Digimon Beta - E o Hexágono do Mal escrita por Murilo Pitombo


Capítulo 25
A Gente se Vê no Mundo Digital




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– Escravo? Como assim, escravo? – questiona o garoto loiro acompanhado do digimon de manta branca com listras azuis.

Vamdemon havia derrubado quatro digimons Adultos e um Perfeito com razoável facilidade e estava prestes a destruí-los, quando foi surpreendido pela chagada de Rafael.

– Breve você saberá!

Rafael se enfurece com a insinuação do digimon de aparência humana.

– Cale a boca desgraçado. Ninguém, ta me ouvindo, ninguém me controla.

– Tem certeza?

– Gabumon. Acabe com ele!

Rafael aponta seu digivice na direção do digimon que o acompanhava, possibilitando sua evolução.

Garurumon avança com suas patas dianteiras no Vamdemon e o lança no chão. O digimon vampiro lhe desfere um soco no peito, lançando-o para o alto. Na queda, Garurumon recebe uma sequencia de três socos e um chute lateral que o arremessa contra o paredão de pedra do farol.

O digimon lobo consegue apoiar-se com suas patas na parede e retorna em seguida.

– Rajada Uivante.

– Asa Espantosa.

O digimon lobo com seu fogo azul, e o vampiro com seu enxame de morcegos incandescentes, disputavam técnicas de maneira párea.

– Verme! – diz Vamdemon sorrindo antes de intensificar sua técnica. Garurumon não consegue fazer frente à técnica do digimon Perfeito e é englobado pela mesma, que explode.

– GARURUMON! – grita Rafael.

O digimon lobo está caído e perde bits pelos inúmeros ferimentos pelo corpo.

Lilymon se aproxima dos domadores.

– Tirem seus parceiros da batalha. Deixem tudo comigo.

– Isso é loucura, Lilymon! – Verônica estava preocupada.

– Ele é um Perfeito. Somos do mesmo nível. Só eu posso destruí-lo.

Carlos, que prestava atenção na conversa, sente um gostoso perfume de rosas.

– Que cheiro bom!

– “Quando um cheiro de rosas se dissipar pela cidade portal.” - balbucia novamente a garota de olhar encantador - O cheiro de rosas é o cheiro de Lilymon. E a cidade portal...

– Só pode ser Salvador! – completa Lúcia.

– Agora lembro que você me contatou hoje à noite e avisou sobre a névoa – relembra Davi - Tudo está acontecendo da mesma maneira que está escrito no enigma.

– Então hoje é o dia da profecia? - pergunta João.

– Ao que tudo indica...

– Do que é que vocês estão falando? – diz Carlos interrompendo Davi.

– Do Arquivo Digimon.

– Que arquivo é esse?

– Lembra-se daquele e-mail que Verônica recebeu e que você acabou lendo? – pergunta o garoto de barba cerrada - Que tinha umas fotos e tal? Você até me mostrou elas...

– Sei!

– Então. Juntamente com aquele arquivo veio um enigma.

– Vocês têm o enigma aqui?

– Tá aqui. Toma.

Carlos pega o enigma das mãos de Davi e começa a lê-lo silenciosamente.

Os digimon continuavam afrontando Vamdemon.

– Garra Relâmpago.

– Bafo de Água.

– Bomba de Gelo.

– Braço Metralhadora.

As técnicas se fundem e avançam no digimon vampiro, que as desvia para o mar com uma chicotada.

– Não vou permitir que atrapalhem nossos planos. Névoa Sombria.

A sombra de Vamdemon se desprende do seu corpo e avança nos quatro digimons. Antes de ser engolida pela sombra, Tailmon salta e é amparada pela Lilymon, que a segura em pleno ar. Os digimons urravam e gritavam de dor até que a sombra os regurgita, revelando-os no nível Novato. A sombra retorna ao corpo de Vamdemon, que acaba se regenerando das poucas escoriações que possuía.

– Energia de digimons Adultos nunca é vantajosa, principalmente se já estiverem debilitados!

Os digimons tentavam ficar de pé, mas estavam enfraquecidos.

– Obrigada Lilymon – agradece Tailmon – Esse covarde, por pouco não sugou minha energia também.

– Preciso que fique com Verônica. É muito arriscado você continuar nessa batalha.

– Não vou ficar de braços cruzados te olhando lutar. Eu também vou!

– Agora só restam vocês! – pontua Vamdemon observando Lilymon e Tailmon no céu.

