Digimon Beta - E o Hexágono do Mal escrita por Murilo Pitombo


Capítulo 60
Retomando a Rotina




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Uma densa nuvem escura pairava sobre as cabeças dos humanos e digimons presentes.

Culumon havia chegado ao campo de batalha e, mesmo com muitas dificuldades e energia limitada, conseguiu ressuscitar Betamon e completar o sexteto Beta. Após isso, percebendo que os digimons Extremos não conseguiriam afrontar a poderosa energia lançada pelo Beelzebumon Modo Explosivo, modo esse adquirido pelo ditador após absorver os dados do Piedmon, o deus-digimon revelou uma das suas habilidades e absorveu as técnicas dos seus subalternos, dando-lhes alguns minutos de recuperação e desgastando o ditador, que seguia disparando uma energia negra contínua.

 João observava atentamente a disputa de poder do Culumon e do Beelzebumon ao lado dos seus amigos e digimons Extremos quando o deus-digimon cai desacordado. O garoto, então, ordena o ataque de todos os seis digimons, que precisavam utilizar uma força fulminante.

Beelzebumon não resiste ao poder dos Digimons Beta, é englobado pela fusão das técnicas e explode.

Os domadores e seus digimons são lançados no chão tamanha a força da explosão.

O garoto de barba cerrada se levanta com o auxílio do Antônio e do Igor quando, ainda extasiado por conta dos últimos acontecimentos, ergue a cabeça e olha na direção da densa nuvem de fumaça sobre eles.

— Conseguimos?

Carlos é ajudado pelo Albert, Mateus e Luiz Filipe.

Ao se levantar, o garoto percebe que Terriermon estava consciente, apesar de ofegante e com diversas feridas. Culumon estava desacordado e caído próximo de si. O garoto magro, de olhos verdes e cabelos bagunçados que descem pela sua testa, se aproxima do deus-digimon e o segura em seus braços.

— Carlos... – Balbucia Culumon ao abrir os olhos.

O dono do digivice azul sorri.

— Eles conseguiram! – Brada Antônio após se certificar de que todos estavam bem.

Inicia-se aí uma grande comemoração por conta do fim da ditadura imposta pelos seis digimons malignos.

A garota negra corre e abraça seu amigo, que também é domador de um Gotsumon. Ao olhar por cima do ombro do Leo, Lúcia percebe que o domador do pequeno tiranossauro amarelo olhava para o céu juntamente com o seu digimon.

— Victor? – Chama a garota com o cabelo preso em um coque por um palito, largando o garoto magro e se aproximando do pequeno garoto loiro. - O que foi?

Victor nada diz e simplesmente aponta para o céu.

Lúcia, Leo e seus digimons de grandes olhos amarelos, olham na direção indicada pelo domador e notam a silhueta do Beelzebumon em meio a fumaça que restava.

O grito desesperado da Lúcia atrai a atenção de todos, que prontamente olham para o céu e veem que o ditador voava em direção ao Carlos.

— HOLYANGEMON!

O grito do Bruninho faz com que o enorme digimon anjo que possui quatro pares de asas, sendo que um dos pares curvam-se sobre seus ombros e outro par cruzam em sua cintura, voe e pouse ao lado do garoto de óculos com armação negra.

O digimon de grandes orelhas sobe pelo corpo do Carlos e para de pé sobre seu ombro.

Beelzebumon pousa à frente do Culumon, que continuava deitado nos braços do Carlos.

— Culumon, você e esse seu papo furado de harmonia e bem-estar me tiram do sério.

— Você foi destruído, Beelzebumon. – Responde o pequeno digimon branco com a voz cansada. - Espero que seus dados voltem à vida livres desses vírus malignos.

O ditador aos poucos vai perdendo os bits das extremidades do seu corpo e desespera-se.

— Não posso ser destruído. Sou o ditador mais poderoso. Tenho um mundo para governar.

