A Ninfa da Cascata escrita por Eleanor Devil


Capítulo 10
Porquê?


Notas iniciais do capítulo

espero que gostem do capítulo



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A Ninfa da Cascata

Capítulo 10 – Porquê?

Porquê? Porque é que ele lhe fez uma coisa destas? O que é que ela lhe fez para…merecer isto? Tinha feito alguma coisa de errado com ele? Sim era verdade que às vezes podia irritá-lo um bocadinho com a sua curiosidade excessiva mas…tinha sido assim tanto ao ponto de ele ter-lhe feito o que fez? Porquê? Sentada a um canto, com as pernas encostadas ao peito e com a cabeça escondida entre os joelhos, lágrimas brotavam dos seus olhos azuis cristalinos e caiam silenciosamente pelas curvas do seu rosto…enquanto as memórias de há uma semana atrás voltavam à sua mente uma vez mais…

“Confirma-se que é ela?”

“Sim é ela”

“Desculpem?” disse Sulfus

“Nós viemos buscar essa jovem” respondeu um dos polícias, o jovem de cabelo negro franziu a testa, não estava a entender por que razão queriam levar Ninfa, olhou para os seus pais que também se tinham levantado do sofá e se tinham aproximado, esperava que eles ao menos lhe explicassem claramente o que se estava a passar. A mãe em vez de falar aproximou-se ainda mais dele e colocou os braços, confortavelmente, em roda de Ninfa.

“Alguém me explica o que se está a passar aqui?!” disse Sulfus, viu um dos polícias retirar um saco transparente que continha algo lá dentro, depois de bem analisado, o jovem apercebeu-se que se tratava de um colar, um colar de pérolas.

“Recebemos uma queixa de que desapareceu um colar de pérolas e descreveram-nos esta jovem como sendo a ladra” o rapaz olhou para os dois polícias, incrédulo, Ninfa tinha roubado? Era impossível!

“Não acredito” afirmou o rapaz

“Pois é melhor acreditares, rapaz. O colar foi encontrado no quarto dela e também temos uma foto que a mostra no momento do roubo” explicou um dos polícias, retirando a foto do bolso, a mesma que há minutos tinha estado na sua mão, Sulfus tomou a foto na sua mão e arregalou os olhos quando se apercebeu que a rapariga na foto era sem dúvida nenhuma Ninfa: a rapariga da foto tinha os mesmos cabelos loiros, os mesmos olhos azuis celestes, a mesma rosa branca pregada no cabelo e exactamente a mesma roupa que ela tinha usado há cerca de dois dias atrás, recordava-se que ambos tinham saído para ir dar uma volta e que a tinha deixado sozinha por uns momentos para ir comprar umas coisas que necessitava…nas mãos da rapariga que estava na foto encontrava-se o colar de pérolas a ser escondido no bolso do casaco…

Seria mesmo verdade que ela tinha usado aquele tempo para roubar o colar? Mas porquê? Para que é que ela precisava de um colar de pérolas? Foi então que as palavras de há umas noites atrás que ouvira o seu pai proferir e que por muito tempo tinham ficado a vaguear na sua mente: Não confio naquela rapariga…

A prova que ela tinha cometido aquele crime estava neste momento nas suas mãos…e os polícias tinham encontrado o colar no meio dos seus pertences…sentiu uma raiva que não sentia há imenso tempo, virou-se de repente para a jovem rapariga de cabelos loiros que ainda se encontrava nos braços da sua mãe.

“Como é que pudeste?!” disse ele de repente à jovem, ela olhou para ele confusa “Como é que pudeste fazer uma coisa destas?!”

“Sulfus…” disse Seraph, lançando-lhe um olhar reprovador como quem avisava para ele não falar assim…no entanto o jovem não lhe fez caso e continuou a utilizar o mesmo tom

“Eu confiava em ti, pensei que tu fosses diferente! Nunca desisti de ti quando alguém se virava contra ti, protegi-te dessas pessoas, trouxe-te para minha casa e tu fazes isto?! Roubas um colar?!” Ninfa sobressaltou-se ao ouvir aquilo, não, não, era mentira, não tinha feito tal coisa! Abanou a cabeça freneticamente, negando ter feito tal coisa, avançou na direcção dele, agarrou-lhe no braço, suplicando com os olhos para que ele acreditasse nela, na sua inocência! Mas Sulfus não fez isso, pelo contrário, bruscamente tirou o seu braço do agarro da jovem o que de certa forma quase lhe provocou uma queda, mas conseguiu manter o equilíbrio.

