O Diário de Uma Heroína escrita por Kagome_


Capítulo 4
Capítulo 4




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Quando contei ao Kouga o que tinha acontecido no Estúdio de arte, ele só riu.

Riu! Como se fosse engraçado!

Eu meio que fiquei ofendida por causa disso, mas acho que devia ser meio engraçado. De certo modo.

- Kagome – ele balançou a cabeça – Você não pode deixar o sistema vencer. Você precisa lutar contra o sistema.

Muito fácil ele dizer isso. Afinal, ele tem 1,95 m e pesa mais de 90 Kg. Eu, por outro lado, só tenho 1,60 m e não sei quanto peso, já que a minha mãe jogou fora a balança daqui de casa depois de ver uma reportagem de anorexia e bulimia.

Quando fiz essa observação, no entanto, o Kouga começou a rir ainda mais. Uma grande falta de educação para um cara que supostamente é minha alma gêmea e tal.

- Kagome – explicou ele – não estou falando de lutar fisicamente. Você precisa ser mais esperta do que isso.

Ele estava sentado na mesa, comendo umas rosquinhas de chocolate, que Kaede comprou para o café. A gente não costuma a comer doces e tal. Minha mãe vive fazendo a gente comer frutas e biscoitos integrais. Mas a Kaede não quer nem saber. Ela não tem a mesma opinião do que meus pais em relação ao Kouga, de modo que, sempre que ele aparece lá, ela faz algo diferente, como bolo, brigadeiro. Estou dizendo, a Kikyo sai com o único cara no mundo que inspira Kaede a fazer doces. A vida é mesmo injusta.

- A Ayame Boone está sufocando minha criatividade – exclamei – Ela está me tentando transformar em algum clone artístico...

- Claro que está – ele disse – É isso que os professores fazem. Você tentou ser um pouco criativa, colocou um abacaxi, e BAM...! Lá vem o punho da conformidade para esmagar você!

Quando o Kouga fica animado, ele começa a mastigar com a boca aberta. Pedacinhos de bolinho saíram voando e caindo exatamente na capa da revista da Kikyo. Ela olhou para capa, e depois para ele, e disse.

- Cara, vê se fala sem cuspir!

Daí voltou a ler a respeito de orgasmos.

Está vendo quando eu falo que ela nem liga pra ele?

Dei uma mordida no meu bolinho. A mesa fica em uma espécie de átrio envidraçado que se projeta a partir da cozinha para o quintal. O teto é de vidro, três paredes são de vidro...quase tudo de vidro. Como estava escurecendo lá fora, não gostei nada do reflexo que eu via. Era o seguinte:

Uma garota de tamanho médio, com pele branca, toda vestida de preto, com um bando de cabelo preto saindo da cabeça, todo espetado.

E gostei ainda menos do que vi ao lado do meu reflexo:

Uma garota com traços delicados, usando um uniforme roxo e branco de animadora de torcida, com o cabelo brilhante perfeitamente assentado e levemente ondulado, com uma delicada fivela segurando a franja.

E:

Um cara gostoso, lindo, de ombros largos, com olhos azuis penetrantes e cabelos preto amarrados em rabo de cavalo, com um jeans rasgado e um sobretudo militar azul-marinho, comendo bolinhos como se não houvesse amanhã.

E lá estava eu, no meio dos dois, como sempre tive. Uma vez assisti a um documentário sobre a ordem do nascimento dos filhos, e adivinha só o que dizia:

Primeira filha (conhecida como Kikyo): Mandona. Sempre consegue o que quer. Filha com maior possibilidade de ter uma empresa própria, ou se tornar uma super modelo.Última filha (conhecida como Rin): Bebê, sempre consegue o que quer. Filha com maior probabilidade de descobrir a cura do câncer, etc...Filha do meio (conhecida como eu mesma): Perdida na confusão. Nunca consegue o que quer. Filha com maior probabilidade de se transformar em uma adolescente fugitiva.

É a história da minha vida.

- Bom – respondi ainda encarando meu reflexo – E o que eu devo fazer agora? Na escola ninguém falava dos meus desenhos. Sempre deixavam eu colocar tudo o que eu queria.

Kouga deu uma gargalhada.

- Escola – exclamou – Tá bom.

O Kouga está vivendo uns conflitos com a escola. Tudo porque ele fez uns desenhos e os botou em exposição no shopping e ele colocou o nome da escola. O diretor não gostou nadinha disso. Os quadros eram todos de adolescentes com bonés, matando tempo na frente de uma loja de conveniência. Chamavam-se Estudos sobre Malatitude, Números Um a Três.

Sempre que o Kouga fica triste por causa disso, digo a ele que nem todos conseguem enxergar a verdadeira obra de arte.

- Você precisa encontrar uma maneira de lutar contra essa tal de Ayame. Tipo assim, antes de ela tirar cada ponto criativo da sua cabeça. Você precisa desenhar o que está em seu coração. Se não qual vai ser o sentido?

- Eu sempre achei que as pessoas devem desenhar o que conhecem – disse Kikyo, em tom entediado.

- Escrever o que conhecem – corrigiu Rin – Desenhar o que vêem. Todo mundo sabe disso.

Kouga olhou pra mim triunfante.

- Está vendo como está coisa é traiçoeira? Já entrou até na cabeça de garotinhas de 11 anos.

Rin lançou um olhar irritado pra ele. A Rin sempre ficou ao lado dos meus pais a respeito da opinião de Kouga.

- Ei! – protestou – Eu não sou garotinha nenhuma.

Kouga ignorou.

- Onde é que nós estaríamos se o Picasso só desenhasse o que via? – Kouga quis saber – Apegue-se as suas crenças Kagome. Se o seu coração manda você desenhar um abacaxi, então desenhe um. Não deixe que os outros determinem o que você desenha.

Eu não sei como ele consegue mas, de alguma forma, o Kouga sempre fala a coisa certa. Sempre.

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- Então você vai largar? – quis saber Sango, naquela mesma noite quando me ligou.

- Não sei – respondi – Eu quero sair. A classe é cheia de gente esquisita.

- Ué. Você disse que tinha um cara fofo.

Pensei no Inuyasha, com aquela cara que eu já tinha visto antes, a camiseta do Save Ferris, as mãos e pés grandes, olhando pra minha bota.

E na maneira como ele me viu sendo totalmente esmigalhada, igual a uma formiga, bem na frente dele.

- Ele é fofo – reconheci – Mas não tão fofo como o Kouga.

- E quem é? – Perguntou Sango com um suspiro – E a sua mãe vai deixar você largar? Tipo assim, é meio um castigo pelas notas baixas em inglês. Talvez seja pra você não gostar de propósito.

- Acho que o objetivo é que seja uma experiência de aprendizado para mim. Sabe como é.

- Então você não pode largar? – concluiu Sango – O que vai fazer?

- Vou pensar em alguma coisa – respondi.

Na verdade, eu já tinha um plano.


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