— Chegou o fim da linha para você, culú. – Finaliza Culumon. – Adeus!

— Eu odeio todos vocês. Humanos e digimons. Estava tão perto de destruí-los... Malditos!

Beelzebumon desaparece completamente.

— Agora sim ele foi destruído.

Culumon fecha os olhos e volta a dormir.

— Ele vai ficar dormindo no seu colo é? – Questiona Terriermon.

— Terriermon... – Repreende o garoto. - Ele é o seu deus...

— Eu não to nem ai pra isso!

O digimon de grandes orelhas salta do ombro do Carlos e começa a dançar.

— Holyangemon. – Chama o seu domador. - O que você está esperando? Por que não volta a ser Patamon?

O digimon assente com a cabeça e, antes que pudesse regredir, os domadores são surpreendidos pelo avanço do castelo do Hexágono do Mal. Depois da intensa batalha que alguns domadores travaram para libertar o deus-digimon, sua estrutura foi afetada e ele caia, como um cometa, na direção dos domadores.

— Bah! – Exclama Alex. - Era só o que me faltava...

— Calma pessoal, - Interfere Bruno Sares, acalmando os demais. - Holyangemon pode cuidar disso.

O arcanjo de capacete, espada e escudo na cor roxa, voa de encontro a imensa ilha flutuante e disfere sua técnica “Excalibur” diversas vezes contra a construção, destruindo-a em milhares de pedaços. Em seguida, o digimon cria um imenso portal que suga todos os destroços.

O digimon sagrado regride para o pequeno digimon que lembra um hamster com grandes orelhas parecidas com asas que lhe possibilitam voar.

Patamon voa até o seu domador, que lhe segura em seus braços.

— Mais uma vez você conseguiu!

A dupla começa a gargalhar de felicidade.

A onda branca surge do exato local onde o último ditador havia se convertido em dados e passa a varrer todo o Mundo Digital, organizando e restaurando todos os espaços que foram modificados por Piedmon e Beelzebumon.

O circo atrás dos garotos volta a existir. Estava intacto.

— Acabou mesmo? – Pergunta Igor acariciando as costas do labrador de pelagem clara com olhos, calda e orelhas vermelhas.

— Pastreli.  – Questiona João ao se aproximar do Blaze. - Como que ele está?

— Muito mal! – Responde o garoto de voz rouca. - O sangramento ainda não estancou. Se demorarmos mais, não sei o que pode acontecer.

Desde que Blaze sofreu o acidente, o pequeno tiranossauro vermelho mostrava-se triste e desolado. A todo o momento ficava ao lado do seu domador e lambia sua mão, numa irracional tentativa de confortá-lo.

— Ele vai sair bem dessa, Guilmon.

O domador de barba cerrada acaricia a cabeça do dinossauro vermelho.

— É, pessoal. – Manifesta-se o domador de traços indígenas acompanhado do cachorro que usa luvas de boxe, enquanto os demais domadores se aproximavam. - Passamos muito tempo aqui. Minha família deve ter pensado que eu fugir de casa ou fui sequestrado.

— Quando é o momento que iremos embora? – Pergunta o domador negro de moicano.

— Também to louca pra saber, Mateus. – Completa Fernanda.

— Carlos, – chama o garoto de voz rouca assim que percebe a sua aproximação – a gente precisa saber como que faz pra sair do Mundo Digital.

— E...

— E você está com Culumon nos braços! Pergunte a ele.

— Ah, tá! Culumon... Hei. Abra os olhos!

Aos poucos o pequeno digimon olha para o domador.

— Com que faz pra sair daqui? Pra voltar pro Mundo Real? – Questiona-o.

O deus-digimon se põe de pé sobre os braços do garoto.

— Domadores, muito obrigado pela ajuda, culú. Vocês conseguiram salvar não só o meu mundo, mas o mundo de vocês. Queria poder libertá-los agora, mas estou muito fraco, culú.