“Podes acabar com o disfarce, talvez até seja verdade o que eu ouvi o meu pai dizer…se calhar até nem és muda, inventaste tudo isso só para te aproximares de mim e da minha família!” Ninfa continuou a abanar a cabeça, tentando fazer com que ele acreditasse nela, estava errado, não tinha sido ela a roubar aquele colar! Mas as palavras seguintes proferidas pelo rapaz afectaram-na de tal maneira…

“Não acredito em ti”

O impacto daquelas palavras no coração da rapariga foi tanto que a jovem ficou petrificada naquele lugar, os seus olhos azuis arregalados como nunca antes tinham estado…e como se também tivesse sido afectado pelas palavras, o fio do colar da caixinha de música que ela havia começado a usar no seu pescoço, partiu-se e a caixinha de música lentamente caiu ao chão, fazendo um eco pela sala…

Lágrimas brotaram nos olhos da rapariga, lágrimas que rapidamente começaram a descer pelo seu rosto…nem sabia se estava a respirar…estava petrificada…as suas mãos começaram a tremer…a sua boca aberta…estava demasiado chocada para reagir…tão chocada que nem lutou quando os policias lhe tomaram os braços e a guiaram para fora da casa…apenas tinha na sua mente gravadas as palavras duras de Sulfus e o olhar de ódio que ele lhe havia lançado…

Estúpida, estúpida! Nunca devia ter acreditado nele, nunca devia ter confiado nele! O macho alfa, que apesar de ser um animal a tinha criado desde que ela se lembrava, é que tinha tido sempre razão, não confiara nele até ao último minuto e sempre tivera motivos para não confiar…ela tinha confiado demasiado nele, tinha confiado cegamente nele, tinha-lhe contado todos os segredos do lugar onde vivia, lugar que jamais deveria ser descoberto pelos outros…

E era agora por causa dessa confiança cega que ela estava ali…presa naquela cela…como um pássaro preso numa jaula…desde que ali chegara que tinha perdido o apetite, tinha perdido a vontade de dormir, simplesmente ficava ali, encolhida a um canto da cela escura…apenas Seraph e Elisabeth a tinham vindo visitar há cerca de dois dias atrás, Ninfa não tentara afastar-se da mãe de Sulfus, era com o jovem rapaz que ela estava magoada, agora não o queria sequer ver à frente mas a sua mãe…a sua mãe fora um anjo, tinha ido ter com ela, abraçara-a, confortara-a enquanto ela chorava e tremia nos seus braços, tinha-lhe dito que tanto ela como Elisabeth acreditavam na sua inocência…essas últimas palavras confortaram-na de certa maneira mas não o suficiente, a pessoa que ela mais queria que acreditasse nela, não acreditava…tinha-a abandonado…

Como se não bastasse tudo isto, há já algum tempo que não tinha vindo a sentir muito bem, a cela era fria e húmida, no entanto Ninfa transpirava e sentia-se quente demais. Tentou levantar-se do canto onde sempre esteve sentada e tentou caminhar até aquilo que na prisão se chamava uma cama, mas mal se pôs de pé, teve que se agarrar à parede para não cair, a sua visão estava turva, desfocada, já não conseguia ver as formas…foi então que não aguentou mais e caiu ao chão, tudo à sua volta começou a ficar negro…

~*.*~*.*~

Era dia de Natal e no entanto Sulfus não tinha a mínima vontade de celebrar o que fosse…não conseguia tirá-la da sua cabeça…já havia passado uma semana desde que a levaram e no entanto as memórias dela não desapareciam da sua mente…sentia-se traído, tinha confiado nela e ela quebrara a sua confiança…por que é que tinha roubado aquele colar? O seu pai tinha tido sempre razão, ela escondia muita coisa e agora via porquê…no entanto também não se conseguia livrar do peso do sentimento de culpa que tinha no coração…talvez tenha sido duro demais com ela ou talvez não…tinha visto o estado em que ela ficara depois de ele lhe ter dito aquelas palavras…

Não acredito em ti

Ainda se recordava bem de como as lágrimas tinham caído dos olhos da jovem, como os seus olhos azuis cristalinos se tinham arregalado…na mão dele estava agora a caixinha de música que ficara para trás quando Ninfa fora levada pelos polícias…abriu-a e deixou a suave melodia tocar…lembrava-se bem de quando lhe tinha contado a história de Raf e que nesse dia tinha-lhe dito para usar a pequena caixa de música ao pescoço como se fosse um colar…

Voltou há sua memória um dia de Verão que ambos tinham passado juntos, fora um dia que Ninfa lhe mostrara mais um dos muitos esconderijos que o lugar onde vivia tinha

“Tens a certeza que esta liana é segura? Parece-me que se vai partir a qualquer momento!” disse Sulfus ao segurar numa velha liana, tinha de se balançar nela para conseguir chegar ao outro lado da terra, por debaixo dos dois encontrava-se o lago e estavam ainda a uma bela distancia dela, não que o jovem de cabelo negro tivesse medo das alturas, mas não lhe apetecia cair dali abaixo…Ninfa assentiu com a cabeça e segurou na liana, fez impulso e balançou-a na direcção da outra margem, aterrando lá na perfeição, depois atirou-lhe a liana indicando que era a sua vez de o fazer.

