Capítulo 29 – Narrado por: Elena Pierce, Katherine Pierce, Damon Salvatore e Stefan Salvatore

Parte 1 – Elena Pierce

-Elena, o que está aqui a fazer?

Virei-me para trás, assustada com a hipótese de alguém estar aqui a observar-me.

-Calma, sou só eu – Stefan disse, aparecendo das sombras.

Suspirei aliviada.

-O que aconteceu? Acabei de encontrar Katherine e ela estava devastada.

-É uma longa história, Stefan.

-Já conheço uma parte dela.

Forcei um sorriso e pedi para ele se sentar ao meu lado.

-O que o Stefan diria se Damon me andasse a cortejar?

-Perguntava se ele o estava a fazer decentemente.

Ri um pouco, mas continuei:

-A sério, Stefan.

-Diria que gosto muito dos dois e que… iria gostar muito de ter Elena na minha família. Mas porquê a pergunta?

-Porque Katherine tem uma perspetiva diferente. Em vez de dizer o que o Stefan disse, ela começou a falar das consequências.

Houve uma breve pausa e Stefan acenou.

-As consequências de Damon estar na guerra.

-Sim, isso mesmo.

-E o que a Elena disse?

-Foi um erro – suspirei quando percebi que tinha agido mal com a minha irmã. – Disse que ela estava a tentar colocar-me contra ele.

-Sabe o que acho Elena? Acho que Katherine valoriza a família acima de tudo e que aquelas brigas de antigamente foram uma birra infantil que se prolongou por demasiado tempo. Agora que ela quer restaurar a sua confiança, ela não sabe como e acaba por errar.

-O pior de tudo, é que o que ela disse é verdade.

-Até pode ser – falou ele e pegou nas minhas mãos. – E qual é a solução para isso? Ser infeliz por ter medo que ele morra e acabe por enviuvar demasiado cedo?

-Bem, na verdade, ela colocou a hipótese que se chama Elijah.

Ele gargalhou alto e abraçou-me.

-Elena, Elijah não acredita no amor entre as pessoas. Não da maneira romântica como Elena ou Katherine veem. Para além disso, ele jamais aceitaria casar com alguém que ama outra pessoa. Elijah é demasiado nobre em relação a isso.

-Imaginei que sim – assenti. – Que faço, Stefan?

Ele começou a embalar-me, como se fosse um bebé e eu foquei-me no pequeno lago.

-Acho que viver um dia de cada vez é o ideal. E nunca deixar nada por dizer. Assim será possível viver em paz e liberdade.

Concordei com um movimento da cabeça e respirei fundo, aspirando o perfume de Stefan.

-Obrigada, Stefan – falei e desfizemos o abraço. – Acho que agora vou falar com a Katherine.

-Acho que é o melhor para as duas. Nunca se esqueça, Elena, ela viveu muitos anos sem a sua confiança e agora não sabe como conquistá-la.

Acenei mais uma vez e levantámo-nos. Ele pegou na minha mão e caminhámos em silêncio até á festa. Quando lá chegámos, ele largou-me a mão e foi falar com os convidados.

Parte 2 – Katherine Pierce

Saí do jardim, furiosa e frustrada ao mesmo tempo. Elena não confiava em mim e ela era a única pessoa que eu tinha naquele momento, para além dos meus pais, mas eles estavam em Atlanta, pensando que estávamos bem e felizes. Grande utopia para eles, grande desgraça para mim. Comecei a dirigir-me à casa de banho para ter um pouco de paz, mas alguém agarrou o meu pulso com força, fazendo-me virar e chocar com o corpo que me prendia.

-O que se passa, Katherine?

Olhei para cima e vejo duas bolas azuis claras como o oceano num dia de sol. Mostravam preocupação e havia uma ruga no meio da testa.

-Zanguei-me com Elena – murmurei.

-O que aconteceu?

-É uma longa história.

-Bem, a festa vai acabar lá para as quatro da madrugada porque está tudo muito animado, por isso, porque não contar-me tudo?