— Como assim? Quer dizer que não podemos voltar para o nosso mundo?

— Blaze precisa de socorro urgente! – Grita o pequeno domador de corpo redondo.

— Eu confesso a vocês que tentei abrir um portal e livrar Levi e Taomon de serem destruídos, porém não consegui. O digivice de vocês está habilitado para abrir portais a qualquer momento e em qualquer local do Mundo Real.

— O quê? – Esbraveja a domadora do Gotsumon com as mãos na cintura. – Quer dizer que você escondeu isso da gente esse tempo todo?

— Não vejo a hora de voltar pra casa. – Pontua Leo com saudosismo.

— Eu também, amigo! – Completa Lúcia mudando o tom da conversa.

— Pessoal, – prossegue Culumon - tudo isso que eu fiz: Ressuscitar Betamon e lutar com Beelzebumon vai me custar a vida, culú.

Todos ficam em pânico ao saber que Culumon estava prestes a morrer.

— Como assim? – Questiona João, preocupado. - Se você morrer, os digimons e o Mundo Digital serão destruídos. Inclusive nós que ainda estamos aqui.

— Preciso que você e os outros Domadores Beta apontem seus digivices para mim e me absorvam. Só assim o Mundo Digital estará a salvo, culú.

Os seis domadores que possuem digivices coloridos fazem o que Culumon disse. Após o deus-digimon voar dos braços do Carlos e pousar no chão, os garotos formam um círculo ao seu redor e apontam seus digivices. Aos poucos os aparelhos brilham e Culumon se dissolve em bits que são absorvidos pelos digivices.

Um pouco afastado do grupo, Alex observava tudo o que acontecia. “Não entendo por que Culumon nos escolheu, se os únicos que podiam acabar com os ditadores eram os Beta. Perdemos o nosso tempo e arriscamos nossas vidas por nada!”

— Como vamos fazer com Blaze? – Questiona João.

— Eu e Pastreli podemos levá-lo a algum hospital. – Propõe Antônio.

— Eu vou com vocês. To me sentindo culpado pelo que aconteceu a ele.

— E eu? – Interfere Guilmon. - Vou fazer o quê?

— Dorumon, fique com ele. – Ordena o garoto de voz rouca. - Depois retorno pra te buscar.

— Eu também fico, Tonho!

— Ok, Koka. Alguém aqui sabe dizer onde Blaze mora? - Ninguém se manifesta a respeito. - Começamos bem...

— Olha os bolsos dele! – Propõe Fernanda.

Antônio revista os bolsos da bermuda do Blaze e acha, além do seu digivice, sua carteira. Dentro dela havia uma fatura de cartão de crédito.

— Curitiba. – Diz o domador do Kokabuterimon. - Longe pacas de João Pessoa.

— Vamos? – Pergunta João. – Tudo certo já?

— Eu também vou! – Diz Verônica. - Plotmon e Betamon ficarão aqui nos esperando.

— Se cuidem. – Manifesta-se a digimon que lembra um cachorrinho de pelúcia.

João vasculha seu digivice até que acha um aplicativo com o seguinte ícone: 07. Ao clicar no aplicativo, o digivice entra em contagem regressiva a partir do número três. Ao erguê-lo para frente e perceber que se passaram os segundos, um filete de luz com dois metros de altura surge a três metros de distância do garoto de barba cerrada e segue ganhando largura até formar um retângulo de luz brilhante. Acima do mesmo surgem o número 07, que seguiam em contagem regressiva.

Cuidadosamente Antônio, Pastreli e João pegam o garoto desacordado do chão e entram pela porta de luz, desaparecendo das vistas dos demais. Verônica entra em seguida e também desaparece.

Ao zerar a contagem regressiva, o portal se fecha.

— Alguém ai sabe como é que abre esse tal de portal? – Questiona Fernanda.

— Eu mato João! – Grita a domadora negra. – Quanto custava nos ensinar abrir esse portal?

