Santuário – Sala do grande mestre.

Após o termino da batalha com os titãs, Saga encontrava-se meditando na sala do Grande Mestre, refletindo sobre coisas que na época passaram despercebidas e hoje se tornaram um peso em sua mente. Uma das coisas que mais o intrigava era descobrir por qual razão Ares teria aplicado o Satã Imperial no cavaleiro de Capricórnio, sendo que o mesmo nunca havia duvidado de suas palavras. Ares era ardiloso e sagaz, saberia muito bem contornar a situação, principalmente ao se tratar de um cavaleiro que estava cego pelas suas convicções de honra, moralidade e fidelidade. Shura nunca duvidou e nunca duvidaria da imaculada figura do grande mestre, ou a de que algum cavaleiro de Atena seria capaz de trair a deusa de uma forma tão vulgar como ele havia feito. Então porque ele fez isso? Cansado e sem conseguir formular uma resposta, decidiu dar uma volta para tentar esquecer um pouco de seus problemas.

Estava anoitecendo, Saga se dirigiu ao vilarejo próximo do santuário. Fazia algum tempo que não visitava os moradores da vila e sempre que podia gostava de cuidar daquela gente, principalmente agora que estavam vivenciando um pequeno período de paz, assim poderia ocupar sua mente conturbada com alguma coisa. Era como se uma pequena parte de seus pecados fosse expiada ao ajudar os doentes e passar esperança e alguns ensinamentos aos órfãos, proporcionando-lhe um pouco de conforto.

Ao chegar, começou a ouvir uma musica alegre vinda de uma das primeiras casas próxima da entrada do vilarejo. Saga decidiu se aproximar da casa, apenas para observar aquelas pessoas tão “exóticas” em seu ponto de vista. Sabia que aquela família era de origem árabe e que via Atena como uma espécie de profeta, que a cultuavam do seu modo sem nunca deixar de cultivar a fé islâmica. A única coisa que sabia era que aquela família teve seus ascendentes migrados para a Grécia em 1737. Agora como eles conseguiram incorporar Atena em seu culto e o porquê desse sincretismo que beirava o absurdo isso era um grande mistério para ele.

Ao chegar à janela, ocultou sua presença para que ninguém o notasse ali. A batida da musica era alegre e dançante, o violino presente na melodia adicionava a musica um tom de leveza e sensualidade. A casa simples e de paredes branca, tipicamente grega, adquiriu ares marroquinos com a presença de véus coloridos enfeitando o teto e as paredes, grandes almofadas coloridas com figuras de beleza impar, lembrando flores e trepadeiras bordadas em fios dourados estavam espalhadas no sofá e pelo chão. Saga pode sentir os cheiros daquela sala, mesclando o incenso de mirra ao perfume de sândalo e quando concentrou-se nos aromas pode perceber além dessas fragrâncias marcantes, o sutil e delicioso cheiro de um chá de menta e das especiarias utilizada nos pratos ali servidos.

Na sala, três homens, entre eles um senhor de idade avançada, aplaudiam uma menina com cabelos compridos e duas mulheres, cobertas por véus coloridos e uma espécie de túnica longa, ocultando seus corpos, dançando e movimentando os braços graciosamente, como se fosse uma tentativa de acariciar o ar que as rodeiam ou então, porque não dizer, de uma artimanha para prender o olhar daqueles que as descobrem proporcionando uma visão quase hipnótica. A pequena dançarina tinha aparentemente uns 12 anos, possuía pele amorenada e os olhos num tom intenso de verde oliva. Ao olhar os olhos da pequena, Saga sentiu como se conhecesse lugares como a Turquia ou porque não dizer o norte da África, mesmo que jamais tenha estado lá. Mas aquilo lhe parecia familiar, era como se já tivesse visto e até mesmo participado de algo parecido.

– Hahahahahahah. Lembre-se...na luz que você emite do passado está a resposta que você busca...- Subitamente Saga ouviu sussurro provindo do lado mais obscuro de sua alma.

Saga se assustou com a repentina interrupção que sofreu, percebendo que havia observado aquela família por aproximadamente uma hora e achou prudente retornar a sala do Grande Mestre. Tinha medo de que Ares tomasse seu corpo perto daquela gente inocente do vilarejo, afinal Saga sabia do que Ares era capaz