Estava escuro, eu corria sem ter exatamente para onde ir, na verdade eu só queria sair dali. Não queria mais ver aquelas paredes brancas e nem sentir aquele cheiro de remédio que eu estava tão acostumada, não sabia o porquê de me manterem ali naquela sala clara, onde não havia nenhum objeto que fosse realmente meu, parecia que nada ali me pertencia, eu não pertencia aquele lugar.

Continuei correndo pelos corredores longos e pálidos que me deixavam tonta, não sabia onde dariam nem se dariam realmente em algum lugar. Fui parada pelo corpo de alguém que se colidiu contra o meu, meus cabelos caíram em meu rosto com o impacto, sustentei meu corpo com os braços e ergui a cabeça para ver que era o infeliz que, atrapalhara minha fuga ou quase fuga.

Era alto, pelo menos mais alto que eu o que não era tão difícil assim, tinha cabelos castanhos escuros curtos e lisos e olhos de um verde penetrante que chamaram minha atenção, baixei o olhar e vi que vestia branco como a maioria das pessoas ali, mas nele não ficava muito bom, pois sua pele alva o deixava estranho de branco.

Ele me olhou como se já me conhecesse, com pena, dor ou algo parecido, abrir a boca tomando ar para perguntar quem era ele, mas senti as palavras presas em minha garganta. Não tive uma segunda chance mãos me pegaram pelos braços me amarrando com as longas mangas de minha blusa branca encardida fazendo meus braços formarem um ‘x’ em meu peito. Fui levantada de modo que meus pés não podiam alcançar o chão.

Eu me debatia, tentava gritar, mas minha voz parecia estar aprisionada dentro do meu corpo, as duas pessoas que pareciam não ter rostos continuaram a me levar para longe dele até que em uma curva ele desapareceu de minha vista deixando pra trás apenas minhas lagrimas que escorriam sem parar sobre minha face.

As pessoas me levaram ao meu “quarto”, mas dessa vez me trancaram para que não desse trabalho de novo. Eu fui à porta, e bati varias vezes meu corpo com a mesma para que eles ouvissem, para que me libertassem. Mas nada aconteceu, meus barulhos forram abafados por meus choro.

Já exausta encostei-me à porta branca que continuava fechada e escorreguei até o chão. Meus cabelos estavam grudados em meu rosto, mas não podia tira-los, minhas mãos continuavam amarrada e eu não podia alcançar o nó feito em minhas constas.

O tempo passou, não sabia disser quanto, não me mexi nem um milímetro, continuei ali atrás da porta encolhida imersa em meus devaneios. Lembrei-me que fazia tempo que não me olhava no espelho e que o único rosto que vi em todo esse tempo foi o dele e mesmo que por pouco tempo teve um grande significado.

A porta se abriu e outro rosto obscuro apareceu, adentrou calmamente e foi até mim, desatou o nó da blusa e se foi passando a chave novamente na porta. Meus braços formigavam, os mexi de vagar, enquanto isso percebi que só haveria um jeito de sair desse lugar. Levantei-me e corri em direção à janela me jogando contra ela, essa despedaçou libertando meu corpo num voo cheio de esperança.

Sorri enquanto o vento batia contra meu rosto e fazia meus cabelos esvoaçarem. Era reconfortante por isso não abri os olhos, não queria que acabasse, mas tem coisas que não podemos controlar.

Fim