Todos os domadores seguem mexendo em seus aparelhos até que Carlos descobre o aplicativo responsável por abrir os portais que ligam o mundo dos humanos ao mundo dos digimons.

Em menos de um minuto, boa parte dos domadores e digimons já haviam desaparecido.

Agora só restavam Lúcia, Carlos e Davi de humanos do Mundo Digital.

— Cadê Rafael?

— Deve ter voltado sem a gente, Carlos. – Responde o garoto ruivo.

— Ingrato. – Resmunga Lúcia. – A gente mora na mesma casa! Meu pai é casado com a mãe dele, e ele me nem me espera pra voltarmos juntos pra casa.

— Vamos indo, senhora injustiçada? Você, hoje, tá que tá, hein?

Carlos e os digimons caem na gargalhada.

 

Antônio, João e Bruno Pastreli entram apressadamente em um pronto-socorro de Curitiba com Blaze nos braços.

Verônica seguia mais à frente gritando:

— Rápido, por favor. Alguém nos ajude! Ele está perdendo muito sangue!

Dois enfermeiros se aproximam rapidamente com uma maca.

— O que aconteceu? – Pergunta um dos rapazes que está vestido com uma roupa inteiramente verde, luvas de látex e máscara cirúrgica.

— O encontramos caído próximo a um viaduto. – Explica o garoto de voz rouca. - Ele ta perdendo muito sangue por um corte na cabeça.

— Vocês precisam fazer o cadastro dele na recepção. – Diz um dos enfermeiros antes de seguir com o seu colega, e com Blaze, para o interior do pronto-socorro.

 

Após algumas horas de espera e angústia, uma enfermeira surge na recepção.

— Foram vocês que encontraram o jovem desmaiado com um corte na cabeça? – Questiona a mulher loira se aproximando.

— Sim! – Responde João, se levantando em seguida.

Antônio, Pastreli e Verônica seguem o garoto.

A enfermeira estranha o fato de os quatro garotos estarem com diversas feridas e escoriações espalhadas pelos braços, pernas e rosto. Além da nítida sujeira e rasgos das roupas.

— Vocês estão realmente bem? – Questiona a profissional, desconfiada. - Sofreram algum acidente? Vocês são amigos dele?

— Não! Nós estávamos de passagem quando o vimos caído...

— Por favor, moça, - interfere a garota temendo que a mentira dita por eles fugisse do controle - como que ele está? Acredite: Estamos bem! Apesar da nossa aparência.

A enfermeira suspira, ainda desconfiada, antes de prosseguir com as informações que a tinham feito ir até eles.

— O estado dele não é nada bom! Perdeu muito sangue e nós não temos seu tipo sanguíneo em nosso banco de sangue.

— A não ser que vocês dois doem. – Balbucia Pastreli olhando para Antônio e João, e atraindo a atenção de Verônica.

—  Por que somente nós? – Interrompe João, acuado.

— Só pode doar maiores de dezoito anos. – Informa a enfermeira.

— Qual o tipo sanguíneo dele? – Pergunta o garoto de barba cerrada.

— A+.

— O meu é compatível.

A enfermeira rapidamente começa a anotar em sua prancheta.

— Você é portador do vírus HIV? Teve Hepatite após os dez anos? Teve Hanseníase? Teve algum tipo de câncer, incluindo Leucemia?

— Calma... Eu já doei sangue uma vez. Tenho carteirinha de doador.

— Ótimo!

João acompanha a enfermeira fazer a coletar do sangue.

 

Um portal de luz surge em frente ao Farol da Barra.

Carlos, Davi Lúcia, Palmon, Gotsumon e Terriermon retornam ao Mundo Real no mesmo lugar de onde partiram.

— Nossa aqui é noite. – Diz a garota negra olhando a avenida completamente vazia.

— Lúcia, vamos pra casa. – Pede o boneco de pedra. - To cansado.

