Janela escrita por o_arquiduque


Capítulo 6
Carmelita Rodrigues




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/15779/chapter/6

- Isso não pode ser verdade! – Luiza fica boquiaberta.

À sua frente, sentado completamente desconfortável no sofá alaranjado da sala da artista, um Horácio constrangido e de olhar perdido deixava que as palavras se atropelassem ao tentar falar tudo ao mesmo tempo e não conseguindo quase nada. Sua gagueira estava enorme.

- Mas você disse que não teria problema algum! Estou me preparando para esse dia à meses! – Ela andava de um lado à outro, colocando as mãos sobre a testa em total sinal de desagrado e frustração – Há algo nisso que não se encaixa!

- O... O que?

- Você! Você não se encaixa! Não encaixa aqui, nessa situação, nervoso desse jeito, me dirigindo essas palavras! Isso tudo não se encaixa!

- M... Mas é o que eu posso fazer, L... Luiza. – Toda vez que falava seus olhos percorriam uma renda portuguesa que tinha próximo à janela.

- Não consigo acreditar. – Ela voltou a se sentar numa cadeira de vime estofado de azul celeste em frente à ele, pegou em suas mãos e olhou nos seus olhos – Repita tudo o que você me disse olhando nos meus olhos!

Horácio tentou. Sua boca abriu uma dezena de vezes e nada saiu. As consoantes, subitamente, se tornaram impossíveis de se pronunciar, até mesmo as vogais não encontravam lugar numa fala sensata.

- Horácio, o que está acontecendo de verdade?

- E... E... Eu fui amea... amea.... çado!

- O que?! Por quem? Por quê?

- P... Por um agente público... E... Ele disse que se eu não desmarcar essas exposição, então e... ele ia destruir a Galeria.

- Destru... Que absurdo! – Ela levanta num ímpeto, cheia de revolta – Ontem mesmo teve um agente aqui e viu os quadros! Não há nada neles que vá contra a constituição! Eu não sou louca, eu sei o que eu pinto!

- L... Luiza, acalme se! – Horácio percebe que a mulher estava muito mais revoltada do que jamais vira.

- Isso não faz sentido! – Falava mais para si do que para seu amigo.

- Q... Quem foi que esteve aqui ontem?

- Um homem que atende por Otto Barros alguma coisa!

Horácio empalideceu mais uma vez.

- Foi ele quem te ameaçou? – Ela pergunta imaginando a resposta.

Ele confirma em silêncio.

- Não pode ser... O que há com essa criatura! – Luiza se senta no sofá ao lado do homem.

- P... Por favor, Luiza, você sabe q.... que eu queria muito fazer isso por você... M... Mas eu não posso perder a Galeria mais uma vez...

- Não, claro, claro que não... À menos que colocássemos tapumes nas janelas da frente, e deixássemos a porta continuamente fechada durante a exposição!

- N... Não sei... Talvez se adiarmos por um ou dois dias...

- Certeza que não teria problema?

O homem considerou alguns segundos em silêncio, absorveu a informação, digeriu, e depois respondeu em silêncio que não teria.

Terminaram de acertar os planos e a exposição, agora, ganhava um outro sentido. Não era mais para simplesmente expor os pedaços do mundo da forma como Luiza interpretava, mas agora era quase uma questão de honra.

Horácio saiu logo em seguida. Tinha que tomar as providências necessárias o quanto antes e da forma mais discreta possível, deixando a mulher pensativa.

Luiza, passando pelo corredor emadeirado em direção ao ateliê, levou os olhos à uma folha de papel, e de repente sentiu vontade de externar sua revolta.

Alfredo teria, então, sua ultima matéria. Assinada por Carmelita Rodrigues.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!