-Aqui? – perguntei, chocada. Naquele corredor passavam homens e mulheres de todas as idades e qualquer um podia ouvir a nossa conversa.

-Ainda bem que eu sei onde são os quartos de hóspedes – disse ele e desceu a sua mão do meu pulso para a minha mão, fazendo cócegas na minha palma. – Venha.

Subimos umas escadas e ele abriu a porta de um quarto que estava sem iluminação, apenas a luz da lua, que ainda assim tornava tudo escuro porque as cortinas pesadas não deixavam passar muita luminosidade.

-Não podemos ir para outro sítio? – pedi. Eu confiava em Damon, mas podia haver pessoas ali, e eu não queria que ouvissem o meu drama com Elena.

-Não – falou ele, determinado. Abriu as cortinas, deixando assim o quarto mais iluminado pela luz da lua e eu assim tive oportunidade de o ver.

Sentei-me num sofá e esperei que ele fizesse o mesmo.

-Então, o que se passa?

-É Elena – disse.

-Isso já eu tinha percebido. Mas agora, qual foi assunto?

-Bem… foi… Damon.

-Eu? – perguntou ele, claramente admirado. – E porque seria eu motivo de discussão entre vocês as duas?

-Elena falou de uma hipótese de Damon estar a cortejá-la e… para além de ficar com ciúmes, fiquei um pouco apreensiva em relação a ela – falei e senti-me corar.

-Porquê essa preocupação?

-Porque pode morrer na guerra e não quero que a minha irmã enviúve tão cedo. Temos dezassete anos, Damon! O que seria dela se morresse? E eu?

-Está com ciúmes de eu amar Elena, ou está com ciúmes de eu nos últimos tempos ter-lhe dado mais atenção?

Parte 3 – Damon Salvatore

Esperei pacientemente pela sua resposta, até que ela veio, não através de palavras, mas através de um abraço.

-Fiz muitos erros no passado e não quero cometê-los agora. Já me zanguei com Elena por causa do Matt e também já a fiz sofrer por causa das vossas lutas, mas não quero ver ninguém da minha família morrer – falou ela.

-Katherine, está tudo bem – disse, afagando as suas costas. – Eu estarei sempre aqui, pelas duas.

-Jura? – perguntou ela, olhando-me profundamente nos olhos, com uma intensidade que nunca tinha visto nela.

Na verdade, nunca tinha visto Katherine tão vulnerável. Afinal, Elena e Katherine são parecidas: elas valorizam a família acima de tudo, a única diferença era que Elena deitava tudo cá para fora e Katherine fazia de tudo para a manter unida, mesmo que isso fizesse alguns membros da sua família sofrerem. Magoar Elena durante todos aqueles anos era uma forma de auto preservação porque Katherine viu a sua amizade e cumplicidade com Elena acabadas no momento em que Matt a traiu. Ela amava tanto Elena e Matt – a sua família – que sentiu que nada seria o mesmo, então, para ter um motivo de estar sempre a vigiar Elena, ela fazia aquelas coisas, mas na verdade ela tinha medo de a perder outra vez. Ela não sabia disto, mas eu sabia.

-Juro – disse e beijei a sua face. – Assim que as vi, tão alegres e sorridentes, vi que iriam trazer felicidade a esta família e foi isso que fizeram. Conquistaram os corações dos meus pais, do meu irmão e o meu. Jamais irei abandoná-las e irei lutar até ao último suspiro por vocês.

Parte 4 – Stefan Salvatore

Katherine e Damon desceram as escadas, os dois sorridentes e quando os nossos olhares se cruzaram, Katherine desfez o seu sorriso e olhou insegura para Damon, que simplesmente acenou com a cabeça e pegou-lhe na mão. Aproximaram-se de nós e Elena deu um passo atrás, quase escondendo-se atrás de mim.

-Elena, desculpa. Não devia de ter dito aquelas coisas horríveis – falou Katherine, com lágrimas nos olhos.

Elena fitou os olhos da irmã, castanho com castanho, ambos magoados e ambos inseguros do que iria acontecer a seguir.