Sulfus suspirou, agarrou com força a liana, fez impulso para trás e balançou-se para a frente de modo a conseguir chegar ao outro lado da margem, tal como Ninfa tinha feito. No entanto como se a natureza estivesse contra ele, no momento em que os seus pés estavam prestes a chegar à margem, a liana partiu-se e o rapaz caiu para dentro de água, fazendo uma enorme chapa.

Veio à superfície assim que pode, completamente encharcado obviamente, e fulminou com o olhar a rapariga de cabelos loiros que se encontrava a uns quantos metros acima da sua cabeça com uma expressão divertida no rosto “Com quem então é segura hã?” mal teve tempo de reagir pois quando deu conta, a rapariga tinha-se atirado para junto dele, para dentro d’água.

Subitamente Sulfus cancelou a melodia, fechando a caixa de música com a sua mão, um olhar de raiva subitamente encheu os seus olhos âmbar, maldição! Não conseguia deixar de pensar nela, raios! Olhou com raiva para o objecto na sua mão e com intenções de o atirar ao chão para o partir, ergueu a mão no ar mas de repente…esta mesma começou a tremer…o objecto caiu em cima da colcha da cama…a mão do rapaz continuava a tremer…não conseguia…não conseguia fazê-lo…não conseguia partir aquela caixa de música…não conseguia livrar-se das memórias de Ninfa…

Foi então que Seraph entrou no seu quarto, estranhamente sem bater à porta, fechou esta mesma com força para que o filho ergue-se a cabeça e se desse conta da sua presença no quarto…e foi isso que aconteceu…

“Precisamos de falar” disse ela num tom duro

“Se é sobre o que eu estou a pensar então esquece, não foi falar…” retorquiu o rapaz

“Mas vais falar”

“Vais-me obrigar?”

“Se for necessário, sim e vais-me ouvir quer queiras quer não!” disse Seraph caminhando na direcção do filho, sentando-se ao lado dele na cama, o rapaz estava para se levantar desta mesma de forma a não ter que ouvir a mãe mas ela agarrou-o pelos braços e forçou-o a sentar-se de novo na cama “Sulfus Zolfanello, tu vais-me ouvir!”

“Não quero falar sobre ela!!”

“Mas vais falar! Vais falar porque tu cometeste uma injustiça!”

“Ai eu é que cometi uma injustiça? Ela é que roubou aquele colar! Ela traiu a minha confiança!

“Não Sulfus, tu é que traíste a confiança dela em ti! Ela acreditava em ti, ela sempre confiou que tu estarias lá para a proteger e no entanto viraste-lhe as costas quando ela mais precisou enquanto ela sempre esteve contigo nos momentos mais difíceis!”

“Eu não lhe virei as costas, simplesmente apercebi-me de quem ela é na realidade e não passa de uma ladra, mentirosa-“

PLAF

Sulfus tocou no seu rosto que agora começava a ficar vermelho, a sua mãe nunca lhe tinha batido…e também nunca a tinha visto assim tão zangada em toda a sua vida…

“Tu viraste-lhe as costas Sulfus” afirmou Seraph “Tu não fazes ideia do estado em que ela está, no estado em que tu a deixaste quando lhe disseste aquilo”

“E suponho que tu saibas…”

“Sei, sei mais do que tu pensas. Fui visitá-la há dois dias com a tua irmã, ela está de rastos, as guardas prisionais disseram-me que ela não tem comido nada, não tem dormido, tudo o que a vêem a fazer é chorar, encolhida a um canto, ela não reage a nada”

“Ah e eu sou culpado de isso tudo…?”

“Em parte és, ela queria que tu acreditasses na inocência dela, que a suportasses agora que ela precisava mais de ti. Ela confiava mais em ti, do que propriamente em mim…”

“Eu vi a prova, o colar estava no meio das coisas dela, aquela foto provava que ela era culpada!”

“Esquece o que tu viste, em vez disso ouve o que o teu coração te diz, bem lá no fundo do teu coração o que é que ele te diz? Achas mesmo que ela seria capaz de fazer uma coisa destas?”

Sulfus ficou sem responder durante uns momentos, então abanou a cabeça “Não sei…não sei em que acreditar…”

 Foi então que um leve bater na porta interrompeu a conversa dos dois. A porta abriu-se e Bianca entrou “Peço desculpa se interrompo mas está aqui a senhora Kabale Rosso para falar com urgência com o menino” Sulfus franziu a testa…Kabale queria falar com ele? Porquê? E ainda por cima com urgência?

“Deixe-a entrar” Bianca afastou-se porta e Kabale entrou lentamente no quarto do rapaz, parecia nervosa, tanto que a viu a colocar um pedaço de cabelo por detrás da orelha, um sinal de nervosismo. Pareceu vê-la a engolir seco…

“Sulfus eu preciso de falar contigo…é muito importante…é sobre aquela rapariga…”

“Queres falar comigo sobre a Ninfa…?” disse o rapaz cautelosamente

“Sim quero…ela…ela está muito doente”

TBC…


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Notas finais do capítulo

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