Você sabe o que é um meio sangue? É uma pessoa metade deus metade humana, na maioria das vezes eles sempre morrem antes de completar 13 anos, ou nunca descobrem o que realmente são. Eu sou uma. E acredite, é assustador.

            Você acha ou quer ser um?

            Então se interne com urgência numa clínica psiquiátrica, você é completamente louco.

            Mas se você está lendo tudo isso só por diversão e acha que tudo é ficção, então continue lendo, leia todas as minhas aventuras e conte para tudo mundo que é normal como você, saiba que eu tenho inveja de você por isso.

            Coisas horríveis acontecem com os meio-sangues e na maioria das vezes você acaba morrendo ou de um jeito desastroso.

            Bom, você pode até não acreditar em mim. Mas depois não diga que eu não avisei.

***

            Eu sou Alice Jackson.

            Sou prima do Percy, mas não acho que ele já tenha falado algo sobre mim (bastante amigo ele, não?)

            Mas agora isso não é importante. Tenho 12 anos, sou loira e tenho os olhos tão cinzentos quanto nuvens de tempestade. Eu tenho um irmão bem diferente de mim, ele tem os cabelos pretos lustrosos e olhos castanhos, ele tem 10 anos.

             Há pouco tempo eu estava estudando em um internato chamado Academia Yancy, uma escola particular para crianças problemáticas no norte do estado de Nova York, junto com o meu irmão.

            Se somos crianças problemáticas?

            É quase isso (se considera problemática uma criança que já foi expulsa de seis escolas em sete anos escolares, sim, sou muito problemática).

            Estávamos quase terminando o ano, quase no verão. E eu e meu irmão estávamos em um ônibus escolar, indo para Manhattan, todo ano eles fazem essa excursão. O Percy já foi nela e volto falando algo sobre uma professora que se transformou em uma Fúria, por isso eu estava com um pouco de medo.

            Apesar do Rick Green, melhor amigo do meu irmão, estar no mesmo banco que nós (ele normalmente nos tira de encrencas), eu sentia que algo muito ruim iria acontecer. Eu não estou falando só de ser expulsa por algum acidente, estou falando de algo bem pior.

            O Rick tinha cabelos ruivos cacheados, e eu tinha certeza que havia repetido alguns anos, porque nenhum outro garoto do 6° ano tinha uma barba rala nascendo no queixo. Ele era esquisito, andava de um jeito estranho, também tinha um atestado medico que o dispensava da Educação Física para sempre, pois tinha algum tipo de doença muscular nas pernas. Mas apesar disso, você precisa ver quando anunciam que tem panquecas na cantina e ele sai correndo, parece esquecer que tinha a doença.

***

             O Sr. Brunner guiou o passeio pelo museu. Ele foi à frente, na sua cadeira de rodas motorizada, conduzindo-nos pelas galerias, passando por estátuas e outras coisas.

            O Peter, meu irmão, ficava maravilhado como aquelas coisas poderiam ser tão velhas, tipo, durarem uns três mil anos.

            _ Olha, aquele é Posêidon!_ disse Rick apontando para um estatua._ E aquele Zeus!_ apontou para outra estatua_ E aquele Hades!_ disse apontando um vaso.

            O Sr. Brunner começo a explicar alguma coisa sobre deuses gregos, mas eu não prestei muita atenção. Depois de ele terminar de explicar ele disse que poderíamos ir fazer um lanche na parte de fora, mas...

            _ Srta. Jackson, Sr. Jackson.

            Eu disse para o Rick continuar andando e puxei o Peter para irmos falar com o Sr. Brunner.

            _ Sim?_ perguntei.

            _ Espero que vocês tenham prestado atenção_ disse ele._ É de uma importância vital que vocês entendam isso.

            _Ah_ disse Peter.

            Dava para perceber que com eu, ele não tinha prestado atenção nenhuma. Tanto eu como ele, tínhamos déficit de atenção e dislexia.

            _ Eu só vou aceitar o melhor de vocês.

            Que cara chato, pensei eu. Porque exigia tanto de mim e do meu irmão?

            Quer dizer, ele era legal às vezes. Mas ele queria que nós fizéssemos melhor que todos, apesar de saber que tínhamos dislexia e déficit de atenção.

            _ Vamos comer junto com os outros.

            Nós nos viramos e fomos lá para fora, o Sr. Brunner vinha atrás de nós. Mas assim que saímos, e o Sr. Brunner começou a ler um livro no pé da escada, a Sra. Gorga nós chamou de volta para dentro. Ela era a outra professora que estava nós acompanhando.

            _ Sim, senhora?

            Ela era uma professora estranha, sempre cobria o cabelo e os olhos. Mas quando nós entramos ela havia sumido.

            _ Sra. Gorga?_ chamou o Peter.

            _ Aqui, querido_ ela estava entrando em uma galeria.

            Nós a seguimos até uma sala vazia. Ela disse:

            _Acham que me enganariam para sempre?

            _ O que?

            O que fizemos de errado desta vez?, pensei.

            _ Eu preciso de novas estátuas para a minha coleção.

            Será que ela havia pirado?

            Então a porta se abriu e o Sr. Brunner apareceu, com o Rick atrás dele.

            _ Não olhem_ gritou o professor.

            Eu e meu irmão viramos o rosto, mas eu pude ouvir o barulho de cobra.