-Tens a certeza que não disseste aquilo para me magoar? – perguntou Elena.

-Só não te quero perder como te perdi. Desculpa – voltou a dizer Katherine, olhando para o chão, envergonhada.

-Olha para mim – pediu Elena com delicadeza na voz. Katherine assim fez e Elena disse as palavras: - Eu desculpo-te, mas desde que não voltes a fazer o que fizeste.

Katherine acenou e abraçou a irmã. As duas começaram a gargalhar e a balançar-se de um lado para o outro. Olhei para Damon com um grande ponto de interrogação na cabeça. O que terá Damon dito a Katherine?

-Senhoras e senhores, que comecemos a dança! – exclamou Mayor Lockwood e eu peguei na mão de Katherine. – Miss Katherine, gostaria de dançar comigo?

-Claro que sim! – disse ela, sorrindo para mim e eu entrelacei os nossos braços. Dirigimo-nos para o centro do salão e colocámo-nos em fila. Atrás de nós estavam Damon e Elena e à nossa frente estava Lexi com o seu irmão, Elijah.

A música começou e demos um passo em frente. As nossas mãos estavam entrelaçadas uma na outra e Katherine tinha um ar altivo e elegante. Demos outro passo. Seria ela a ideal para eu casar? Demos outro passo e virámos.

-Ainda não disse isto hoje, mas Katherine está deslumbrante.

Ela sorriu e olhou para mim.

-Obrigada.

Demos dois passos em frente, cruzando-nos com os pares que estavam do outro lado. O seu cabelo estava preso num coque com uma pena que tinha a mesma cor do vestido. Um laço preto enlaçava a sua cintura, tornando-a ainda mais fina e ela mais elegante. Katherine era linda, ninguém o podia negar. Mais dois passos e virámos para a direita. A dança era bastante simples, na verdade, bastante fácil de aprender.

Larguei uma mão e rodei-a. A sua mão livre foi para o meu ombro e a minha para a sua cintura fina. Começámos a dançar uma valsa simples, rodando em círculo entre nós e em volta do salão. Parámos no meio do salão e afastámo-nos, com as nossas mãos a unir-nos. Rodei-a e ela foi para os braços de Elijah, enquanto Elena foi parar aos meus.

-E ele é bom dançarino – comentou ela, sorrindo.

-Pois, da última vez não correu tão bem.

Ela abriu a boca, espantada com o que eu disse, mas era a pura verdade.

-Verdade – concordou ela. – Da última vez eu estava mais desejosa de trocar de par do que qualquer outra coisa.

Sorri e os nossos rostos aproximaram-se. Ela cheirava a rosas, ao contrário de Katherine que cheirava a limão e gengibre, uma mistura exótica, e que explicava claramente a diferença entre as duas.

Voltámos a rodar de par e desta vez calhou-me Rebekah.

-Como estás, Stefan? – perguntou ela, olhando para Matt.

-Não olhes – disse-lhe ao ouvido. – É assustador.

-Porquê? – perguntou ela.

-Porque é. Não queres parecer uma controladora de movimentos, pois não?

Ela negou com a cabeça e vi uma vulnerabilidade.

-Gostas mesmo dele, verdade?

Ela acenou com a cabeça, sem conseguir proferir uma palavra.

-Então vai em frente – aconselhei e ela olhou-me surpreendida.

-E desde quando é que eu aceito os teus conselhos, Mr. Salvatore?

-Desde que te tornaste suficientemente esperta para ouvi-los.

Ela cerrou os lábios mas eu vi os cantos da sua boca abrirem-se num sorriso. Voltámos à nossa posição inicial e a dança acabou.

Despedi-me dela e fui ter com Katherine que estava a conversar com Mason.

-Mason, tudo bem? – cumprimentei-o com um aperto de mãos.

-Tudo. Estava agora a falar com Katherine sobre como tinha sido bom dançar com ela.

Katherine riu e olhou para mim. O seu sorriso desapareceu instantaneamente e eu não percebi porquê.

-Damon não vai gostar nada disto – comentou ela e olhei para trás.