aqui. Quem poderia ser?

Eles puxaram o lençol  preto que cobria o rosto da vitima e me assustei ao ver quem tinha morrido.

– O marido dela sabe ?

– Sim, informamos o senhor Miyavi a alguns minutos ,ele está a caminho .

Tampei a boca, uma terrível vontade de vomitar me dominou e fui obrigado a me retirar antes que perdesse o controle.  Sai de lá a passos longos e me encostei no capo do meu carro, respirando fundo.

– Tudo bem com você?

Yoshiki me perguntou se aproximando me oferecendo um lenço, que aceitei, agradecendo com um manear.

– Sim , só estou surpreso de ter sido ela...

– Vocês eram muito próximos, não é?

Respirei fundo , assentindo e  levando o lenço ao nariz .

– Sim, apesar de tudo.

– Sinto muito, se não quiser investigar tudo bem, tenho outro rapaz no caso e ... Ela era su-

– Não - arrumei a postura e estendi o lenço - Estou bem , só me diga as circunstancias da morte .

– Sim, venha .

Andamos até a cena do crime, onde o legista ainda mexia no corpo, nós o interrompemos e perguntamos a causa da morte. 

Afogamento.

Mascomé?

– Afogamento? Estamos no verão...

O legista nada disse, só saiu andando me deixando lá com meu chefe. Fiquei parado um momento, observando o corpo e pensando em como isso poderia ter acontecido. Como é possível, uma mulher de mais ou menos 27 anos morrer afogada,  no verão e ser encontrada em frente a uma capela? Muitas perguntas rodeavam a minha cabeça mas fui retirado dos meus devaneios quando escutei uma voz conhecida e extremamente irritante chamar meu nome .

– Akira?

Virei-me e pude ver Miyavi se aproximar com Lovelie nos braços.  

– Porque trouxe a menina com você?

– Não é da sua conta... Não acha que já fez o bastante ?

Disse e passou por mim para ver o corpo. Reparei que ele parecia abatido, estava sem seus piercings e a maquiagem  que sempre usava.

– Yoshiki , pode vir aqui um instante?

Pedi educadamente, fazendo um sinal com a mão para irmos até a frente de meu carro.

– Sim, o que foi?

– Poderia me passar a ficha completa de todas as vítimas?

– Oh.. Eu tinha dado o caso para o policial recém-chegado... Mas pode trabalhar em conjunto com ele... Acho que se conhecem.

Assenti, me despedindo e entrei no meu carro. Eu precisava de uma xícara de café.