            _ O que esta acontecendo?_ perguntou o Peter.

            _ Não sei!

            A Sra. Gorga se aproximou de nós e eu disse para o Peter:

            _ Feche os olhos e não os abra.

            Eu fechei meus olhos e os mantive fechados. Não sei o que aconteceu, só abri os olhos quando o Rick falou que era seguro.

            _ Que aconteceu?_ perguntou o Peter.

            _Eles os descobriram._ Disse o Sr. Brunner para o Rick.

            _ O Percy tinha razão, é melhor levá-los ao acampamento.

            _O que? O que tem o Percy? Que acampamento?_ perguntei eu, mas eles me ignoraram.

            Então olhei para o chão, tinha uma cabeça e um corpo, mas separados! Era a cabeça do Sra. Gorga. Ela tinha cobras no lugar do cabelo.

            O meu corpo ficou mais pesado, minhas pernas não conseguiam segurar o seu peso, minha vista embaçou, tudo escureceu. Eu desmaiei.

***

            Eu acordei no banco traseiro do carro do meu pai, minha cabeça no colo do Rick. Ai! Como ela doía!

            _ Onde estamos indo?

            Eu me levante devagar, estava tonta, tudo girava.

            _Rick? O que faz aqui?

            Peter olhou para trás, ele estava no banco da frente, ao lado do meu pai.

            _ Você finalmente acordou!_ disse o meu irmão.

            _ Nós estavam indo para um acampamento.

            _ Para onde?

            _ Um acampamento, filha.

            Eu perguntei o que, e o meu pai respondeu:

_ Um acampamento. Sua mãe queria que você fosse para lá.

_ Minha mãe queria que eu fosse para um acampamento?

_ Queria.

Meu pai era um homem legal, ele tinha cabelos loiros, olhos castanhos e era alto. Papai não sabe muito bem ficar bravo. Mas quando se estressava era capaz de matar um monstro. Ele era agricultor, e bem inteligente. Seu nome é James.

_ Pai, como era a mamãe?_ perguntou Peter.

_ Como vocês sabem, são filhos de mães diferentes. Sua mãe, Peter, tinha os cabelos como os seus, ela era linda, ela é conhecida como a Senhora dos Trigais. Eu a conheci por isso.

            _Por que Senhora dos Trigais?

            _ Porque tem uma fazenda, o que mais produz é trigo.

            _ De certa forma, isso é verdade_ disse o Rick.

            _E a minha mãe?

            _ Linda e inteligente, tem os olhos de tempestade. Ela é guerreira, sabia?

            Eu olhei pela janela, vi uma paisagem rural. Era noite.

            _ Para onde estamos indo?

            _ Para um acampamento._ respondeu Rick.

            _ Um acampamento, aqui?

            _ Eu também não entendi nada, mas procure relaxar, eles disseram que logo tudo isso faria sentido_ disse Peter.

            Espero que sim, pensei, porque até agora nada fez sentido.

            De repente, vi algo muito estranho. Um leão com corpo de cabra e rabo de serpente. Durante um segundo aquilo me pareceu normal, mas depois eu me toquei que tinha visto um animal impossível de existir.

            _ O q-que era aquilo?

            _ Aquilo o que? _ perguntou Rick.

            _ Um leão, com corpo de cabra e rabo de serpente. Ou uma cabra com cabeça de leão e rabo de serpente, ou... Um animal com cabeça de leão, corpo de cabra e rabo de serpente! Um animal quimérico!

            _ Eu temi que fosse exatamente isso_ murmurou Rick.

            _ Animal quimérico?_ perguntou o Peter.

            _ É um animal imaginado, um sonho, uma ilusão.

            _ Quem me dera fosse isso mesmo o que você viu._ Disse Rick.

            _ Como assim? O que eu vi foi só uma ilusão, certo?

            Mas ninguém concordou comigo. Eu comecei a ficar com medo, o que há de errado com eles?

            _Certo?_ disse eu quase histérica.

            Mas ninguém respondeu de novo.

            De repente o carro parou, olhei para frente e o vi, o animal quimérico.

            _ O que...?_ perguntei. Eu não tinha medo, só não compreendia.

            _ Quimera_ murmurou Rick.

            _ Corram! Corram! Atravessem a árvore! A fronteira!_ berrou papai.

            Rick abriu a porta e pulou para fora do carro.

            _ Venha, Alice! Corra!

            Eu olhei para o meu pai e perguntei:

            _Você não vem?
            _ Não, filha, corra!

            Vi-me obrigada a deixar meu pai para trás ou morrer. Decidi o salvar.

            _ Eu não vou sem você.

            _ Tem que ir!_gritou ele.

            O animal veio para cima de nós, mas, de algum modo, Peter fez uma parede de planta entre nós e o bicho.

            _Venha pai!

            E meu cabelo caiu no meu rosto, só naquele momento eu percebi que ventava forte.

            _ Não poço, você tem que ir!

            Então senti meu ombro queimar, era o animal, ele vomitava fogo, e estava destruindo a barreira de Peter. Peter saiu do carro e disse:

            _ Venha, mana! Venha!

            _ Não_ me dirigido a ele, e depois disse ao meu pai_ Venha!

            _ Não posso!
            A última coisa que me lembro é como doía o meu ombro e que alguma coisa acertou minha cabeça, me deixando inconsciente.