– Pessoal! - Chama Carlos, que analisava atentamente o enigma.

– O que foi? – intervém Lúcia.

– Hexágono... Eu escutei esse termo da boca de Kentarumon. O primeiro digimon que enfrentei ao lado de Terriermon.

– Sério? – pergunta João curioso.

– Tenho absoluta certeza, João. Ele dizia que destruiria a todos que se opuserem a ditadura.

Vamdemon segue do chão, lançando seu chicote na direção de Lilymon, que voava e se desviava habilidosamente com Tailmon nos braços. O digimon gargalhava a cada tentativa sua de acertar as digimons.

– Tenho que admitir que são persistentes. Seus amigos estão fora de combate e vocês ainda querem lutar? Para vermes insignificantes, até que são bem corajosas. Vou lhes fazer uma proposta, se aceitarem, esqueço o que aconteceu hoje. Mas se não, serei obrigado a destruí-las. Querem trabalhar pra mim? Um dos reis do Mundo Digital?

– NUNCA! Nunca trabalharei para o mal!

A digimon gato usa os braços de Lilymon e se impulsiona para atacar Vamdemon, com suas garras brilhando. O digimon vampiro, com um movimento rápido, consegue se desviar e dá um tapa com a parte de trás da mão nas costas de Tailmon, lançando-a contra o Farol da Barra.

– TAILMON! - grita Verônica preparando-se para correr. João a segura.

Ao se chocar contra o farol, o anel prateado preso à calda de Tailmon passa a emitir um brilho muito intenso.

– Ela está evoluindo... – balbucia a domadora incrédula.

Todos olham admirados, inclusive Rafael que estava afastado dos demais. Gabumon estava ao seu lado e machucado.

O brilho do objeto é tão intenso que incomoda Vamdemon, que se protege com a capa.

– Por que tem que brilhar tanto?

Repentinamente, o farol volta a funcionar emitindo um feixe luminoso que podia ser visto a quilômetros de distância.

– Eu pensei que ele não funcionasse mais – diz João admirado.

– E não funciona, João! – afirma Verônica categórica.

– Pessoal escutem: “uma luz inesperada brilhará e, quando menos se esperar, o brilho tomará a forma de um objeto sagrado, levando todo o bem e todo o mal para o mundo zero um.” A luz que havia se apagado, no caso, é o Farol da Barra?! – questiona Carlos.

– Com certeza! – brada Davi animado - Eu sabia que o que dificultava eram determinados termos.

– Não acredito que não consegui descobrir isso – Lúcia sorria enquanto o farol seguia iluminando e afastando a névoa escura de Vamdemon.

Aos poucos a luz do farol passa do formato cilíndrico ao formato retangular, como os digivices, e ergue-se verticalmente, formando uma torre de luz azul.

– Droga! – grita Vamdemon, ainda com a capa sobre o rosto – Essa digimon ativou um portal!

Vamdemon, aos poucos, sente seus pés deslizarem em direção à torre de luz. Era sugado pelo portal.

– Lilymon. Ataque agora!

– Canhão Flor.

Lilymon atinge o digimon inimigo pelas costas, fazendo-o com que se aproximasse ainda mais da torre de luz.

– Adeus. Futuramente estarei vindo a esse mundo para tomar posse dele. Muahahahaha.

Vamdemon toca a torre de luz e desaparece.

Os domadores comemoram. Apesar de não conseguirem destruir Vamdemon, conseguiram mandá-lo de volta ao Mundo Digital.

– Nos livramos dele galera! – comemora João socando o ar.

– Essa foi por pouco! – diz Lúcia aliviada.

– GABUMON!

O grito desesperado de Rafael atrai a atenção de todos. Ao olharem na direção do garoto, percebem que ele agarrava as mãos do seu digimon, que também era sugado pela torre de luz.

Aos poucos, os demais digimons, inclusive Tailmon, eram atraídos lentamente até a torre de luz. Os domadores correm até os digimons e, assim como Rafael, tentam segurá-los, mas não conseguiam muito resultado. Seus pés também deslizavam no chão.

– GOTSUMON! Eu não posso te perder! – Lúcia estava com o rosto lavado em lágrimas.

– Eu não quero ir, Lúcia! – diz o digimon de pedra com pesar.