Carlos saca seu digivice de dentro do bolso. O garoto de óculos percebe que o seu aparelho voltara a exibir a hora e a data. O aparelho marcava o mesmo dia, mês e ano do dia em que eles haviam sido sugados pelo portal.

— Ainda estamos no mesmo dia em que fomos para o Mundo Digital.

— Tem certeza, Carlos?

— Sim, Davi. Olhe no seu digivice.

Davi e Lúcia olham para os seus aparelhos e confirmam as desconfianças do amigo.

— Só se passaram algumas horas. – Conclui Carlos. - Já está quase amanhecendo.

 

Um portal se abre em uma rua totalmente deserta e escura. Casas e prédios suntuosos seguiam às margens da rua de paralelepípedos com árvores na larga calçada.

Fernanda e Solarmon cruzam o portal que logo se fecha.

— Não acredito que eu to de volta! – Comemora a garota de longos cabelos ondulados. - Viva a chapinha... Roupas... Festas! Devo ter passado muitos dias fora. Tenho que achar uma boa desculpa, se é que vai colar. Meus pais devem ter pensado que aconteceu algo de grave.

A garota segue andando pela rua, em direção a sua casa até que uma voz a faz parar.

— Fernanda!

O garoto corre até a domadora e segura sua mão com carinho.

— Rafael?

— Eu não poderia deixar passar essa oportunidade de ser feliz. Você foi uma das poucas pessoas que se aproximaram de mim pelo que eu sou, e não pelo que tenho. Você me ajudou a enfrentar meus medos e me fez enxergar tudo de ruim que eu causava. Nem sei como te dizer isso... Te amo!

Fernanda fica atônita diante da revelação.

Os olhos azuis do garoto seguiam, sem titubear, fitando os olhos amendoados da garota.

— Nossa... – Diz a garota de lábios carnudos, incomodada. - Eu nem sei o que dizer!

— Não precisa dizer nada! Deixa rolar...

Rafael se aproxima da Fernanda, mas ela vira o rosto segundos antes do beijo acontecer.

— O que foi? – Questiona o garoto loiro. - Você não quer?

— Eu tenho namorado.

Rafael não sabia o que fazer ou falar. Mais uma vez rejeitado por uma menina que realmente gostava. Aos poucos, sua feição esperançosa ia desmoronando sem o menor sinal de uma tentativa falha de ocultá-la.

— Você é um cara legal, Rafael. - Prossegue a garota tentando amenizar a situação. - Com certeza vai aparecer uma menina que te dê valor. Só que, comigo, infelizmente não rola. Amo muito meu namorado. Me desculpa, não tive a intenção de despertar esse sentimento em você.

— O jeito que você me tratava e se preocupava comigo... Esquece tudo o que disse!

— Vamos indo, Rafa? – Questiona Gabumon, preocupado.

— Vamos sim! – Responde o garoto esboçando um sorriso.

Fernanda se aproxima do seu amigo e lhe dá um beijo no rosto. O garoto de corpo musculoso retribui com um sorriso forçado, abrindo, em seguida, o portal que o tiraria de lá.

 

João retorna a recepção do hospital com um curativo no braço direito.

Bruno Pastreli estava no balcão da recepção conversando com uma atendente.

— Tudo certo? – Questiona Verônica.

— Sim! Até lanchinho eu ganhei.

Verônica e Antônio sorriem.

A enfermeira aparece logo em seguida.

— Acabei de falar com a equipe médica que o atendeu. Eles me disseram que a doação de sangue veio em boa hora. O garoto vai ficar em coma induzido até ter seus sinais vitais estabilizados. No geral, ele tem grandes chances de se recuperar sem nenhuma sequela.

A enfermeira retorna para o interior do hospital.

O garoto de voz rouca se aproxima.

— Estava fazendo o que lá? – Questiona João.

— Entreguei a carteira do Blaze e peguei o número daqui do hospital.

