A chuva caia sobre mim, estava totalmente encharcada, mas
não ligava. Já fazia algum tempo que eu andava sem rumo, podia-se disser que eu
era louca por estar na chuva enquanto as pessoas a minha volta tentavam de
todas as formas se protegerem da mesma. O que eles não sabiam é que eu estava
tentando me purificar com aquele ato.

Minhas lagrimas se confundiam com as gotas que caiam do céu,
eu só queria estar em um lugar calmo onde nada dependesse de mim, onde eu pudesse me sentir em paz... Ou não,
talvez eu quisesse apenas viver do meu jeito, me sentir livre, leve, dançar na
chuva, andar descalça ou apenas ficar rodando feito idiota no meio da rua.

A pessoa em que tanto confiei não era mais digna do meu
amor, pelo menos era isso que eu pensava. As pessoas tentam me ajudar, mas não
intendem que não preciso delas eu só quero estar comigo mesma agora.

Queria poder colocar a mochila nas costas e simplesmente
sair por ai sem rumo, talvez essa fosse à chave da felicidade que não tinha há
muito tempo.

Diminui o ritmo das passadas quando cheguei ao meio da ponte
que ligava uma rua a outra, sempre gostei de paisagens com agua corrente, a
neblina do dia chuvoso só a vez ficar mais bonita e enigmática. Senti meu
celular vibrando no bolso da calça jeans molhada que na hora parecia muito mais
pesada que quando seca. Não me dei ao trabalho de olhar quem queria falar
comigo peguei o celular na mão e o joguei o mais longe possível. Orgulhei-me de
ter tido a capacidade de joga-lo uns bons metros de mim.

Andando mais um pouco me deparei com meu reflexo refletido
nos vidros escuros de um caro qualquer, e para minha surpresa não estava pior
do que eu imaginava. Roupas grudadas no corpo, cabelos encharcados e a pouca
maquiagem escura que usava escorria pelo rosto, sorri para o reflexo e voltei a
nadar.

Dei-me conta de que não me importada com mais nada, não
queria ser perfeita, não queria ser a princesinha do papai, nem o orgulha da
mamãe, a neta comportada ou a irmã carinhosa, pela primeira fez iria ser apenas
eu.

Quando dei por mim já estava na porta de casa então resolvi
entrar, passando pela sala me bombardearam de perguntas que eu fiz questão de
ignorar, os deixei falando sozinhos,  afinal já era maior de idade, o que lhes
importava onde eu estive ou pretendia estar?

Subi as escadas fazendo splash com meus tênis molhados em
direção ao meu quarto, joguei uma mala de viagens grande cheia de flores roxas
que eu nunca gostei encima da cama e enchi de roupas que eu ganhava de minha
mãe ou de parentes distantes. Roupas que a muito eu era obrigada a usar e
passar a aparência de boa moça, vestidos floridos que iam até dois palmos
abaixo do joelho, umas duas blusas de lã de cores berrantes e cheias de flores,
sapatilhas de vovó, saias estranhas e blusas cheias de babados nos mais
diversos lugares, nada disso era eu.

Desci com a mala, mas antes de sair olhei para minha família,
todos tentavam ser perfeitos e isso me deixava louca, eles tinham sempre que
interpretar seus papeis de “família feliz e perfeita”, parecia não ter fim,
eles nunca eram eles mesmos, como se ser você mesmo fosse um crime com pena de
morte.

Rolei os olhos com um suspiro, eles nunca mudariam, dei de
ombros e sai pela porta da frente. Dedei a mala para uma andarilha que avistei
no caminho e corri para o meu destino. Ele se encontrava sentado com cara de
tedio atrás de um balcão, passei pela porta de vidro e parei no balcão,
tamborilei minhas unhas no mesmo para chamar sua atenção. Olhou-me com um
sorriso de canto, que era meu favorito.

- Deseja algo senhorita?

Dei o sorriso mais verdadeiro que me lembrava de já ter dado
a alguém.

  - Você...

Ele me ergueu de modo que tirava meus pés do chão enquanto
me rodava... É acho que achei minha felicidade.

FIM