Davi segurava Lilymon pela perna, ao passo que a digimon também não conseguia, mesmo tentando voar no sentido contrário, fugir da força que somente atraía os digimons. A digimon fada regride e Davi, acaba soltando-a por que seu corpo havia perdido a forma por alguns segundos. Palmon lança suas vinhas em torno da cintura do seu domador.

– Por que você está calmo? – pergunta Carlos, que segurava seu digimon por uma das orelhas - Ainda mão me perdoou pelo que te fiz hoje de tarde?

– Claro que eu te perdoei, seu bestão! – diz Terriermon sorrindo – É que eu to feliz por que estou voando sozinho pela primeira vez na vida!

– Então você quer ir embora? – pergunta Carlos com os olhos marejados.

– Pode ter certeza que ainda vamos nos ver! Agora me solta. Pode ser perigoso pra você!

Mesmo querendo segurá-lo, Carlos obedece a seu último pedido e o solta. Terriermon segue lentamente pelo ar, acenando até tocar a torre de luz e desaparecer.

– João! Se Terriermon foi, eu também preciso ir! Ele estava tranquilo, já deve ter passado por isso antes!

– Terriermon é louco, Betamon! Eu não quero me separar de você!

– Verônica, me solta! – pede Tailmon.

A garota de corpo delgado, larga sua digimon e, chorando compulsivamente, se agarra ao João, que acaba soltando Betamon.

Gotsumon força seus braços e também se livra de Lúcia, que ainda corre numa tentativa de conseguir recuperá-lo.

Carlos a segura e não a deixa se aproximar do farol.

– Eles não são desse mundo! Tente entender.

O garoto de cabelo bagunçado, ainda abraçado a Lúcia se aproxima de Rafael. Aos poucos ele solta as mãos de Gabumon, que segue levitando até tocar a torre de luz e desaparecer.

Carlos tenta tocá-lo no ombro, mas Rafael é arredio e se livra com raiva.

– Não me toque!

– Rafael. Para com isso!

– Cala a boca, Lúcia.

Instantaneamente, a torre de luz ganha volume e passa a envolver toda a construção do farol. A força que atraía os digimons torna-se mais intensa e arrasta Palmon e Davi, para desespero dos demais.

– DAVI! – grita João transtornado ao ver seu primo desaparecer, assim como os digimons.

Carlos rapidamente enxuga os olhos e, em meio ao desespero de João, Verônica e Lúcia, guarda o enigma no bolso da sua calça e limpa os óculos.

– O enigma é claro quando diz que “o brilho tomará a forma de um objeto sagrado, levando todo o bem e todo o mal para o mundo do zero um”.

– Mas essa luz não está nos atraindo! – pondera Verônica.

Carlos volta a colocar os óculos no rosto, agora mais calmo e raciocinando.

– Eu estou pronto para enfrentar o desconhecido, e vocês?

O garoto aponta seu digivice para a torre de luz, que rapidamente o absorve.

Todos olham assustados.

– Se ele pode, eu também posso! - Rafael faz o mesmo. Pega o seu digivice e aponta para a luz, que o absorve.

– Seja o que Deus quiser! - Lúcia passa a mão nos ombros, como se estivesse tirando o pó, arruma o cabelo e olha para Verônica e João, que continuavam abraçados - Casal. A gente se vê no Mundo Digital.

A garota é absorvida.

João se afasta e, antes que pudesse esticar seu braço com o digivice, Verônica o segura.

– Não vai não. Eu to com medo!

João lhe segura à face com as duas mãos e retira o excesso de lágrima que escorria pela bochecha.

– Confia em mim. Não vou deixar que nada de mal te aconteça.

Os dois se beijam apaixonadamente, porém um som de sirene os incomoda.

– Acho melhor irmos – diz a garota notando que a polícia se aproximava.

Verônica abraça João com muita força. Ele a segura pela cintura com a mão esquerda e com a direita ergue seu digivice, assim como ela faz erguendo o digivice com a mão esquerda. Os dois são sugados.

A luz aos poucos vai se apagando e, o local que há dez minutos era palco de uma terrível batalha, estava tranquilo.

Os policiais estacionam a viatura em frente ao farol.

– Tem gente que não tem o que fazer! – diz o policial sentado ao lado do motorista, olhando na direção do monumento.

– Por quê? – pergunta seu colega, que dirigia a viatura.

– Inventam essa história de monstros e a mídia ainda dá cobertura para essas invenções. Quem começou a divulgar essa ideia, devia escrever roteiro pro cinema.