Antônio enfia uma das mãos em seu bolso e retira um digivice de cor prata de dentro dele. Na tela do aparelho havia uma imagem animada do Guilmon.

— O que a gente faz com isso?

— É melhor ficar com João. – Diz o garoto do biótipo parecido com o dele.

O domador de pele branca e braços fortes entrega o aparelho ao garoto de barba cerrada.

— Quando ele melhorar, você devolve. – Finaliza Pastreli.

— Também acho. – Concorda Antônio. – Acho que, por hoje, já fizemos tudo o que foi possível. Precisamos de um descanso também.

Os três garotos, e Verônica, caminham em direção à saída da do hospital.

 

Uma semana se passou desde que os domadores regressaram ao Mundo Real. Muitos deles, que moravam em estados e cidades distantes, mantinham contatos com os outros através do digivice, do telefone e da internet. Todos, sem exceção, haviam retomado sua rotina.

João descia as escadas da sua casa, apressadamente, quando tropeça e por pouco não rola até o andar inferior (se não fosse pelo corrimão da escada que o livrara de um tombo feio).

— João que barulho foi esse? - Grita Cláudia, assustada, da cozinha.

— Nada, não, Mainha.

O garoto de barba cerrada segue mancando e se senta em uma poltrona.

Davi desce as escadas conversando pelo celular. Em suas costas trazia uma mochila.

A ligação se encerra.

— E ai, primo? – Questiona João.

— Mainha está bem! O clima por causa do desaparecimento de Levi está pesado por lá. É difícil saber que ele está morto e não poder contar nada a ninguém.

— Faço ideia...

— TIA! – Grita Davi. -  To indo embora.

Uma mulher de baixa estatura, com altura próxima à da Verônica, se aproxima e abraça o garoto ruivo, forçando-o a inclinar-se para frente.

— Ô, meu filho, apareça mais vezes para nos visitar! Mande lembranças minhas à Carla.

 

Verônica, Carlos, Lúcia e Rafael estavam sentados na areia da praia e conversavam, quando João e Davi se aproximam.

A garota de olhar estonteante se levanta e beija o garoto de barba.

— Lembra desse lugar, João?

— Infelizmente lembro. Foi aqui que eu e Carlos tivemos aquela briga feia.

— Vamos fazer o quê de bom? – questiona a garota negra mudando os rumos da conversa.

— Ainda temos sete horas pela frente. – Adverte Davi. - Não posso passar disso.

— João, você tem notícias do Blaze? – Pergunta Carlos. - Como que ele ta?

— Ainda ta em coma! Pastreli sempre liga pedindo informações à equipe do hospital.

— To torcendo pela recuperação desse cara. – Pontua Rafael. - Ele me livrou do Devimon.

— Eu não sei quanto a vocês, mas, às vezes, eu paro pra pensar em toda essa loucura. Quando que poderíamos imaginar que existe um mundo feito de dados na internet.

— Nós passamos por poucas e boas lá. – Completa João. - Chegamos sem saber o que estava acontecendo e descobrimos que teríamos que destruir seis digimons poderosos.

— A primeira pessoa que encontramos lá foi Levi. -  Recorda o domador de óculos. - Ele sacrificou a vida dele pela nossa. Não sei se teria coragem de fazer o mesmo.

— E os outros que já estavam perdidos? Victor, Will, Fernanda, Luiz Filipe, Antônio…

— Sem falar no Albert. Ele nos salvou dos Mamemons, lembram Lúcia e Carlos?

— E como lembro... – Pontua o garoto de olhos verdes e cabelos bagunçados.

— Vocês não fazem ideia da revolta que me deu quando eu vi Beelzebumon destruir a Antylamon. – Diz Lúcia, com pesar. - E Leo... Como que eu poderia esquecê-lo. Fiquei tão feliz em vê-lo. Pena que fomos separados justo no momento em que nos encontramos.

— Os Brunos. – Prossegue o garoto musculoso. - Pastreli e Soares.

