Janela escrita por o_arquiduque


Capítulo 1
A janela




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Luiza abriu os olhos. As imagens anuviadas foram tomando forma num jornal sobre a escrivaninha, que em letras garrafais estampava uma manchete nem um pouco convincente: Mais um benefício ganho pelo povo, mais uma vitória da nação. Aquilo a irritava, profundamente.

Levantou-se da cama e folheou sem curiosidade o material, passando os olhos naquilo que não acreditava, sabia que por trás existia uma verdade, não contada naquelas páginas. Correu os olhos pela estante e achou o que procurava, uma edição da semana passada de umas poucas folhas que procurava, através de rodeios, contar um pouco do que acontecia nas ruas. Mas já tinha lido e relido. Aguardava ansiosamente pelo próximo número, mas era sempre incerto, talvez viesse àquela tarde. Ou talvez nunca mais.

Antes que entrasse no ateliê, pegou uma maçã junto com algumas outras frutas e, comendo, sentou-se no banquinho. Fechou os olhos e se alongou, esticou os braços, dobrou-os um pouco e depois de alguns segundos, imersa num campo vazio, limpando a mente, abriu os olhos e já riscou uma pincelada na tela branca que ocupava toda sua visão.

Dali à dois dias seria sua tão esperada exposição. Um amigo seu, Horácio, dono de um espaço na nove de Julho convidou-a para expor alguns quadros, na verdade, todos os que poderia pintar num mês e se fossem muitos, fecharia o espaço somente para ela. Desde então, todos os dias buscava inspiração num mínimo objeto para dar vida à uma superfície em branco.

Àquele dia, depois de mais algumas pinceladas, redescobriu sua janela. Em verde, branco, e acinzentado, reproduzia a parede, a madeira e o que tinha depois dela, o pedaço de mundo que ela compreendia, que ela limitava.


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