– Se é um fato muito comentado, a mídia tem que estar por dentro!

– Falou o jornalista! - sorri – Vamos andando. Essa noite promete ser tediosa.

Os policiais seguem na viatura fazendo ronda pelas ruas da região.

Naquele exato momento, outros quatro jovens espalhados pelo país também passavam pela mesma situação.

Em uma cidade do interior mineiro, distante da capital Belo Horizonte, um garoto de altura e corpo medianos, cabelo preto curto e olhos azuis, estava em seu quarto sentado em frente ao computador. Na página aberta de um site de relacionamento, havia uma foto dele usando boné. Ao lado da imagem estava escrito: Igor Almeida, 15 anos, Pedrinópolis/MG.

O garoto conversava ao telefone enquanto modificava seu status de relacionamento.

– Gostei do nosso primeiro jogo! Marquei excelentes gols... Uai. Convencido, eu? – o garoto sorri – Beijo moça, to muito cansado. Sonhe comigo.

O garoto joga o celular sobre a cama e preparava-se para desligar o computador quando um estranho ponto luminoso surge levitando em frente à janela do seu quarto. Movido pela curiosidade, Igor se aproxima do brilho que começa a ganhar altura e largura. Uma estranha força acaba sugando-o antes que pudesse dizer algo ou gritar.

Sete amigos, entre homens e mulheres, caminhavam por uma rua de João Pessoa, capital da Paraíba, em meio a conversas, risadas e comemorações. Um dos rapazes, que é alto, forte e branco, trazia uma sacola de lona nas costas, e nas mãos um troféu com os seguintes dizeres gravados: “Vencedor do III Campeonato Regional de Kung Fu”.

– O cara é fera mesmo! – diz um dos amigos ao garoto – Humilhou o adversário.

– E olha que eu nem tava concentrado o bastante!

– Ah gente! Para a rasgação de seda! – interfere uma das garotas – Já sabemos que o Tonho é fera nesse negócio de chute! Vamos mudar o disco e falar sobre outras coisas.

– Tipo...

– Tipo a comemoração. O come água!

– Mas eu não bebo! – interfere Antônio – Se meu treinador descobre...

– Você não. A gente, sim!

– Se é assim...

O pessoal segue conversando por mais alguns quarteirões, acertando os detalhes para a comemoração do dia seguinte, até que chegam ao prédio onde moravam. Os amigos se despedem e cada um segue até seu apartamento. Antônio entra no elevador e aperta o botão numero sete e, antes que pudesse sair do elevador, é absorvido por um portal que se abre sobre sua cabeça.

No Rio de Janeiro, um garoto magro, de estatura média, pele branca, cabelo preto bagunçado e olhos castanhos, assistia a um filme em seu quarto. Em sua mão havia um aparelho celular, o qual ele fazia girar no próprio eixo segurando-o apenas pelo indicador e polegar. Ele, apesar de olhar para TV, parecia aéreo, preocupado com algo.

Como que num impulso, o garoto desliga o DVD e a TV, e vai até a sacada do seu apartamento, localizado em um pequeno prédio de Ipanema. O mesmo prédio em que morava Lúcia Gonçalves. O garoto residia no 401.

– Por que não me responde...

Ao retornar e fechar a porta da sacada, um portal surge atrás do garoto e o absorve.

Fortaleza, a capital do estado do Ceará, também possui o título de um dos destinos mais procurados por turistas estrangeiros e de outras regiões do país.

Em um confortável quarto com decoração em branco e rosa, uma garota bem vestida acaba de chegar. Vestia um curtíssimo vestido vermelho acompanhado de salto alto e uma pequena bolsa. Seu cabelo é castanho e ondulado. Estava solto e chegava ao meio das costas. Pele branca e rosto de beleza exótica. Lábios carnudos e olhos amendoados.

Ao sentar-se na cama e retirar a sandália de salto que usava, acaba sendo absorvida por um portal que surge embaixo dos seus pés.

João, Verônica, Carlos, Rafael, Lúcia e Davi estavam desmaiados, juntamente com seus digimons, em um vasto gramado rodeado por uma frondosa floresta aos pés de um morro. Próximo a eles, nessa clareira, havia uma réplica idêntica do Farol da Barra.

A sombra de uma enorme ave movia-se em círculos sobre os garotos, que mal faziam ideia das surpresas e perigos que os aguardavam naquele mundo repleto de mistérios e monstros.

Continua...


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