— Bruninho me ajudou muito. – Continua Verônica. - Ele e Patamon. Sem essa dupla, eu não teria destruído Devimon.

— Ah! – Diz Lúcia. - Tem Guilherme e Mateus também.

— Agora, Alex eu o achei muito estranho. – Pontua o garoto de barba cerrada. - Ele é todo fechado. Não se enturmava com a gente e só rogava praga.

— Eu o acho legal... – Discorda Verônica. - Ele até deu em cima de mim

— Como é que é?  - Exclama João, arrancando gargalhadas dos demais. - Aquele pirralho... Bem que eu percebi que tinha algo a mais nessa rixa dele! Quando ele chegou e te viu desmaiada, ainda me deu uma piada. Me disse que se ele estivesse por perto você não tinha se acidentado.

— Eu não sei quanto a vocês, mas eu ri mesmo foi do Igor! – Pontua Lúcia. - Nunca esquecerei aquela cena: Ele gritando e correndo do Labramon!

— Pessoal, não estamos esquecendo nada?

João retira seu digivice do bolso e abre um portal. De dentro dele saem Betamon e os demais digimons, que logo correm em direção aos seus domadores. O líder dos domadores pega o seu digimon redondo e o joga para cima, segurando-o na descida; Verônica abraça sua digimon que lembra um cachorrinho de pelúcia com coleira dourada; Lúcia corre do Gotsumon, que queria se jogar em cima dela; Davi pega Palmon no colo e a abraça; Rafael se abaixa próximo ao Gabumon e, sorrindo, o cumprimenta sem muito estardalhaço.

Em um dado momento, os demais domadores olham para Carlos e o veem imitar Terriermon, fazendo movimentos esquisitos. Todos passam a dançar sem que o digimon de grandes orelhas percebesse, já que ele estava de costas para os demais, e de frente para o mar. O digimon coelho se cansa e vai em direção ao Carlos, percebendo que todos dançavam como ele.

— Eu sabia que vocês eram meus fãs. Invejosos!

 

Uma mulher alta, magra e elegante observava Blaze através de uma parede de vidro. O garoto alto e de corpo pesado permanecia inerte sobre uma cama e estava ligado a diversos tubos, fios e aparelhos. Com os olhos cheios de lágrimas, a senhora de cabelos loiros, com alguns fios brancos, segurava um jornal com a seguinte manchete: “Garoto é encontrado em coma por um grupo de turistas”. Ela o observava enquanto diversas pessoas passavam ao seu lado, caminhando pelo corredor.

Lentamente, um garoto de mãos pequenas e brancas se aproxima dela.

— A senhora deve ser a mãe dele.

— Sim, sou eu. – Responde a senhora o olhando com certa desconfiança.

— Fiquei sabendo dessa tragédia que aconteceu. Li nos jornais. Como você se chama?

— Lucíula. Ele me disse que estava indo ao shopping e que não demoraria. Só soube notícias dele 48h depois lendo o jornal. Minhas amigas me falaram para procurar pelos hospitais e até ir ao IML. Eu não queria vê-lo nesse estado. É difícil para uma mãe ver um filho assim.

Lucíula chorava copiosamente. O garoto delicadamente a conduz até uma cadeira e se aproxima de um bebedouro, trazendo-lhe um copo com água.

— Sinto muito pelo que aconteceu.

— Você é amigo do Getúlio?

— Digamos que o conheço.

— Agora eu tenho que ir, garotinho. Mais tarde eu volto. Passarei a noite aqui!

Lucíula se levanta e sai andando pelo imenso corredor do hospital, até desaparecer no horizonte em meio a outras pessoas.

O garoto, então, se aproxima da janela de vidro e continuava a observar o enfermo. Após alguns minutos, o garoto de pequenas mãos brancas segue caminhando. Uma das suas mãos entra no bolso da calça e ao sair, revela um digivice prateado. Não era possível ver seu visor. Abruptamente um homem vestindo terno escuro e gravata azul sai de um dos leitos e se esbarra no garoto que deixa o digivice cair. O barulho do metal tocando o chão ecoa pelo corredor.

O garoto logo pega o aparelho do chão e volta a caminhar sem dizer absolutamente nada.

Nesse exato momento, Blaze abre os olhos lentamente, observando tudo a sua volta. Assustado, flashes do Growmon se esbarrando em si, do momento da queda e pessoal tentando salvá-lo, invadem sua mente.

 

— Depois de tudo o que passamos, - prossegue João na areia da praia com seus amigos - nossas vidas nunca mais serão as mesmas.

— A gente volta a estudar quando? – Pergunta Carlos ao João.

Terriermon estava sobre a sua cabeça.

— Acho que nessa segunda!

 - Vocês destroem o colégio e agora ficam com graça.

— Até hoje ninguém sabe quem o destruiu. – Responde Verônica. - Acho que eles ainda acreditam no tal atentado terrorista. Ah! Falando em atentado... Plotmon, ataque!

Sem questionar, a digimon de grandes olhos azuis avança no digimon réptil com suas patas dianteiras, fazendo-o rolar na areia por alguns metros.

Todos se assustam com a ordem dada pela domadora.

— Verônica, você enlouqueceu? – Questiona o garoto de pele bronzeada e barba cerrada.

— Provarei que, na noite do aniversário do Rafael, você ganhou por que trapaceou.

João sorri com a revelação da garota, fazendo com que todos percebessem que se tratava de uma brincadeira.

— Meu amor, eu não quero te derrotar outra vez, mas já que insiste... - João saca seu digivice negro – Pronto, Betamon?

— Vamos lá, Plotmon!

Betamon, ao contrário do que todos pensavam, corre na direção do seu domador. Rapidamente o digimon é envolto pelo casulo de luz, tornando-se a enorme serpente de metal.

João sobe na cabeça do seu digimon Extremo e começa a gritar:

— Hei! Moça bonita! Vamos ver se vocês nos alcançam.

Plotmon faz o mesmo e se torna Ophanimon, pegando Verônica nos braços e voando atrás do Metalseadramon, que estava a toda velocidade voando em círculos sobre o oceano.

O silêncio de Carlos, que observava o digivice azul, atiça a curiosidade dos demais que gritavam e agitavam o divertido embate entre Verônica e João.

— O que foi? – Questiona Lúcia. – O que tem o digivice?

— Se ainda o temos é por que ainda precisaram de nós.

— Não é só por que nossa missão chegou ao fim que nós teríamos que esquecer tudo o que aconteceu, e esquecer dos nossos parceiros. – Explica Davi. - Enxergo isso como uma recompensa pelo trabalho feito, e não como um indício de que ainda seremos úteis.

— Sem falar que dados do deus-digimon estão sob nossas responsabilidades. – Conclui o garoto de olhos azuis.

— Espero que não existam outros motivos para eles evoluírem, além das brincadeiras e das nossas futuras viagens pelo Mundo Digital.

Todos voltam a ri das peripécias de João e Verônica.

 Após a árdua missão que tiveram no mundo dos digimons, todos os domadores curtiam o regresso ao Mundo Real, e a vitória que tiveram sobre o Hexágono do Mal. Toda a realidade, a partir de agora, era vista por outra ótica. Tudo o que aconteceu durante a noite mais longa de suas vidas ficará marcado para sempre na memória de cada um.

FIM


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Notas finais do capítulo

Agradeço a paciência de todos ao lerem minha Fic sobre digimons. 60 capítulos não é fácil pra ninguém! Cada comentário, elogio, crítica e sugestão foi lido com respeito e com o objetivo de me fazer melhorar a cada dia.

E desde já os convido a lerem a continuação dessa história: Digimon Beta - E As Cartas Acessórias.



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